sexta-feira, 27 de março de 2015

Tarzan, o rei dos macacos, está vivo

Gustavo Maia Gomes

Por alguma razão, meu amigo e conhecido virtual-presencial Angelo Castelo Branco postou a foto-e-texto "Me Tarzan, you Jane". Grande iniciativa. Pois Tarzan, um dos meus heróis de infância, caiu em desuso — e isso me preocupa. Pior: entristece. O homem-macaco não pode morrer.

Personagem de Edgar Rice Burroughs, criado (penso eu) nos anos 1940, muito popular no extinto Cine Rivoli, de Casa Amarela, Recife, Tarzan era um dos dois homens brancos que mandavam na selva africana, bem ao gosto de uma época colonialista. (O outro era o Fantasma, que eu também adorava.)

O tempo passou; o colonialismo morreu; eu envelheci, mas (Lourdes Barbosa que o diga), para mim, Tarzan ainda vive. Não por reminiscências masturbatórias de Jane, seminua, para os padrões da época. Menos ainda pelas façanhas engraçadas de Chita, a chimpanzé, seu verdadeiro amor.

Tarzan está vivo porque seu mundo não tem poluição, nem imposto de renda, nem engarrafamentos, nem crédito para negativados, nem Sistema Cantareira, nem mentiras de Lula, nem discursos de Dilma, nem cientistas, jornalistas e prestamistas o tempo todo falando em mudança climática.

Está vivo, sobretudo, em cada manhã. Pois, enquanto eu levo uma hora entre acordar e estar pronto para o trabalho — tiro o pijama, escovo os dentes, barbeio-me, faço as necessidades, me banho, enxugo-me, ponho o perfume e o Gumex, penteio o cabelo, visto as roupas sociais, tomo o café da manhã — Tarzan não gasta nisso nem três minutos.

A macaca o desperta, ele dá aquele grito assustador, faz seu cocozinho do alto da mesma árvore onde dormiu — e pronto. Café da manhã? Que nada! Ninguém jamais viu Tarzan botar nada na boca, nem mesmo aquilo que não engorda. Trabalhar, produzir o próprio alimento, então, que é bom? — Necas de pitibiriba.

Na atual situação, preocupa-o, apenas, o monte de fezes que se alevanta em baixo de seu galho. Tá chegando o dia em que ele terá de mudar para uma árvore maior. Se fosse aqui, já haveria quatro corretores de imóveis a bater em seu tronco com aquela proposta irresistível — três quartos, duas suítes — e "Taxa zero!"; "Taxa zero!"


(Publicado no Facebook, 26 mar 2015)

segunda-feira, 23 de março de 2015

A São Luiz de Paraitinga que Ivan e eu visitamos

Gustavo Maia Gomes
São Luiz do Paraitinga, SP. (Foto Gustavo Maia Gomes, fevereiro de 2015)














No último dia de 2009, choveu 200 mm na cidade histórica de São Luiz do Paraitinga (SP), mais do que o esperado para todo dezembro. Ruas inteiras tiveram as casas destruídas ou ameaçadas de desabamento; a igreja matriz foi desfeita em lama e posta no chão. Jamais tinha havido desastre tão grande naquele lugar, desde sua criação, em 1769.
A cidade nasceu como parada de tropeiros e suas mulas -- as frotas de caminhão da época --, que desciam a Serra do Mar desde Taubaté (SP, 47 km distante) até Paraty (RJ, 125 km, pelas rodovias atuais). A prosperidade do Vale do Paraíba, movida a café, criava riquezas também nos lugares por onde passavam as mulas.
Ivan Pedrosa Maia Gomes e eu visitamos São Luiz do Paraitinga em fevereiro. O lugar foi (quase) totalmente reconstruído -- ouvi um morador dizer que "está melhor do que antes da enchente" -- e é muito acolhedor, com sua arquitetura simples, mas homogênea e representativa de um período histórico em que a cidade e sua gente eram, relativamente, ricas.
Devido à concorrência das ferrovias, São Luiz perdeu sua função comercial, a partir de 1870, mais ou menos. E, da mesma forma como ocorreu em Paraty (RJ) e em Ouro Preto (MG) -- mas não em Sorocaba (SP) --, cidades que também visitamos, a longa estagnação subsequente ao período de prosperidade teve, pelo menos, um efeito benéfico: ajudou a preservar o patrimônio arquitetônico.
Somente em anos muito recentes, São Luiz do Paraitinga voltou a ter importância econômica, desta vez, como destino turístico. Está repleta de pousadas e, conforme nos foi dito, se enche de paulistanos durante os fins de semana. Vale a pena conferir.

domingo, 22 de março de 2015

Ouro, café e turismo


Gustavo Maia Gomes

Paraty, RJ: Centro histórico. (Foto Gustavo Maia Gomes)

















Paraty foi o ponto de partida, em terra, do Caminho Velho desde o Rio de Janeiro até as Minas Gerais. Entre 1695 e 1710, todo o ouro produzido no Brasil passava por ali. O local prosperou, mas, por pouco tempo: com a inauguração do Caminho Novo, que permitia viagens mais curtas, voltou a ser modorrento.

Isso, até que a produção de café no vale do Paraíba -- em grande parte, embarcada para o Rio em Paraty -- disparasse, por volta de 1830. Mas, então (1870), apareceu a Ferrovia Dom Pedro II (depois, Central do Brasil) e a rota marítima para o Rio de Janeiro deixou de ser utilizada no transporte das safras. Paraty voltou a ver reduzida sua movimentação econômica.

A cidade renasceu, uma vez mais, quase um século depois (1960, aproximadamente), como destino turístico. Tinha o que mostrar: o lugar é, naturalmente, encantador; o patrimônio arquitetônico do século 19 ainda permanecia de pé; por sorte, algum prefeito incomumente sábio impedira o tráfego de automóveis no centro histórico. Tudo isso atraiu visitantes.

Assis Valente escreveu (e Carmen Miranda cantou, em 1937): "Vestiu uma camisa listrada / e saiu por aí / Em vez de tomar chá com torradas / ele tomou um Paraty".

Cachaça, meu filho. Ainda hoje, uma das marcas da cidade.

(Publicado no Facebook em 22 de março de 2015)

quinta-feira, 19 de março de 2015

De que entende esse homem?

Gustavo Maia Gomes

Não há registro de que José Dirceu seja grande especialista em qualquer atividade legal. Sua formação acadêmica é modesta: um bacharelado em Direito e aulas de guerrilha em Cuba. Jamais gerenciou empresas, comandou exércitos ou escreveu sinfonias. Nada. Zero. Bulufas.
Então, como é que um indivíduo desses -- ainda mais, notoriamente corrupto e, como tal, condenado -- transfigura-se em consultor pago a peso de ouro por empresas que têm, ou pretendem ter, contratos com o governo petista? De que entende esse homem?
Eu sei. Muitos de nós sabemos. O mundo, quando apresentado aos fatos relevantes, também logo fica sabendo. José Dirceu entende de PT, partido que ele, mesmo quando estava atrás das grades, jamais deixou de controlar. E o PT entende de roubo. Foi ensinado pelos consultores.
Nem em seu melhor momento, o mafioso Al Capone chegou a tamanha sofisticação. Resolvia tudo na metralhadora: tá-tá-tá-tá-tá... Comprava a polícia sem usar intermediários. Extorquia dinheiro com explosivos. Não tinha consultores, nem podia imaginar o que fosse isso. José Dirceu não havia nascido; menos ainda, o PT.
Al Capone morreu, José Dirceu está rico. A Máfia perdeu Chicago; o PT ganhou o Brasil. Consultoria, meu caro Watson, consultoria.

(Publicado no Facebook, 18/3/15)

Vai pra casa, Dilma

Gustavo Maia Gomes

Só ouvi uma pequena parte do que disseram na TV, há poucas horas, o Sinistro da Justiça, Cardoso 176-761, e o Secretário da Presidência, Rosseto 761-176. Foi mais do que suficiente. O povo berra contra a roubalheira petista e a reação do governo é repetir a mesma ladainha que nos levou às ruas, plenos de indignação?
Pela centésima vez, nos é dito que o PT combate a corrupção criada por ele mesmo; que o país precisa de uma reforma política para impedir que a Oposição ganhe eleições; que todos os nossos problemas serão resolvidos pelo financiamento público das campanhas e pelas Organizações Tabajara.
Alguém foi às ruas pedir reforma política? Ou financiamento público de campanhas? Não, fomos à rua externar nossa revolta em ser governados por ladrões. E ainda mais revoltados ficamos ao não ouvir, nas declarações de 176-761 e de 761-176, sequer uma palavra sobre as razões de nossa indignação.
Queremos saber, metralhas, quando Lula e Dilma irão para a cadeia, como responsáveis pelo Mensalão e o Petrolão. Queremos saber, sinistros, quando a presidente responderá na Justiça pelas mentiras da campanha eleitoral. Queremos saber, cardosos, rossetos, lulas, dilmas quando vocês irão embora.
Repetir as mesmas mentiras apenas reforça nossa revolta. Já somos 93% os que reprovam o governo. Se vocês não saírem de cena enquanto é tempo – e queremos que isso aconteça por meios legais –, pode chegar o momento em que nem o piloto do Aero Lula aceitará remover do país tão indesejada carga.
Uma das placas na manifestação de hoje, no Recife, dizia – o contexto me obriga a fazer a transcrição literal – “Dilma: pede pra cagar e sai”. Alguns a acharam ofensiva, ou exagerada, mas pode ter sido o mais sábio dos conselhos. Um dia, aquela senhora se arrependerá de tê-lo ignorado.
Alguém lembra o que disse Roberto Jefferson, delator do Mensalão, ao principal ministro de Lula, à época?
– Vai pra casa, Zé Dirceu.

(Publicado no Facebook, 15/3/15)