Gustavo Maia Gomes
(Versão levemente modificada, em 2/5/12, do artigo publicado em 30/4/12)
Há duas razões para Toritama e Olinda estarem juntas
neste artigo: minhas recentes visitas a cada uma e o profundo contraste urbanístico
que constatei existir entre elas. No caso de Olinda, ressalto, as considerações seguintes não
se estendem para além do sítio histórico.
TORITAMA
Estive em Toritama, “a Capital Brasileira do Jeans”, no
Agreste pernambucano, por razões profissionais. Tenho boas notícias a dar. Ali,
não existe desemprego: as costureiras ganham dois ou mais salários mínimos; as estilistas
e os mecânicos faturam acima de R$ 15 mil por mês; os empresários investem em
máquinas eletrônicas.
De modo geral, a produção vai bem. Existem, claro,
problemas, ameaças, dificuldades, mas nada fora do normal. Os empresários
reclamam, sobretudo, da escassez de mão de obra, qualificada e não-qualificada.
Tipo da reclamação de quem está de barriga cheia. E ótima notícia para os
trabalhadores.
Rodovia e
produto. Todos estão satisfeitos com
a duplicação da rodovia BR 104, que corta a cidade. A menos que um imprevisto
ocorra, em breve, será possível ir e voltar ao Recife em metade do tempo hoje gasto.
Dentre os municípios com alguma importância no Estado,
somente Ipojuca (leia-se, Suape) cresceu mais do que a capital do jeans, entre
2000 e 2009. Toritama teve desempenho ainda melhor que Caruaru e Santa Cruz do
Capibaribe, as duas outras principais cidades do polo de confecções.
O crescimento econômico ajuda a todos, inclusive, à
Prefeitura, que passa a poder contar com mais dinheiro. Se, efetivamente, a
arrecadação aumenta, é outra história: isso depende da competência e seriedade
do prefeito. E mais dinheiro no orçamento deveria significar ruas pavimentadas;
coleta de lixo regular; segurança para todos (em ação conjunta com o Estado, sim, quem impede?).
Lixo e lixão.
A realidade, infelizmente, é outra.
Quem passa por Toritama, vindo de Caruaru e em viagem para Santa Cruz do
Capibaribe, encontra lixo na entrada e lixão na saída. Se percorrer a cidade,
não irá ver nada muito melhor: sujeira generalizada, ruas sem pavimento,
abandono total.
Sobre a segurança, uma pesquisa de imagens
relacionadas ao nome da cidade rendeu, nas dez primeiras posições, oito ocorrências criminosas: seis diferentes
pessoas assassinadas, uma quadrilha de bandidos presa e revólveres apreendidos
com delinqüentes.
Gustavo Maia Gomes
18/04/2012
|
Toritama: na
chegada, lixo
|
Gustavo Maia Gomes 18/04/2012
|
Toritama: na
saída, lixão
|
OLINDA
A Olinda fui pelo prazer de ir. E tive a satisfação de
ver que o sítio histórico está “um brinco”. Ruas impecavelmente limpas; calçadas,
todas, em condições de uso; casas, pintadas de novo. Em alguns trechos, o
deprimente espetáculo dos fios pendurados em postes foi substituído pela
discrição das redes elétricas subterrâneas. Vi o intenso movimento de turistas, mas nenhum
sinal de insegurança. Uma beleza.
Claro que Olinda, "Patrimônio Cultural da Humanidade", tem situação privilegiada na disputa por recursos como os do Prodetur II (Programa de Desenvolvimento do Turismo do Nordeste, BID/BNB/Governo do Estado) e do Monumenta (BID). O primeiro financiou a revitalização do Alto da Sé; enquanto o segundo está presente em muitos outros lugares do centro histórico. Mas administrar também é mobilizar e fazer bom uso dos meios disponíveis. O que, no Brasil, tem sido mais exceção do que regra.
Claro que Olinda, "Patrimônio Cultural da Humanidade", tem situação privilegiada na disputa por recursos como os do Prodetur II (Programa de Desenvolvimento do Turismo do Nordeste, BID/BNB/Governo do Estado) e do Monumenta (BID). O primeiro financiou a revitalização do Alto da Sé; enquanto o segundo está presente em muitos outros lugares do centro histórico. Mas administrar também é mobilizar e fazer bom uso dos meios disponíveis. O que, no Brasil, tem sido mais exceção do que regra.
Gustavo Maia Gomes 29/04/2012
|
Olinda:
ruas limpas, calçadas em ordem
|
Gustavo Maia Gomes 29/04/2012
|
Olinda:
praças cuidadas, ruas sem buracos
|
CONTRASTE
O contraste entre as duas cidades é flagrante. E a explicação não está na quantidade de dinheiro de que cada prefeito dispõe. Embora Olinda (378
mil habitantes) tenha população dez vezes maior que Toritama, sua receita
tributária é, proporcionalmente, menor. Em 2009, a capital do jeans teve R$ 758 por
habitante; Olinda, apenas R$ 632. E, se existem recursos de fontes nacionais e internacionais para embelezar o Patrimônio Cultural da Humanidade, por que não os haveria para tornar habitável uma das cidades-símbolo do empreendedorismo brasileiro?
Talvez a explicação seja mais política do que financeira.
Em 2008, o então prefeito de Toritama, José Marcelo Marques de Andrade e Silva,
foi preso (e condenado, dois anos depois), sob a acusação de desviar verbas
repassadas pelo Ministério da Saúde.
Contra o atual prefeito, não consta haver nenhuma
acusação grave. Não consta, ou não
constava. Pois deve existir alguma lei neste país dizendo ser crime quem foi
eleito para cuidar da cidade não fazer absolutamente nada por ela, exceto conviver
com a insegurança, cultivar o lixo, e alimentar o lixão.
Este artigo está sendo publicado, simultaneamente, em:
(30/04/2012)