tag:blogger.com,1999:blog-91834445781553552932024-03-13T19:09:08.156-03:00Gustavo Maia GomesIdeias em economia, política, história, literatura e memórias familiaresGustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.comBlogger528125tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-61078202559204618992024-01-14T17:34:00.006-03:002024-01-14T17:51:22.143-03:00As cem páginas seguintes<p><span style="font-family: verdana; text-align: justify;">Gustavo Maia
Gomes</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span face=""Calibri Light","sans-serif"" style="font-family: verdana; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Continuo a
ler <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geração D</i>, de Sérgio C. Buarque
(2023). É uma saga dos homens e mulheres brasileiros de classe média, parte
deles estudantes universitários e todos moradores de grandes cidades, que
tinham mais ou menos vinte anos em 1964. Como é o caso de quem escreveu o
romance. E o meu. Em 8/1/2024, cometi a imprudência de publicar no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Facebook</i> uma “Resenha muitíssimo
prematura” do livro, quando havia lido apenas cem páginas do mesmo. Agora
reincido, falando sobre as cem páginas seguintes, que é até onde cheguei, na
leitura, neste momento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span face=""Calibri Light","sans-serif"" style="font-family: verdana; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Mais personagens
são introduzidos nos capítulos 14 a 26, de que trato neste texto. Cada uma traz
à tona um tema específico. Olga, por exemplo, (este é um livro em que – com o
meu apoio entusiástico – as mulheres ofuscam os homens, ao menos até aqui),
entra no enredo pelo caminho da militância de esquerda: partidária, revolucionária,
marxista. Nessa corrente, a atuação política objetivava promover a revolução do
proletariado, considerada a única via eficaz para esmagar o capitalismo e
substituí-lo pelo socialismo, vestíbulo do paraíso terrestre prometido por Marx.
(Se os proletários haviam sido informados de seu destino manifesto ou de sua responsabilidade
tamanhamente ímpar na história universal é uma pergunta que nem se podia fazer;
o que os jovens de classe média teriam a ganhar com aquilo tudo, ainda menos.
Mas, o que eles teriam a perder – como perderam – era bastante óbvio.)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span face=""Calibri Light","sans-serif"" style="font-family: verdana; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Acontece que
Olga foi presa e, quando saiu da cadeia, após curta estada, estava confusa, duvidando
das certezas que tinha antes. Indo passar uns dias com a família na sua pequena
cidade de Minas Gerais, ali conheceu outros jovens e terminou se interessando
pelas ideias alternativas de uma das novas amigas. As duas, insatisfeitas com o
estado atual e as perspectivas futuras da sociedade em que viviam, juntaram duas
dúzias de homens e mulheres e foram morar no campo, isolados, onde criaram uma
comunidade hippie. Já que não podiam derrubar o capitalismo, que vivessem à
margem dele, autossuficientes, plantando o próprio alimento, consumindo muito
pouco, além disso. Elas implementam o plano, mas a libertação que obtém é
ilusória: sua revolução substituta se instala numa terra cedida pelo pai de
Olga, o grupo toma empréstimos bancários para financiar a entressafra e vende no
mercado mais próximo seus excedentes de produção, a fim de comprar os artigos
que necessitam consumir, mas não produzem. (A maconha devia ser um deles,
embora Sérgio não deixe isso explícito.)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span face=""Calibri Light","sans-serif"" style="font-family: verdana; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Não sei como
a experiência hippie de Olga terminará, pois o livro tem mais 300 páginas, além
das já lidas por mim. Mas vejo que, na comunidade a que chamam,
sintomaticamente, Walden (Acorda, Thoreau!), não existiam apenas alfaces e
batatas. Também havia carnes, ou melhor, amores carnais. Não sei se foi isto o
que Sérgio Buarque nos quis dizer, mas passei a sentir, depois da leitura dessa
parte do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geração D</i>, que, mesmo no
paraíso socialista, seja ele do tipo “científico”, como o do partido repudiado
pela personagem, ou “utópico”, como o da comunidade rural de Olga e suas
amigas, a natureza humana não nos abandonará. Traições, intrigas, manobras, paixões
amorosas arrebatadoras, homens que gostam de homens, mulheres que gostam de
mulheres, ou que gostariam de gostar. Ainda não existia nos anos sessenta esta
riqueza letrerária do século 21 – LGBTQIA+ – mas, o que tínhamos nós, então, mesmo
num diminuto ajuntamento de pessoas no interior mineiro, já dava para preparar
a feijoada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span face=""Calibri Light","sans-serif"" style="font-family: verdana; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Outro assunto
trazido à nossa lembrança por <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geração D </i>é
o feminismo, então uma novidade (no Brasil, pelo menos), mais particularmente o
feminismo relacionado à luta contra as agressões físicas dos homens sobre as
mulheres. Agora, já estou falando de Helena, igualmente, presa e depois solta
por suspeita de ter cometido crimes políticos. Na casa da tia Julieta, onde vai
morar, por imposição do pai, ela percebe que a empregada doméstica apanha
rotineiramente do marido. Apanha e não reage: “ele me ama”, justifica-se; a tia
sabe, mas contemporiza: “você acha que ela pode sustentar três filhos sozinha,
sem o marido?” (pág. 120). Levado o motivo de sua revolta ao conhecimento dos
mentores políticos (com cujo partido ela continuava a se relacionar), Helena
ouve de um deles esta obra prima do pensamento teleguiado: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 6pt 22.7pt; text-align: justify;"><span face=""Calibri Light","sans-serif"" style="font-family: verdana; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">– Desculpe,
companheira, mas eu não acho que o partido deva se envolver nesse assunto, pelo
menos não ainda. Temos que concentrar todas as forças na luta contra a ditadura
e na organização da classe trabalhadora. É ingenuidade e visão pequeno-burguesa
pensar na condição da mulher como um fenômeno separado da exploração
capitalista (pág. 121).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span face=""Calibri Light","sans-serif"" style="font-family: verdana; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Moça dotada
de personalidade forte, Helena não se intimidou. Com a ajuda de amigas e, mais
tarde, de uma deputada do partido oposicionista (ou do passava por isso,
naqueles tempos sombrios), ela fundou a “Fêmea, uma organização civil de defesa
dos direitos das mulheres contra a discriminação do machismo, para prestar
assessoria a mulheres vítimas de violência” (pág. 124). Era um lugar só de
mulheres, com a única missão de socorrer outras mulheres. As coisas estavam até
indo bem e assim poderiam ter continuado, não tivesse um homem entrado no
enredo. Ele começa com uma namorada, Norma, mas a troca por outra, a Helena de
quem estou falando. Tudo acontecendo no âmbito da Fêmea – e não sei se aqui
devo escrever essa palavra com letra inicial maiúscula ou minúscula –, de modo
que, presumivelmente, o jogo embolou no meio de campo e os transcendentes
princípios da iniciativa se viram obliterados pelos imanentes desejos de Helena
e de Norma.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span face=""Calibri Light","sans-serif"" style="font-family: verdana; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Neste ponto,
eu quero inserir uns pensamentos próprios, pois à geração D também pertenço. A
esquerda tradicional, ortodoxa – essa que era a única, até recentemente – só
tinha um inimigo: o capitalismo, definido pela oposição entre a classe burguesa,
exploradora, que detinha o monopólio dos meios de produção (máquinas,
equipamentos, terras), e a classe proletária, explorada, dona apenas da sua
força de trabalho e, portanto, obrigada pela necessidade a alugá-la aos
capitalistas. Nessa visão do mundo, o capitalismo era tudo de ruim, mas havia
um Éden, um Nirvana, um Céu na Terra, para onde a humanidade infalivelmente
caminhava (no caso brasileiro, com a ajuda da ALN, da VAR-Palmares e do PCdoB):
o socialismo e, em seguida, o comunismo. Em contraste com o inferno
capitalista, o socialismo era tudo de bom. E nesse “tudo de bom” estava
incluído o fim da violência contra as mulheres que, entretanto, somente poderia
se tornar realidade após a revolução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span face=""Calibri Light","sans-serif"" style="font-family: verdana; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Como sabemos,
essa ideologia tradicional, ortodoxa (dominante nos anos 1960-70, focados nesta
parte de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geração D</i>) se não morreu –
cadáveres quase nunca morrem completamente –, foi muito abalada com a queda do Muro
de Berlim (1989) e o desmoronamento da União Soviética (1991). Quando a cortina
de ferro sumiu e as fronteiras foram abertas, tornou-se evidente que o
socialismo, onde ele havia sido experimentado, tinha sido econômica, política,
ambiental e socialmente um fracasso. E aí ficou difícil manter o discurso de
uma nota só: a revolução ou nada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span face=""Calibri Light","sans-serif"" style="font-family: verdana; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Nessas novas
circunstâncias, o que fazer? (Lênin, uma vez, perguntou isso mesmo.) Para os
ideólogos da esquerda, dar uma volta completa e reconhecer o absurdo de suas
teses estava fora de cogitação. Mas, também, não era mais viável basear a ação
política apenas ou sequer principalmente nelas. Tornou-se preciso encontrar
novas bandeiras, algo que eles conseguiram em pouco tempo. Tudo o que havia
disponível no mercado foi incorporado ao ideário e ao movimentário da esquerda.
Temos problemas de poluição? Defender o ambiente passou a ser uma bandeira da
esquerda. (Não era, antes; ao contrário, o conservacionismo ambiental tinha
sido, até então, uma ideologia tida como reacionária.) A distribuição dos
rendimentos piorou? Criticar a distribuição de renda, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sem condicionar a melhoria dela à derrubada do capitalismo</i>, passou
a ser uma bandeira da esquerda. Há preconceito racial? Defender a igualdade
entre as raças passou a ser uma bandeira da esquerda. Os gays e lésbicas são
oprimidos? Defender a igualdade de gêneros passou a ser uma bandeira da
esquerda. O marido da empregada bate nela todo dia? Então a luta contra a violência
dos homens sobre as mulheres passou a ser uma bandeira da esquerda. Nada disso
tinha mais que esperar pelo socialismo. E assim, a luta de classes, ou a velha
oposição entre capitalistas e proletários, a única que mereceria a atenção da
esquerda no tempo em que a geração D tinha vinte anos, foi para o brejo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span face=""Calibri Light","sans-serif"" style="font-family: verdana; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Por fim, como
não poderia deixar de ser, a tortura dos presos políticos no tempo da ditadura
é um dos temas abordados por Sérgio Buarque. No livro, explícita ou
implicitamente, todos os personagens presos pelo regime foram torturados. Uns
mais, outros menos. Uns resistiram bravamente, sem entregar os companheiros
(mas, às vezes, desmoronando psicologicamente, como Maurício, o marido de
Renata, sobre quem falei na “Resenha muitíssimo prematura”). Outros, entregaram
tudo o que sabiam para se livrar da dor física (a exemplo de Eliane, a mulher
com quem o mesmo Maurício se envolveu, nos seus tempos de clandestinidade, já
sem ter contato com Renata). Todos, enfim, no livro, sofreram as sequelas da tortura.
Pode não ter sido assim que as coisas se passaram, na realidade, mas o provável
exagero do autor se justifica como um recurso dramático. É o que penso. De todo
modo, se a esquerda promoveu a violência, quando uma parte dela optou pela luta
armada contra a ditadura, recebeu desta um troco mais do que proporcional.
Nenhum dos lados saiu ganhando com aquilo, uma reflexão que, mais uma vez (pelo
menos, na parte que já li de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geração D</i>),
não é de Sérgio Buarque, mas minha. Embora pareça estar no espírito de seu
relato como, provavelmente, confirmarei com a continuação da leitura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span face=""Calibri Light","sans-serif"" style="mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><span style="font-family: verdana;">Chego ao fim
desta segunda resenha prematura. Mas, não sem dizer que sou um leitor atento. Até
pequenas falhas, normalmente, não me passam despercebidas. Erros de Português,
por exemplo, abundam no livro comentado. São graves? Não. Há quem ache que isto
– “erros de Português” – nem existe mais, tamanha a licenciosidade cultural a
que chegamos. Na verdade, para os que se contentam com comunicações imprecisas
e mensagens truncadas, nunca existiram. Não é o meu caso, nem o de Sérgio. Além
disso, alguns personagens poderiam ter sido mais bem apresentados, quando de
sua primeira aparição. Duas ou três palavras inseridas no texto resolveriam o
problema. Isso tudo – dos descuidos idiomáticos à insuficiente descrição de
personagens – pode ser corrigido com facilidade na segunda edição que,
certamente, haverá. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geração D</i> (e o digo
após chegar quase à metade da sua leitura) mais do que merece esses cuidados e
carinhos. Mesmo sem eles, é um livro extraordinário.</span><o:p style="font-size: 12pt;"></o:p></span></p>Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-71193454469269490542021-01-27T10:50:00.000-03:002021-01-27T10:50:00.093-03:00 A VIAGEM<p></p><div><div class="" dir="auto"><div class="ecm0bbzt hv4rvrfc e5nlhep0 dati1w0a" data-ad-comet-preview="message" data-ad-preview="message" id="jsc_c_14"><div class="j83agx80 cbu4d94t ew0dbk1b irj2b8pg"><div class="qzhwtbm6 knvmm38d"><span class="d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql rrkovp55 a8c37x1j keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d3f4x2em fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb iv3no6db jq4qci2q a3bd9o3v knj5qynh oo9gr5id hzawbc8m" dir="auto"><div class="kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">Gustavo Maia Gomes</div><div dir="auto" style="text-align: start;"> </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">Desde menina, Antuérpia mantinha os cabelos em perfeita forma. Alinhava-os com pentes de tartaruga; lavava-os com xampus comprados na Índia. Ou, se não na Índia, em Catolé do Rocha, Jordão de Baixo, Brasília Teimosa. O brilho era dado pela infusão do doutor Silvana; a maciez, pelo Xarope X-9, cuja fórmula secreta lhe fora ensinada por uma cigana de circo.</div><div dir="auto" style="text-align: start;"> </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">Aos quinze anos de idade, aqueles cabelos já tinham se tornado famosos. A sua dona nem era tão bonita, mas a cabeleira vasta e bem arrumada compensava essa deficiência. E assim Antuérpia ia tocando a vida. Estudando pouco, namorando um tanto e cuidando da aparência capilar o resto do tempo. Quando se casou com Espremildo, seus cabelos chegavam à altura dos joelhos. Jamais tinham sido cortados; jamais seriam, assegurava a quem lhe perguntasse.</div><div dir="auto" style="text-align: start;"> </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">Quarenta anos depois — Antuérpia já tinha netos e seus cabelos se estendiam pelo chão —, surgiu a moda das perucas. Moda é pouco, obsessão. Então, um dia, alguém chegou à casa da viúva (Espremildo, coitado, não durara mais do que três pentes) querendo comprar-lhe a cabeleira. A mulher bateu-lhe a porta na cara sem sequer saber quanto o homem estava disposto a pagar.</div><div dir="auto" style="text-align: start;"> </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">Pois essa — quanto ele queria pagar? — foi, justamente, a primeira pergunta feita a Antuérpia pela filha Jucileide, a mais velha e infeliz das três, pois o marido a traía com uma bezerra holandesa. Ficou revoltada porque a mãe despachara o visitante sem lhe permitir falar em dinheiro. Assim como Jucileide, suas irmãs Jucicleide e Setembrina também demonstraram descontentamento.</div><div dir="auto" style="text-align: start;"> </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">Tinham razão. Pois os cabelos de Antuérpia valiam uma fortuna. Por essa razão, houve grande expectativa quando outro corretor deixou vazar a notícia de que iria procurar a viúva com uma proposta irrecusável. O encontro aconteceu e, depois dele, o moço disse, em entrevista coletiva, que as negociações tinham avançado.</div><div dir="auto" style="text-align: start;"> </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">Não tinham; era mentira dele. Mesmo após saber que poderia ganhar um milhão de reais, Antuérpia achara insultante a ideia de vender seus cabelos por cinquenta centavos cada fio, com deságio para os menos longos. Jucileide, Jucicleide e Outubrina (esqueci de dizer que o nome da terceira irmã mudava conforme o mês) ficaram injuriadas. A bezerra holandesa expressou sua revolta negando-se a fazer sexo com o amante casado.</div><div dir="auto" style="text-align: start;"> </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">Àquela altura, a recusa de Antuérpia em vender seus cabelos já causava prejuízos à economia nacional. Os institutos de pesquisas equivocadas e previsões estapafúrdias eram unânimes em anunciar a pior recessão dos últimos cinco anos. A bolsa despencava. A seleção brasileira de futebol perdeu por sete a um da Alemanha. Alguma coisa precisava ser feita. E foi.</div><div dir="auto" style="text-align: start;"> </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">Cachemiro Rosalvo (um grande vigarista, como se veio a saber, tardiamente) tinha um plano. Espalhou nas redes sociais que era o homem mais rico do mundo por haver inventado o café pequeno que se podia desadocicar mexendo a colher no sentido anti-horário. (Coisa muito útil para quem tem a mania de pôr açúcar demais na xícara.) Quando o assunto bombou — só se falava nisso no Euíter, no Tuíter e no Eleíter —, o falso milionário foi ter com Antuérpia.</div><div dir="auto" style="text-align: start;"> </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">Ela mal podia acreditar no que estava vendo. Cachemiro contou-lhe, então, sua história. Era rico, sim. Mas tinha uma frustração. Sua mulher perdera os cabelos depois de ser internada na urgência pediátrica e receber sangue doado por Leandro Karnal. Desde então, vivia na maior infelicidade. Queria ter uma peruca, pelo menos. Eis a razão por que Cachemiro estava ali. Pretendia comprar os cabelos de Antuérpia e os oferecer à esposa careca. Estava disposto a dar em troca dois apartamentos de quatro quartos à beira-mar.</div><div dir="auto" style="text-align: start;"> </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">Antuérpia ia dizer NÃO quando percebeu que Jucileide, Jucicleide e Novembrina estavam na sala e tinham ouvido toda a conversa. Pressionada pelos olhares fulminantes das filhas, ela cedeu. Cachemiro mostrou os documentos que atestavam ser ele o dono dos imóveis. Fez a mulher assinar o contrato ali mesmo. Com a tesoura que trouxera consigo, separou-a de seus cabelos. Deu-lhe, em troca, um endereço e um número. De lá, alguém a encaminharia aos seus apartamentos.</div><div dir="auto" style="text-align: start;"> </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">Antuérpia, as três filhas, o genro e a bezerra holandesa esperaram uma semana antes de ir ao endereço indicado pelo comprador dos cabelos. No lugar, havia um edifício vistoso com o nome NASA escrito na entrada principal. Antuérpia mostrou o número que lhe fora dado. A atendente foi ao computador e o reconheceu em poucos segundos. Perguntou à mulher se ela queria assento no corredor ou à janela. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;"> </div><div dir="auto" style="text-align: start;">Tratava-se, o número, da reserva de um lugar no voo para Marte. Partiria em poucas horas. Antuérpia vacilou. Descabelada, caíra em depressão. Não tinha ânimo para coisa alguma. Dezembrina tomou-lhe o lugar. Não se sabe se encontrou os apartamentos. </div></div></span></div></div></div></div></div>Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-6765067707052211952021-01-11T17:28:00.002-03:002021-01-11T17:58:15.548-03:00A medida do gosto: Belém, Recife, Brasil<p><!--[if gte mso 9]><xml>
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</p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: 12pt;">Gustavo Maia Gomes</span></span></p><span style="font-family: trebuchet;">
</span><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: 12pt;">Em proporção à sua renda, os paraenses da capital consomem
quase duas vezes mais arroz (0,95%) do que os pernambucanos do Recife (0,55%) e
também mais do que os brasileiros que habitam as grandes cidades do país (0,74%).
Em quantidades relevantes, o caldo do tucupi (0,02%) só é consumido em Belém, dentre
os lugares mensalmente pesquisados para a elaboração do </span><span style="font-size: 12pt; letter-spacing: 0.2pt;">IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo</span><span style="font-size: 12pt;">. </span></span></p><span style="font-family: trebuchet;">
</span><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: 12pt;">Esse índice do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística)</span><span style="font-size: 12pt; letter-spacing: 0.2pt;"> mede os valores de cestas de
consumo representativas para famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos nas</span><span style="font-size: 12pt;"> </span><span style="font-size: 12pt; letter-spacing: 0.2pt;">regiões
metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória,
Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal e os
municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju. A comparação
entre os valores obtidos para dois meses sucessivos permite calcular a taxa de
inflação no período em causa.</span><span style="font-size: 12pt;"></span></span></p><span style="font-family: trebuchet;">
</span><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: 12pt; letter-spacing: 0.2pt;">As cidades pesquisadas têm suas próprias cestas de
consumo, cada uma composta de mais de 400 itens. Estudando os pesos com que
esses itens entram no cálculo do IPCA nas diversas regiões, podemos visualizar as
distintas preferências com respeito às despesas de alimentação, saúde,
educação, cuidados pessoais e até hábitos de lazer. Neste texto, lidarei apenas
com o Brasil, Belém e o Recife, por razões que deixo claras em sua conclusão. Fiz
um sumário do que descobri. Alguns dados podem parecer apenas curiosos, mas a
soma de todas as curiosidades poderia gerar uma tese de doutorado.</span></span></p><span style="font-family: trebuchet;">
</span><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: 12pt; letter-spacing: 0.2pt;"></span></span></p><span style="font-family: trebuchet;">
</span><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: 12pt; letter-spacing: 0.2pt;">Os gastos com alimentação e bebidas pesam mais em
Belém (26,90%) do que no Recife (23,18%) e no Brasil (20,70%). </span><span style="font-size: 12pt;">Feijão mulatinho é proporcionalmente à renda consumido
no Recife (0,14%) muito mais do que no Brasil (0,02%); não é consumido em
Belém. Já o feijão preto, consumido em Belém (0,14%) duas vezes mais intensamente
do que no Brasil (0,07%); não entra nas panelas recifenses, exceto em
quantidades muito pequenas. Com farinha de mandioca, os brasileiros gastam 0,10%
de sua renda; os belenenses, sete vezes mais: 0,73%; no Recife, o valor
correspondente é de 0,16%.</span></span></p><span style="font-family: trebuchet;">
</span><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: 12pt;">Na capital pernambucana, a cebola absorve 0,18% da
renda de quem ganha até 40 salários mínimos. Mais do que no Brasil (0,12%) ou
em Belém (0,09%). O coentro tem valoração no Recife (0,09%) nove vez maior do
que no Brasil (0,01%). Não aparece em quantidade significativa em Belém. Em a</span><span style="font-size: 12pt;">çúcares e derivados, os belenenses são campeões (0,70%).
Estão acima da média brasileira (0,65%) e também da recifense (0,52%). Parece que
essa diferença reflete a atração pelos doces: enquanto o consumo de açúcar cristal
tem a mesma percentagem nas duas capitais (0,25%), o de açúcar refinado é muito
maior em Belém (0,16%) do que no Recife (0,04%) ou no Brasil (0,09%).</span></span></p><span style="font-family: trebuchet;">
</span><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: 12pt;">As carnes consomem 4,96% das rendas em Belém, valor
muito superior ao registrado no Recife (2,38%) ou no Brasil (2,79%). De frutas,
entretanto, o consumo no Recife (1,07%) tem maior peso do que no Brasil (0,95%)
ou em Belém (0,78%). Em pescados, como seria de esperar, os belenenses ganham a
parada (1,09%). (Brasil, 0,22%; Recife, 0,32%.) Os paraenses são fãs de uma
costela, o tipo de carne com maior peso no seu orçamento (0,75%). Logo depois
vem a alcatra (0,74%). No Recife, o maior consumo, em valor relativo à renda
local, é o da chã de dentro (0,53%). </span></span></p><span style="font-family: trebuchet;">
</span><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: 12pt;">Os caranguejos são grandemente apreciados na
capital do Pará (0,07%). No Brasil e no Recife seu consumo entra com peso zero
no IPCA. O gosto pelo café moído tem intensidade homogênea pelo país: Brasil,
0,29%; Belém, 0,28%; Recife, 0,26%. </span><span style="font-size: 12pt;">Já
os gastos com alimentação fora do domicílio são surpreendentemente maiores no
Recife (6,47% da renda) do que no Brasil (5,93%) e em Belém (5,46%)</span></span></p><span style="font-family: trebuchet;">
</span><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: 12pt;">Nas preferências por artigos de limpeza, não
encontrei grande variância: Brasil (0,75%), Belém (0,76%), Recife (0,81%). Os
belenenses, entretanto, parecem ter especial afeição pela água sanitária:
Brasil (0,06%), Belém (0,09%), embora menos que os recifenses (0,11%). Os
moradores da capital pernambucana gastam mais que os paraenses em detergentes e
sabão em pó, mas empatam em sabão em barra (0,9%) e perdem por pouco em
desinfetantes (0,08%) contra (0,09%). </span></span></p><span style="font-family: trebuchet;">
</span><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: 12pt;">Manter boa aparência parece ser um capricho dos
habitantes de Belém, que gastam em cuidados pessoais 6,43% de sua renda. (Brasil,
3,96%; Recife, 5,18%). Entram nesta categoria produtos para cabelo, barba, pele
e higiene bucal. Na compra de roupas, o mesmo padrão se repete: Belém, 4,31%;
Recife, 3,74%; Brasil, 2,98%. Idem para perfume: Belém, 2,56%; Recife, 1,87%; Brasil,
1,07%. E para desodorante: Belém, 0,66%; Recife, 0,54%; Brasil, 0,45%. (Precisa
ver o povinho cheiroso se amontoando no Círio de Nazaré.) Como se deveria
esperar, em artigos de maquiagem, os belenenses também lideram, com 0,37% (Brasil,
0,17%; Recife, 0,21%.) Não sei se devo dizer isso, mas, os gastos com papel
higiênico seguem uma ordem inversa: Brasil, 0,21%; Recife, 0,15%; Belém, 0,14%.</span></span></p><span style="font-family: trebuchet;">
</span><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: 12pt;">Com planos de saúde (Brasil, 4,03%; Belém, 1,74%; Recife,
4,23%) e com educação paga (Brasil, 6,06%; Belém, 3,45%, Recife, 6,07%), os recifenses
estão acima das médias brasileiras; os belenenses, muito abaixo. Em compensação,
em jogos de azar, eu deixo os números falarem sozinhos: Brasil, 0,52%; Belém, 0,76%;
Recife, 0,59%.</span></span></p><span style="font-family: trebuchet;">
</span><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: 12pt;"></span></span></p><span style="font-family: trebuchet;">
</span><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: 12pt;">É espantoso como esses números confirmam
praticamente todas as generalizações que minha mulher belenense Lourdes Barbosa
sempre me fez (baseadas em observações inteligentes, sim, mas não em pesquisa
empírica rigorosamente conduzida) sobre as diferenças entre as culturas do Pará
e, em especial, de Pernambuco. A oca – ou seja, a habitação coletiva dos índios
– explica quase tudo, vive ela a me dizer. Parece ter acertado na mosca.</span></span></p>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-23328407945983895492020-12-22T11:08:00.000-03:002020-12-22T11:08:14.367-03:00Marxismo tardio no Largo do São Francisco<p><span style="font-family: "Calibri Light", sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWm1tqGWIsW9HAFtQ2Gmi5KLMLyIZyVxGm7HhVm7lEjqm84LNZT-uayHvJk9Akvgrk-HkPr7jIa6ucl8us84J2kzlSC4cWv4e7FajqPTTDqTZk7rislyd1uq-AoZTIDgwz_cPqUPiKqKY/s450/largo-de-sao-francisco.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="355" data-original-width="450" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWm1tqGWIsW9HAFtQ2Gmi5KLMLyIZyVxGm7HhVm7lEjqm84LNZT-uayHvJk9Akvgrk-HkPr7jIa6ucl8us84J2kzlSC4cWv4e7FajqPTTDqTZk7rislyd1uq-AoZTIDgwz_cPqUPiKqKY/s320/largo-de-sao-francisco.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p><span style="font-family: "Calibri Light", sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><br /></span></p><p><span style="font-family: "Calibri Light", sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><br /></span></p><p><span style="font-family: "Calibri Light", sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><br /></span></p><p><span style="font-family: "Calibri Light", sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><br /></span></p><p><span style="font-family: "Calibri Light", sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><br /></span></p><p><span style="font-family: "Calibri Light", sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><br /></span></p><p><span style="font-family: "Calibri Light", sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 131.1pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><b>Gustavo Maia
Gomes</b><a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 36.0pt; tab-stops: 131.1pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">10/12/2020<o:p></o:p></span></p>
<w:sdt docparttype="Table of Contents" docpartunique="t" id="-1282028933" sdtdocpart="t">
<p class="MsoTocHeading" style="line-height: normal; margin-top: 0cm;"><b><span style="color: windowtext; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 16.0pt;">Sumário</span></b></p>
<p class="MsoToc1" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_Toc58504659">1.<span style="color: windowtext; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span>Introdução, <!--[if supportFields]><span
style='color:windowtext;display:none;mso-hide:screen;text-decoration:none;
text-underline:none'><span style='mso-element:field-begin'></span><span
style='mso-spacerun:yes'> </span>PAGEREF _Toc58504659 \h <span
style='mso-element:field-separator'></span></span><![endif]--><span style="color: windowtext; display: none; mso-hide: screen; text-decoration: none; text-underline: none;">2<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:data>08D0C9EA79F9BACE118C8200AA004BA90B02000000080000000D0000005F0054006F006300350038003500300034003600350039000000</w:data>
</xml><![endif]--></span><!--[if supportFields]><span style='color:windowtext;
display:none;mso-hide:screen;text-decoration:none;text-underline:none'><span
style='mso-element:field-end'></span></span><![endif]--></a><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoToc1" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_Toc58504660">2.<span style="color: windowtext; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span>Resumo da tese</a></p>
<p class="MsoToc1" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_Toc58504661">3.<span style="color: windowtext; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span>Pensamentos fora de
lugar</a></p>
<p class="MsoToc1" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_Toc58504662">4.<span style="color: windowtext; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span>O “olhar de Karl Marx”</a></p>
<p class="MsoToc1" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_Toc58504663">5.<span style="color: windowtext; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span>Mercador de enganos</a></p>
<p class="MsoToc1" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_Toc58504664">6.<span style="color: windowtext; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span>O Estado</a></p>
<p class="MsoToc1" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_Toc58504665">7.<span style="color: windowtext; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span>Nacionalismo, racismo
e, mais uma vez, marxismo</a></p>
<p class="MsoToc1" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_Toc58504666">8.<span style="color: windowtext; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span>A vez do cangaço</a></p>
<p class="MsoToc1" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_Toc58504667">9.<span style="color: windowtext; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span>Considerações finais</a></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><!--[if supportFields]><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Calibri Light","sans-serif";
mso-ascii-theme-font:major-latin;mso-hansi-theme-font:major-latin;mso-bidi-theme-font:
major-latin;mso-bidi-font-weight:bold'><span style='mso-element:field-end'></span></span><![endif]--><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-weight: bold; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p> </o:p></span></p>
</w:sdt>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Tenho todas as razões do mundo para atender um pedido de meu amigo
há sessenta anos VMF. Nove ou dez dias atrás, ele me enviou a seguinte mensagem,
por e-mail, acompanhada de um arquivo: “Gustavo amigo. Este trabalho é de um
nosso sobrinho. Universitário na Faculdade de Direito da USP [Universidade de
São Paulo]. Apresentou uma tese que foi elogiada. Queria seu juízo crítico”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Nem VMF nem eu imaginávamos que o “juízo crítico” se estendesse
por mais de dois parágrafos. Eu terminei escrevendo o extenso comentário
contido nas páginas seguintes. Por que o fiz? Em grande medida, porque vi nesse
jovem autor, a quem não conheço pessoalmente, um pouco ou muito de mim mesmo,
recuando meio século. Nunca fui marxista (leitor de Marx e de seus
simpatizantes, sim), como LGM, talvez, pense que é, mas compartilhava de uma
visão de mundo próxima à dele. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">De certa forma, portanto, esta foi uma oportunidade de, ao fazer o
juízo crítico que me fora pedido, dialogar não apenas com meu amigo e seu
sobrinho, mas também, em certa medida, comigo mesmo enquanto jovem. Agradeço
aos dois. Meus comentários se concentram nos capítulos iniciais, em que LGM fala
de capitalismo e de estado, permitindo ao leitor vislumbrar a atmosfera
intelectual – doutrinária de esquerda, marxista de origem, negativa em relação
ao capitalismo e ao Estado democrático – que, se não domina, pelo menos, aparenta
ter presença significativa na tradicionalíssima Faculdade de Direito do Largo
do São Francisco. O que ele tem a dizer sobre o cangaceirismo não está errado
(a não ser na insistência em vincular aquela forma de banditismo à expansão do
capitalismo no Brasil), mas despertou-me interesse menor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo5; mso-outline-level: 1; page-break-after: avoid; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a name="_Toc58504659"><!--[if !supportLists]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Calibri Light"; mso-fareast-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">1.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span></b><!--[endif]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Introdução</span></b></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Confesso a ignorância: apesar de ter sido professor universitário
durante quarenta anos, não sabia o que era Tese de Láurea, nome adotado pela
Faculdade de Direito da USP. A princípio, imaginei que fosse a tese de Laura,
mas descobri que se trata de “Trabalho de Conclusão de Curso”. Ah, sim! O TCC,
como ficou conhecido, é feito por estudantes de graduação, como última exigência
para a obtenção do respectivo diploma.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Na minha opinião, “O Estado e o cangaço: A exceção que confirma a
regra” satisfaz os padrões exigidos de um TCC. Pesquisa própria de fatos ou
crítica de interpretações conflitantes não foi feita, nem se deveria esperar,
mas há uma proposição central defendida com razoável competência. A proposição,
em si, acho eu, faz pouco sentido, porém – e isso é precioso – o autor escreve
bem, expõe suas ideias com clareza. Até mesmo as obscuras, tomadas de
terceiros. Essas são muitas, mas LGM, com sua escrita afiada, quase conseguiu
me fazer entendê-las.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">No prosseguimento, os parágrafos com margem esquerda mais larga escritos
em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">itálicos </i>com caracteres de tamanho
menor são citações da Tese de Láurea. Os demais são de minha lavra. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo5; mso-outline-level: 1; page-break-after: avoid; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a name="_Toc58504660"><!--[if !supportLists]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Calibri Light"; mso-fareast-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">2.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span></b><!--[endif]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Resumo
da tese</span></b></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A presente
tese procurou demonstrar, sobretudo da perspectiva do Estado, que a instauração
e consolidação do capitalismo no Brasil se deu com o fim do escravismo
colonial, marcado pela abolição da escravidão, e após período de transição, que
foi, aproximadamente, de 1890 a 1940. Esse período de transição, aliás,
coincidiu com a irrupção do cangaceirismo na sua modalidade epidêmica e, assim,
tentei demonstrar como o cangaço pode, também, ser compreendido como sintoma –
e até como prova – desse período de transição. Ao mesmo tempo, procurei
evidenciar os limites da transformação que tomem o Direito e o Estado como meio
e fim. (Sem numeração de página.)<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo5; mso-outline-level: 1; page-break-after: avoid; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a name="_Toc58504661"><!--[if !supportLists]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Calibri Light"; mso-fareast-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">3.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span></b><!--[endif]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Pensamentos
fora de lugar</span></b></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Nas partes introdutórias do trabalho, LGM insere reflexões que
nada têm a ver com o seu assunto. São pensamentos, na minha opinião, desnecessários
e fora de lugar, além de duvidosamente válidos. Destaco três:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Portanto, se
há, por exemplo, uma reforma da previdência em pauta que pretende transferir o
ônus de uma crise econômica à população pobre, torna-se imprescindível, além da
mobilização nas ruas, toda ação judicial que vise derrubar a medida. (Pág. 9).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Seria bom lembrar que a proposta mais recente da reforma aludida
foi aprovada em outubro de 2019. Portanto, já não estava mais “em pauta” no ano
seguinte, quando essa tese foi apresentada. Além do mais, reduzir a reforma da
previdência que vem sendo feita, aos pedaços, desde João Batista Figueiredo,
1979-85, passando por Fernando Henrique Cardoso, 1995-2002, e tendo tido um
capítulo importante no primeiro governo Lula, 2003-06 a uma manobra para “transferir
o ônus de uma crise econômica à população pobre” é, na melhor hipótese, pouco
convincente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Ao que tudo
indica, parcela significativa da esquerda foi convencida por Francis Fukuyama,
quando anunciou, no final do século XX, a vitória do capitalismo e o fim da
História. (Pág. 10).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Como pude perceber, LGM e alguns de seus professores continuam
firmes em suas crenças marxistas – que devem incluir a inevitável derrocada do
capitalismo. Deduzo, então, que outra parcela significativa da esquerda <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">não foi</b> convencida<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>por Fukuyama. Aliás, o próprio Francis, depois de curar a ressaca,
reavaliou cuidadosamente seu pensamento anterior.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">No que pese a
condição financeira de classe média que me abriu as portas nesta capital </span></i><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">[São Paulo] <i style="mso-bidi-font-style: normal;">e a perda do meu
sotaque pernambucano, minha família passou por dificuldades na terra dos
Bandeirantes exclusivamente por ser nordestina. (Pág. 10).<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Esse é um depoimento pessoal que eu respeito. Mas, gostaria de
dizer que tal não foi a minha experiência. Também sou pernambucano. Provavelmente,
com sotaque. Mudei-me para a capital paulista em 1971, para ali viver, inicialmente,
como um simples estudante de mestrado na Universidade de São Paulo. Mais de
metade da minha turma era de paulistanos formados pela mesma universidade. Depois,
lecionei tanto na USP (1973-76) quanto na Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas) em 1972-73. Trabalhei na Copersucar, a cooperativa de usineiros do
Estado de São Paulo, à época (1973-76), a maior empresa brasileira em
faturamento. Nunca sofri discriminação alguma. Ao contrário. Saí de lá para
atender (1976) um convite da Universidade Federal de Pernambuco (onde me
tornei, primeiro, professor visitante; depois, professor regular, concursado)
que me prometia rápida liberação para o doutorado no Exterior, o que aconteceu.
De São Paulo, só tenho lembranças boas (exceto as do trânsito). Alguns dos meus
melhores amigos são paulistas. O único colega indiscutivelmente chato no mestrado
era carioca, mas esse tinha problemas mentais de outra ordem.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Escrevo isso com a pretensão de, tendo muitos mais anos de vida do
que o autor da tese comentada, transmitir-lhe uma opção intelectual oposta à
que (me parece) ele tem preferido cultivar. Posso estar enganado, tomara que
esteja, mas toda essa carga marxista – pesada, ultrapassada, inútil,
mistificadora – que ele trouxe para seu texto se ajusta magnificamente a uma
visão do mundo em que o culpado pelos nossos problemas é sempre o outro. Alguma
entidade de índole má dedicada a explorar os trabalhadores (mas, que também
lhes dá emprego e renda); a reformar a previdência para prejudicar os pobres (embora
se saiba que, sem alguma reforma, o país jamais sairá da crise em que se meteu
há meio século – e os pobres estão sendo os maiores prejudicados com esses anos
todos de estagnação econômica); alguém ou alguma entidade de índole má cujo
preconceito contra os nordestinos impede a esses de ter uma vida rica e feliz
na cidade grande (mas não impediu a mim de ter excelentes empregos, impulsionar
minha carreira profissional, ganhar um bom dinheiro e fazer amigos ali, nem
impedirá a LGM de ter muito êxito em São Paulo).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo5; mso-outline-level: 1; page-break-after: avoid; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a name="_Toc58504662"><!--[if !supportLists]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Calibri Light"; mso-fareast-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">4.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span></b><!--[endif]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O
“olhar de Karl Marx”</span></b></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O “olhar de Karl Marx” é uma das grandes maldições da humanidade.
Mas, isso eu fui aprendendo com o tempo, o estudo e a experiência. Na idade que
tem hoje o autor da Tese de Láurea, as explicações fáceis (complicadas na
aparência, para dar a impressão de serem profundas), agradáveis, transferidoras
de responsabilidades, também me fascinavam, embora jamais ao ponto em que
parecem fascinar alguns professores de Direito em São Paulo. E seus alunos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Feitas essas
breves considerações, o que se pretende neste primeiro ponto é, a partir da
análise do cangaço, retomar a leitura da crítica do Estado a partir do <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">olhar de Karl Marx</b> </span></i><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">[negritos acrescentados]<i style="mso-bidi-font-style: normal;">. De
forma apertada </i>(sic)<i style="mso-bidi-font-style: normal;">, é, com base nas
questões levantadas acima em torno do Estado, retornar ao diagnóstico de que é
impossível realizar o combate e o enfrentamento das desigualdades de forma
ampla tendo como meio e fim as estruturas de poder em vigor. (Pág. 10).<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Será, mesmo, “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">impossível
realizar o combate e o enfrentamento das desigualdades de forma ampla tendo
como meio e fim as estruturas de poder em vigor</i>”? Compare as desigualdades,
a pobreza, as péssimas condições de trabalho da Inglaterra na segunda metade do
século XIX (tão exploradas por Marx no Volume I de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Capital</i>) com a situação da mesma Inglaterra hoje. É impossível
negar que houve extraordinária melhoria. E essa melhoria foi conseguida sem que
houvesse, no meio tempo, uma revolução social devastadora; foi conseguida “tendo
como meio e fim as estruturas de poder em vigor”. Seria a Inglaterra uma
notável exceção? Pois então que se fale da França, Alemanha, Bélgica, Canadá,
Estados Unidos, Japão...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Ou até mesmo do Brasil. Ainda temos desigualdades terríveis, mas
muito progresso foi feito também aqui. Nem sempre isso é reconhecido. O número
de crianças nascidas vivas no Brasil que morrem antes de completar um ano de
idade despencou de 123 por mil em 1970 para 31 por mil em 2000. Continuou a
cair, desde então. No mesmo período, a expectativa de vida dos brasileiros
subiu de 51 para 69 anos. É de 76 anos e meio, hoje (IBGE). É claro que os
maiores beneficiados dessas mudanças foram os mais pobres, por razões óbvias. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Outro exemplo: a seca cearense de 1915 enxotou os flagelados do
sertão para Fortaleza, onde os sobreviventes da caminhada viriam a morrer aos
milhares de fome e doenças contagiosas em campos de concentração. (Tinham esse
nome, sim.) Cem anos depois, a calamidade climática de 2012-17 foi a pior da
história – do ponto de vista hídrico –, mas, desta vez, os que foram afetados
pela falta de chuvas tinham bolsas-família, cisternas em casa, estradas à porta
(de modo que o caminhão pipa sempre chegava em tempo de reabastecer as
cisternas), atendimento do SUS na cidade mais próxima. Como resultado, sofreram
muito menos do que seus ancestrais de um século antes. Eu poderia alinhar
duzentos outros exemplos, não para negar que continuamos a ter, no Brasil, um
problema sério de desigualdade (e, pior ainda, de pobreza), mas para demonstrar
que houve, sim, progresso. E isso foi feito “tendo como meio e fim as
estruturas de poder em vigor”, pois desconheço que alguma revolução marxista
tenha jamais ocorrido em nosso país.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Modo de
produção do escravismo colonial. (Pág. 12).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A literatura marxista, ou simpática ao marxismo, padece da
estranha doença de complicar o que é simples, entre outras coisas, introduzindo
uma terminologia própria, pretensiosa, que dificulta a compreensão do assunto
tratado. LGM encontrou espaço para introduzir o “modo de produção do escravismo
colonial” em sua tese. O que é isso? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Passo a palavra a um suposto especialista não citado por LGM: “Quando
[Jacob] Gorender aborda o modo de produção escravista colonial, vigente no
Brasil desde o início da colonização lusitana até a abolição da escravidão,
está se referindo à plantagem escravista, que possuía quatro características
(...) Em primeiro lugar era especializada na produção de gêneros comerciais
destinados ao mercado externo; em segundo, era baseada no trabalho por equipe
sob comando unificado; em terceiro lugar, se desenvolvia uma estrita conjugação
de cultivo agrícola e de beneficiamento complexo em um mesmo estabelecimento;
e, por fim, [combinava], também em um mesmo estabelecimento, [a] divisão do trabalho
quantitativa e qualitativa”.<a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><sup><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><sup><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">[2]</span></sup><!--[endif]--></span></sup></a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Substituo essa lengalenga interminável pela seguinte frase: “até a
abolição, o Brasil produzia artigos de exportação agrícolas ou agroindustriais
utilizando escravos nas tarefas não especializadas e trabalhadores livres nas
demais”. Perdeu-se alguma coisa? Não. Ao jogar no lixo o conceito de “modo de
produção” não se perde absolutamente nada. Exceto, talvez, o emprego de algum
intelectual diletante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo5; mso-outline-level: 1; page-break-after: avoid; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a name="_Toc58504663"><!--[if !supportLists]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Calibri Light"; mso-fareast-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">5.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span></b><!--[endif]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Mercador
de enganos</span></b></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Marx em sua
obra máxima, </span></i><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O Capital<i style="mso-bidi-font-style: normal;">, parte da mercadoria para a análise do modo de produção capitalista,
porque ele “aparece (erscheint) como uma ‘enorme coleção de mercadorias’, e a
mercadoria individual, por sua vez, aparece como sua forma elementar”. (Pág. 14).<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O volume I de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Capital, </i>o
único dos três que seu autor terminou e viu publicado, não é um livro péssimo.
Apenas, muito ruim. Exceto pelo primeiro capítulo que, realmente, não tem
salvação. Além de confuso, terrivelmente extenso, tortura as evidências
empíricas e a paciência do leitor na tentativa de demonstrar que, por trás das
aparências, o trabalho usado para produzi-las é a única fonte de valor das
mercadorias. O comentário mais óbvio que eu posso fazer aqui, a respeito disso,
é este: que diabos tem a ver a “enorme coleção de mercadorias” com Lampião e
Maria Bonita? A resposta: nada. Invocá-la, antes dificulta do que nos ajuda a
compreender o cangaceirismo no Nordeste, se há essa intenção. Mas o autor da
tese a invoca, de modo que eu deveria emitir algum juízo crítico sobre isso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Não deveria me estender muito sobre a proposição marxista (na
verdade, copiada dos economistas clássicos ingleses que o precederam, especialmente,
David Ricardo, 1817) de que “o trabalho usado para produzi-las é a única fonte
de valor das mercadorias”. Meu professor de economia marxista em Illinois (sim,
havia isso lá) equiparava essa frase (e outras parecidas) a uma definição, como
se Marx tivesse dito, explicitamente, algo assim: “o trabalho é a única fonte
de valor e estamos conversados; passemos para o próximo ponto”. Isso remete todo
o Capítulo 1 de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Capital </i>–
fundamento (na própria visão do seu autor) dos demais – ao reino da metafísica.
Na metafísica, não nos preocupamos com a veracidade empírica de coisa nenhuma,
nem das proposições fundamentais, nem das derivadas. Podemos aceitar a mesma
indiferença à verdade também na análise econômica?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Claramente, não. Os estudiosos da economia querem entender o mundo
real (há exceções, reconheço), isso faz parte da profissão. Quais “partes do
mundo real” querem eles entender quando falam (ou falavam, pois o termo saiu de
moda) em valor? Valor de troca, valor de uso, valor-trabalho, etc. Depende. Os
economistas que <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">não creem</b> na
derrocada próxima e inevitável do capitalismo – e, portanto, não podem esperar
que ela se apresente para começar a trabalhar – precisam oferecer explicações,
entre outras coisas, para os preços. Por que um quilo de mandioca custa menos
do que dois quilos de goiabada em calda? Por que subiu o preço da manteiga, mas
não o de viagens à Europa? Para isso, a teoria marxista do valor não serve. Só fornece
respostas erradas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Para os economistas que, ao contrário, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">creem</b> na derrocada inevitável e próxima do capitalismo, a teoria
parece ter enorme serventia. Mas, também aqui, trata-se de ilusão. Ao postular
que o trabalho – entendido apenas como aquele diretamente aplicado à produção de
bens materiais, não de serviços – é a única fonte de valor, o autor de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Capital</i> (embora não o confesse) estava
interessado nas implicações éticas, morais e políticas dessa premissa. A mais
óbvia delas é que, se existem outras formas de renda que não os salários ou a
remuneração direta dos autônomos, ou seja, se existem lucros, dividendos,
aluguéis, aposentadorias, ganhos financeiros – e como existem! –, então, alguém
está roubando os trabalhadores. E se a essência do capitalismo é que existam
lucros, então o capitalismo não passa de uma invenção dos ladrões para institucionalizar
sua pilhagem.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Esse pecado original não pode ser extirpado nos quadros do regime
econômico (e político) vigente – prossegue o sofisma. Só se realizará se os
expropriados expropriarem os expropriadores, ou seja, se houver uma revolução
proletária à qual se siga a socialização da propriedade dos meios de produção.
E a expropriação virá, dizem os crentes; a revolução é demonstravelmente,
cientificamente (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">argh!</i>) inevitável.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Ora, tudo isso é falso. Nem sequer uma das afirmações feitas acima
sobreviveu ao teste da realidade. Limito-me ao ponto fundamental: o trabalho é
a única fonte de valor. Se se tratar de uma definição, a afirmativa não pode
ser contestada. Mas precisaria ser útil, se a finalidade da teoria for
ajudar-nos a compreender o mundo. Não é útil, atrapalha. Imagine o seguinte
experimento hipotético: do dia para noite, os apertadores de parafusos da
indústria automobilística e seus companheiros com ocupações semelhantes tomam o
poder e passam a se apropriar integralmente do produto total da nação que,
afinal, devia mesmo ser deles, o povo escolhido por Marx. Os operários, naturalmente,
não veriam razões para dividir esse produto com as classes “improdutivas”, ou “exploradoras”.
Portanto, todo o pessoal que cuida da administração das empresas seria posto na
rua, sendo-lhes dito que, de hoje em diante, só os trabalhadores manuais terão
direito a alguma renda. Também seriam demitidos os que escrevem os programas de
computadores. E os que operam os sistemas informáticos. Iriam para a rua os
advogados das empresas, LGM e seu tio VMF entre eles. Dos donos da fábrica (que
estavam exatamente agora planejando ampliar seus negócios), nem se fala.
Preciso prosseguir? Preciso dizer que, inevitavelmente, a essa sucessão de
decisões absurdas respaldadas pela teoria marxista do valor-trabalho se
seguiria uma catástrofe econômica de tamanhas proporções que os apertadores de
parafusos e o resto do país se tornariam miseráveis?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Outro experimento hipotético: um homem sozinho em sua fazenda produz
uma tonelada de soja por ano; dê-lhe um trator e a produção se elevará para mil
toneladas. Não deveríamos concluir que o valor criado pelo trabalho é de uma
tonelada, enquanto que o valor criado pelo trator é novecentas e noventa e nove
vezes maior?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Já na Grécia
Antiga, Aristóteles conseguiu achar qual era a substância de equivalência entre
os diferentes objetos e que autoriza a troca: o trabalho contido neles. Dessa
maneira, todas as coisas úteis passíveis de troca, tal como o sapato e o
chapéu, também são qualitativamente iguais, ao passo que são produtos do
trabalho. (Págs. 17-18).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Aristóteles tem seus méritos, nenhum deles derivado da contribuição
que fez ao conhecimento econômico.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Como vimos, o
que produz valor é o dispêndio de força de trabalho humano. Quando a força de
trabalho assume a forma de mercadoria, ela aparece no mercado como uma
mercadoria cuja característica principal e especial é criar valor. (Pág. 16).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Sobre isso, já comentei. Mas, como é fundamental, convém agregar
mais algumas considerações.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(1) Só com muita ginástica mental, ou propósitos políticos óbvios,
alguém pode sustentar a tese “o que produz valor é [exclusivamente] o dispêndio
de força de trabalho”. E o trator da fazenda de soja? E o aparato jurídico e
administrativo das empresas? E a cultura e normas legais que permitem a
coordenação dos esforços produtivos individuais? Sabe qual foi a justificativa de
Bill Gates para doar metade de sua fortuna a instituições filantrópicas ou de
pesquisa científica? Mais ou menos, esta (cito de cabeça): “o que eu ganhei não
se deveu apenas a mim, mas a todas as pessoas com suas habilidades e
treinamento, ao ambiente cultural e às normas jurídicas – tudo isso que já
existia nos Estados Unidos quando vim ao mundo. Imaginem se eu tivesse nascido [a
adição é minha, GMG: na Somália], vocês acham que eu teria chegado onde cheguei?”
Portanto, ao abdicar em parte da fortuna que conseguiu produzir, Gates
reconheceu que aquele dinheiro todo não resultara apenas de sua inegável
genialidade. É claro que alguém poderia dizer: as instituições, a organização,
etc., foram criadas pelo trabalho humano. Não há dúvida. Só que: (a) não era isso
que Marx tinha em mente ao dizer que só o trabalho cria valor; (b) uma vez
criadas e mantidas pela cultura, as leis e a polícia, essas coisas todas passam,
elas próprias, a produzir valor ou a serem imprescindíveis à produção de
valores. São a diferença entre os Estados Unidos e a Somália. Bill Gates que o
diga.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(2) A observação histórica de Marx (a força de trabalho se
tornando mercadoria) é importante: já havia formas de trabalho assalariado até
mesmo na Grécia Antiga, mas essas eram pouco significativas; sem dúvida é nos
tempos mais recentes – os de formação e consolidação do capitalismo industrial,
a partir do século 18 – que o trabalho assalariado ganha espaço cada vez maior.
Nem tudo o que o alemão escreveu é inaproveitável; algumas de suas análises
históricas ainda hoje merecem atenção.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(3) A pergunta que eu faço, mais uma vez, é a seguinte: o que tem
isso tudo a ver com o cangaceirismo nordestino?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo5; mso-outline-level: 1; page-break-after: avoid; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a name="_Toc58504664"><!--[if !supportLists]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Calibri Light"; mso-fareast-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">6.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span></b><!--[endif]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O
Estado</span></b></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">E é
justamente através [da] relação jurídica do contrato de trabalho, que trata de
forma igual as diferentes capacidades de trabalho, que se consolida a dominação
no modo de produção capitalista. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">É
precisamente nesse cenário que surge o Estado.</b> </span></i><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">[Negritos acrescentados.] <i style="mso-bidi-font-style: normal;">É
o Estado que impõe o direito e as relações jurídicas à toda a população contida
no seu território, conferindo a todos a qualidade de sujeito de direito e
garantindo a exploração da força de trabalho por meio do contrato. Como destaca
Lênin: O direito burguês, no que concerne à repartição dos bens de consumo,
pressupõe, evidentemente, um Estado burguês, pois o direito não é nada sem um
aparelho capaz de impor a observação de suas normas. (Pág. 18).<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Não, o Estado não surgiu com o capitalismo, nem no Brasil, nem em
canto nenhum. Vamos negar que houve “estados” no Egito antigo, na China
imperial, na Antiguidade clássica greco-romana? No Brasil de Pedro II menor de
idade? O que deu a Nero o poder de incendiar Roma? A Calígula, o de promover
seu cavalo a cônsul? Até mesmo Lênin reconheceria que houve, sim estados que
não eram frutos do capitalismo: note-se que na frase citada ele se refere ao
“Estado burguês” e não ao Estado em geral.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">No geral,
esses instrumentos democráticos, tais quais representação e divisão de poderes,
foram e são essenciais para impedir a manifestação da maioria. Apesar da alusão
à liberdade e à igualdade, esses princípios são impossíveis de se realizar no
capitalismo, que se apoia na desigualdade. Sob esse olhar, a democracia
representativa liberal funcionou como uma forma de regulação e manutenção das
relações de classes e nunca se consumou naquilo que havia prometido ser. (Pág. 21).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Essa é uma visão essencialmente depreciativa de sociedades democráticas
(com ou sem aspas) como a nossa, com altos e baixos, tem sido. Vou por partes: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(1) Os “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">instrumentos
democráticos, tais quais representação e divisão de poderes, foram e são
essenciais para impedir a manifestação da maioria</i>”. Que outros
instrumentos, então, facilitariam, ao invés de impedir, a manifestação da
maioria? A ditadura do proletariado, talvez? Mas as “ditaduras do proletariado”
que a história registra – e são muitas – sempre foram ditaduras, nunca foram do
proletariado. Pertenceram às elites dirigentes. Alguém acha que no regime
político pós-revolução vagamente imaginado por Marx, ou na extinta União
Soviética, ou na China pós-1949, ou em Cuba, ou na Coréia do Norte, a “maioria”
poderia, pôde ou pode se manifestar? Não seria muito mais justo e correto
reconhecer que, a despeito de suas falhas, a representação (assim como a ampla
liberdade de opinar, a imprensa relativamente livre, um mínimo de garantia
legal do cidadão contra perseguições do próprio Estado) permite, sim, em
limites bastante razoáveis, a “manifestação da maioria”?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(2) “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Esses princípios </i>[liberdade,
igualdade]<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> são impossíveis de se realizar
no capitalismo, que se apoia na desigualdade</i>”. Pelo que nos mostra a
história, os princípios de liberdade e igualdade têm sido impossíveis de se realizar
completamente não só no capitalismo, mas no socialismo, nas monarquias, nas
aristocracias, nos despotismos orientais, na Idade Média, na era moderna, na
época contemporânea... Nunca existiu um agrupamento humano em que se tenha
alcançado algo parecido com “igualdade” entre as pessoas que a compõem. Nem
mesmo no “comunismo primitivo” dos selvagens caçadores e coletores (no Brasil,
inclusive) que sempre viveram em condições supostamente idílicas, na verdade,
miseráveis: o grupo tinha um chefe que era mais igual do que os outros; pajés
ou feiticeiros cujos vínculos com as forças sobrenaturais os faziam credores de
reconhecimento especial. E tinha, no lado negativo, as mulheres – nenhuma delas
elegível à honrosa condição de guerreira –, cuja função era separar braços,
pernas e vísceras dos inimigos aprisionados na última guerra, cevados durante
meses, mortos a cacetadas e que agora iam virar churrasco. Quem preferir essa
igualdade na miséria à desigualdade que temos sob o capitalismo, é só se
apresentar numa dessas terras indígenas que estão por aí. Pode ir tranquilo:
parece que eles deixaram de comer gente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(3) Churchill tinha uma resposta pronta a alegações como esta: “A<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> democracia representativa liberal funcionou
como uma forma de regulação e manutenção das relações de classes...”. </i>Ele
diria o seguinte: a democracia é o pior dos regimes políticos, com exceção de
todos os demais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Segundo, há
uma enorme burocracia para que se entre no Estado, que serve justamente para
dificultar a participação popular nele. (Pág. 21).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Na época em que meu pai conseguiu seu primeiro emprego público, em
Pernambuco, a burocracia para entrar no Estado era pouca: ajudava ser neto de
senhor de engenho e, para galgar posições menos mal remuneradas, uma formatura
em Direito vinha muito a calhar. Mas a condição essencial era ser apadrinhado
por algum político poderoso. Hoje, para se entrar no serviço público de forma
estável, é preciso passar num processo seletivo o que, em quase todos os casos,
dada a concorrência, exige enorme esforço. Jamais me tinha ocorrido que os
concursos públicos foram instituídos para dificultar a participação popular no
Estado. Essa proposição é absurda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O papel do
Estado no capitalismo é essencial: a manutenção da ordem – garantia da
liberdade e da igualdade formais e proteção da propriedade privada e do
cumprimento dos contratos – e ‘internalização das múltiplas contradições’, seja
pela coação física, seja por meio da produção de discursos ideológicos
justificadores da dominação. (Citação de Silvio Almeida, pág. 22).<a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">[3]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Não é apenas no capitalismo que<i style="mso-bidi-font-style: normal;">
“o papel do Estado é essencial” </i>para manter os fundamentos da sociedade,
quaisquer que eles sejam, e para evitar que conflitos internos destruam a vida
social<i style="mso-bidi-font-style: normal;">. </i>Isso tem sido assim sempre,
não importa a época ou o lugar. O Estado existe em<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> todas</b> as sociedades humanas, com exceção daquelas mais
rudimentares na técnica econômica, “mais pequenas” na dimensão demográfica,
mais isoladas de outros grupos potencialmente inimigos. Em cada uma dessas
sociedades com Estados haverá “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">discursos
ideológicos justificadores da dominação” </i>(sim, da dominação). Tais
características não são específicas do capitalismo, estamos malhando o Judas
errado. Mas, que a mensagem da esquerda – falaciosa, porém fácil de entender;
demagógica, mas revestida de falsa erudição; destrutiva, embora se pretenda
redentora – rende votos, disso não tenha dúvida. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo5; mso-outline-level: 1; page-break-after: avoid; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a name="_Toc58504665"><!--[if !supportLists]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Calibri Light"; mso-fareast-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">7.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span></b><!--[endif]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Nacionalismo,
racismo e, mais uma vez, marxismo</span></b></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Aconteceu uma coisa interessante com o discurso de inspiração
marxista que ainda sobrevive em círculos intelectuais não apenas no Brasil, em
boa parte do mundo: é que, desde a morte de Karl Marx, em 1883, a História se
encarregou de desmoralizar cada uma de suas teses principais. Dele e de seus
discípulos. Dou exemplos:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(1) Nunca houve uma revolução marxista no mundo, embora ela fosse
um corolário “inevitável” do capitalismo industrial avançado. As que se valeram
do linguajar marxista aconteceram em países ou com indústria incipiente (por
exemplo, a Rússia, 1917) ou francamente agrários (por exemplo, a China, 1949). Dos
outros, nem preciso falar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(2) Nunca houve um empobrecimento relativo e, depois, absoluto, do
proletariado em países capitalistas desenvolvidos. Ao contrário, a classe
trabalhadora em lugares como os Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França,
Bélgica, Holanda, Japão, nos dias atuais, é muito rica, em comparação com a
mesma classe, cem anos atrás. O mesmo se pode dizer do Brasil.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(3) Nunca houve uma concentração industrial irrefreável, ao fim da
qual umas poucas companhias gigantescas dominariam todos os mercados. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(4) Nunca houve a superioridade do planejamento central sobre o
mercado, uma tese sobre a qual Marx não falou muito, mas seus seguidores, sim. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(5) Nunca houve a necessidade imperiosa de os países capitalistas
maiores terem colônias a quem vender seus excessos de produção, sob pena de
mergulharem em crises terminais, como marxistas (Lênin, Rosa Luxemburgo e
outros) acreditavam.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(6) Na verdade, nunca houve, sequer, um conflito inarredável entre
capitalistas e trabalhadores assalariados. A crença de que tal conflito existe
resultou, em grande medida, da doutrinação política perpetrada por ideólogos
inspirados em Marx. E pelo próprio autor de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
Capital</i>, acima de todos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Essa doutrinação aconteceu fortemente na Europa – onde encontrou
campo fértil para prosperar – tendo sido capaz, sim, de influir no curso da
História. Pode-se argumentar que, no Velho Continente, a ascensão do
capitalismo industrial foi acompanhada de dores de parto associadas ao
desmoronamento do velho mundo agrário. Homens, mulheres e crianças expulsos do
campo e amontoados em cidades imundas e em fábricas insalubres tinham muito do
que reclamar, mesmo que (como parece demonstrado por pesquisas históricas relativamente
recentes; os nomes de Jeffrey Williamson e Peter Lindert vêm à mente) os
salários reais médios desses trabalhadores tenham <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">crescido</b> durante a revolução industrial. Quando, na Europa
ocidental, com a continuidade e consolidação do desenvolvimento capitalista, os
trabalhadores puderam se beneficiar grandemente da acumulação de riqueza que
estava acontecendo, eles já tinham assimilado uma visão do mundo que enxergava
seus interesses como opostos aos dos seus empregadores. Daí a grande força
política que partidos socialistas e comunistas chegaram a ter, em vários
momentos, no continente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Nos Estados Unidos, ao contrário, o surgimento da indústria moderna
nada teve de traumático. Um dos maiores industriais americanos, Henry Ford,
tinha como objetivo (e o alcançou) pagar tão bem aos operários que eles pudessem
comprar os carros produzidos em suas fábricas, uma ideia revolucionária para a
época. Mesmo que o caso de Ford tenha sido extremo, ganhos salariais
expressivos acompanharam, desde o início, o desenvolvimento do capitalismo naquele
país. Essa é a razão pela qual, ao contrário do que Marx pensava ter
demonstrado que aconteceria inevitavelmente, nunca houve sequer ameaça
longínqua de revolução comunista ou socialista ali. Embora disputas salariais
existam, ninguém pensaria em descrever os Estados Unidos como um lugar rachado por
conflitos entre capitalistas e proletários, cada um dos dois grupos perseguindo
interesses opostos. Entre negros e brancos, até que sim, mas essa é outra
história.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Acontece que a dicotomia entre os interesses essenciais de
capitalistas e trabalhadores é a espinha dorsal de toda a doutrina marxista. À
medida em que essa visão do mundo foi sendo desmoralizada pela História, os
pensadores da esquerda se viram premidos a lhe fazer os remendos que pareceram
possíveis e úteis, garantindo-lhes (aos pensadores de esquerda) a sobrevivência
deles próprios e de suas doutrinas insustentáveis. Nesse sentido, eles
inventaram recentemente uma ligação essencial entre o capitalismo e o racismo
ou entre o capitalismo e o preconceito contra homossexuais. Tenho certeza de
que Marx os chamaria de idiotas, se vivo fosse, mas isso não vem ao caso, aqui.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Conjuntamente,
essa construção de uma identidade nacional esconde as relações antagônicas das
classes dominantes e dominadas, criando a falsa impressão de um todo em prol do
bem comum. (...) Dessa formação de uma identidade comum, que impõe e normaliza
o padrão de determinado povo, cria-se uma etnicidade fictícia da qual deriva o
racismo. (Pág. 23).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Isso
significa que a relação entre Estado e sociedade não se apoia apenas no
antagonismo de classes. Além do mencionado racismo, também temos as relações de
gênero, exploração que se manifesta no aparelho estatal. A divisão social do
trabalho ligada ao gênero foi essencial para o desenvolvimento do capitalismo.
A divisão dos gêneros em dois, expressa nas relações familiares, também atuou
como forma essencial de preencher a lacuna de pertencimento dos indivíduos – e
foi igualmente fundamental na formação das opressões contra a população
LGBTQIA+. (Pág. 23).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">É uma salada de frutas. E tem mais:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O racismo, de
acordo com esta posição, é uma manifestação das estruturas do capitalismo, que
foram forjadas pela escravidão. Isso significa dizer que a desigualdade racial
é um elemento constitutivo das relações mercantis e das relações de classe. (Pág.
27, citando Silvio Almeida).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Então “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">o racismo (...) é uma
manifestação das estruturas do capitalismo</i>”. Mas, Aristóteles já dizia (em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Política</i>), mais de trezentos anos antes
de Cristo,<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>que alguns seres humanos são,
por natureza, feitos para serem escravos; outros, para donos de escravos. Os
judeus sefardistas foram expulsos da Espanha em 1492; quatro anos depois,
obrigados a se converter ou a ir embora de Portugal. Podemos chamar a convicção
de Aristóteles ou a hostilidade aos judeus de racismo? Sem dúvida. Mas, então,
há algum racismo que nada tem a ver com o capitalismo. Será que algum tem? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Minha avó Josefa Bahia, alagoana da região canavieira, não era lá
muito branca, mas se decepcionou quando seu filho único – meu pai – nasceu com
os cabelos encaracolados e a tez muito morena. Aplicava-lhe um grude nos
cabelos para os espichar e pó de arroz na pele de Mauro, para ver se ela ficava
branca. Não funcionou. Josefa era racista? Certamente, sim e isso não a
diferenciava das mulheres e homens (oficialmente) brancos de então. Agora,
fosse eu lhe dizer que ela era racista por causa da ascensão do capitalismo que
era bem capaz de minha avó me responder assim:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">– Seu pai é preto, mas é inteligente; você é preto e burro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Entre nós, o preconceito contra pessoas de cor tem óbvia relação
histórica com a escravidão, não com o capitalismo. A maneira como feita a
abolição não ajudou nada os negros a encontrar ou construir para si uma posição
econômica e socialmente digna no Brasil pós-1888. Eles deixaram de ser escravos
legais, mas foram, por assim dizer, simplesmente, largados na rua.
(Contrariando os projetos, por exemplo, de Joaquim Nabuco.) Quem precisa de
capitalismo para explicar que, ainda hoje, os negros sejam em grande maioria
pobres e, por essas duas razões – pobreza e cor da pele – sujeitos ao
preconceito por parte dos (relativamente) ricos e (relativamente) brancos?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo5; mso-outline-level: 1; page-break-after: avoid; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a name="_Toc58504666"><!--[if !supportLists]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Calibri Light"; mso-fareast-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">8.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span></b><!--[endif]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A
vez do cangaço</span></b></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Demora, mas LGM termina chegando ao cangaço. Nesta parte de sua tese,
ele apenas segue os passos de estudos anteriores, particularmente, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Guerreiros do Sol, </i>de Frederico
Pernambucano de Mello, um livro excelente. A tentativa de vincular o advento do
auge do cangaço à implantação do capitalismo no Brasil é inconvincente. Houve,
sim, uma coincidência de datas, nada mais do que isso. Começo com um parágrafo
inserido pelo autor nas primeiras páginas do seu trabalho:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O cangaço
(...) foi um movimento social que marcou a construção do imaginário do
nordestino. Com todas as contradições que o movimento carregou, que vão da
crueldade desmedida à associação com coronéis, os cangaceiros foram, nada
obstante, elevados em diversas oportunidades à categoria de Robin Hood do
sertão. (Págs. 10-11).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O próprio LGM reconhece mais adiante que os gestos à Robin Hood
dos cangaceiros eram raros. Na verdade, em todos os casos importantes, o
cangaço era um meio de vida permitido por características peculiares do lugar e
da época em que ele se desenvolveu, como a incipiente presença do Estado, o
alto custo e ineficiência dos transportes e comunicações, e a onipresença de
uma economia de baixíssima produtividade e sujeita a oscilações drásticas no sertão
nordestino. Cangaceiros eram bandidos, como hoje são bandidos os assaltantes de
bancos, os sequestradores, os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">hackers</i>.
Nunca houve nem há ideologia em nada nisso, nem propósitos humanitários ou
sociais, nem relação direta com o capitalismo. Só bandidagem embora, como
todas, sociologicamente explicável.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Perseguidos
pelas forças policiais e taxados de criminosos sanguinários, não deixavam de
contar com a admiração de parcela significativa da população. Nesse sentido,
Lampião, que de certa forma centraliza na sua imagem o movimento, foi
homenageado em 1991, mais de 50 anos após sua morte, com uma estátua em sua
terra natal, Serra Talhada. (PE), após consulta em plebiscito com a população
do município, aprovada com 76% dos votos, reforçando a narrativa que identifica
o líder como herói do povo nordestino. (Págs. 10-11).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Passado meio século da morte do cangaceiro, a votação a favor de
Lampião não me surpreende, mas também não prova nada. Quem mais Serra Talhada
teria para eleger como herói? Inocêncio Oliveira (político nascido na cidade e que
chegou a presidente da Câmara de Deputados, em Brasília) também terá, mais dia,
menos dia, uma estátua erguida em praça pública de sua cidade natal. Se não já
a tem.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Sobre esse
aspecto, cabe destacar a forma como pretendo realizar essa interpretação: o
cangaço será compreendido como sintoma do período de transição do escravismo
colonial ao capitalismo. (Pág. 42).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O autor não formula nenhum argumento consistente para vincular os
dois acontecimentos. Que houve uma coincidência no tempo entre eles, não há
dúvida. Mas, coincidências não significam nada. Por exemplo, em 16 de junho de
1938, a seleção brasileira de futebol perdeu para a Itália, na Copa do Mundo, e
foi desclassificada; apenas quarenta dias depois, Lampião foi assassinado em
Sergipe. O que teve uma coisa a ver com outra, além do fato de que ambas
aconteceram no mesmo ano?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A região do
Cariri, por exemplo, de 1920 a 1950 tinha uma densidade de 34 habitantes por
metro quadrado (sic) e teve um aumento de 200% da população. (Pág. 47).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Há um erro aqui, resultado, claro, de descuido. Trinta e quatro habitantes
por metro quadrado são um espanto! Os nove municípios da atual Região Metropolitana
do Cariri cearense têm uma superfície total de 5.460 km<sup>2</sup> (IBGE), ou
5.460.000.000 m<sup>2</sup>. Se a densidade fosse mesmo de 34 hab/m<sup>2</sup>,
em 1920-50, a população vivendo ali alcançaria 185,6 bilhões de pessoas. Padre
Cícero ia achar muito bom, mas teria dificuldade de abrigar tanta gente no
Juazeiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Tanto assim,
que um dos tipos de cangaceirismo que será conceitualizado pelo historiador é o
cangaço de vingança, que, de forma simples, abarcava aqueles que ingressaram na
vida bandoleira para efetuar alguma vingança – sendo Jesuíno Brilhante e Sinhô
Pereira seus principais representantes. (Pág. 52).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Até quem, no início, só queria se vingar de seus inimigos tinha de
comer. Era difícil voltar a uma vida normal, pacata, de agricultor, após
perpetrar a vingança. Portanto, o cangaço, mesmo quando começava assim,
terminava virando meio de vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A vingança
também exercerá papel crucial naquele que seria o segundo tipo de bandoleiros:
o cangaço de refúgio. Tipo de menor relevância entre os três que serão
expostos, este se caracteriza por ser um cangaço de defesa. Basicamente, é
aquele que recorre ao cangaço para se blindar de possíveis consequência de uma
vingança executada. (...) Por último, a terceira e última modalidade dessa
divisão foi nomeada cangaço-meio de vida, sendo aquela de maior relevância. (Pág.
53).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Lampião se enquadra nessa última categoria, como ele próprio
admite. (Pág. 53).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Não quero que
fique a impressão equivocada de que os cangaceiros representaram um desafio ao
poder dominante no sertão. Nesse sentido, eles apenas se articularam dentro
dessa disputa de poder, o que incluiu tudo que foi descrito acima. (Pág. 64).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O cangaceirismo não foi um movimento político, nem os cangaceiros
eram Robin Hoods ou algo assim. Foi apenas uma atividade criminosa regular. É
compreensível que cangaceiros e coronéis tenham estabelecido, em alguns casos,
relações de cumplicidade e mútua dependência. Afinal, havia muitas maneiras de
um grupo ajudar o outro. E, quanto menos eles brigassem entre si, melhor para
os dois.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Apesar da
afeição da população pelos cangaceiros, também havia ali um duplo sentimento.
Ao mesmo tempo, são conhecidas outras ocasiões em que os cangaceiros faziam
pequenos gestos para a população, como a doação de alguns materiais de valor,
mas nada perto de justificar a fama de Robin Hood de que os bandoleiros viriam
a gozar. (Pág. 65).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Essa “fama de Robin Hood” é uma criação recente do pensamento de
esquerda; não me parece haver nenhuma evidência de que o povo sertanejo na
época considerasse os cangaceiros gente boa. Muito comodamente, os autores do mito
esperaram oitenta anos desde a morte de Lampião e de seu bando para
enaltecê-los. Queria ver se algum professor da Faculdade de Direito de São
Paulo que morasse em Mossoró (RN) em 1927 – quando a cidade foi atacada pelos
criminosos – teria dormido tranquilo com a certeza de que aqueles rapazes não
iriam fazer mal a gente pobre como ele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Partindo do
ponto de que foram superadas as razões de explosão do cangaceirismo –
vinculadas ao momento de franca desarticulação social, típica do momento de
transição –, quero terminar apresentando as conclusões a que este estudo me
levou: os motivos pelos quais a solidificação do capitalismo no país como forma
social hegemônica foi, também, a alcova do cangaço. (Págs. 70-71).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Os “momentos de franca desarticulação social” no sertão nordestino,
entre 1888 (abolição da escravidão) e 1938 (assassinato de Lampião e de seu
bando) estão relacionados às secas que, periodicamente, transformavam agricultores
mal nutridos em flagelados famintos. Não têm nada a ver (exceto pela
coincidência no tempo) com a transição para o capitalismo. Até porque, nesse
período, o sertão não estava transitando para lugar nenhum, muito menos para o
capitalismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Eu, de modo
algum, divergirei quanto aos motivos da queda dos cangaceiros. Apenas
preferirei chamar esse conjunto de razões de capitalismo e, mais
especificamente, Estado. Sendo essa a conclusão maior desta tese, passo a
demonstrar como a consolidação do capitalismo como forma de organização social
soberana no Brasil foi determinante para o remate desse fenômeno, associando-a
ao soerguimento do Estado. (Pág. 74).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O cangaceirismo morre, ou muda drasticamente de forma, em
resultado de fatores como a melhoria dos transportes e comunicações (construção
de rodovias, ferrovias, difusão do rádio e do telégrafo), o fortalecimento do
poder central (dos estados, antes mesmo que do país), os acordos políticos que
permitem à polícia de um estado atravessar as fronteiras com outro durante a perseguição
aos bandidos. Chamar esse “conjunto de razões” de “capitalismo e, mais
especificamente, Estado” não acrescenta nada ao entendimento do assunto. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; page-break-after: avoid; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Por fim,
tem-se o progresso tecnológico como grande elemento para o extermínio do
cangaceirismo. (Pág. 76).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Quem precisa recorrer à consolidação do capitalismo no Brasil se é
tão mais simples dizer isso que está escrito acima?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo5; mso-outline-level: 1; page-break-after: avoid; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a name="_Toc58504667"><!--[if !supportLists]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Calibri Light"; mso-fareast-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">9.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span></b><!--[endif]--><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Considerações
finais</span></b></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Volto ao ponto de partida. Esses comentários suscitados pela tese
de LGM também podem ser vistos como os que o Gustavo maduro – instruído por
seis décadas de leituras, reflexões diárias sobre a realidade brasileira e
mundial, estudos sistemáticos e passagens pelos governos municipal, estadual e
federal – dirige ao Gustavo jovem, estudante de economia nos anos 1967-70,
revoltado com a situação política em nosso país e, sobretudo, com o espetáculo
de pobreza generalizada que, mais ainda do que hoje, se escancarava diante de
todos em Pernambuco e no Brasil.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Como não ser mordido pela mosca azul dos diagnósticos fáceis e das
soluções mágicas, que sempre foram a marca distintiva do pensamento
esquerdista? “O problema da pobreza é político”; “só a revolução social
redimirá o país”; “o Brasil é pobre porque o capital imperialista nos subtrai
as riquezas”; “reforma agrária na lei ou na marra; “o lucro é o roubo” – e
tantas outras. Pois eu fui atraído por esse discurso, embora, desde os tempos
mais remotos, tenha também me defendido das crenças sectárias, evitado
filiações partidárias que me tolhessem a liberdade intelectual, aprendido a
lição de Bertrand Russell segundo a qual mais importante que a vontade de crer
é a coragem de duvidar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Vou pôr a questão em termos mais amplos. Nos anos sessenta do
século passado – são os que me interessam, no momento, mas o que irei dizer não
se restringe a eles – duas ideologias político-econômicas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">respeitáveis</i>,<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>com graus
diferentes de elaboração, competiam (não apenas) no Brasil. Uma delas, de
raízes marxistas, enfeitiçava a esquerda, os que queriam respostas rápidas e
vigorosas contra as mazelas do mundo. Todas as frases-manifesto relembradas no
parágrafo anterior faziam parte dessa visão de mundo. Se a gente só pudesse
usar uma palavra para descrevê-la, essa palavra seria “revolução”. Se duas,
“reformas radicais”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A outra grande ideologia, cujos fundamentos filosóficos são dispersos,
reconhecia a existência de mazelas. Seus defensores compartilhavam com os
adversários o desejo de resolvê-las, mas reconheciam a dificuldade inerente a
isso. Preferiam abordagens passo-a-passo a rompimentos; argumentavam que o
problema da pobreza não era político, mas econômico; que a revolução social, ao
invés de salvar o país, o arruinaria, beneficiando apenas os grupos que viessem
a se apoderar do Estado; que o Brasil não estava em má situação econômica por
causa do capital estrangeiro, ao contrário, precisava dele para sair da pobreza;
que fazer a reforma agrária na lei ou na marra, como um ato de rebeldia e
desafio, provocaria o colapso da produção agrícola, com graves prejuízos para
todos; que, ao invés de ser moralmente condenável, o lucro era o que movia os
empresários a aumentar a produção, expandir o emprego, gerar, enfim, as
condições necessárias para a superação da miséria. É difícil resumir isso tudo
em uma ou duas palavras, porém não seria errado dar o rótulo “desenvolvimento”
ou “gradualismo como método” a essa visão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A segunda maneira de ver o mundo e de transformá-lo, já se vê, não
tinha a mínima possibilidade de vencer o debate intelectual que então se
travava, exceto, talvez, em círculos muito restritos. Faltava-lhe (ainda hoje
falta) o discreto charme das teses dicotômicas e das promessas mirabolantes. O
texto de LGM ecoa algumas dessas palavras de ordem que a esquerda jogava na
cara dos que defendiam o discurso gradualista. Aquela frase dele, que eu
comentei (“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Esse princípios </i>[liberdade,
igualdade]<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> são impossíveis de se realizar
no capitalismo, que se apoia na desigualdade</i>”) era aplicada em diversas
variações para desacreditar tudo o que o gradualismo como método, a direita
respeitável, propunha. E com que efeitos! (Usei o adjetivo “respeitável”, para
diferenciar essa direita da outra simplesmente reacionária, quando não
fascista, mas é bom lembrar que havia também uma esquerda “não respeitável”
que, em vez de lutar por ideias, assaltava bancos e explodia bombas em
aeroportos.)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Esse foi o quadro do embate ideológico com que o jovem estudante
de economia (e, paralelamente, jornalista profissional, cobrindo a área
política para o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Jornal do Commercio </i>do
Recife), leitor assíduo de livros, jornais e revistas desde criança, se deparou
nos anos sessenta do século passado. Com as ressalvas já mencionadas, eu era,
francamente, “de esquerda” ao defender reformas radicais, embora desconfiasse
da revolução. E assim continuei por um bom tempo depois de formado: essa opção
político-intelectual marcou, por exemplo, minha tese de Ph.D. defendida em
dezembro de 1983, nos Estados Unidos. Não se trata de uma tese ruim, longe
disso. Tanto que foi aprovada sem problemas e selecionada para publicação
comercial na forma de livro por uma editora de Nova York (1986). Hoje,
entretanto, eu não a aprecio, exatamente, pelo ranço esquerdista que dela
emana. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Mas, quando minha opção intelectual migrou da esquerda tudo-ou-nada
para a direita respeitável? Não aconteceu num piscar de olhos. A mudança foi
construída aos poucos, pela reflexão sobre acontecimentos marcantes, alguns
deles anteriores até mesmo à entrada na universidade. Destaco a revelação das
atrocidades de Stálin (a partir de 1956); o banho de sangue que se seguiu à
revolução cubana (1959); a construção do muro de Berlim (1961); os erros graves
da interpretação esquerdista da realidade brasileira, que facilitaram a
derrocada de 1964; o indefensável governo João Goulart (1961-64); as conversas
com meu tio Hermano Cardoso Pedrosa, professor nas faculdades de Engenharia e
de Economia em Maceió, gradualista, sim, uma das influências mais estimulantes
que tive na vida; o aprendizado da boa macroeconomia com Affonso Celso Pastore,
durante o mestrado em São Paulo (1971-72); a leitura do livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Brasil 2001</i>, de Mário Henrique Simonsen
(1972); (pelo lado negativo, o contato com livros dogmáticos, horrorosos – um
dos quais sobre a história do pensamento econômico – editados pela Academia de
Ciências da União Soviética e traduzidos para o português); o estudo da teoria
neoclássica dos preços em livros como os de Charles Ferguson, Robert Dorfman e
Robert Heilbroner (1973-76); o acompanhamento à distância (eu morava, nessa
época, na Inglaterra) da elaboração da Constituição brasileira (1988), um
monumento à irracionalidade que deu um nó indesatável no desenvolvimento de
nosso país; a vivência próxima, em Cambridge, dos atos do governo Thatcher
(1979-90); a revelação das políticas alucinadas de Mao Zedhong na China
(1958-62; 1966-76) que mataram de fome cerca de cem milhões de pessoas; a
implantação do capitalismo naquele país, após a morte de Mao, no início, com Deng
Xiaoping à frente (desde 1979); o reconhecimento de que Ronald Reagan foi um
grande presidente dos Estados Unidos (1981-89); os esforços desesperados e
frustrados de Mickail Gorbachev (1985-91) de reformar econômica e politicamente
o comunismo em seu país; a queda o muro de Berlim e a constatação de que as
pessoas, sem exceção, queriam sair do “paraíso socialista” para o “inferno
burguês” e não o contrário; a derrocada do império russo e do socialismo,
primeiro, nos países satélites e, por fim, na própria União Soviética (1989-91).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Cada um desses fatores minou um pouco minhas convicções
esquerdistas, até que não havia mais nada para salvar. Houve outros, pois –
mais no resto do mundo do que no Brasil – o gradualismo, ou seja, a recusa à
revolução ou às reformas radicais como método, acumulou um ponderável saldo de
realizações positivas: um quarto de século de crescimento econômico firme e a
concomitante construção do Estado de Bem Estar na Europa ocidental (1946-70); a
reabilitação econômica da Grã Bretanha durante e após o governo Thatcher; a vitória
dos Estados Unidos na guerra fria e na competição econômica com a antiga União
Soviética (1991); o espetacular êxito desde 1979 da China economicamente
capitalista e, começando antes disso, o surto de prosperidade também
capitalista dos “tigres asiáticos”; a consolidação da União Europeia, especialmente,
após Maastricht (1993). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Enfim, a experiência que vivi, desde os anos 1960, pode ser
descrita, à maneira de síntese, desta maneira: <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">o capitalismo </b>– que se fez acompanhar na Europa ocidental, nos
Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão e outros países, pela democracia
liberal – <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">construiu</b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">a melhor sociedade que a espécie humana já
teve</b>, desde que os primeiros homo Sapiens deixaram a África. A mais rica. A
mais politicamente livre. Desigual, como todas, mas com distâncias econômicas
sociais toleráveis entre seus integrantes, muito menores do que havia sido a
norma anterior. Em contraste, os regimes socialistas ou comunistas – tão ao
agrado da esquerda – produziram a estagnação econômica, crises severas de fome
e ditaduras ferozes. Não há comparação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 22.7pt;"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Sei que dificilmente LGM irá se convencer disso, agora. Algum dia,
no futuro, talvez.<o:p></o:p></span></p>
<div style="mso-element: footnote-list;"><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 6.0pt;"><a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"> Ph.D. em
economia.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"> Bruno A. Picoli, “Jacob Gorender, o escravismo colonial e um
debate ainda atual”, s/d, sem identificação de local onde possa ter sido
publicado, disponível na internet.</span><span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/Dell/Desktop/Coment%C3%A1rios%20de%20GMG%20sobre%20tese%20Lucas%20Moreno%2010%20dez%202020.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
<span style="font-family: "Calibri Light","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Sílvio Almeida, conforme me informa a Tese de Láurea, é professor
de Direito na Faculdade em que se formou LGM. O que pode, parcialmente,
explicar a insistência do aluno em repetir chavões agradáveis ao pensamento da
esquerda (afinal, ele queria ter seu trabalho aprovado), mas desastrosos como
instrumentos para se enxergar e entender a realidade. <o:p></o:p></span></p>
</div>
</div>Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-86501477126858687392020-12-11T10:47:00.001-03:002020-12-11T11:12:32.427-03:00Resenha de um livro<p> <br /></p><p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 150%;">O TREM PARA BRANQUINHA<a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Lincoln Braga Vilas Boas*</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBq168VegVaZCOojWdKeV6nxzatQZ1yhYxrNlilzatnoQMwTn4d6HRNG84Ste6VaB1ZkShDmoyrau9hghuS0U228zN8hrZ_QCYAk_8AyoydFMV5XBX3ZrbZGT1unEGJGXoyNDXYd-4O4Q/s960/O+trem+para+Branquinha+capa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="910" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBq168VegVaZCOojWdKeV6nxzatQZ1yhYxrNlilzatnoQMwTn4d6HRNG84Ste6VaB1ZkShDmoyrau9hghuS0U228zN8hrZ_QCYAk_8AyoydFMV5XBX3ZrbZGT1unEGJGXoyNDXYd-4O4Q/s320/O+trem+para+Branquinha+capa.jpg" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">OTTOLMY STRAUCH, na Introdução a </span><i style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Os
princípios de economia</i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"> de Alfred Marschall cita Sigmund Freud em epígrafe:
“A verdade biográfica é indevassável.” Trata-se de uma citação de
correspondência de Freud com Arnold Zweig.</span><a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">
Esta afirmação pode ser tomada também como verdade se a transpomos para um
sentido memorialístico, embora se deva assinalar que a documentação de
referência, muitas vezes, não se trate de</span><i style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"> autorreferência</i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">. Trata-se da
vida dos outros e seu contexto, seja familiar ou não. Gustavo Maia Gomes
esclarece em seu livro, na abertura introdutória:</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Neste livro identifico homens e
mulheres – parentes meus já mortos – e conto histórias vividas, quase todas, no
Nordeste canavieiro, compreendendo esse não apenas o universo rural da região,
mas também as cidades. Fiz o máximo de esforço para<i> localizar</i> a história
de cada pessoa no quadro maior das estruturas sociais que lhe circundavam e dos
eventos importantes (especialmente políticos) que lhes foram contemporâneos.
Também dei destaque aos encontros fortuitos ou sistemáticos dos meus familiares
com gente que já era ou se tornaria conhecida do público em geral. Dessa forma,
ao mesmo tempo em que juntava fragmentos biográficos de ancestrais, fui montando
uma história social, econômica, política e de costumes (aqui contada de forma
peculiar, reconheço) do mundo canavieiro-açucareiro nordestino, especialmente,
entre os anos 1870 e 1950 (MAIA GOMES, p. 17. Grifo do autor.)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E segue adiante com mais esclarecimentos
que certamente tem uma serventia inequívoca para o leitor: “Meus ancestrais,
como toda a gente, tinham uma <i>história pessoal</i> a escrever. Ao fazê-lo,
ajudaram a produzir os processos mais amplos que, ao mesmo tempo, lhe
conduziram a existência” (MAIA GOMES, p. 25. Grifo meu.) Daí por diante, suas
intenções se mesclam dos mais convergentes aportes. O primeiro possui uma
feição etnográfica, pois que toma como base a reconstituição tão fiel quanto
possível do modo de vida de homens e mulheres, em sua especificidade, seguindo
uma ordem no tempo.<a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Por outro lado, ele inscreve sua<i> narrativa</i></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 150%;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">numa
dimensão diacrônica, ou seja, ordenada no tempo, ou seja ainda, ela possui uma
validade histórica nas reconstruções. As coordenadas espaciais e temporais se
projetam na maneira como os elementos foram coligidos e relacionados uns aos
outros.<a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> E
se acrescente que os fatos colhidos são apresentados em conformidade com
exigências que se propõe a um historiador, mas que se inscrevem no gênero das
memórias com os comentários pessoais e diretos aqui e ali, circunstancialmente
evocados, pois o tom é claramente memorialístico. E é a memória que permite ao
homem se comunicar com o passado. Presos a um presente puro, carentes de nossa
história, nós a temos história diminuída, reduzimos nossa identidade e perdemos
a realidade (MATOS, 2010).<a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Junta-se
a isso a intenção de Maia Gomes, quanto a localizar, de referir-se a um espaço
de vida não somente no plano da história e da biografia, mas também projetando
uma espécie de via genealógica da ascendência e relações familiares, a origem e
a procedência. Mas envereda pelo plano, às vezes, folhetinesco, enfocando as
vinganças, as brigas familiares e as assinaladas mudanças de nomes como índices
aparentes de novos direcionamentos na vida, incluindo uma evolução de poder e
mando que vai do apogeu à decadência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
Parte V de <i>O trem para Branquinha</i>, com o título de Honra, Terra e Açúcar
oferece um percurso deveras interessante dos municípios alagoanos desde a época
dos banguês, engenhos e a instalação das usinas de açúcar, passando pela vinda
da estrada de ferro que trouxe certas facilidades e progresso. O século XIX se
projeta no início do século XX, com as observações de Maia Gomes pontuando com
visível ironia a grandeza e a decadência da região. O florescimento do comércio
trazido pela estrada de ferro, a Great Western do Brasil Railway, fazendo
convergir as produções mais diversas, também incentivou a mobilidade da
população. Maia Gomes pontua que “a chegada do trem foi um acontecimento de
profundas mudanças econômicas, que acelerou dramaticamente as mudanças já em
curso”, (TB, p. 299). Mas, já se projetavam daí outras mudanças profundas no
que se refere às propriedades e seus donos. É interessante considerar as idas e
vindas no foco narrativo dessas<i> memórias</i> e sua forma de composição, em
especial desta parte, em que há várias intervenções do autor, trazendo o
passado ao presente, voltando ao passado e projetando o futuro como uma espécie
de maldição inescapável. Apesar de toda a aceleração dramática das mudanças, o
curso desse progresso se esbate em particularidades familiares dos
proprietários. O autor, refere que “[eram] demasiados os herdeiros das regiões
do açúcar, não apenas de Alagoas, mas do Nordeste, e a cana não sustentaria a
todos. Nem o gado” (TB, p. 304). A aproximação da decadência vem
insidiosamente. E segue o autor adiante fazendo menção ao fato de que “[os] que
ficavam – os proprietários e os usineiros – iam levando a vida, ricos, alguns,
em termos relativos, <i>endividados, todos, muito além das possibilidades de
pagamento proporcionadas por seus negócios</i>” (TB, p. 304. Grifos meus). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Interessante
considerar aí, em toda essa Parte V, quando o autor ao longo de seu relato
monta um painel que o envia ao ofício do pintor ou do escultor e faz lembrar as
vias de operar as lembranças e documentos coligidos que noticiam a história e a
memória. De um lado, opera <i>per via de porre</i>, a saber, vai pondo as cores
e os contornos onde antes não os havia sobre um branco liso a documentar; em
troca, procede também<i> per via de levare</i>, tirando dos fatos o embaçamento
que lhes encobre a superfície do significado neles contido. As notas a cada
parte e capítulo mostram esse percurso, vastas e esclarecedoras e com certos
envios e deduções dentro dos parâmetros da construção de uma história e
memorialística. Nos capítulos que se sucedem, os saltos são significativos,
pela via da temática. Um capítulo inteiro<a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> é
consagrado a sérias desavenças familiares, pontuadas por traços de caráter que
o autor nomeia, e tem como consequência um assassinato a facadas, trocas de
tiros e outros aspectos que, no relato, indicam, ou sinalizam um dos motivos da
decadência e das perdas ao longo da história. Quem viveu na região quando havia
progresso, produção e comércio não reconhece o estado em que ficou após a
severa decadência.<a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftn7" name="_ftnref7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
“Os ressentimentos de alguns [...] primos e tios [...] vinham de longe. E a
reação dos ressentidos não podia ser ignorada” (TB, p. 355-56). O autor
investiga o campo das possibilidades e derivações das desavenças. A conclusão
do capítulo é desanimadora, a referência a “uma terra devastada, onde não há
sinal de atividade econômica e boa parte da população sobrevive de
transferência de renda, sem nada produzir” (TB, p. 361). Esta e outras
observações pertinentes do autor que percorrem todo o relato, estabelecendo
relações quanto a região enfocada e as<i> motivações</i> sócio econômicas de
seu progresso e decadência, têm fundamentos históricos num enquadre de
repetições gradativas, mas que também enfocam mudanças que podem ser percorridas
ao longo de uma História geral do Brasil. O que Maia Gomes faz é <i>especificar</i>
os contornos de uma região e tornar claro um padrão de desenvolvimento, de
organização econômica/comercial, de mando e de utilização e mão de obra na
produção. O estudo de Alberto Passos Guimarães, importante para a compreensão
das relações econômicas no Brasil desde a colonização, é generalizante e evoca uma
fundamentação de análise que não considera essas especificidades regionais.<i>
Quatro séculos de latifúndio<a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftn8" name="_ftnref8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[8]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></i>
é uma obra mestra para compreensão das relações sócio econômicas e de produção
no Brasil que podem ser uma base da qual se pode projetar especificamente para
as regiões. Numa edição, certamente revista do estudo em 1981, Guimarães acrescenta
um capítulo retrospectivo desde a primeira edição. Há uma observação
interessante a considerar:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Compreende-se, à luz da
experiência dos <i>países desenvolvidos</i>, que a condição básica de abrir
caminho, sem entraves, à <i>revolução tecnológica,</i> é a preexistência de um
desenvolvimento intensivo da agricultura por período mais ou menos longo, o
que, por sua vez, só pode ter lugar quando precedido <i>por mudanças
estruturais profundas</i> [...] (GUIMARÃES, 1981. Grifos meus).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A abordagem não deixa de possuir
referências básicas para a compreensão do contexto abordado por Maia Gomes, mas
a revolução tecnológica, neste caso, foi entravada pela falta de mudanças
estruturais “profundas”, mudanças efêmeras que esbarravam no desinvestimento e
na irracionalidade administrativa dos donos das propriedades e usinas. Além
disso, o declarado esforço para<i> localizar</i> a história, que parte de Maia
Gomes, não se reduz às pessoas, mas projeta-se no espaço dos acontecimentos, no
enquadre do lugar que eles ocupam, onde se realizam e onde estão as pessoas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ora,
o espaço refere a constituição de um lugar, ou de lugares “com os quais a
memória individual e a coletiva estabelecem pactos secretos porque possuem o
‘dom da profecia’. Tanto o desenterrado quanto aquele que não deixa seu lugar
de nascimento têm muito a contar [...].” (MATOS, 2010, p. 137). O passado se
projeta no presente sob a forma do discurso ou da escrita documental, da fala
ou da escrita das pessoas, que revelam acontecimentos que podem não <i>encaixar</i>
no conjunto, como certos depoimentos que <i>contradizem</i> um registro
histórico ou reforçam ou ainda relatam o que não viveram e se baseiam numa
versão oral narrada. <i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Trata-se, nesse caso, de uma pós-memória, “a
memória de uma geração seguinte àquela que sofreu ou protagonizou os
acontecimentos – quer dizer: a pós-memória seria a memória dos filhos sobre a
memória dos pais” (SARLO, 2007, p. 91).<a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftn9" name="_ftnref9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> E
não só dos filhos, mas dos netos e bisnetos e seguintes. A reconstituição tão
fiel quanto possível dos fatos e do modo de vida de homens e mulheres em sua
especificidade. O que as gerações seguintes lembram vai precisar sempre de uma
aferição por seu caráter <i>vicário</i>. Young (2000) se faz a indagação de
como “lembrar” o que não se viveu, e essas aspas que assinalam a palavra
lembrar apontam um uso figurado. Verdadeiramente, o que se “lembra” é o vivido
antes, por outros. “Lembrar” é, portanto, diferente de <i>lembrar</i>, porque
Young denomina assim o caráter <i>vicário</i> da lembrança.<a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftn10" name="_ftnref10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Maia Gomes, neste caso, dedica-se, com
esforço a revelar suas versões mais plausíveis, procurando descartar a
verossimilhança em detrimento da realidade, procurando tornar o vicário ao
lugar de onde foi deslocando, tentando desfazer os equívocos possíveis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Seguindo
para a Parte VI de <i>O trem para Branquinha</i>, o autor resolve dar uma
guinada para a História e envia a certo <i>sabor</i> linguístico em sua
narrativa. O itinerário percorrido sai de Alagoas para a Bahia, mais
precisamente envia a Santo Amaro pela estrada de ferro e a trilha açucareira e
passa a um ensaio léxico semântico, tornando um dos personagens um cultor do
amor da língua. Trata-se de Alípio Maia Gomes, profissional médico e jornalista.
Aí, o autor intercala também episódios históricos, trazendo à baila o
abolicionismo, as referências à Guerra de Canudos e à questão do Acre. Mas o
capítulo 26, da Parte VI, que tem por título <i>O médico que amava os adjetivos</i><a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftn11" name="_ftnref11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><i>
</i>traz uma característica original porque faz um levantamento do vocabulário
usado pelo médico, à página 374, e adiante, à página 394, uma lista de
expressões possivelmente usadas por ele num provável discurso na comemoração de
aniversário de 480 anos de uma sociedade, denominada “Perseverança e Auxilio”
que teve grande cobertura num jornal. O discurso possível do médico não é relatado
na cobertura da comemoração. Todavia, o autor faz um suposto levantamento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Não vamos saber o que ele disse,
pois isso não nos é relatado, mas podemos imaginar. [...] O espírito da época
era esse. Anotei aqui as seguintes expressões:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Estimados </span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">leitores<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Bela e imponente</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> festa<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Operosa </span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">mocidade do comércio<i><o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Benemérita</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Sociedade<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Esforçada</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> corporação<i><o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Correta</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> banda musical do Corpo de polícia<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Simpática</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Filarmônica Minerva (TB, p.
194).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Essa listagem de sete expressões é parte
das apresentadas à página 194. Seguem mais sete e continua a lista à página 395,
com mais quinze expressões. Essa inserção torna o relato divertido, mas dentro
da seriedade do que era o cultivo da época dos homens cultos e de formação
superior de onde derivava o respeito e a consideração, no que isso também
traduzia nas relações uma via de investidura de poder.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
título da Parte VI, Do Campo para Cidade evoca a mobilidade de uma <i>classe</i>
cuja condição econômica possibilitava o acesso à informação e o desenvolvimento
intelectual, o <i>engajamento</i> político das famílias enfocadas, sobretudo os
Maia Gomes que mantinham laços os mais diversos, desde os familiares aos
comerciais e parte do relato contido nos capítulos se torna uma espécie e
crônica de costumes valiosa para o conhecimento do que vigorava à época
considerada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ora,
há que se pontuar que <i>O trem para Branquinha</i> possui lances
cinematográficos e aportes que dariam uma adaptação para várias temporadas e
uma série televisiva. Suas características de relato memorialístico, crônica de
costumes, história econômica de uma região associada à formação atávica de
populações inteiras. Homens e mulheres que deixaram sua marca e foram objeto de
estudo do autor, um trabalho de mestre, um valioso levantamento e registros
trazem sua marca indelével. Suas observações pessoais de cunho econômico,
político e social, inseridas de forma oportuna aqui e ali no relato, trazem o
traço do espectador incorrigível e familiar, com uma demonstração <i>sui
generis</i> de sua veia de pesquisador que sabe fazer convergir todas as
abordagens possíveis por seu conhecimento de causa. Uma análise minuciosa de
sua produção – são 566 páginas de informação, incluindo notas e material
iconográfico – demandaria um estudo longo e aprofundado. E ainda se pode
indicar como valiosa obra para consulta e esclarecimento da história de toda
uma região que, não por acaso, se situa no Nordeste e, particularmente, em
Alagoas onde tudo acontece totalmente diferente do Brasil e do mundo. Essa
particularidade é um desafio originalíssimo. As transições históricas, sociais
e de desenvolvimento perfazem o campo do nunca visto em lugar algum. <o:p></o:p></span></p>
<div style="mso-element: footnote-list;"><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">*Psicanalista,
Doutor em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Alagoas, Critico de
Artes Plásticas e Cinema.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> MAIA GOMES, G.<i> O trem para
branquinha</i>. Dos engenhos às usinas de açúcar no Nordeste Oriental:
histórias familiares (1796-1966). Recife: Cepe Editora, 2018, 564p. As menções
ao corpo do texto se darão com a indicação TB e da página. Neste ensaio, o
objeto de análise são as Partes V e VI, respectivamente intituladas Honra Terra
e Açúcar e Do Campo para a Cidade, p. 290-442, que enfocam a família Maia Gomes
e seus ramos familiares com variações de sobrenomes.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> STRAUCH, O. Introdução. In: MARSHALL,
A. <i>Princípios de economia</i>. Tratado introdutório. <i>Os economistas</i>.
São Paulo: Abril Cultural, 1982, v. I., p. vii. <o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> LÉVI-STRAUSS, C. História e
etnologia. In: <i>Antropologia estrutural.</i> São Paulo: Cosac Naify, 2008, p.
13-40. Trad. Beatriz Perrone Moisés.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> LÉVI-STRAUSS, C. Op. Cit.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> MATOS, O. C. F.<i> Benjaminianas</i>.
São Paulo: UNESP, 2010.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> O título do capítulo incluído na
Parte V é bastante sugestivo, o Cap. 24: E tudo terminou em trinta e uma
facadas.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn7" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftnref7" name="_ftn7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Essa informação adicional me foi
dada por Ricardo Maia, primo do autor, que conhece a história da região,
repassada por seus parentes mais próximos.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn8" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftnref8" name="_ftn8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> GUIMARÃES, A. P. <i>Quatro
séculos de latifúndio</i>. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981, 5ª edição.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn9" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftnref9" name="_ftn9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> SARLO, B. <i>Tempo passado</i>.
Cultura da memória e guinada subjetiva. Belo Horizonte: Editora ufmg/companhia
das Letras, 2007. Trad. Rosa Freire d’Aguiar.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn10" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftnref10" name="_ftn10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-ansi-language: EN-US;"> <span lang="EN-US">YOUNG, J. E. <i>At memory’s edge</i>: after images in contemporary
art and architecture. </span></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">New
York and London: Yale University Press, 2000.</span> <span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn11" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/BackupGustavo/Desktop/AAA%20TREM%20PARA%20BRANQUINHA%20JUN%202016/Resenha%20de%20O%20Trem%20para%20Branquinha%20por%20Lincoln%20Villas%20Boas%20dez%202020.docx#_ftnref11" name="_ftn11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> O assinalamento em itálico
ressalta a originalidade</span><o:p></o:p></p>
</div>
</div>Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-13552474626734761212020-03-24T23:09:00.000-03:002020-03-24T23:29:15.432-03:00E quando isto tiver passado? (5)<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 12pt;"><b>Gustavo Maia Gomes</b></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "calibri light" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Minhas perguntas são: – O que foi feito
(ou será?), no mundo e no Brasil, depois de cada um dos onze acontecimentos de
importância magna ocorridos desde 1914 e listados no primeiro texto desta série?
– Que reações efetivas eles suscitaram na política, na economia, no pensamento
econômico, na ciência? As respostas que dou são sintéticas, incompletas. Espero
que não sejam, também, erradas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyQVjG76qkKarnCB6qMlTEuhMi65Gnj-X7YimeWtaUrPjnG_c-ThMAXUDn6eQsD3MS9BRrp0_pSf7bEFyvz4e8kEtFPhG3lNnVJVEfUAAkRP8tAu3J9Jt7Y1AKzi3zeQ9zuwhyphenhyphenACEg2VY/s1600/Depress%25C3%25A3o+1930.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="960" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyQVjG76qkKarnCB6qMlTEuhMi65Gnj-X7YimeWtaUrPjnG_c-ThMAXUDn6eQsD3MS9BRrp0_pSf7bEFyvz4e8kEtFPhG3lNnVJVEfUAAkRP8tAu3J9Jt7Y1AKzi3zeQ9zuwhyphenhyphenACEg2VY/s320/Depress%25C3%25A3o+1930.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto colhida no blog Viva a História, de Juarez Ribeiro</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="color: #5b9bd5; font-family: "calibri light" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Depressão Econômica dos Anos Trinta<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 16px;">John Maynard Keynes</span><span style="font-family: "calibri light" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;"> (1883-1946) tinha um
diagnóstico da profunda, duradoura e generalizada perda de renda, produção e
emprego que assolou o mundo ocidental nos primeiros anos 1930. Ele achava que a
crise fora deflagrada por uma queda na demanda total, ou seja, na disposição
dos agentes econômicos (consumidores, empresários, governo) de adquirir os bens
que haviam sido ou poderiam vir a ser produzidos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "calibri light" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">O economista inglês vivia dizendo
isso, mas pouca gente lhe dava bola. A teoria econômica da época tinha
dificuldades de admitir (imaginem, explicar) a existência de quedas persistentes
do emprego, da produção e da renda nacionais. Era dogma de fé que o mecanismo
de preços (incluindo salários) corrigiria rapidamente qualquer distúrbio que
apontasse nessa direção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "calibri light" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">A esse tipo de argumento, Keynes
respondeu com a <i>Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro</i> (1936). Podia,
sim, haver situações em que o mercado não corrigiria automaticamente as quedas
de demanda e, consequentemente, de produção e de emprego. Os consumidores não
iriam consumir mais porque suas compras eram proporcionais à própria renda, que
já havia sido reduzida. Os empresários não iriam investir mais porque o
investimento era uma função das expectativas sobre o estado futuro da economia
e, numa recessão duradoura, pouca gente acreditaria na existência de um mar de
rosas alguns meses à frente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "calibri light" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Isso dito, só restava um agente que
poderia compensar a queda na demanda: o setor público. Coerentemente, Keynes
recomendava que, em situações como a dos anos trinta, o governo gastasse mais,
mesmo que isso implicasse em déficits orçamentários. Os economistas – a grande
maioria deles, pelo menos –, a princípio, torceram o nariz à recomendação. Enquanto
isso, a crise continuava, os mercados não reagiam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "calibri light" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Veio a Segunda Guerra e os governos
tiveram de gastar muito mais do que arrecadavam. Como puderam? Endividando-se
ou emitindo moeda. Logo, o desemprego desapareceu. OK, mas, guerra é guerra: o
medo de que a crise voltasse após encerradas as hostilidades era generalizado. Como
fazer para evitar isso? No espírito da “Teoria Geral”, devia-se acompanhar a
conjuntura, mantendo elevados os gastos públicos até que a demanda total oriunda
do setor privado demonstrasse robustez suficiente para afastar o perigo de nova
crise.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "calibri light" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">A expectativa de que a depressão voltaria,
após 1945, contribuiu para que quase todos os economistas virassem keynesianos.
Seguindo seus conselhos, os governos passaram a monitorar as economias
nacionais, regulando os próprios gastos, em função do estado corrente e
previsto do emprego e da renda para o curto prazo. E a verdade é que, depois
disso, tivemos 25 anos de prosperidade. A Era de Ouro somente viria a ser encerrada
em 1973, a partir de quando o mundo iria sofrer uma crise severa, mas
deflagrada por razões que nada tinham a ver com as da Grande Depressão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "calibri light" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Keynes teria sido o primeiro a admitir
que as suas propostas de políticas dos anos trinta não serviam para a crise
precipitada pelos dois choques do petróleo (1973 e 1979). Ele, porém, estava
morto. Nessas circunstâncias, as correntes do pensamento econômico
anti-intervencionista, que nunca foram silenciadas, mas que haviam ficado na
defensiva durante um quarto de século, subitamente, ganharam projeção e adesão amplas.
Não que isso fosse, necessariamente, bom: se a economia clássica (na acepção da
“Teoria Geral”) havia fracassado em predizer e/ou remediar a crise dos anos
trinta, a macroeconomia “novo-clássica” – aquela que acredita irrestritamente na
capacidade auto-reguladora dos mercados – revelou-se incapaz de predizer e/ou
remediar o que viria a acontecer na primeira década do século XXI.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "calibri light" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Em função disso, a atualidade de Keynes
viria a ser reafirmada em 2008. Afinal, a crise dos “subprimes” (empréstimos concedidos
a um tomador que não oferece boas garantias), como ficou conhecida, embora
distinta da que tinha ocorrido nos anos trinta, foi precipitada por um distúrbio
no mercado financeiro que também teria levado, na ausência de ações governamentais
compensatórias, a um colapso da demanda muito maior do que, de fato, aconteceu.
E não aconteceu porque, enfatizo, os governos tomaram medidas abertamente
keynesianas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "calibri light" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Curiosamente, hoje, março de 2020, os
remédios que os governos no mundo estão propondo ou implementando para
enfrentar os efeitos econômicos da pandemia têm (de novo) um indisfarçável
sabor keynesiano. Eu não conheço outra receita, mas tenho que advertir para um
ponto: a crise econômica em que estamos entrando combina quedas de demanda com
choques de oferta. Quedas de demanda (muita gente perderá o emprego ou a ocupação
e, assim, não terá dinheiro para comprar nada) podem ser combatidas com as
medidas de compensação de renda que vêm sendo imaginadas. Por exemplos: ampliação
do seguro desemprego, subsídios diretos às empresas para manutenção dos empregos,
“Corona Vouchers”, postergação de pagamentos de impostos. Com os choques de
oferta, a história é outra. A quarentena, as restrições a viagens, o bloqueio
de estradas, entre outros fatores, têm como resultado um declínio na capacidade
de produzir – e isso não pode ser consertado com remédios keynesianos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "calibri light" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">John Maynard Keynes foi, na minha
opinião, o maior economista do século XX. Nenhuma das atrocidades ultimamente cometidas
em seu nome (lembram da “Nova Matriz Econômica”?) teria recebido sua chancela. O
mundo aprendeu, sim, muitas lições com a Grande Depressão dos anos trinta e foi a </span><i style="font-family: "calibri light", sans-serif; font-size: 16px;">Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro</i><span style="font-family: "calibri light", sans-serif; font-size: 12pt;"> que ensinou a maioria delas. </span></div>
<br />Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-70545638944472064342020-02-05T17:38:00.002-03:002020-02-05T17:39:28.139-03:00GOL DE PIPICO<div style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<b>Gustavo Maia Gomes</b></div>
<div style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
No café, comeu ovos com bacon<br />
Depois, caminhou até o rio<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />Ali, empunhou a vara de pescar<br />A linha era curta, um passante advertiu:<br />– O anzol está fora d’água<br />Ele respondeu: – Tanto faz, não há peixes aqui</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1c1e21; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px;">
Quando teve fome, almoçou<br />
Bacon com ovos<br />
Concluiu que a ordem dos fatores não altera o sabor<br />
Andou pela cidade<br />
Viu black fridays na terça-feira<br />
Deliveries que não fazem entregas<br />
Longas filas paradas em restaurantes fast food</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Passou por call centers, home centers, shopping centers<br />
Coworks, networks, homeworks<br />
Home pages, hardwares, softwares<br />
Cream crackers, mussarelas, messalinas<br />
Ouviu no rádio novelas mexicanas<br />
Chororô, chororô, chororô...<br />
Não, não há mais novelas mexicanas</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Voltando para casa, caiu-lhe do bolso uma moeda<br />
Fez tlim tlim antes de rolar calçada abaixo<br />
Procurou-a na sala, onde havia claridade<br />
Ao deitar, leu Foucault, Bourdieu, Althusser<br />
Gramsci, Nietzche, Kant, Weber, Paulo Coelho<br />
Não entendeu patavina<br />
Nem sabe se a luz da cabeceira estava acesa</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Sonhou com futebol<br />
Sport, 8; Santa Cruz, 1<br />
Para o Santa, marcou Pipico<br />
Em impedimento</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Às seis horas, despertaram-no bombeiros nervosos<br />
Tinham durante a noite combatido incêndios. Debalde<br />
Era manhã novamente<br />
Os ovos com bacon estavam servidos</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
(Pipico existe e joga pelo Santa Cruz do Recife. As histórias da linha curta e da moeda perdida, antigas, não são minhas.)<br />
<br />
(Publicado no Facebook em 5/2/2020)</div>
</div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-48302689498057068062020-02-05T17:37:00.000-03:002020-02-05T17:37:00.121-03:00“OS SANTOS MURMÚRIOS MISTERIOSOS DAS MADRUGADAS TRANSLÚCIDAS...”<div style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<b>Gustavo Maia Gomes</b></div>
<div style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Carlos Gomes chegou a Belém para morrer. Sua agonia de quatro meses foi acompanhada pela imprensa local. “É compungidos pela mais profunda dor que noticiamos terem-se agravado muito, ontem, ao cair da noite, os sofrimentos do glorioso maestro” (Folha do Norte, 21/5/1896). Daquela, ainda bem, ele escapou.</div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1c1e21; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px;">
Os jornalistas tinham êxtases: “Pobre Carlos Gomes! Ilustre e resignado mártir! Procura ouvir ainda nas amplitudes de teu ideal a incomparável ballata, onde deixaste toda a essência do teu carinhoso sentir e toda a seiva afetiva do teu gênio” (17/8).</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
No mesmo dia, o jornal informou: “Começaram a correr boatos de se terem subitamente agravado os sofrimentos deste grande inditoso, que é presa de uma agonia inexorável – o velho e glorioso maestro Carlos Gomes. Dentro em pouco, os boatos eram substituídos por outro tristíssimo: dizia que o maestro já havia exalado o último alento. Enfim, que para aquela organização física, soara o momento das dores últimas, dos sofrimentos derradeiros” (17/9).</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Ou seja, a organização física tinha morrido. “Tranquila foi a hora final de Carlos Gomes. O grande espírito desprendeu-se, calma, placidamente, sem o cortejo de sofreres que geralmente era previsto. Expirou, com os grandes olhos abertos, como que fixos numa visão imponderável – quem sabe? – a [visão] das glórias pretéritas que ainda vinha, cheia de flores e luzes, atenuar-lhe, com todo o peregrino passado que evocava, a tremenda hora do aniquilamento fisiológico” (17/9).</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Continuava a matéria: “Logo de manhã foi o cadáver fotografado pelo sr. Oliveira, com a roupa com que falecera, tirando o artista Domenico de Angelim um croquis. Hoje será novamente, depois de embalsamado e vestido, fotografado por aquele artista o nosso querido morto” (17/9).</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Dois dias depois, “todas as classes movimentam-se para dar público testemunho dos seus pesares na grande procissão cívica em que, amanhã, será levado o corpo do excelso épico para a necrópole da Soledade, onde ainda, até a hora em que o embarquem para São Paulo, ouvirá ele, através da transparência de nossas tardes sugestivas e de nossas profundas noites inspiradoras, o canto suavíssimo das auras e esses santos murmúrios misteriosos das madrugadas translúcidas da terra hospitaleira e carinhosa onde a desdita assentou-lhe o Calvário tremendo” (19/9).</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
E, finalmente: “Ainda terão de brilhar por algum tempo sobre aquelas estremecidas relíquias os clarões benfazejos de nosso formosos luares a despejarem-se em catadupas da azulea imensidade em cujo seio vezes muitas perdeu-se o olhar de Carlos Gomes” (19/9).</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
O cortejo fúnebre arrastou multidões para as ruas de Belém. E deve ter feito a glória literária de muitos poetas e oradores daquelas terras.</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
(Publicado no Facebook, 3/2/2020)</div>
</div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-35483133604007215672020-02-05T17:35:00.000-03:002020-02-05T17:35:22.792-03:00DILMA DOIS<div style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
Gustavo Maia Gomes</div>
<div style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Notícia de última hora: “Coronavírus: Governo vai resgatar brasileiros na China”.</div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1c1e21; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px;">
Agora, esperemos:</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
(1) que o resgate prometido seja mesmo feito;</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
(2) que — após isso acontecer — quem já havia notado o “descaso do governo com os cidadãos expatriados” venha a público se desculpar pela precipitação.</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Dentre os que deveriam pedir desculpas incluo o próprio presidente, cujas declarações iniciais sobre o assunto foram mais descabidas e idiotas do que as emitidas pelos seus piores críticos.</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Acho que ninguém vai pedir desculpas por coisa nenhuma.</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
(Publicado no Facebook em 2/2/2020)</div>
</div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-89693749724131283832020-02-05T17:33:00.001-03:002020-02-05T17:33:20.090-03:00MORTE NO NORTE<div style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<b>Gustavo Maia Gomes</b></div>
<div style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
O compositor Antônio Carlos Gomes (1836-96) fez a maior parte da carreira na Itália. Sua obra mais conhecida, “O Guarani”, estreou em 1870 no Teatro Scala de Milão. Foi um sucesso de público e de crítica.</div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1c1e21; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px;">
Mas, se as composições de Carlos Gomes ainda hoje são lembradas, o dinheiro que ele ganhou desapareceu rapidamente. No final da vida estava pobre. Com o prestígio artístico em declínio na Europa, decidiu vir para Belém.</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Por que Belém? É que suas óperas, encenadas no Teatro da Paz, tinham despertado entusiasmo. Então, em 1895, o governador Lauro Sodré o convidou a vir morar na cidade.</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Em pleno auge da borracha, o Pará era um dos estados mais ricos do Brasil. Seu governo podia pagar bem ao maestro. Mas, Carlos Gomes tinha os dias contados e ninguém desconfiava disso. Ele aceitou o convite.</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
A viagem, num primeiro momento, pareceu que jamais se realizaria: “Não vem mais ao Pará o glorioso autor da Fosca. Uma afecção da língua impediu-o de embarcar em Lisboa, onde deve operar-se” (Folha do Norte, 21/4/1896).</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Descobriu-se o pior. “Dizem de Lisboa que os médicos diagnosticaram a existência de uma epitelioma na língua do insigne maestro. Esperam, no entanto, que ele partirá para o Pará logo que faça a operação e sinta melhoras” (23/4).</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Que melhoras? O exame seguinte revelou que ele contraíra "um câncer dos fumantes” (28/4). “Os médicos acham inconveniente a partida do maestro, antes de efetuada a cura” (26/4). Ele, entretanto, insistia em vir.</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Por desespero e carência de recursos, talvez. Pois as circunstâncias continuavam ruins. “De Lisboa noticiam que Carlos Gomes [foi] sujeito a novo exame. O diagnóstico de um cancro na língua prevê agravação de sofrimentos. Não obstante, o maestro persiste na deliberação que tomou de partir amanhã para o Pará. Se o fizer, fá-lo-á sem a responsabilidade dos médicos assistentes” (4/5).</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
E ele veio: “O governador do Estado recebeu telegrama do cônsul brasileiro em Lisboa comunicando ter ali embarcado no [navio] Obidense o maestro Carlos Gomes" (5/5). Não que estivesse bem: “Passou por Funchal anteontem, ainda gravemente enfermo...” (FN, 8/5/1896).</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Mais uma semana, estava em Belém: “Veio ontem no Obidense o eminente compositor brasileiro maestro Carlos Gomes. (...) Instalado na sua nova residência, o glorioso artista recebeu a visita do sr. Lauro Sodré [governador do Estado]” (15/5).</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Quatro meses depois, estava morto.</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
(Publicado no Facebook, 1/2/2020)</div>
</div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-11709265630611495712020-01-30T11:23:00.004-03:002020-01-30T11:23:53.350-03:00ARQUEOLÓGICO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO ANDRÉ<br />
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">O IAHGP (Instituto
Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco) comemorou, ontem, 158 anos
de existência. Fez sessão solene e deu posse a novos sócios, dentre os quais
André Heráclio do Rego. É um recém-amigo, dos melhores.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Dou sorte com os andrés: <a href="https://www.facebook.com/amglages?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARBBPpR52E3ATCOSIp0WA2qPlGEkOhI8XYVmDC0QxXqnomcV0Gmba5RgUYI30T_SvVoYdJjpZjOV8je4&fref=mentions" title="André Maia Gomes Lages"><span style="color: windowtext;">André Maia Gomes
Lages</span></a>, <a href="https://www.facebook.com/andre.f.durao?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARCi6I5piwkeNMhA3Mg6Wss-fnZ7Jykwsr2aYErmoADrNidPsVNIHvHL62jqlFTZhz7-vUq-tBb7K9LF&fref=mentions" title="André Durão"><span style="color: windowtext;">André Durão</span></a>, <a href="https://www.facebook.com/andregis?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARCU9BgKCOQxyVpoCs9ZZZdNb_Tl_m9xof82aqMwneyP-lmuBSvgDRpKi2Ok-U1y7D4H9pvLMG0e3QU4&fref=mentions" title="André Regis"><span style="color: windowtext;">André Regis</span></a>, <a href="https://www.facebook.com/andre.magalhaes.9237?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARAO0IDsu_gR1gJThfL6gRhSYhkYuWLwvbbUjuwfPqMqWuC9zWZR96hmA7ESW4Adc46fQ2UmBLI17BxK&fref=mentions" title="André Magalhães"><span style="color: windowtext;">André Magalhães</span></a>...
E com as andreas: <a href="https://www.facebook.com/andrea.oliveira.3388?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARAEPJ4WxRZIczYlRMA5-aOCTw8GvoAhDIdqO8DtAcxZ0ypmDPDAxhV9njaDx0n6fhAzrfeLkpC9CTEx&fref=mentions" title="Andrea Oliveira"><span style="color: windowtext;">Andrea Oliveira</span></a>, <a href="https://www.facebook.com/andreamendonca?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARC1VI4vaKWxw4mOxbNTNpJ0Vbe2b_gma8GpFAUP4bGW6_dgMhOy8bjeejTwu4HmCytMEO5IXBJ_QkAr&fref=mentions" title="Andréa Mendonça"><span style="color: windowtext;">Andréa Mendonça</span></a> ...
E com os alguma-coisa-andrés: <a href="https://www.facebook.com/carlosandre.magalhaes.5872?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARAhc51jOsnHlYUjuYUNB0lbcJvUwFM6gLqLg9OcOgXSEqGuArXG0FrtbvwEHzfCSETYKJVMLQUxfSHH&fref=mentions" title="Carlos André Magalhães"><span style="color: windowtext;">Carlos André
Magalhães</span></a>, por exemplo. São todos gente da melhor qualidade.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Se a Rádio CBN me contratasse
como filósofo (Ah, eu queria tanto ser um desses Sócrates fast-food !), vocês
ouviriam minha mensagem:<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">-- Não existe o paraíso
celestial; o proletariado fez as revoluções erradas. Precisamos de um mundo só
de andrés e andreas.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Um lugar pacífico, sem
aquecimento global, sem propriedade privada, sem desigualdades, sem economistas
franceses, sem a exploração dos andrés pelos andrés.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Na rua, as pessoas se
cumprimentariam: -- Oi, André? -- Oi, André.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Na missa, o padre rezaria: --
Em nome do Pai, do Filho e do André.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">No jogo de futebol, o locutor
diria, entusiasmado: -- Avança André, passa para André, dribla André, serve
André... Ih! A bandeirinha Andrea marcou impedimento daquele jogador baixinho
cujo nome... cujo nome... esqueci temporariamente... (O colega o socorre, fora
do microfone.)<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">-- André!<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Isso dito, gostei muito da
sessão de ontem. O IAHGP é um patrimônio pernambucano; André Heráclio do Rego,
um competente diplomata e historiador. Estamos todos de parabéns.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 29/1/2020)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-32129250357101237872020-01-30T11:23:00.000-03:002020-01-30T11:23:04.915-03:00NOITES AMAZÔNICAS<br />
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">A Mercearia Pará – loja
especializada em preparar e vender alimentos da Amazônia – é um projeto de
minha mulher, <a href="https://www.facebook.com/lourdes.barbosa.520?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARD1lJFs5LgZ4Ur38Ob1ktwQjhpIVJrPn8QzAwgEhVYbu8kThKetER6RhVgmZ0bIYovbdhL9KAJxUTaP&fref=mentions" title="Lourdes Barbosa"><span style="color: windowtext;">Lourdes Barbosa</span></a>.
Imaginando como poderia lhe dar alguma ajuda nisso, tive uma ideia
interessantíssima. Bem, não estou seguro de que seja, realmente,
“interessantíssima”, exceto para mim mesmo. Seria boazinha, talvez? Mais ou
menos? Tolerável? Irrelevante? Contraproducente? Um desastre?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Enquanto me inquieta essa
dúvida, mal consigo olhar para picolés de cupuaçu, patos no tucupi, jambu,
maniçoba, farinha de Bragança, açaí com tapioca, tacacá, castanhas, peixes
filhotes, caranguejos... Quem sabe, meus escassos leitores poderiam me ajudar?
Exponho a ideia e, quem quiser, emite sua sincera opinião sobre ela.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Lourdes, além de suas outras
qualidades, é ótima na cozinha; eu gosto de livros e de contar histórias.
Combinando as duas coisas, imaginei fazermos uma série de encontros
gastronômico-intelectuais. Tenho até um nome para eles: “Noites Amazônicas de
Sabor e Livros”. Seriam jantares paraenses antecedidos por breves notícias
sobre episódios marcantes da história regional.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Considerem os seguintes temas:<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">1. <a href="https://www.facebook.com/profile.php?id=100001441569586&__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARB7rkL2Eud9v4jjn4hSxBr7yYcet3iiznpE9hISbQTZGBs03aoPLnlCmW-LdwJ5SxmXOYGRVTm4CsJ2&fref=mentions" title="Anna C. Roosevelt"><span style="color: windowtext;">Anna C. Roosevelt</span></a> e
a civilização tapajônica (c.4000 a.C.)<br />
2. Orellana descobre o Rio Solimões-Amazonas (1542)<br />
3. Fugindo da seca: cearenses na Amazônia (1877)<br />
4. Os teatros da Paz (1878) e Amazonas (1896)<br />
5. Carlos Gomes escolhe morrer em Belém (1896)<br />
6. A construção da Ferrovia Madeira-Mamoré (1907-12)<br />
7. Belém e Manaus no auge da borracha (c.1910)<br />
8. A expedição Rondon-Roosevelt (1913-14)<br />
9. Percy Fawcett e a cidade perdida (1925)<br />
10. Do sonho ao pesadelo: Fordlândia (1927-45)<br />
11. Getúlio Vargas e os Soldados da Borracha (1943-45)<br />
12. <a href="https://www.facebook.com/silvio.amorim.96?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARBCkSBEJJxGLBpvkJch5pOPxMwHVaBq1Dmg13bAU7MveD49HKuYzAtX9VbSMbj6UCyxFTkVs1L51r-i&fref=mentions" title="Silvio Amorim"><span style="color: windowtext;">Silvio Amorim</span></a> e
sua motocicleta transamazônica (2011)<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Os assuntos acima foram objeto
de livros, artigos e reportagens. Existe a respeito dos mesmos farto material
iconográfico. Será que discorrer e provocar o debate com os convidados sobre
cada um deles (um por noite) aumentaria (Diminuiria? Não teria efeito algum?) o
interesse que os jantares de qualquer modo despertariam?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(As imagens representam: 1. A
construção de um bergantim na selva amazônica, durante a expedição
Pizarro-Orellana. 2. O percurso feito pelos<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 28/1/2020)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-75056776792540729652020-01-30T11:22:00.003-03:002020-01-30T11:22:20.039-03:00SABEDORIA CONTEMPORÂNEA<br />
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Como resenhar 1.500 páginas em
uma? Nem tentarei. Apenas, aviso aos navegantes: estes três livros citados nas
Referências são imperdíveis.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Pinço frases que grafei
enquanto os lia. Não são necessariamente as melhores. Mas, são boas o bastante
para instigar nos potencialmente interessados o desejo de enfrentar as 570
páginas de “Bourgeois Dignity”, as 686 de “O Novo Iluminismo” e as 214 de “O
Chamado da Tribo”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">“A renda real por pessoa na
atualidade é, pelo menos, 16 vezes maior do que era em torno de 1700 ou 1800,
num país como a Grã-Bretanha e outros que experimentaram o crescimento
econômico moderno. (...) Nas economias americana ou sul-coreana (...) o
desempenho foi ainda melhor. E se novidades como viagens de avião a jato,
pílulas de vitaminas e comunicação instantânea forem apropriadamente
computadas, o fator de melhoria material vai para 18, 30 ou muito mais” (Mc
Closkey, pág. 48).<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Isso tem sido algo
absolutamente inédito na História humana, continua a autora. Não aconteceu nem
na China da dinastia Song, nem no Egito do Novo Reino, nem nas gloriosas Grécia
e Roma antigas. Nem no Brasil, acrescento eu. Com efeito, exceto nos últimos
dois séculos, a pobreza absoluta, generalizada e sustentável sempre foi o estado
normal da humanidade. Hoje, finalmente, isso já não é verdade, para a imensa
maioria das pessoas.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">“O mundo é cerca de cem vezes
mais rico hoje do que era há dois séculos e a prosperidade está se distribuindo
de modo mais uniforme por todos os países e povos do mundo. A proporção da
humanidade que vive em extrema pobreza caiu de quase 90% para menos de 10% e,
durante o período de vida da maioria dos leitores deste livro, pode
aproximar-se de zero” (Pinker, pág. 381).<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">E, finalmente, Vargas Llosa,
que enfoca mais o lado político:<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">“A igualdade perante a lei e a
igualdade de oportunidades não significam igualdade nos ingressos e na renda,
coisa que liberal algum proporia. Porque isso só pode ser obtido por meio de um
governo autoritário que ‘iguale’ economicamente todos os cidadãos mediante um
sistema opressivo, fazendo tábua rasa das diferentes capacidades individuais,
imaginação, criatividade, concentração, diligência, ambição, espírito de
trabalho, liderança. Isso equivale ao desaparecimento do indivíduo, sua imersão
na tribo" (Vargas Llosa, pág. 19).<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">REFERÊNCIAS<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Deirdre
N. Mc Closkey, “Bourgeois Dignity: Why Economics can’t Explain the Modern
World”, Chicago, The University of Chicago Press, 2010<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Steve Pinker, “O Novo
Iluminismo”, São Paulo, Companhia das Letras, 2018<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Mario Vargas Llosa, “O Chamado
da Tribo: Grandes Pensadores para o Nosso Tempo”, Rio de Janeiro, Objetiva,
2019.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 27/1/2020)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-78004483508443048672020-01-30T11:21:00.003-03:002020-01-30T11:21:43.453-03:00JULIÃO, A BIOGRAFIA<br />
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Perguntei a jovens instruídos:
"Já ouviu falar em Francisco Julião?" Responderam-me:
"Não". Lamentável. Pois, nos anos 1955-64, o pernambucano Francisco
Julião Arruda de Paula (1915-99) foi uma das personalidades políticas mais
importantes do país. Teve os direitos políticos cassados logo após a derrubada
de João Goulart. Fugiu da perseguição policial, mas foi capturado e preso em
junho de 1964.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Julião formou-se (em 1939)
pela Faculdade de Direito do Recife, na mesma turma de meu pai. (Que o visitou
na prisão, num gesto de coragem, embora os dois jamais tivessem tido maiores
ligações.) Advogava de graça em favor dos camponeses. Isso lhe deu visibilidade
para se tornar, um pouco adiante, primeiro, deputado estadual, em seguida,
federal.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Pela sua liderança no campo,
os serviços de informação norte-americanos o consideravam um potencial Fidel
Castro brasileiro. De fato, os dois tinham muitas afinidades ideológicas. Tanto
que, escrevendo da prisão para sua filha recém-nascida, Julião disse: "só
de uma coisa não me despojaria, Isabela, para te ter nos braços: de minha
dignidade de revolucionário".<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Professar a crença na
"Revolução" (à moda de Marx, Engels, Lênin, Mao, Stálin ...) como um
substituto terrestre do desacreditado paraíso celestial era menos absurdo então
do que viria a ser depois, quando se tornou inegável que os governos comunistas
ou socialistas não passavam de ditaduras sanguinárias produzindo gigantescos
fracassos econômicos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Não é estranho, portanto, que
Julião tenha seguido aquela moda. (Eu próprio fui, também, parcialmente
atingido por ela, na mesma época.) Penso, entretanto, que o seu legado mais
importante à posteridade não foi a fé na Revolução, mas a integridade moral que
sempre demonstrou ter. Mesmo quando estava flagrantemente errado em suas
posições políticas.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Cláudio Aguiar ("Francisco
Julião: a Biografia", Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2014)
escreveu um livro valioso, ganhador de prêmios. Só agora o li. Recomendo que
façam o mesmo os interessados na história política recente do Brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 24/1/2020)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-60913167477586939122020-01-30T11:21:00.000-03:002020-01-30T11:21:00.498-03:00DIAS DE LUZ<br />
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Estou lendo as biografias de
Severino Pereira da Silva e de Rubem Braga. Terminei de ler, há dois dias,
Mario Vargas Llosa, “O chamado da tribo”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Pereira foi um jovem pobre que
saiu de Taquaritinga do Norte (PE) para se tornar, graças a muito trabalho,
dedicação e talento, um dos maiores industriais brasileiros, em meados do
século XX.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Braga, jornalista e escritor
(admirado por meu pai) foi, talvez, o maior cronista brasileiro, aí pelos anos
1950-70. E olhe que a concorrência era pesada: Paulo Mendes Campos, Carlos
Drummond de Andrade, Sérgio Porto, Carlinhos de Oliveira, Nelson Rodrigues ...<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Vargas Llosa trata de grandes
pensadores liberais (quase todos dos anos 1900) que influenciaram a formação de
seu pensamento econômico e político: Adam Smith, Ortega y Gasset, Friedrich
Hayek, Karl Popper, Raymond Aron, Isaiah Berlin e Jean-François Revel.
Preciosas reflexões.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Também leio (na verdade,
estudo) “O homem e o rio”, memórias poéticas, truncadas, caóticas de João Fernandes
Lins, avô de <a href="https://www.facebook.com/ricardo.maia.39142?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARC42ylAeZH4Q_0zKJvzGr2q5s0c2rTKal5DqjYfT1yJXeJAWhNe9wr5Fk9Y6TGaUaUhb1itUPAM7FNn&fref=mentions" title="Ricardo Maia"><span style="color: windowtext;">Ricardo Maia</span></a>,
primo distante que vem se tornando próximo. (“Há os Maias de Eça e os Maias de
Ricardo”, escrevi no “Uma noite em Anhumas”, livro que espero publicar neste
ano de 2020.)<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Escrevi isso tudo, no fundo,
para dizer outra coisa: hoje faz um dia esplêndido, na minha casa com Lourdes.
Menos, porém, do que fará amanhã, quando o Alto do Céu vai voltar a se encher
de luz, mesmo que chova.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Referências<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Luís Olavo Fontes, A passagem
do cometa: Severino Pereira da Silva, pioneiro da industrialização brasileira
no século XX" (Rio de Janeiro, Aeroplano, 2013)<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Marco Antonio de Carvalho,
"Rubem Braga, um cigano fazendeiro do ar: A biografia". (Nova edição,
revista.São Paulo, Biblioteca azul, 2013)<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Mario Vargas Llosa, "O
chamado da tribo: Grandes pensadores para o nosso tempo. (Rio de Janeiro,
Objetiva, 2019)<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">João Fernandes Lins, "O
homem e o rio: Meu opúsculo" (Maceió, 1982)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 19/1/2020)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-28368304906268132572020-01-30T11:20:00.002-03:002020-01-30T11:20:28.653-03:00MEU PAI DEVIA ESTAR AQUI<br />
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Mauro Bahia de Maia Gomes, meu
pai, foi um grande homem. Gostava de boa música — e com ele, sobretudo, aprendi
também a aprecia-la. Detestava corretores eletrônicos (que não chegou a
conhecer, mas imagino o que pensaria deles) — e eu também os detesto.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Apreciava um bom restaurante,
numa época em que isso era raro — e eu também gosto (ainda mais, depois de
encontrar o amor de minha vida.) Era chegado a um rabo de saia, como se dizia
então, e isso eu conto entre suas qualidades.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Gostava dos filhos,
imensamente. De estar com eles, de conversar com eles, de vibrar com suas
conquistas. De bebericar em sua companhia. Amava minha mãe, embora jamais tenha
percebido que havia muito mais recompensas a serem colhidas na dedicação a ela
do que na busca de prazeres sexuais fora do casamento.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Meu pai me ensinou a desfrutar
da vida e por isso ser-lhe-ei sempre grato. Nunca foi rico. As heranças que
recebeu, dos pais e de um tio que o tinha como filho, ele as gastou em viagens.
Existe jeito melhor de transformar fazendas simbólicas em felicidade real?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Meu pai devia estar aqui,
hoje, na casa que foi sua, ouvindo comigo as músicas que me ensinou a apreciar.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 17/1/2020)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-35341549912097201532020-01-30T11:19:00.006-03:002020-01-30T11:19:54.188-03:00NÃO QUERO FASCISTAS !<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A crescente
visibilidade e influência no governo Bolsonaro de cristãos medievais,
moralistas do século dezenove, simpatizantes de Goebbels - fascistas, enfim - é
preocupante. E nos alerta para a necessidade de, sem correr o risco de trazer
de volta o pesadelo petista, reduzir esse povo à insignificância política, nas
próximas eleições.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Eu não votei em
gente que idolatra um episódio horripilante da história ocidental. Votei contra
o PT, que estava construindo no Brasil e tentando fazer o mesmo na América
Latina uma coisa tão ruim quanto o nazi-fascismo. Votei nas promessas de
racionalidade na política econômica. (E reconheço: nessa área, dentro do
possível, as coisas caminham bem.)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Votei contra a
idolatria hipócrita do "politicamente correto". Votei a favor de uma
postura não-demagógica na educação, no tratamento das minorias, na questão
ambiental. Votei contra a mediocridade dos intelectuais e jornalistas presos a
um ideário político que, em nome de belos princípios, produziu apenas ditaduras
sanguinárias, epidemias de fome, pobreza persistente e uma cultura de bajulação
aos poderosos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Votei contra a
corrupção, também. Votei a favor dos princípios básicos das sociedades
politicamente abertas e economicamente ricas: a liberdade de imprensa, o
respeito à diversidade de opiniões e de valores, a separação entre o Estado e
as igrejas, a propriedade privada, a livre iniciativa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Joseph Goebbels,
que voltou a discursar ontem na voz do secretário de Cultura de Bolsonaro, foi
um fanático nazista que, ao perceber a inevitável derrota de Hitler, assassinou
os seis filhos menores e se suicidou em seguida (ele e a mulher) escondido no
último refúgio do ditador seu ídolo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Que ele continue no
inferno.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 17/1/2020)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-92045225378339869302020-01-30T11:19:00.002-03:002020-01-30T11:19:16.482-03:00SEISCENTOS E VINTE E TRÊS<br />
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Vivi aqui muitos fins de
semana, durante quatro anos, quando meus filhos mais novos <a href="https://www.facebook.com/daniel.m.gomes.56?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARBP_wqgsP8oGxUPYgdy7gb0LzJNZtK2YuSiMc4d5NZmQkBXTym1Qjff39JFCATA8IUYs8rNiW42O5D9&fref=mentions" title="Daniel Gomes"><span style="color: windowtext;">Daniel</span></a>, Pedro
e <a href="https://www.facebook.com/gabrieladeaguiar?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARCk-zlsUGm55KY9PaCIDmMEtjlbrjst4GPEw8UgfKEXwzPy_mrn1QPGj7qLTTqBhwiG6rhDuNSPOPvz&fref=mentions" title="Gabriela de Aguiar"><span style="color: windowtext;">Gabriela</span></a> ainda
eram crianças. Uma época marcante. Não será esquecida.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Gravatá (PE), por sua altitude
(não alpina) de 500m e proximidade do Recife (80km), sobretudo, tornou-se
importante cidade turística. Atrai gente de vários lugares.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Passamos o Natal, Lourdes
Barbosa e eu, num apartamento em tudo semelhante ao seiscentos e vinte e três
que tantas vezes nos abrigou — também a ela, sim — no passado.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Dias memoráveis. Ontem,
recebemos minhas filhas Marília e <a href="https://www.facebook.com/claudia.aguiar.maia?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARBkBY48_tIeoGwduIbxbjZovF1TB-JFnhksP4SEjTKd3K2dIX0iOUa-Lbtmx20aolcz1Zkh3m32U_1l&fref=mentions" title="Claudia Aguiar"><span style="color: windowtext;">Claudia</span></a>. E os
netos Lara, Luca e Theo. Jantamos fondues evocativos de tempos ainda mais
remotos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Tem havido paz, silêncio e
sopas de cominho.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 26/12/2019)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-62705772113056859342020-01-30T11:18:00.004-03:002020-01-30T11:18:48.311-03:00FLORIANO PEIXOTO E OS MAIAS<br />
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Quero falar dos Maias meus
parentes e começo com a piada muito popular no passado, mas hoje esquecida.
Havia na redação de alguns jornais o busto representando Eça de Queiroz
(1845-1900). Todo foca, ou seja, repórter iniciante, perguntava: – “Quem é
esse?” E ouvia em resposta: – “Não é esse, é Eça”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Acontece que “Os Maias” é um
livro do escritor português. Foi isso que me fez recordá-lo. Ele e Machado de
Assis (1839-1908) eram rivais. E aí me lembro de outra piada infame. nosso
romancista maior havia acabado de morrer. Nas redações, repetia-se o seguinte
diálogo: – “Sabe do Machado?” – “Não” – “Foi-se”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">O alagoano Floriano Peixoto
(1839-95) – cuja esposa havia nascido em Branquinha (AL) –, era proprietário de
três engenhos nessa região desbravada, entre outros, pelos Maias e os Maia
Gomes: Duarte, Itamaracá e Riachão da Serra (Murici Web).<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Vivendo desde há muito no Rio
de Janeiro, o militar precisava ter quem cuidasse de suas terras em Alagoas. No
caso do Riachão da Serra, a pessoa escolhida foi seu amigo (e primo em primeiro
grau da mulher de Floriano) Antônio Fernandes Lins (?-?) . Os dois homens
terminaram virando sócios e coproprietários da fazenda.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Foi com o casamento de João
Fernandes Lins (1903-97, filho de Antônio) e Julieta de Oliveira Maia (1903-93)
que os Maias entraram nessa história. João e Julieta foram avôs de Ricardo
Ferreira de Souza Maia, fonte de muitas informações sobre seus ancestrais – de
certa forma, também meus – que utilizarei no livro “Uma Noite em Anhumas”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Contou-me Ricardo, baseado em
lembranças de sua tia Geralda Maia Fernandes, que “em algum momento − talvez
por volta do final dos anos 1940, ou inícios dos 1950 −, um genro de Floriano
Peixoto procurou [João Fernandes Lins] para negociar a venda da parte herdada
do Riachão da Serra, que ainda pertencia ao [espólio do] marechal. Meu avô
materno, [que havia sucedido o pai dele na administração da fazenda] veio então
a comprá-la”. Riachão da Serra permaneceu com os Maias até este ano (2019).<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Muito antes disso, em 1945, o
Diario de Pernambuco anunciou que a propriedade estava à venda. Devia ser o tal
genro de que fala Ricardo. Ele, provavelmente, também estava buscando no Recife
compradores para sua herança. (Embora o endereço de contacto fosse em Maceió.)<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Pelo visto, apesar de quase
centenária, Tia Geralda tem melhor memória que alguns jovens conhecidos meus.
Que assim continue por muito tempo. Também sou grato a Ricardo Maia por me
trazer de bandeja tantos fatos interessantes sobre seus avôs, bisavôs, pais,
irmãos e tios.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Foi por isso que escrevi, em
“Uma Noite em Anhumas”: “Há os Maias de Eça e os Maias de Ricardo”. Tá bom que
o romancista português fosse um consumado mestre, mas, eu não troco as
histórias de Branquinha pelas de Lisboa.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 13/12/2019)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-62375099741363569942020-01-30T11:18:00.000-03:002020-01-30T11:18:02.352-03:00JÚLIO, JOÃO E AS MULHERES<br />
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Meu primo <a href="https://www.facebook.com/ricardo.maia.39142?__tn__=%2CdK-R-R&eid=ARBblwYeB9f85MsQLCSyFbUztZnzP3DKeJk6IFNPPeUEap3KSSaFFvvXl5I1d3F6veWH15VzcsQHSE9t&fref=mentions" title="Ricardo Maia"><span style="color: windowtext;">Ricardo Maia</span></a>,
apoiado nas lembranças da tia quase centenária Geralda Fernandes Maia,
passou-me uma riqueza de informações sobre os Maias de Branquinha (AL), que
usarei no meu próximo livro.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Há detalhes não convencionais.
Por exemplo: Júlio de Oliveira Maia (1875-c.1944) era admirador incondicional
da cantora Carmen Miranda (1909-55) e João Fernandes Lins (1903-97), um
“mulherengo inveterado”. Vêm a ser, respectivamente, bisavô e avô de Ricardo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Copio de Ricardo Maia:<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">“Lembro-me de ter ouvido vovó
Julieta [Fernandes Maia] recordar do pai [Júlio de Oliveira Maia] como um fã
fervoroso de Carmen Miranda. Ela, certa vez, me contou que, quando já
desterrado em Maceió, seu pai largava qualquer coisa que estivesse fazendo, por
mais urgente que fosse, para escutar, empolgado e bem pertinho do rádio, a
artista portuguesa cantar Tico-Tico no Fubá — acompanhada do Bando da Lua”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">“Certa vez, conversando com
vovó Julieta já bem idosa, ela me contou que só depois do nascimento de tia
Geralda descobriu que vovô [João Fernandes Lins] era um mulherengo inveterado.
Então um dia, transtornada, procurou a mãe e anunciou que ia deixar o marido.
Não teve, é claro, o apoio desta: ‘Não, minha filha! Nem pense nisso! Se o
fizer, vai matar seu pai.’ Julieta desistiu da ideia — mas passou o resto da
vida com ciúmes de João e na perseguição investigativa de seus passos”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">“Em 1973, Cacá Diégues estava
filmando ‘Joana Francesa’ nas redondezas de Branquinha (AL). João Fernandes
Lins, então prefeito da cidade, ofereceu um jantar à equipe de artistas.
Julieta, enciumada pela presença de Jeanne Moreau (1928-2017) no seu reduto,
recusou-se terminantemente a participar do evento, antecipando algum
‘enxerimento’ (ou ‘chamego’) do marido com a atriz francesa”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Carmen Miranda sobreviveu mais
de uma década a Júlio de Oliveira Maia. Quanto a João Fernandes Lins, imagino
que ele tenha sofrido durante anos as consequências daquele jantar. Se, pelo
menos, foi visto pela celebridade francesa, pode ter achado que valeu a pena.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 11/12/2019)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-14489804733423394162020-01-30T11:17:00.003-03:002020-01-30T11:17:20.196-03:00A MAIA GOMES QUE NINGUÉM CONHECIA<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em 23 de novembro
último, relatei neste mesmo espaço meu encontro virtual com Maria Alexandrowna
de Jesus Brandão Maia Gomes, a filha de Mário Brandão Maia Gomes (1906-43) e de
Luzia Antunes (?-c.2011). Desde então, tenho conversado com ela por telefone ou
WhatsApp e conhecido um pouco de sua história.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mário Brandão Maia
Gomes, filho de Alípio Maia Gomes (1878-1916) era, portanto, primo em primeiro
grau de meu pai Mauro Bahia de Maia Gomes (1916-97) e de todos os netos do
coronel Manoel Gomes dos Santos (1841-1925) e de Tereza de Jesus Maia
(c.1851-c.1930), a “Mãe Tetê”. Os Maia Gomes de Branquinha (AL) começaram com o
casamento desses dois.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A divulgação, em
linhas gerais, da história de Maria Alexandrowna se dará apenas na medida em
que ela o deseje e autorize expressamente. Por enquanto, obtive permissão para
publicar três fotos dela: aos seis anos (1949), aos 45 (1988), e com a sua
idade atual (2019).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ela mora no Estado
de São Paulo e se assina, no Facebook “Alexandra Maia“. Estou tentando
interessá-la a vir ao Nordeste, após janeiro de 2020, para conhecer
pessoalmente a parte da família de seu pai que permaneceu morando em Maceió, no
Recife e na Bahia. Ela gostou da ideia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">E nós, o que
achamos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 4/12/2019)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-8055590937663846362020-01-30T11:16:00.002-03:002020-01-30T11:16:41.338-03:00PLANO CRUZADO EM MANAUS<br />
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Em 1985-86, fui Coordenador de
Planejamento Global do Ipea-Iplan (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
/ Instituto de Planejamento), à época vinculado à Secretaria de Planejamento da
Presidência.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">O cargo tinha esse nome
pomposo, mas importância nenhuma. Contudo, deu-me oportunidades de participar
de discussões relevantes sobre a economia brasileira de então. Sabíamos todos
que o nosso problema maior, herdado do regime militar, era a inflação.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">A resposta inicialmente dada
pelo governo Sarney foi o Plano Cruzado, um reles congelamento de preços.
Enganou muita gente. No primeiro momento, inclusive, a mim. Detesto ter errado
daquela forma. Claro, eu não estava só. Muitos economistas, embalados por uma
teorização defeituosa, acreditavam que se podia extinguir a inflação alucinada
com um passe de mágica.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Mas isso não me conforta.
Melhor é me refugiar na certeza de que não participei da elaboração daquilo.
Eis a prova do que estou dizendo: três dias antes do Plano Cruzado (28/2/1986),
eu estava em Manaus. E reverberando, em entrevista, as medidas inócuas com as
quais o ministro da Fazenda camuflava a iminência do congelamento.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Deixaram-me ir a Manaus,
naquela semana. Dificilmente se poderia imaginar um lugar mais longe de
Brasília. Fiquei sabendo do Plano Cruzado pela televisão. Não foi ideia minha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 3/12/2019)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-86937315153331223762020-01-30T11:15:00.003-03:002020-01-30T11:15:36.825-03:00CAZUZA<br />
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Nunca soube seu nome
verdadeiro. Para todos os efeitos, ele era Cazuza. Cortou meu cabelo desde os
treze ou quatorze anos (c.1960), até eu o perder de vista, quase quatro décadas
depois, do meio para o fim dos anos 1990.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Primeiro, atendia num salão
onde hoje é o prolongamento da Padaria Cidade Jardim (Vila dos Comerciários,
Casa Amarela, zona Oeste). Depois passou para o Edifício Tereza Cristina,
próximo ao Cine São Luiz (Boa Vista, Zona Central). Finalmente, até onde eu
saiba, foi para o Hotel do Parque (Rua do Hospício, também na Boa Vista).
Sempre no Recife.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Em 1993, levei meus filhos
gêmeos Pedro e Daniel para serem atendidos por Cazuza. Tive a feliz ideia de
registrar esse encontro em duas fotos. É possível que algum de meus amigos
virtuais de gerações próximas à minha tenha conhecido Cazuza. Teria, também,
notícias atuais dele?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 3/12/2019)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-46462808353932348632020-01-30T11:15:00.001-03:002020-01-30T11:15:10.390-03:00MARTHA LEU O TREM PARA BRANQUINHA<br />
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Recebi um e-mail da prima
Martha Pedrosa Resende, de Belo Horizonte, que reproduzo com sua autorização e
meu prazer.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">“Gustavo:<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Ainda em setembro, depois do nosso
encontro em Salvador, terminei de ler o seu valioso livro, percorrendo-o do
princípio ao fim. Quero parabenizá-lo pelo seu trabalho. Você, por meio de
pesquisas, transformou os relatos familiares de histórias contadas em
documentos comprovadamente verdadeiros.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Além disso, insere a história
familiar em um contexto político-social. Também bonita é a parte mais literária
do livro, quando você relata lembranças cheias de emoção de suas vivências
infantis e adolescentes na Fazenda Monte Verde. Nesta parte, revela-nos uma
faceta sentimental sua pouco conhecida.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Foi um prazer a leitura.
Gostei do seu estilo de interlocução com o leitor, seus comentários pessoais,
dando um toque de informalidade ao texto tão bem escrito. Você foi um
historiador, memorialista e literato. Ainda que tardiamente, eu não poderia
deixar de dar-lhe o meu parecer sobre o seu livro. Parabéns e grande abraço.
Martha.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 26/11/2019)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9183444578155355293.post-55896926876302518472020-01-30T11:14:00.003-03:002020-01-30T11:14:31.725-03:00APARECEU MARIA ALEXANDROWNA !<br />
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif; font-size: 13pt;">Gustavo Maia Gomes</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Relato um evento extraordinário
para quem, como eu, se interessa em restabelecer relações familiares há muito
perdidas, ou jamais achadas. Há dois dias, fiz uma postagem despretensiosa em
minha página do Facebook: quatro fotos de flores acompanhadas de quase nenhum
texto. Recebi vários comentários, mas, sem detrimento dos outros, o mais
importante foi este:<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">“Bom dia. Flores muito lindas.
Eu me apresento: sou a filha de Mário Brandão Maia Gomes. Meu nome é Maria
Alexandrowna de Jesus Brandão Maia Gomes. Moro em Campinas, Estado de São
Paulo. Nasci no Rio de Janeiro no ano de 1943. Fui batizada na Igreja da Lapa.
Meu avô [chamava-se] Alípio Maia Gomes.” (Alexandra Maia, em comentário a uma
postagem minha no Facebook em 21/14/2019)<o:p></o:p></span></div>
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<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Eu já sabia da existência de
Maria Alexandrowna (respeito sua grafia; o Diário da Noite, do Rio de Janeiro,
na notícia fotografada abaixo, escreveu “Alechandrovna”, com "ch" e
“v”). Também sabia que ela era filha de Luzia Antunes Brandão, a última mulher
de Mário Brandão Maia Gomes. Mas, a nota publicada em 1946 (Mário havia morrido
três anos antes) não diz quem era o pai de "Maria Alechandrovna".<o:p></o:p></span></div>
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<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Eis que a própria Maria me
descobre, se apresenta, revela ser filha do personagem mais rocambolesco,
digamos assim, de “Uma Noite em Anhumas”, meu livro prometido para 2020. Com
efeito, o filho de Alípio Maia Gomes (alagoano que foi estudar Medicina na
Bahia e morreu por lá, deixando muitos descendentes) teve uma vida pra lá de
atribulada.<o:p></o:p></span></div>
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<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Jornalista, escritor, boêmio,
vivia se metendo em confusões. Ficou órfão de mãe aos quatro anos e de pai aos
dez. Já adulto, brigou numa boate e levou um tiro, no Rio de Janeiro; noutro
momento, em Santo Amaro (BA), foi ferido num braço, que teve de ser amputado;
matou um motorista, em Maceió, e passou uma temporada na cadeia, devido a isso.
Publicou dois livros, um dos quais eu consegui comprar na Estante Virtual, li e
gostei. Tentou se suicidar várias vezes. Na quarta, teve sucesso.<o:p></o:p></span></div>
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<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">Alexandra Maia, como se assina
a prima que desconhece (ainda) a existência de seus parentes em Maceió,
Salvador, Recife e Rio de Janeiro, é muito bem vinda ao nosso círculo de
amizades virtuais e presenciais.<o:p></o:p></span></div>
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<span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: "Calibri Light"; mso-bidi-theme-font: major-latin;">(Publicado
no Facebook, 23/11/2019)</span></div>
Gustavo Maia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/13962844237069322529noreply@blogger.com0