quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Uma tradição continuada

Gustavo Maia Gomes







Em meados do século passado, o mais notório ladrão do dinheiro público no Brasil era Ademar de Barros, duas vezes governador de São Paulo (1945-51 e 1963-66). Sua principal contribuição à arte de desviar verbas foi a "caixinha do Ademar", onde se recolhiam as comissões extorquidas das empreiteiras contratadas pelo Estado.
Todo mundo sabia que Ademar metia a mão na grana, mas ele nem ligava para a própria fama. Permitiu que se difundisse o slogan "rouba, mas faz". Certa feita, em um comício, batendo a mão na perna, vociferou: "Neste bolso nunca entrou dinheiro do povo!" Ao que alguém na multidão retrucou: "Está de calça nova, doutor?" Ele, provavelmente, achou a piada ótima.
Quando morreu, Ademar deixou parte de sua fortuna ilegal em um cofre, assaltado, em 1969, pela então guerrilheira e atual presidente da República Dilma Rousseff. À época, ela lutava contra a ditadura militar e a favor da instalação de uma ditadura civil. Por alguma razão, para os militantes da esquerda, ditadura militar é ruim, mas ditadura civil é boa.
Consta que havia dois milhões de dólares no cofre. Para os padrões instituídos pelo PT, uma pechincha: somente o que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa "aceitou" devolver aos cofres públicos (R$ 70 milhões) dá umas dez vezes isso, em valores atualizados. Em todo caso, o importante do assalto ao cofre de Ademar não é o valor roubado, mas, sim, a ligação histórica por ele estabelecida entre os ladrões de ontem e os ladrões de hoje.
Superlativamente simbólico, a este respeito, é o duplo protagonismo da Sra. Rousseff no roubo do cofre de Ademar (de que ela foi executora) e no assalto à Petrobras (empresa sobre a qual ela teve doze anos de ascendência, como ministra das Minas e Energia, presidente do Conselho de Administração e presidente da República).
Não sei por que a candidata não destaca isso em sua propaganda eleitoral.

(Publicado no Facebook em 2 de outubro de 2014)