segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Fragmentos de um livro com velhas histórias familiares



Gustavo Maia Gomes


Arrecifes e o porto do Recife em 1875. (Foto de Marc Ferrez, acervo do Instituto Moreira Salles.)


"O Recife é uma dádiva do porto". A frase de Heródoto, que se referia ao Egito e ao Rio Nilo, eu a ouvi, pela primeira vez, quando a última pirâmide ainda estava em obras. Acredito que da boca de Dona Inês, a professora inesquecível que me ensinou a ler. Aplico-a, com adaptações, ao Recife. É certo que a cidade não vivia apenas da exportação de açúcar e algodão, do que tudo o mais se derivasse. Existiam outros fatores autônomos, como o comércio interprovincial por vias terrestres e o emprego público. Mas isso não deixa de ser um argumento de segunda ordem. A economia recifense, não apenas no século XIX, mas, desde o início da colonização até, talvez, os anos 1950, foi, fundamentalmente, uma dádiva de seu porto. 


Não era pequeno o movimento de navios no porto do Recife, na segunda metade do século XIX. No dia 1 de janeiro de 1872, entraram os navios Mandaú, vapor brasileiro de 222 t, com carga de algodão vinda de Mamanguape (Paraíba); Alice, vapor inglês de 899 t, vindo de Liverpool e Lisboa, com vários gêneros; o Erie, vapor americano de 2.900 t, vindo do Rio de Janeiro, com café e outros gêneros; a barca inglesa (sic) George Washington, de 414 t, trazendo carvão de Liverpool; a barca sueca Sygnus, de 357 t, com carvão de Hull; o brigue inglês Joshua & Mary, de 218 t, trazendo 2.330 barricas de farinha de trigo vindas de Trieste; a barca portuguesa Felix, de 318 t, trazendo café e outros gêneros do Rio de Janeiro; o brigue sueco Helena, de 224 t, com lastro vindo do Rio de Janeiro.[i] 

No mesmo dia, saíram a galera espanhola Joaquim Serra, levando uma carga de algodão para Barcelona; o brigue brasileiro Raio, com carga de açúcar, aguardente e outros gêneros para o Pará; o vapor brasileiro Ipojuca, levando carga de vários gêneros para Granja e portos intermédios. Em novembro, diria o presidente da Província de Pernambuco, Faria Lemos, em seu relatório à Assembleia: “é calculada [para o ano todo de 1872] a entrada de navios de longo curso em 700 e tantos e os brasileiros de grande cabotagem em 300 e tantos”. Mais navios estrangeiros que brasileiros.[ii] 

Pelo resumo da última semana comercial de 1871, ficamos sabendo que “em consequência de notícias vindas da Europa, de preços mais altos nos mercados ingleses para o algodão, este gênero subiu aqui cerca de 300 a 500 reis em arrobas”. Prosseguia: “o mercado de açúcar esteve um pouco paralisado, poucas transações se fizeram”. Quanto ao café, de que Pernambuco era importador,

O mercado por agora está suprido, alguns lotes vendidos têm sido a preços mais baixos. Não houve chegada de carne do Rio Grande [do Sul], os preços não se alteraram e a saída para o consumo foi pequena. Não constam vendas de couros, também não há muitos para vender. Continua abundante o mercado de farinha de mandioca; não há notável alteração nos preços dos outros artigos do país, dos quais está mais ou menos suprido o mercado.

A importação do estrangeiro, continuava o jornal,

Foi de porção de arroz da Índia, de cinco navios com bacalhau, dos quais dois seguiram para o Sul; dois ditos com carne do Rio da Prata, onze ditos com carvão de pedra, do qual o mercado está muito abundante, quatro ditos com farinha de trigo, um dito com genebra [aguardente de cereais] de Hamburgo, além de outros com diversos gêneros.[iii]

Uma resenha produto a produto dos “gêneros nacionais” entrados no porto ou por ele saídos relacionava a aguardente, o algodão, o “algodão de Maceió”, o da Paraíba, o do Rio Grande do Norte, o açúcar, o “açúcar de outras províncias”, o café, a carne seca do Rio Grande, couros salgados, couros salgados verdes, farinha de mandioca, feijão, fumo, gorduras, goma de mandioca, mel, milho, sal do Assu, solas, velas de carnaúba...

Dentre os “gêneros estrangeiros”, o Jornal do Recife relacionava o alpiste, o arroz da Índia, o azeite de oliveira, a banha de porco, “batatas das inglesas e das portuguesas”, bacalhau, “a bolachinha americana”, breu, canela, carne seca do Rio da Prata, carvão de pedra, cebolas, cervejas da inglesa e alemã, chá, chouriças, chumbo de munição... E mais: cominho, cravo da Índia, cimento, erva doce, farelos, farinha de trigo, genebra, querosene, louça inglesa, massas, manteiga, óleo de linhaça, passas, papel de embrulho, pimenta da Índia, presuntos, pólvora, queijos, sardinhas de Nantes, tabuado [porção de tábuas] de pinho, toucinho de Lisboa, velas de cera, velas estearinas, vinagre de Lisboa, vinhos...[iv]

Os produtos “exportáveis”

Em valor, a quase totalidade da exportação feita pelo Recife (não necessariamente de bens produzidos em Pernambuco) se resumia a açúcar e algodão. Esporadicamente, apareciam vendas de outros produtos – por exemplo, no dia 29 de dezembro de 1871, aguardente, espírito de vinho e tábuas de amarelo e de louro – seja para o estrangeiro ou para as demais províncias. Nem por isso deixava a repartição arrecadadora de impostos de publicar uma extensa lista de “gêneros sujeitos a direitos de exportação”, com os respectivos preços de referência.

Na semana de 2 a 5 de janeiro de 1872, a relação dos produtos tributáveis na saída incluía abanos, algodão em caroço, algodão em rama ou em lã, animais vivos (carneiros e porcos), arroz com casca e descascado ou pilado, açúcar branco, mascavado ou refinado, aves vivas (galinhas e papagaios), azeites de amendoim, de coco e de mamona, batatas alimentícias, aguardentes (cachaça, de cana, genebra, ou restilada), álcool, cerveja, vinagre, vinho de caju, bolacha, café (escolha ou restolho; torrado ou moído)...

...cal branca, cal preta, carvão vegetal, cera (amarela ou de carnaúba), chá, cocos secos, cola, couros de boi (secos salgados, espichados, verdes), couros de cabra curtidos, couros de onça, doces (em calda, em geleia ou massa, secos), espanadores de penas (grandes ou pequenas), espanadores de palha, esteiras de carnaúba, esteiras próprias para forro ou para estiva de navios, estopa nacional, farinha de araruta, farinha de mandioca, feijão de qualquer qualidade, charutos, cigarros, fumo em folhas, fumo em latas, goma de mandioca...

...ipecacuanha (planta medicinal) em raiz, toros de angico, caibros, enxalmeis, frechais, couçoeiras (sic) de jacarandá, lenha em achas, lenha em toros, linhas e esteios, pranchões de louro, pau brasil, pau de jangada, melaço, mel de abelhas, milho, ossos, palha de carnaúba, pechuri (sic), pedras de amolar, pedras de filtrar, rebolos, penas de ema, piaçava, pontas ou chifres de novilhas ou vacas, sabão, sal, salsaparrilha, sapatos de couro branco, sebo em graxa, sola e vaqueta, tapioca, unhas de boi, vassouras (de carnaúba, de piaçava, de timbó).[v]

Muitos desses produtos que, de “exportáveis” pouco tinham (apesar da cobiça do governo em taxar sua saída), ainda estão por aí, mormente, nas feiras do Interior. Alguns fizeram parte de meu dia-a-dia de criança e jovem no Recife, em Maceió, em Branquinha, AL, na praia da Maria Farinha (Paulista, PE), nos anos 1950 e 1960.

Os abanos (o fogão da fazenda Monte Verde, em Branquinha, era de lenha; abanos de palha não podiam ser dispensados); a cera de carnaúba, que usávamos, meu irmão Ivan e eu, para lustrar os “jogadores” do futebol de botões, feitos com chifres de boi; os couros dos chinelos de feira e das selas de cavalo; os doces (os que Lupicínia, mãe de Jairo, mulher de Abílio, fazia com os araçás em Monte Verde são inesquecíveis; os de goiaba, ainda hoje, não dispenso)...

...os espanadores de palha, as esteiras – de piripiri, não de carnaúba – em que cheguei a dormir, muitas vezes, estendendo-as pelo chão, em mal explicados interiores nordestinos; a farinha, a goma de mandioca, a tapioca, que dispensam comentários, dada a sua incontestável atualidade; o pau de jangada, que ainda se podia encontrar (com dificuldade, embora) nas matas próximas à praia de Maria Farinha, nos anos 1960; o sebo, para passar nas bolas de couro em decomposição das peladas futebolísticas; o melaço (sempre preferi chamá-lo mel de engenho), que eu comprava em pequenas porções no portão de minha casa; as pedras de amolar, as vassouras de piaçava...


[i] Diário de Pernambuco, 2/1/1872, pág. 5.
[ii] Diário de Pernambuco, 2/1/1872, pág. 5; Relatório do Presidente da Província Faria Lemos à Assembleia, 27/11/1872, pág 15.
[iii] Jornal do Recife, 2/1/1872, pág. 3.
[iv] Jornal do Recife, 2/1/1872, pág. 3.
[v] Jornal do Recife, 2/1/1872, pág. 3.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Um lugar de distinção

Faculdade de Direito do Recife

Reitoria da Universidade Federal de Pernambuco
Nas minhas pesquisas sobre a história de familiares há muito falecidos, estive lendo uma lista de professores e alunos da velha Faculdade de Direito do Recife. Encontrei nomes como Clóvis Bevilacqua, Epitácio Pessoa, J. J. Seabra, Assis Chateaubriand, Nilo Peçanha, Agamenon Magalhães, F. Pessoa de Queiroz, José Lins do Rego, Martins Junior, Amaro Quintas. E muitos outros. Também soube, por fontes diversas, que Castro Alves e Rui Barbosa aqui estiveram, embora tenham se formado em São Paulo.
Meu bisavô Manoel Sebastião de Araújo Pedrosa, da turma de 1883, foi aluno de Tobias Barreto. Meu avô Nominando Maia Gomes (1911) teve como colega o também alagoano Pontes de Miranda, talvez, o maior jurista brasileiro de todos os tempos. De Mauro Bahia de Maia Gomes, meu pai (1939), Soriano Neto e Sebastião do Rego Barros foram mestres.
Ainda temos, nos dias atuais, excelentes professores e alunos, não só em Direito, mas em muitos cursos universitários do país. Há uma diferença, entretanto, entre o ontem e o hoje. Até, talvez, os anos 1950, a Faculdade de Direito do Recife era um lugar de distinção. No tempo do Império, seus professores e diretores recebiam títulos nobiliárquicos. Na República, eram convocados para cargos importantes. Os alunos, em regra, pelo menos, cultivavam esse clima de respeito e reverência, pois sabiam estar sendo preparados para disputar posições importantes na sociedade de seu tempo.
Hoje, não é mais assim. Ao invés de templos da diferença, as universidades são regidas pelo princípio da isonomia, da mesmitude, da nivelação por baixo. Se Albert Einstein acordasse de seu sono definitivo e viesse ser professor de uma universidade pública brasileira, iria ter o mesmo salário de Rescaldo Sangrento, um rematado imbecil que, juntando circunstâncias e manobras, ganhou o título de doutor em ignorâncias variadas.
Além do salário equivalente ao de Rescaldo Sangrento, Einstein teria, também, alunos que -- num democratismo nauseabundo -- frequentam as aulas exalando mau cheiro, vestindo roupas rasgadas e descansando os pés imundos na cadeira à frente. Não é uma questão de pobreza ou riqueza. Os jovens ricos tomam banho antes de irem ver as namoradas; os pobres sempre exibem roupas decentes quando vão à igreja de sua devoção. É uma questão de se valorizar ou não o lugar que se vai.
Salvo raríssimas exceções, não temos Einsteins nas universidades brasileiras. Nunca mais teremos. Em troca, elas estão cheias de Rescaldos Sangrentos.
(Sinal dos tempos: compare-se, nas fotos anexas, o prédio da Faculdade de Direito do Recife, inaugurado em 1911, com o edifício onde funciona a Reitoria da Universidade Federal de Pernambuco, inaugurado, provavelmente, nos anos 1970.)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Reunião do Ministério

O presidente reúne toda a equipe e ordena:
— Secretário, faça a chamada.
Ninguém se apresenta. O presidente eleva a voz:
— Secretário, a chamada.
Um assessor sussurra:
— Saiu às pressas. Tem um oficial de Justiça aí.
— "O senhor assuma", pede o presidente.
O assessor começa:
— Ministro número um.
Uma voz responde:
— Tá preso.
— Ministro número dois.
A mesma voz:
— O habeas corpus foi negado.
— Ministro número três.
— Foi em casa buscar a tornozeleira.
— Ministro número quatro.
— Teve um chamado urgente de Curitiba.
E assim por diante, até o assessor perder a paciência:
— Filho da puta, ladrão, cornudo número vinte e oito.
— Presente.


(Publicado no Facebook, 10/12/2016)

domingo, 11 de dezembro de 2016

Antonio vereador e a rainha Elisabeth

 Gustavo Maia Gomes

Em 1968, eu era repórter político do Jornal do Commercio (Recife). Cobria tanto a Assembleia Legislativa quanto a Câmara Municipal. Estávamos entrando na fase mais dura do regime militar. Muitos deputados e vereadores tinham sido cassados. Em quase todos os casos, os suplentes que assumiam eram verdadeiras nulidades. Ou piores do que isso.

O presidente momentâneo da Câmara Municipal, Antônio Barbosa, por exemplo, dava sinais de ser uma pessoa fronteiriça. Em tempos normais, ninguém se incomodaria com isso, mas, naquele momento, havia duas circunstâncias que não podiam ser ignoradas: (1) o Recife estava em vias de receber a visita da rainha da Inglaterra; e (2) pelos protocolos diplomáticos, o Presidente da Câmara teria um papel importante a desempenhar na recepção a Elizabeth II.

Nos círculos, digamos assim, responsáveis do Estado, começou a se desenvolver o pânico. E se Antônio Barbosa cuspisse no rosto da rainha? Ou se ele, simplesmente, não conseguisse fazer a sua parte nas cerimônias? Quem sabe, não daria um arroto de repercussão internacional, noticiado por todos os jornais do mundo? Não, não se podia correr esse risco. Mas, o que fazer?

A solução foi convencer o vereador a se licenciar por alguns dias. A Câmara elegeu, em seguida, um presidente transitório mais normal e a recepção à rainha transcorreu sem incidentes. Antônio Barbosa deve ter ficado satisfeito: foi só ele concordar em sair de férias para ninguém mais lhe dizer onde ficava a Inglaterra, quem era essa tal de Elizabeth, nem o que ele tinha a ver com aquilo tudo.

(Publicado no Facebook, 11/12/2016)

Sobre Mario Pedrosa, crítico de artes e ativista político (1900-81)




Nada mais a ver com o açúcar[1]

Gustavo Maia Gomes[2]

Com Mário Pedrosa (1900-81), filho de Pedro da Cunha Pedrosa (1863-1947) e Antônia Xavier de Andrade (1872-?), desaparecem desse ramo da família os últimos vestígios da cana, açúcar e engenhos, assim como a mediocridade intelectual e o conservadorismo político típicos daquele mundo. Antes dele, em 1916, seu pai (senador da República, 1912-22) já havia saído da Paraíba e se mudado para o Rio de Janeiro, jamais voltando a residir naquele Estado. O filho completaria o percurso tornando-se, em grande medida, cidadão do mundo. Aderiu ao comunismo, foi perseguido, mas se manteve fiel à sua escolha; tornou-se crítico de artes e ganhou reputação internacional.

“Quando eu nasci” [em 1936], disse Vera Pedrosa, “meu pai [Mário] estava sendo procurado pela polícia [política do regime varguista (1930-45)] e vivia na clandestinidade. (...) Ele foi preso, levou um tiro. [Fugiu] com passaporte falso até Paris, depois para os Estados Unidos. Só voltou quando amainou a perseguição à esquerda”. O repórter Silas Marti acrescentou: “Na sala atulhada de obras de arte de seu apartamento em Ipanema, no Rio, Vera Pedrosa nem parece estar descrevendo a vida de um dos maiores pensadores das artes visuais na história do país”.[3]

Origens


Nascido em Timbaúba, zona canavieira Norte de Pernambuco, num momento em que seu pai havia retornado transitoriamente à atividade agrícola, Mário Pedrosa morou na Paraíba (hoje, João Pessoa), Rio de Janeiro e São Paulo, cidades brasileiras, mas também em Lausanne, Berlim, Paris, Nova York, Santiago do Chile e Havana. “Quando eu estava com 13 anos”, escreveu Mário Pedrosa, “devido à minha vagabundagem, meu pai me mandou para a Suíça. Fiquei interno num colégio em Lausanne. Com a guerra, voltei para o Brasil [em 1916], acompanhado por dois colegas, numa viagem bastante arriscada”.

Pedro era, nesse ano, senador da República. Seu filho e mais três jovens “viajaram à Europa sob a guarda de José Araújo Vieira para serem matriculados no colégio jesuíta Maison Mellon, em Gand, Bélgica”. Um imprevisto iria, entretanto, alterar a programação. “Chegando a Portugal, o escritor José Vieira adoeceu e Mário terminou sendo inscrito no Instituto Quinche, de Lausanne”, de religião protestante. Quando souberam disso (o que parece ter demorado), os seus pais ultracatólicos se escandalizaram. O menino deveria mudar de colégio. Aparentemente, antes que isso acontecesse, ele foi chamado de volta para o Brasil.[4]

De volta ao Brasil, Mário continuou seus estudos, preparando-se para entrar na faculdade, o que aconteceu em 1919. Já então, seu mundo não se limitaria a atividades únicas: “além das aulas do curso de Ciências Jurídicas e Sociais, frequentava os concertos do Teatro Municipal. Passou a se relacionar com o poeta Murilo Mendes e com Mary Houston, sua futura esposa [dele, Mário], entre outros. Conheceu Lívio Barreto Xavier e, interessados pelas questões sociais, [os dois se] aproximaram do professor Edgardo de Castro Rebelo – positivista entusiasta do marxismo”.

Foi esse professor que mais fortemente o influenciou a fazer as escolhas políticas que estavam por vir. Mas, outras companhias foram importantes nos primórdios de seu apego às artes. Quase 60 anos depois dessa época, em entrevista ao Jornal do Brasil, Mário Pedrosa diria: “A música foi a primeira arte pela qual me apaixonei. Cheguei a escrever sobre ela. Fui amigo de Elsie Houston, cantora famosa [irmã de Mary], Luciano Gallet, Villa-Lobos, [Camargo] Guarnieri, Mário de Andrade.” Formado em Direito (1923), nunca exerceu a profissão. “Fui logo trabalhar em jornal, onde fazia um pouco de tudo. Era um tempo em que não havia muita especialização nas redações.”[5]

Apesar de não o ter mencionado isso na entrevista ao Jornal do Brasil, Mário Pedrosa conseguiu um emprego de “fiscal interino do Imposto de Consumo”, em São Paulo, logo após se formar. (Além de ter sido, dois anos mais tarde, nomeado “agente fiscal” na Paraíba.) O cargo tinha a vantagem de dar algum dinheiro e pouco trabalho. Certamente, não seria incompatível com a atividade jornalística. Tanto que, no mesmo ano, ele foi contratado pelo Diário da Noite, então dirigido por Oswaldo Chateaubriand, irmão de Assis (o “Rei do Brasil”, segundo o livro de Fernando Morais). No Diário, Pedrosa conviveria com Mário de Andrade, Di Cavalcanti, Lívio Xavier e Geraldo Ferraz.

Com a ajuda deste último, Mário Pedrosa iria, muito mais tarde, criar os periódicos O Homem Livre, em 1933, e Vanguarda Socialista, em 1945, instrumentos da ação política que tenderia a se tornar cada vez mais importante na vida do intelectual nascido em Timbaúba. Com efeito, já em 1926, levado pelo lendário alagoano de Viçosa Otávio Brandão (1896-1980), ele se filiou ao Partido Comunista do Brasil, cuja criação (em 1922) era muito recente. Retornou à Paraíba no mesmo ano, a fim de trabalhar como agente fiscal, e ali se tornou membro do Comitê Regional do PCB. Em 1927, a Lei Aníbal Toledo declarou o comunismo ilegal e Mário foi instado a voltar para São Paulo, a fim de assumir a direção da Socorro Vermelho, organização criada para auxiliar os presos políticos.[6]

Mário, Stálin e Trotsky


Em novembro de 1927, quando planejou ir a Moscou para estudar na Escola Leninista Internacional (levava carta de recomendação de Astrojildo Pereira), Mário Pedrosa já sabia da guerra então sendo travada entre Josef Stálin (1878-1953) e Leon Trotsky (1879-1940). No meio do caminho, desistiu de continuar viagem. Ficou em Berlim, estagiando no Partido Comunista da Alemanha (KPD). Essa desistência, embora seja, geralmente, atribuída a uma misteriosa doença, parece ter resultado de livre decisão dele. Isso, pelo menos, é o que se pode deduzir de cartas da época, conforme argumentado em uma publicação de 2009:

O expurgo de tantas correntes de oposição [na União Soviética] e a expulsão de inúmeros militantes por divergirem da ‘linha oficial’ levaram Pedrosa a desistir de viajar a Moscou; logo após a expulsão de Trotsky em 1928. [7]

É o que disse um misterioso “Manolo”, escrevendo no blog Passa a Palavra. “O que historiadores comumente creditam a uma doença foi, na verdade, resultado de reflexão bem feita, como exposto em carta a Lívio Xavier”, conforme o mesmo autor. Para provar sua tese, “Manolo” transcreve trechos da carta. Num determinado momento, diz Mário Pedrosa: “Agora, aqui pra nós. Desanimei duma vez de ir [para Moscou]. O Congresso Bolchevique expulsou Trotsky e a oposição do partido! Acabou assim a oposição”. Eram os desdobramentos da luta de vida e morte entre os dois líderes comunistas potenciais sucessores de Lenin. “Não foi surpresa”, prossegue Mário, “foi como uma desgraça que já se estava esperando. Os grandes problemas que estavam no ar não foram resolvidos, mas suprimidos. Que é também uma maneira de resolvê-los, afinal. A hora é dura e a gente tem de ser lúcido, disciplinado e coerente. Do meu ponto de vista pessoal, uma desolação”.[8]

Na Alemanha, entretanto, a luta mais premente seria outra, com Hitler pondo sua tropa de choque contra os adversários, destacadamente, os comunistas, a fim de alcançar o poder. O brasileiro participou de conflitos de rua, mas aproveitou o tempo também para assistir aulas de estética, filosofia e sociologia na Faculdade de Filosofia da Universidade de Berlim. Simultaneamente, como havia sido anunciado, Trotsky foi destituído de suas funções de Estado na União Soviética e deportado para o Casaquistão. Tomando posição a favor do líder proscrito, Mário Pedrosa rompeu com o stalinismo e se tornou precursor no Brasil da Oposição de Esquerda, internacionalmente liderada por Trotsky. Foi somente dois anos depois, no clima de agitação que precedeu a subida de Getúlio Vargas ao poder, que o líder tenentista Luís Carlos Prestes aderiu ao comunismo. Os trotskistas tentaram atraí-lo para seu grupo e, com esse intuito, Mário viajou à Argentina e se encontrou com Prestes. Não teve êxito.[9]

Em janeiro de 1931, [Mário] Pedrosa e [Lívio] Xavier, juntamente com Aristides Lobo, entre outros, fundaram a Liga Comunista Internacional (LCI) — também chamada de Oposição Leninista do PCB. [A Liga era] associada à Oposição Internacional de Esquerda — constituída em Paris em abril de 1930 com a perspectiva de desenvolver uma oposição interna às direções stalinistas dos partidos comunistas, procurando convencê-las da justeza da linha política trotskista.[10]

Curiosamente, toda essa atividade revolucionária, missionária a seu modo, corria paralela a uma enorme carência de respaldo popular. Os seguidores oficiais de Trotsky, no Brasil, “raramente excederam o número de cinquenta e nunca passaram de cem”, reconheceria (em 1967) o pernambucano de Timbaúba, durante entrevista ao historiador norteamericano John W. Foster Dulles. Outros depoimentos trazem estimativas ainda menores. Por exemplo, num relato de Luciano Martins, sociólogo que foi, durante um tempo, genro do ativista político e crítico de artes:

Certa vez perguntei a Mary Houston, sua companheira de sempre, militante valente, tantas vezes também presa, (...) quantos eram, afinal, nessa época os trotskistas do Brasil liderados por Mário. Ela custou um pouco, e afinal respondeu: “Talvez uns 20”. Ao que Mário acrescentou rápido: “Mas tínhamos um operário”.[11]

Um operário!

Em 9 de julho de 1932, “eclodiu em São Paulo a Revolução Constitucionalista, movimento que se estendeu até início de outubro do mesmo ano, quando foi assinado um armistício”. Na entrevista de 1977 ao Jornal do Brasil, Mário Pedrosa revela que ele e Mary Houston, nessa ocasião, ficaram presos em São Paulo, ele, “na Liberdade”, ela, “no Paraíso”. (Rua da Liberdade e bairro do Paraíso, esclareço.)

Dois anos mais tarde, ao mesmo tempo em que começava a escrever e fazer palestras sobre artes plásticas, Mário iria intensificar sua atividade política. Aliado a socialistas, anarquistas e comunistas, seu grupo bateu de frente com o integralismo, um movimento político chefiado por Plínio Salgado (1895-1975) filiado ideologicamente ao nazi-fascismo. A disputa teve um episódio sangrento em outubro, quando comício programado pelos integralistas para a Praça da Sé foi impedido a bala pelos grupos de esquerda. Houve mortos dos dois lados; Mário Pedrosa, que teria sido um dos organizadores do tiroteio, saiu ferido desse confronto.[12]

A Intentona Comunista e o Estado Novo


Os trotskistas brasileiros não apoiaram o levante de 1935, chefiado por Luís Carlos Prestes. Rapidamente abortada, a tentativa de golpe possibilitou o fortalecimento das correntes políticas que se opunham ao comunismo, culminando com a decretação por Getúlio do Estado Novo (1937), um regime explicitamente ditatorial. Diante desse quadro, diz a FGV-CPDOC, “Mário Pedrosa decidiu-se pelo exílio, conseguindo embarcar clandestinamente para a Europa”. No ano seguinte, Mary Houston, já casada com ele, seria presa no Rio de Janeiro. Nesse momento, seu marido, em Paris, trabalhava para fundar a IV Internacional (“uma organização comunista composta por seguidores de Leon Trotsky com o objetivo declarado de ajudar a classe trabalhadora a alcançar o socialismo”, na definição padrão da Wikipedia). “Delegado e representante da seção oficial brasileira na Internacional, Pedrosa foi eleito durante a conferência de fundação membro de seu comitê executivo”. Recordaria ele, na entrevista concedida em 1977: “Em 1937 fui para a França, estive em Munique e, em seguida, Estados Unidos. Em 1940, tentei voltar, mas o Filinto Muller [chefe da Polícia Política do Estado Novo] me prendeu e lá fui eu outra vez. Voltei em 1945 para a redemocratização”.[13]

Durante os trabalhos da IV Internacional (1939), houve polêmica sobre a tese da defesa incondicional da União Soviética, sustentada por Trotsky, à qual Pedrosa se opôs. A assinatura do pacto de não agressão entre a Alemanha e a União Soviética, em setembro daquele ano, e a invasão da Finlândia pelos russos em novembro acirraram ainda mais as divergências. Em meio a esse clima, Mário mudou-se para Washington, onde trabalharia como redator da União Pan-Americana e lá redigiu um extenso documento com críticas a Trotsky. Logo depois, “foi excluído do secretariado da IV Internacional. Esse fato levou-o a rever suas posições políticas, acabando por romper com o bolchevismo”. O que significou, também, uma reavaliação do marxismo. Provavelmente, Mário já havia aprendido, então, que divergências e discussão de ideias não seriam jamais toleradas por partidos ou países comunistas.[14]

Em agosto de 1940, Leon Trotsky, asilado no México há três anos, encontrou a morte, assassinado a golpes de picareta pelo fanático espanhol Ramón Mercader, agindo a mando de Stalin. O ditador soviético iria reinar até morrer, em 1953, tendo tido tempo suficiente para se tornar um dos maiores assassinos coletivos da História. (A literatura sobre isso é vasta. Se for para escolher apenas um livro, remeto o leitor interessado a Timothy Snyder, Terras de Sangue: A Europa entre Hitler e Stalin.) Foi bom para sua biografia que Mário Pedrosa tivesse rompido cedo com Stalin; não foi tão bom que precisasse esperar até 1940 para romper com Trotsky e com o bolchevismo em geral. Um não era melhor que o outro. Apenas, Trotsky esteve menos tempo no poder que seu arqui-inimigo. Num livro excepcional, de ficção histórica, sobre o assassinato do líder comunista, o cubano Leonardo Padura escreveu:

Enquanto decorria o processo contra os dezesseis réus [comunistas da velha guarda, perseguidos por Stalin nos processos de Moscou, 1936-38], cada vez que ouvia a voz irascível do Delegado do Ministério Público Vichinski [pedindo] ao tribunal o fuzilamento dos cachorros raivosos levados a julgamento, Liev Davidovitch [Trotsky] recordava aqueles tempos heroicos em que Lenin e ele tinham entregado a Felix Dzerzhinski as rédeas de um mecanismo de repressão revolucionária para que aplicasse, sem lei e sem quartel, um Terror Vermelho capaz de salvar, a (...) revolução balbuciante que mal se mantinha de pé. O Terror da Tcheka [polícia secreta bolchevique] foi o braço obscuro da Revolução, ímpio como devia – como tinha de ser, diriam –, e aniquilou às centenas ou milhares os inimigos do povo, os perdedores da luta de classes.[15]

Mário Pedrosa sabia disso, mas, provavelmente, estava convencido de que o assassinato em larga escala seria o preço a pagar pela construção de um mundo novo, antevisto como melhor que o existente. Não lhe deve ter sido fácil manter a fé revolucionária, em face do que já testemunhara. Seja como for, por essa razão ou pela necessidade prática de ganhar a vida, depois de sofrer pela segunda vez os efeitos da intolerância, ele arrefeceu um tanto em sua atuação política. A partir de 1940 e até, talvez, o início dos anos sessenta, voltou-se mais para a atividade intelectual. De todo modo, ele criou, em 1945, o semanário Vanguarda Socialista (“objeto de ataques furiosos do então influente e stalinista Partido Comunista de Luís Carlos Prestes”, diz Luciano Martins), aproximou-se das ideias de Rosa Luxemburgo e do socialismo democrático e se filiou, em 1946 ou 1947, ao refundado Partido Socialista Brasileiro (a fundação original teria ocorrido em 1933), para onde levou sua revista semanal. Não há registro de que jamais tenha tido grande entusiasmo pelo seu novo partido, entretanto.[16]

Crítico de artes


Nos vinte anos entre 1940 e 1960, Mário Pedrosa iria ser cada vez mais crítico de artes e menos político. Nesse tempo, escreveu Flávio Moura, “o Brasil foi contaminado por um sarampão (sic) construtivista. A ordem do dia nas artes visuais era a abstração geométrica. Qualquer abstração que cheirasse a subjetivismo só não era pior do que a arte figurativa, de um passadismo imperdoável aos paladares da época”. Em grande medida, a moda se deveu ao ex-troskista agora rompido com o bolchevismo e adepto do Partido Socialista. “Ele foi o mentor dos primeiros [concretistas] do Rio, Almir Mavignier, Abraham Palatnik e Ivan Serpa, que começaram a produzir com base em seus textos. Foi o pai espiritual de Ferreira Gullar, a quem deu a chave teórica para o ‘manifesto neoconcreto’. Era idolatrado por Hélio Oiticica e Lygia Clark, que o chamava de herói predileto”.[17]

Naqueles anos 40 Mário Pedrosa trouxe (...) para a esquerda brasileira uma contribuição civilizadora de grande alcance por meio da sua crítica inovadora das artes. Estávamos então impregnados por concepções de cunho (...) pragmático, favorecidas pela leitura pouco flexível que se fazia do marxismo. (...) As obras de arte e de literatura deveriam ser necessariamente interpretadas e avaliadas segundo a sua dimensão social e, não raro, segundo o seu significado político potencial. Em consequência, a crítica tendia a concentrar-se no conteúdo e a negligenciar as questões de forma.[18]

Pedrosa destacou-se, ao longo da vida, mas, sobretudo, nesses anos, pelo grande número de artistas internacionais com quem conversou e, em alguns casos, estabeleceu relações próximas. Em 1947, por exemplo, ele viajou à Europa numa missão do jornal carioca Correio da Manhã. Aproveitou para entrevistar-se com André Gide, Albert Camus, André Malraux, David Rousset e James Burnham e para conhecer, na Itália, o pintor Giorgio Morandi, de quem se tornou amigo. No ano seguinte, encontrou-se com Alexander Calder na primeira visita deste ao Brasil, que também viria a ser seu amigo. Nos anos 1950, Mário “dedicou-se principalmente às artes plásticas e a poesia das quais era o crítico mais respeitado e incentivador”. Suas andanças pelo mundo lhe deram oportunidades de conviver com Diego Rivera e Frida Kahlo, com o poeta e escritor surrealista André Breton e muitas outras pessoas. “As Bienais Internacionais de São Paulo ganharam qualidade e atração sob sua orientação”. Interessou-se pela arte dos povos primitivos e dos internos em manicômios. “A discussão pública e fraterna que manteve com Celso Furtado [impressionou] pela clareza de ideias, ajudando o grande economista e amigo a melhor entender nossa burguesia e seus limites”.[19]

Dou a palavra a Luciano Martins, por um tempo, casado com Vera Pedrosa, filha de Mário: “Dotado de uma poderosa inteligência, sua influência no campo intelectual desde esse tempo seria bem mais duradoura do que na política”. Martins prossegue: era “uma influência que se exercia, mais por meio da convivência no círculo de intelectuais que frequentava [a casa de Mário] ou de artigos de jornal, do que de uma obra escrita sistemática”. De fato, cultivar o hábito de receber pessoas para debater ideias foi uma das marcas registradas do pernambucano de Timbaúba.[20]

Na casa de Mário e Mary se dava uma espécie de encontro de águas. O convívio entre os velhos amigos e companheiros [dele], como Barreto Leite Filho e Lívio Xavier (com o racionalismo erudito do primeiro e o ceticismo mordaz do segundo muito aprendi), os artistas e intelectuais inovadores como Lygia Clark, Aluizio Carvão, Franz Weissman, Milton da Costa, Ivan Serpa, Hélio Oiticica, Almir Mavignier, Abrão Palatnik, Ferreira Gullar, Lygia Pape, Carlinhos de Oliveira, Oliveira Bastos e, ainda, a figura flamejante de Hélio Pellegrino e jornalistas de talento como Cláudio Abramo, Jânio de Freitas e Newton Carlos, para citar apenas alguns.[21]

A produção de Mário Pedrosa como crítico de artes mereceria uma discussão longa que não será feita aqui. Remeto o leitor à literatura especializada. Um bom começo talvez seja o artigo de José D'Assunção Barros referido na nota abaixo.[22]

A política reencontra Mário Pedrosa


No mesmo período (1940-60) em que se viu obrigado a aprofundar sua atividade de jornalista e crítico de artes, o pernambucano de Timbaúba manteve, apesar disso, alguma militância política centrada na revista Vanguarda Socialista e, a partir de 1946 ou 1947 (ano da morte de seu pai), no Partido Socialista. Novamente, ele se defrontaria ali com um ambiente pouco compatível com suas ideias de transformação revolucionária.

Everaldo de Oliveira Andrade, num texto encontrável na internet, (aparentemente, notas de aulas para um curso na Universidade de São Paulo) escreveu: “O diagnóstico de Mário Pedrosa sobre o PSB estava correto: o partido tornara-se uma legenda oportunista e eleitoreira, sem qualquer relação com a luta e os interesses da classe trabalhadora”. Ou, nas palavras do próprio Mário: “o oportunismo político fez com que não se lutasse pela real restauração de um movimento sindical independente, daí nascendo o peleguismo, ao qual o Partido Socialista se associou por motivo de ordem tática. (...) [Mas] o PSB não teve grande importância, porque já nasceu morto”. Nasceu morto, mas abrigou, durante um tempo, o crítico de artes e ativista político. Essa seria a terceira vez que ele faria uma revisão importante de suas convicções táticas, se não filosóficas, sobre as distintas facções do comunismo e do socialismo.[23]

Foi pela via política e não outra que eu, Gustavo, descobri Mário Pedrosa em meados dos anos sessenta, estimulado pelos desdobramentos do episódio ocorrido no Brasil em 31 de março de 1964. Foi um contato com as ideias dele, jamais o encontrei pessoalmente. Nem sabia que era meu parente distante (posteriormente, minha mãe me informaria disso), mas li seus dois livros, A Opção Brasileira e A Opção Imperialista, provavelmente, no mesmo ano (1966) em que ambos foram publicados. Não possuo mais os exemplares, que devem ter virado comida de cupim em um dos muitos ataques do gênero sofridos por minha biblioteca, aproveitando as vezes em que, morando no Exterior, tive de deixa-la aos cuidados de terceiros. Mas lembro de que gostei, sobretudo do primeiro. Era politicamente radical, como convinha aos meus gostos de então. (Talvez o detestasse, hoje.)

É preciso dizer que, nos primeiros anos (1964-68) do regime militar, houve relativa liberdade de manifestação. Na imprensa, o Correio da Manhã, sobretudo, e o Jornal do Brasil, em menor escala, do Rio de Janeiro, publicavam regularmente artigos de Otto Maria Carpeaux, Carlos Heitor Cony, Hermano Alves, Márcio Moreira Alves, Alceu de Amoroso Lima, entre outros, fortemente críticos ao governo. O Estado de São Paulo mantinha, igualmente, a independência.

Também do Rio, porém com várias edições regionais (uma delas no Recife), a Última Hora, até setembro de 1968, quando seu autor morreu, publicava a coluna diária humorística extremamente crítica de Stanislaw Ponte Preta, heterônimo de Sérgio Porto. (Os mais velhos não podem esquecer o “Festival de Besteira que Assola o País”, invenção de Stanislaw para homenagear os idiotas da época, imortalizando suas frases estúpidas ou atitudes descabidas. Ah, se ele estivesse vivo nos tempos de discursos atravessados da ex-presidente Rousseff!)

Nas livrarias, que eu já frequentava assiduamente, era possível comprar livros de Marx e Engels, assim como de comunistas menos famosos, ou mais próximos de nós, como era o caso de Mário Pedrosa. Não apenas dele, não apenas livros comunistas, mas também de quem, mesmo não-comunista, era fortemente crítico ao regime. Essa liberdade relativa perdurou até dezembro de 1968, quando a censura sobre jornais, livros e todos os demais meios de transmissão de informações se tornou muito forte.

Com o advento do Ato Institucional n05 (13/12/1968), Mário Pedrosa e a política voltariam a se encontrar, desta vez, mais por iniciativa dela que dele. No clima de perseguição generalizada aos militantes de esquerda que se estabeleceu a partir de então, ele foi acusado de ter difamado o país no Exterior, ao denunciar a prática de tortura a presos políticos. (Que havia tortura, todo mundo sabia, mas ninguém podia falar. Mário Pedrosa, em depoimento à polícia relatado por Luciano Martins, negou que tivesse propagado no Exterior a tortura brasileira, mas afirmou sua solidariedade com os que a sofriam.)

Desse processo saiu um mandado de prisão preventiva da qual Mário, avisado com antecedência, conseguiu escapar, refugiando-se na embaixada do Chile. Ali ficou durante três meses, enquanto aguardava o salvo conduto para deixar o Brasil e se asilar naquele país. Estava ainda na Embaixada por ocasião das eleições presidenciais chilenas, mas chegou a Santiago antes da posse de Salvador Allende, a que assistiu como convidado especial. Enquanto Mário Pedrosa, mesmo exilado, permanecia sob vigilância do governo brasileiro, um grupo de artistas proeminentes (dentre os quais Pablo Picasso, Alexander Calder, Henri Moore e Max Bill) fez publicar no The New York Times Review of Books carta aberta ao presidente do Brasil responsabilizando-o pessoalmente por qualquer agressão que o crítico de artes viesse a sofrer.[24]

O que se segue é uma carta aberta ao presidente do Brasil. Nós, os intelectuais e artistas que assinam essa carta, receberam com indignação e apreensão a notícia da ordem de detenção emitida por motivos políticos por seu governo contra o escritor e crítico de arte Mário Pedrosa.

Mr. Pedrosa é conhecido por seus trabalhos no campo da arte e, para todos aqueles que leram suas obras ou o conhecem pessoalmente, ele representa uma das expressões mais talentosas da inteligência de um país que ele sempre brilhantemente representou e intransigente e corajosamente defendeu.

Nós o consideramos pessoalmente responsável pela integridade física e bem-estar mental deste eminente brasileiro que ganhou em todos os lugares, por sua personalidade, a admiração e respeito de seus colegas. Nós aguardamos com impaciência e ansiedade ser informados que as medidas tomadas contra ele por seu governo foram revogadas.

[Assinam] Alexander Calder, Henry Moore, Cristiane Du Parc, Cruz-Diez, JovenalRavelo, Jacques Vagmarsky, ZaoWou Ki, Luc-Alain Bois, Picasso, Max Bill, Soulages, I. Agam, G. Rossi.[25]

Em 1973, Allende seria derrubado pelos militares comandados por Augusto Pinochet e uma feroz ditadura se instalaria no Chile. O nome de Mário Pedrosa foi incluído nas primeiras listas de inimigos do novo regime. Passou a ser caçado pelo aparato repressivo do general ditador. “Não há outra coisa a fazer: ele se asila na embaixada do México, onde aguarda um salvo-conduto para viajar”. Como a permissão demorasse muito, “de Paris, Carlos Fuentes intercede junto a seu governo para a concessão do documento. Mário pode ir, então, para o México, mas lá não pode ficar. Precisa viajar para Paris”. Nesse momento, seu ex-genro Luciano Martins morava na França e foi buscá-lo. Ao recebê-lo no aeroporto de Orly, percebeu que ele estava “quebrado” com mais uma derrota da esquerda.[26]

“Como o senhor saiu do Chile?”, perguntou-lhe a Folha de São Paulo, em dezembro de 1977, poucos meses depois de seu regresso do exílio.

Os primeiros dias foram uma das coisas mais terríveis que eu conheço. [Os militares] fuzilando gente na rua a toda hora, aviões de caça passando por cima das casas, havia uma grande ofensiva contra estrangeiros, contra brasileiros. (...) Na rua paravam as pessoas, fuzilavam e jogavam os corpos por ali, na guia. Uma das coisas mais trágicas que eu vi. Todo mundo corria para as embaixadas.[27]

Intercalo uma observação de caráter pessoal. Em 1985, eu trabalhava no governo, em Brasília, quando viajei a Santiago do Chile, convidado para reuniões técnicas na Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, órgão da Organização das Nações Unidas). Fui recebido no aeroporto por um diplomata brasileiro e transportado até o hotel em carro oficial da ONU, com direito às bandeirinhas azuis laterais e tudo.

No trajeto, fiquei impressionado com a quantidade de carros pretos (que deviam ser blindados) cujos passageiros – nitidamente, policiais – viajavam armados de metralhadoras com metade dos corpos fora da janela, examinando ostensivamente cada detalhe à sua volta. A pessoa que me acompanhava falou: “nós não vamos ter problemas, porque estamos numa viatura diplomática, mas não convém olhar para eles [os policiais projetados sobre a rua]”. Santiago ainda estava, naquele momento, sob toque de recolher, o que me obrigava, ao fim da tarde, a caminhar apressadamente da sede da Cepal, onde aconteciam as reuniões, até o hotel em que me hospedei. Observei naqueles dias um clima de tensão que nunca tinha visto tão escancarado no Brasil, mesmo nos piores dias de nossa ditadura. Se era assim doze anos depois do golpe, imagino como deve ter sido em 1973.

Mas, volto a Mário Pedrosa. “Qual foi o pior exílio, o do Estado Novo ou este?”, perguntou o repórter da Folha de São Paulo, na continuação da mesma entrevista já citada. Eis a resposta dele:

Todo exílio é ruim. O primeiro [1937] foi pior porque a situação do mundo era terrível: o fascismo em ascensão, uma guerra se aproximando, e nós pobres oposicionistas isolados. De maneira que o primeiro asilo foi pior nesse sentido, você não tinha como se situar. Agora não. Agora [o exílio durou de 1971 a 1977] é uma crise geral, mas não existe um fascismo.[28]

Último ato


Nos seus últimos anos de vida, Mário Pedrosa teve um papel importante na fundação do Partido dos Trabalhadores, o PT. Nisso, ele foi seguido por alguns intelectuais de peso, destacadamente, Antônio Cândido e Sergio Buarque de Holanda. “Aos quase 80 anos”, depõe Luciano Martins, “Mário acompanhou com extraordinário interesse e esperança o surgimento do que então se chamava ‘novo sindicalismo’ no ABC paulista. Não teve dúvidas, escreveu uma longa carta a Lula, recomendando: crie um partido político de trabalhadores. Afinal, era tudo que durante toda a sua vida [ele] havia esperado”.[29]

O próprio Lula daria seu testemunho a respeito desse episódio:

Um belo dia, estou no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo quando recebo uma carta, datada de 1° de agosto de 1978. Essa carta foi o que permitiu que eu lhe telefonasse para marcar um primeiro encontro com ele. Penso que Mário Pedrosa, e outros intelectuais, como Antônio Cândido, Sérgio Buarque de Holanda, além de Lélia Abramo e outros companheiros, tiveram um papel extraordinário na criação do PT. Às vezes penso que o PT não teria sido criado se não tivéssemos um grupo de intelectuais que resolvesse, naquele instante, travar um debate político nacional.[30]

Quando houve a cerimônia de fundação do PT, Mário estava presente. “Ele, depois, me contou: ‘Danei-me de chorar’. Era assim o Mário Pedrosa que conheci. Uma dessas pessoas – e o digo com tristeza – que (...) não se fabricam mais”.[31]

Fico me perguntando se Mário Pedrosa também iria “danar-se de chorar” se visse o PT e Luís Inácio Lula da Silva na situação em que se encontram hoje.

Como teria Mário reagido à derrocada do comunismo e à falência moral do PT?


Entre os jovens de classe média, à época em que a personalidade de Pedro Pedrosa se formou em Lausanne, no Rio de Janeiro, Berlim, Paris e outras cidades onde ele residiu ou visitou com frequência, a militância política de esquerda – predominantemente, socialista e comunista; em todos os casos, contestadora da ordem estabelecida – não era incomum. Ao contrário. Para muitos rapazes e moças como ele, nas primeiras décadas do século XX, as ideias de Marx, Engels, Lênin, Trotsky; a Revolução Russa; a promessa de transformação do mundo aqui mesmo e não no paraíso celestial representaram poderosos ímãs.

Não é coincidência que esse seja, também, o tempo em que o apelo religioso, leia-se, católico, como ideal de virtude e promessa de redenção, perde a sua força. Essas influências, claro, eram muito mais sensíveis na Europa e no Rio de Janeiro do que em Timbaúba, São Vicente ou Escada, cidades pernambucanas importantes para gerações anteriores dos Pedrosa. Entre outras razões, porque a força das ideias revolucionárias decorria, em larga medida, dos processos simultâneos de urbanização e industrialização que estavam ocorrendo naqueles anos no mundo ocidental. No Brasil, inclusive. Rompendo com a velha ordem, esses processos faziam aparecer novas classes, novas aspirações e frustrações – esperanças, mas, também rancores –, enquanto criavam conflitos que nem imaginados podiam ser, apenas poucas décadas atrás.[32]

É pouco surpreendente, portanto, que o jovem Mário Pedrosa tenha seguido o caminho da contestação radical à ordem estabelecida. (Que tenha persistido nele até a velhice é mais difícil de explicar.) Quem sabe, os anos de internato no protestante Instituto Quinche, em Lausanne, Suíça, tenham sido uma experiência marcante para ele, nesse sentido. A convivência com colegas e professores de mentalidade moderna no curso de Direito do Rio de Janeiro, certamente, o foi. Dotado de inteligência privilegiada, como viria a provar com sua produção intelectual, e tendo tido a oportunidade de, inclusive, viver no continente onde todas essas ideias novas estavam sendo produzidas e testadas, era natural que ele se sentisse atraído por elas e pela mística da ação heroica, perigosa, clandestina e (acreditavam os iniciados) transformadora dos jovens revolucionários.

Seria apenas isso?

Não tenho informações suficientes para dizer com segurança se, em seu caso, a opção revolucionária também se explicaria por um conflito com a própria família, o pai, especialmente. Mas, elementos para isso não faltavam. Pedro – conservador em política, católico ferrenho e defensor de princípios morais tradicionais – percorreu trajetória brilhante.

Os Cunha Pedrosa da geração de Raimundo, pai de Pedro, avô de Mário, eram “aristocratas na pobreza”. Pedro venceu esse estigma e, por esforço próprio, conquistou um lugar no estrato mais alto da sociedade de seu tempo. Fez isso no Rio de Janeiro, não em Timbaúba. Ou seja: alcançou posição de máximo destaque no Brasil, não apenas na zona canavieira Norte de Pernambuco. Não deve ter entendido nunca por que o filho não podia ser como ele, superá-lo, inclusive, atingindo posições ainda mais elevadas, sem a necessidade de colocar a vida em risco fugindo da polícia, em nome de uma revolução de gosto duvidoso e probabilidade mínima de acontecer. Sobretudo, tendo seu filho um ponto de partida tão mais favorável.

Considerando esses elementos, a pressão de Pedro contra a opção política de Mário, quando este ainda era jovem e dependente do pai, deve ter sido forte, suscitando a correspondente reação. Mas tudo isso, repito, é matéria de hipóteses, não de fatos estabelecidos que amparem conclusões inequívocas.[33]

Sem relação com a figura do pai, entretanto, a persistência da opção política de Mário não deixaria de estar sujeita a testes severos impostos pelo mundo exterior. Alguém já disse que a sina do idealista é ver seus sonhos realizados de uma forma que lhe destrói o ideal. Com a passagem do tempo, os fundamentos ideológicos da ação política do ativista e crítico de artes foram, um a um, se revelando ilusórios, quando não francamente perversos.

Em três casos, ele percebeu isso, fez autocrítica e mudou de rumo. Foi assim em 1928, quando renegou Stálin, interrompeu uma viagem de estudos a Moscou e foi expulso do Partido Comunista Brasileiro; em 1940, quando criticou Trotsky e foi excluído do Secretariado da IV Internacional; e ao longo da década de 1940, quando percebeu que tampouco o Partido Socialista (aquele que “já nasceu morto”) oferecia uma base segura para a realização dos objetivos políticos por ele idealizados. Mas Mário não viveu o bastante para testemunhar dois outros naufrágios de seus princípios basilares: (1) o do comunismo (ou “socialismo real”), simbolizado pela queda do muro de Berlim (1989) e a dissolução da União Soviética (1991), e (2) a desmoralização do Partido dos Trabalhadores, nele incluído seu líder maior Luís Inácio Lula da Silva, apanhado em flagrante praticando a menos idealista política e a mais nefasta corrupção.

Como teria o revolucionário nascido em Timbaúba reagido diante desses dois eventos anticlimáticos? É difícil dizer. Com relação ao comunismo, em novembro de 1981, quando ele morreu, o muro de Berlim já havia completado 20 anos. Não tenho ciência de que Mário Pedrosa haja, em nenhum momento, expressado sua desilusão com um regime que precisou cercar o paraíso de muros, para evitar não que os habitantes do inferno capitalista pulassem para dentro, mas, ao contrário, para impedir que os (supostamente) felizes beneficiários de uma sociedade sem classes caíssem fora dali. Por outras razões da mesma natureza, a derrocada moral do comunismo também teria ficado clara a um bom observador (e Mário, certamente, o era) muito antes dos anos 1980. Stálin pode ter sido um caso extremo, mas toda a história dos regimes de inspiração marxista já havia sido escrita, até aquela altura, como uma crônica de ditaduras horrendas e assassinos ferozes.

Mao Zedong, na China, matou mais gente do que Stálin e Hitler juntos. Fidel Castro e Che Guevara, proporcionalmente, talvez tenham fuzilado mais cubanos do que qualquer um dos ditadores que alcançaram o poder em outras paragens. Economicamente, também já estava demonstrado, em 1981, que o socialismo produzira sociedades povoadas de pessoas, relativamente, iguais (exceção feita da classe dirigente, “mais igual” que as outras – George Orwell, Animal Farm), porém irremediavelmente pobres.

Para um Mário Pedrosa, quase cidadão europeu, deveria ser impossível não ver que a sociedade de seus sonhos – rica em bens materiais; intelectual e politicamente aberta; toleravelmente, desigual – tinha sido criada pelo capitalismo em países como a Inglaterra, a França, a Alemanha Ocidental, a Holanda, a Dinamarca, a Suécia; e não pelo socialismo em nações miseráveis, opressivas e obscurantistas, como a Albânia, a Romênia, a Alemanha Oriental, a própria União Soviética.

Mas eu não estou certo de que Mário Pedrosa tenha visto nada disso. Menos ainda de que ele conseguiria identificar o PT como um partido fascista (a despeito da retórica de esquerda) e Lula como um homem desprovido de idealismo, um populista clássico que fez da política tão somente um trampolim para o enriquecimento pessoal e familiar. O que sei é que, dos dois outros intelectuais de peso fundadores do Partido dos Trabalhadores, Antônio Cândido jamais reviu suas posições, chegando a defender o governo desastroso e desastrado de Dilma Rousseff, quando se colocou na ordem do dia a proposta de impeachment contra ela, e que Sérgio Buarque de Holanda (morto em 1982) deixou um filho artista incumbido de jurar fidelidade incondicional – mesmo em face da podridão revelada – ao partido que seu pai ajudou a criar.



(G.M.G., junho 2016)





[1] Versão preliminar de um dos capítulos de Uma Noite em Anhumas, livro em elaboração que trata da história social do Nordeste canavieiro nos séculos XIX e XX contada sob o ponto de vista de meus familiares que a viveram, em Pernambuco, Alagoas, Paraíba, na Bahia e (no exílio, por assim dizer) no Rio de Janeiro. COMENTÁRIOS E possíveis CORREÇÕES FACTUAIS SÃO BEM VINDOS.

[2] Gustavo (Pedrosa de) Maia Gomes é economista e escritor. Está em https://www.facebook.com/gustavo.maiagomes e em http://gustavomaiagomes.blogspot.com.br/. E-mail gustavomaiagomes@gmail.com  

[3] Silas Marti (Enviado especial ao Rio de Janeiro), Nova edição de obra do crítico Mário Pedrosa religa arte e política. Folha de São Paulo (Ilustrada), 13/4/2013, disponível em http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/09/1348466-nova-edicao-da-obra-de-critico-mario-pedrosa-religa-arte-e-politica.shtml (acesso em 13/4/2016). O nome completo do personagem deste capítulo é Mário Xavier de Andrade Pedrosa.

[4] As duas citações, na ordem em que aparecem, foram tiradas de Maria Lúcia Rangel. Mário Pedrosa: Um coerente. Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), 12/10/1977, pág. 36, e de Josnei Di Carlo Vilas Boas. “A Arte é fundamental. A profissão do intelectual é ser revolucionário”: A atuação intelectual de Mário Pedrosa na imprensa entre 1945 e 1968. 39o Encontro Anual da Anpocs (2015), disponível em http://www.anpocs.org/portal/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=9621&Itemid=461 acesso em 15/4/2016).

[5] As citações (reproduzidas com certa liberalidade) foram tiradas de Josnei Di Carlo Vilas Boas. “A arte é fundamental. A profissão do intelectual é ser revolucionário”: A atuação intelectual de Mário Pedrosa na imprensa entre 1945 e 1968. 39o Encontro Anual da Anpocs (2015), disponível em http://www.anpocs.org/portal/index.php?option=com_docman&task= doc_view&gid=9621&Itemid=461 (acesso em 15/4/2016) pág. 4, e de Maria Lúcia Rangel. Mário Pedrosa: Um coerente. Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), 12/10/1977, Caderno B, pág. 1.

[6]Josnei Di Carlo Vilas Boas. “A arte é fundamental. A profissão do intelectual é ser revolucionário”: A atuação intelectual de Mário Pedrosa na imprensa entre 1945 e 1968. 39o Encontro Anual da Anpocs (2015), disponível em http://www.anpocs.org/portal/index.php? option=com_docman&task=doc_view&gid=9621&Itemid=461 acesso em 15/4/2016. A informação de que Mário Pedrosa entrou no Partido Comunista por influência de Otávio Brandão eu a colhi em FGV-CPDOC (Fundação Getúlio Vargas, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil), em http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/PEDROSA,%20M%C3%A1rio.pdf

[7] Manolo (?). Mário Pedrosa político (1): das origens ao Grupo Comunista Lenine (1901-1929). Em http://www.passapalavra.info/2009/11/14460 (10 de novembro de 2009). Faço a citação com certa liberalidade, omitindo alguns trechos desnecessários no presente contexto.

[8] Manolo (?). Mário Pedrosa político... Citado acima.

[9] As citações foram colhidas em Josnei Di Carlo Vilas Boas. “A Arte é fundamental. A profissão do intelectual é ser revolucionário”: A atuação intelectual de Mário Pedrosa na imprensa entre 1945 e 1968. 39o Encontro Anual da Anpocs (2015), disponível em http://www.anpocs.org/portal/ index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=9621&Itemid=461 (acesso em 15/4/2016); Mário Magalhães. O olhar dos espiões e Mário Pedrosa, o ‘príncipe do espírito’. Blog de Mário Magalhães, em http://blogdomariomagalhaes.blogosfera. uol.com.br/2015/11/06/o-olhar-dos-espioes-e-mario-pedrosa-o-principe-do-espirito/ (acesso em 14/4/2016); e FGV-CPDOC (Fundação Getúlio Vargas, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil), em http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/PEDROSA, %20M%C3%A1rio.pdf.

[10] FGV-CPDOC (Fundação Getúlio Vargas, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil), em http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/PEDROSA, %20M%C3%A1rio.pdf.

[11] Luciano Martins, A utopia como modo de vida: Fragmentos de lembrança de Mário Pedrosa, em José Castilho Marques Neto, Mário Pedrosa e o Brasil, São Paulo, Fundação Perseu Abramo, pág. 31.

[12] FGV-CPDOC (Fundação Getúlio Vargas, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil), em http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/PEDROSA, %20M%C3%A1rio.pdf. Maria Lúcia Rangel. Mário Pedrosa: Um coerente. Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), 12/10/1977, pág. 36.

[13] FGV-CPDOC (Fundação Getúlio Vargas, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil), em http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/PEDROSA, %20M%C3%A1rio.pdf. Maria Lúcia Rangel. Mário Pedrosa: Um coerente. Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), 12/10/1977, pág. 36.

[14] As citações foram colhidas em FGV-CPDOC (Fundação Getúlio Vargas, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil), em http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/PEDROSA, %20M%C3%A1rio.pdf.

[15] Leonardo Padura. O Homem que Amava os Cachorros. Tradução de Helena Pitta. São Paulo, Boitempo, 2013, pág. 175.

[16] Luciano Martins, A utopia como modo de vida: Fragmentos de lembrança de Mário Pedrosa, em José Castilho Marques Neto, Mário Pedrosa e o Brasil, São Paulo, Fundação Perseu Abramo, pág. 33.

[17] Flávio Moura. Em tempos de crise do PT, vale relembrar a figura de Mário Pedrosa. (2 de abril de 2015) disponível em https://br.noticias.yahoo.com/blogs/flavio-moura/em-tempos-de-crise-do-pt-vale-relembrar-a-figura-191620161.html (Acesso em 15/4/2016)

[18] Antônio Cândido, Um Socialista Singular, em José Castilho Marques Neto, Mário Pedrosa e o Brasil, São Paulo, Fundação Perseu Abramo, pág. 15.

[19] Paulo Sckromov. Mário Pedrosa, o primeiro filiado do PT. http://bogdopaulinho.blogspot.com.br/ 2012/02/mario-pedrosa-por-paulo-sckomov.html

 [20]Luciano Martins, A utopia como modo de vida: Fragmentos de lembrança de Mário Pedrosa, em José Castilho Marques Neto, Mário Pedrosa e o Brasil, São Paulo, Fundação Perseu Abramo, pág. 32.

 [21]Luciano Martins, citado, pág. 34.

[22] José D'Assunção Barros. Mário Pedrosa e a crítica de arte no Brasil. ARS (São Paulo), vol.6, no 11. São Paulo, 2008, disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-53202008000100004#top14

[23] Ambas as citações tiradas de Everaldo de Oliveira Andrade. Alguns passos de Mário Pedrosa, em http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/365619/mod_resource/content/1/Notas%20biogr%C3%A1ficas%20sobre%20M%C3%A1rio%20Pedrosa.pdf, sem indicação de data, local, ou numeração de páginas.

[24]Luciano Martins, A utopia como modo de vida: Fragmentos de lembrança de Mário Pedrosa, em José Castilho Marques Neto, Mário Pedrosa e o Brasil, São Paulo, Fundação Perseu Abramo, pág. 40.

[25] Lista parcial. O apelo foi também assinado por vinte e cinco artistas latino-americanos que vivem em Paris. Disponível em http://www.nybooks.com/articles/1972/03/09/the-case-of-mario-pedrosa/

[26] Luciano Martins, A utopia como modo de vida: Fragmentos de lembrança de Mário Pedrosa, em José Castilho Marques Neto, Mário Pedrosa e o Brasil, São Paulo, Fundação Perseu Abramo, págs. 40-1.

[27] Mário Pedrosa: Confissões de um livre pensador. Folha de São Paulo, 20/12/1977, (Folha Ilustrada, pág.1, disponível em Acervo Folha)

[28] Mário Pedrosa: Confissões de um livre pensador. Folha de São Paulo, 20/12/1977, (Folha Ilustrada, pág.1, disponível em Acervo Folha)

[29] Luciano Martins, citado, pág. 41.

[30] Luís Inácio Lula da Silva, Mário Pedrosa e o Partido dos Trabalhadores, em José Castilho Marques Neto, Mário Pedrosa e o Brasil, São Paulo, Fundação Perseu Abramo, pág. 23. (Omiti alguns trechos que não acrescentavam informação relevante ao presente contexto.)

[31] Luciano Martins, citado, pág. 41.

[32] Na minha tese doutoral, depois transformada em livro (que, em larga medida, já não me agrada), escrita em 1982-83, faço um resumo das confrontações políticas ocorridas no Brasil nos três primeiros quarteis do século XX. Claramente, o contexto maior desses conflitos – pontuados por greves ferozes e ferozmente reprimidas – foi o grande crescimento, associado à industrialização, da classe trabalhadora urbana, principalmente, em cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo.
Nas primeiras décadas do século passado, a ideologia que sustentou a ação política e reivindicatória dos operários e seus sindicatos foi o anarquismo, trazido da Europa pelos imigrantes, sobretudo, italianos. Mas, a partir dos anos 1920, (e aí com a contribuição importante dos jovens intelectuais brasileiros da classe média) a influência do socialismo e, ainda mais, do comunismo se tornou predominante. Vale lembrar que essa foi uma época de grande agitação política também na Europa.
Tudo isso repercutia na nova classe média brasileira, cada dia mais integrada por gente como Mário Pedrosa: instruída, bem informada e insatisfeita com as incontáveis deficiências do país. Querendo mudanças, portanto. (Outra manifestação desse mesmo conjunto de circunstâncias foi o movimento tenentista, a que dei pouca ênfase no livro, mas que hoje considero também muito importante.)
Ver, sobretudo, os capítulos 3, 6 e 10 de Gustavo Maia Gomes, The Roots of State Intervention in the Brazilian Economy, New York, Praeger, 1986.


[33] A única referência de Mário Pedrosa ao pai que consegui localizar foi a de que Pedro o havia mandado estudar na Europa (aos treze anos de idade!) devido à sua “vagabundagem”. Já citei isso. Mesmo Luciano Martins, que foi seu genro (e, portanto, teve acesso a mais informações privadas sobre Mário) não parecia saber nada sobre as relações entre seu sogro (por um tempo) e o pai dele.