Gustavo Maia Gomes
Penedo (possivelmente) em 1869. Foto de A. Coutinho; acervo da Biblioteca Nacional |
Quem duvidar, consulte o acervo da Biblioteca Nacional na internet: entre 1902 e 1912, Penedo, a cidade
alagoana do Baixo São Francisco, chegou a ter dez jornais em circulação. Não
todos ao mesmo tempo; a maioria não sobreviveu ao primeiro ano. Abria um,
fechava outro. Relaciono os que encontrei em uma breve pesquisa no site http://bndigital.bn.br/acervo-digital/.
(Nas citações, mantenho a grafia original.)
O mais antigo (1902) dos velhos jornais de
Penedo, dentre os digitalizados pela Biblioteca Nacional, foi “A Fé Christã”, que se apresentava como “hebdomadario
dedicado aos interesses da religiao catholica”. Circulou até 1907. Não era feito para debiloides mentais, como o título poderia sugerir. Ali se discutia filosofia
– o positivismo, por exemplo; e política – o jornal se congratulou, em seu primeiro
número, com a rejeição de um projeto de lei que instituía o divórcio no Brasil.
Vamos lembrar que a República, dominada, na origem, pelos positivistas, tinha
apenas doze anos de vida, quando “A Fé Christã” apareceu.
Em 1909, quatro jornais nasceram e morreram
na cidade: “A Flor: orgam dedicado ao bello sexo”, “O
Cruzeiro”, “O Monitor” e o “Germinal: orgao litterario e noticioso”. Um ano
depois, foi a vez do “Alvorada: orgam dedicado a defesa e educacao da mulher”,
“A Escola: litterario e recreativo”, órgão do Externato José Batinga, “A
Thesoura: orgao critico e noticioso” e “O Vadio: orgam popular”. Este último aguentou
dois anos, vindo a fechar apenas em 1911. Finalmente, o “Jornal do Penedo:
orgam do Partido Republicano Conservador” existiu entre 1912 e 1914.
Dos dez jornais mencionados acima, dois
tinham a mulher como centro de atenção: “A Flor”, dedicado ao “belo sexo”, e o “Alvorada”,
que se propunha defender e educar a mulher. O Germinal, por sua vez, se subintitulava
um "órgão literário e noticioso". Nem um pouco especialmente preocupado com a
mulher, aparentemente. Apesar disso, no seu primeiro número (25 de julho de
1909), apareceu a matéria seguinte, sem assinatura de autor. Mais uma vez,
mantenho a grafia (nem sempre coerente, ao longo do texto) e os lapsos de
concordância tais como os encontrei no original.
Concelhos para escolher esposa
Não
sejam as leitoras egoísta, e permita-nos que insiramos aqui, um conselho para
os homens que segundo nos parece é muito aproveitável.
–
Quando uma mulher te agradar, leitor benévolo e houver de tua parte disposição
para o casamento, procura primeiro que tudo, se possível for, surprehender uma
mulher na cosinha – o que já é de muito bom agoiro. Se ella se não desculpar,
se não se envergonha de ser surprehendida em trabalhos grosseiros, fica certo
que possue um juízo são e um raciocínio bem orientado.
–
Procura depois vêl-a sahir em dia de mau tempo: se se emvolve cuidadosamente n’um
simples casaco de abafo ou de borracha, levando na cabeça um chapéu do inverno
passado, evidentemente para não innutilisar com o aguaceiro o chapéu de que
ultimamente fez acquisição, essa mulher não te arruinará, com certeza, em
vestidos espaventosos e chapeos caros.
– Se
a vires arranjar carinhosamente as flores n’um vaso, compor a prega mal feita
de uma cortina, dispor as cadeiras e os moveis d’um modo cômodo e gracioso;
essa mulher ama infalivelmente o lar domestico, o interior da sua casa simples
e modesta; não correrá a bailes, não gostará de festas, será o anjo da família,
a tua felicidade em suma; desposa-a se te agrada e não procures indagar se é
rica ou pobre.
O
ponto está em que assim a encontres.
(“Germinal”,
ano 1, número 1. Penedo, Alagoas, 25/7/1909)