Gustavo Maia Gomes
Recife, 5-12-2018
Depois de sobreviver, muito ferido, embora, à ladroagem petista e (diria
Paulo Roberto de Almeida) à Grande Destruição da economia, da política, das
instituições, dos cofres públicos, dos fundos de pensão, das empresas estatais,
da honestidade, da inteligência... depois de sobreviver a tudo isso, o nosso
país merecia algo diverso. O novo governo ainda não se instalou, mas já temos
um esboço do que ele tentará ser. O Brasil está mudando, ou em vias de mudar.
Para a direita. Para melhor.
BONS VENTOS
Está mudando para melhor na economia, sob a liderança de Paulo Guedes,
com a reabilitação da responsabilidade fiscal; com o anúncio de privatizações
em maior escala; com o apoio à e provável aprofundamento da reforma trabalhista; com a
extinção do Ministério do Trabalho; com a consciência proclamada de que todos vivemos
da produção, a qual, portanto, precisa ser estimulada, não punida, como tem
sido pela doutrina e a prática esquerdistas, segundo as quais produzir é crime
e os empresários são gente pecaminosa, intrinsecamente exploradora.
Está mudando para melhor na política, com o preenchimento de cargos (que antes
eram vendidos em troca de votos) segundo critérios técnicos, de ficha limpa e afinidade
programática; com a busca de um novo relacionamento com o Congresso que não
passe por mensalões ou mensalinhos, nem pela entrega das empresas estatais a
ladrões; com o prestígio dado às bancadas temáticas. (Se vai funcionar, não sei,
mas, pelo menos, essas bancadas se formaram em torno de alguma bandeira explicitamente
declarada, enquanto nossos partidos são meras aglomerações temporárias de interesses
escusos.)
Está mudando para melhor no combate à corrupção, do que o símbolo maior
é a escolha de Sérgio Moro para compor com autonomia sua equipe e chefiar sem
interferências espúrias um Ministério da Justiça grandemente fortalecido. (Vem
guerra feia por aí, antecipo, e seus resultados são imprevisíveis. Ela será
travada, na última trincheira, entre os interesses genuínos da sociedade e a
vergonhosa encarnação atual do STF. Eita, posso ser preso por dizer isso.)
Está mudando para melhor nas relações exteriores, com o fim do apoio
ideológico, logístico e financeiro às ditaduras cubana, venezuelana,
bolivarianas, terceiro-mundistas, etc, substituído pelo alinhamento (mas, não incondicional) com os Estados Unidos e o Ocidente capitalista. Só isso já
sinaliza uma mudança extraordinária e na direção correta. (Li alguns artigos do
futuro chanceler Ernesto Araújo. Às vezes, sinto dificuldade em entendê-lo. Mesmo
assim, suas ideias, na pior das interpretações, são muito melhores que as de
Leonardo Boff, Frei Betto, Marco Aurélio Garcia, Celso Amorim e tantas outras calamidades
que tivemos de aturar, nos últimos tempos, juntamente com os prejuízos incalculáveis que elas causaram.)
Está mudando para melhor na educação. De novo, conheço pouco o
pensamento do futuro ministro Ricardo Vélez Rodriguez. (Para mim, sua vinculação
ideológica ao autointitulado grande filósofo Olavo de Carvalho não conta irrestritamente a seu
favor.) Mas, de uma coisa, podemos estar certos. Vai haver uma tentativa de
substituir Paulo Freire e sua "pedagogia do oprimido" (e descansado, e pouco estudioso...) pelas quatro operações aritméticas. Se o conseguirmos, nossas
escolas deixarão de produzir ignorantes revoltados e passarão a formar
gente qualificada, com ânimo para trabalhar e preparo para vencer na vida. Será como
trocar a Caninha 51 pela dieta equilibrada.
Está mudando para melhor na questão indígena. As leis que regulam o tratamento
dado aos índios, em muitos casos, “supostos índios”, têm de ser revistas e o propósito nesse sentido já foi enunciado pelo presidente eleito. Do
jeito que estão, essas leis justificam absurdos, como a concessão de
glebas imensas de terras à soberania dos índios, com ameaças à integridade territorial do
país. (Uma consequência da legislação que dá tratamento privilegiado aos nativos -– tidos
como incapazes para assumir deveres, mas amplamente habilitados a exigir
direitos -– é que ser índio, no Brasil, virou profissão. Há algo muito errado
num país onde ser índio é profissão.)
Está mudando para melhor no tratamento de questões tabu, como a ideologia de gêneros e, mais restritamente, o homossexualismo, que deve deixar de ser
promovido e subsidiado, para ser visto como uma preferência tão natural e
aceitável como outras, porém, nada mais do que isto. É como torcer pelo Sport, não o
Náutico; o Corinthians, não o Palmeiras. Um direito de cada um. Mas (como
parece ter sido antecipado por Paulo Guedes, embora eu não tenha podido confirmar a notícia), não haverá dinheiro do governo financiando o carnaval, nem verba pública
pagando paradas gay.
Está mudando para melhor na questão do meio ambiente, embora os detalhes
da mudança estejam longe de ser claros. O fato é que a alegada defesa do meio
ambiente, em muitos casos, virou uma religião. O alarmismo climático, por seu turno, hoje uma
poderosa indústria, desperta suspeitas: há gente demais ganhando muito dinheiro com
propaganda enganosa. Multas ambientais vultosas sustentam ONGs que só vivem do dinheiro
público. Além disso, o ativismo em prol da natureza oculta, em muitos casos, o
preconceito contra quem produz a subsistência e o bem estar de todos nós. Isso
precisa ser repensado e, aparentemente, o será, no novo governo.
PROBLEMAS?
Nem tudo são flores, entretanto. A influência política dos evangélicos (e
religiosos, em geral), que promete ser grande, preocupa. Há inúmeros exemplos
históricos de ocasiões nas quais essa associação gerou lamentáveis resultados. Embora
compreensível, o excesso de generais em postos de comando também acende um
sinal de alerta. É inadmissível que um governo eleito democraticamente tenha nostalgia de tempos sombrios, como foram, em sua maior parte, os anos militares. (Não que devamos dar ouvidos às viúvas do PT, quando batem nesse ponto: durante seus quatorze anos de governo, ou melhor, de roubalheira, elas nunca
protestaram contra a nomeação de ladrões e corruptos para comandar ministérios.)
Na mesma linha de possíveis futuros problemas, Olavo de Carvalho, o guru
da nova ordem, é um caso a se observar. Seus modos deselegantes no escrever,
cheios de palavras chulas, grosserias gratuitas, não indicam grande sabedoria.
Cheguei a comprar um de seus livros, anos atrás, mas interrompi a leitura (irei
retomá-la, agora, por razões óbvias) quando vi que ele punha no mesmo balaio pessoas
de estaturas mental e moral tão diferentes quanto Voltaire e Bertrand Russell,
de um lado, e Stálin, Sartre e Althusser, de outro. Os
dois primeiros foram baluartes do Iluminismo (ou do Racionalismo, pois Russell viveu
a maior parte do tempo no Século XX) que muitos de nós, eu inclusive,
consideramos o fundamento da sociedade ocidental moderna no que ela tem de
melhor. (Olavo de Carvalho não obstante.)
Os filhos do presidente, especialmente aquele que fala demais, também podem
vir a ser obstáculos a um bom governo. Tomara que não. Já aguentamos Dilma Rousseff e sua tagarelice de débil mental.
Não precisamos mais disso. Até porque, depois da mulher sapiens e da ode à
mandioca, qualquer nova tentativa de estocar ventos soará ainda mais patética.
Nada disso é razão suficiente para neutralizar nosso otimismo. O Brasil
está mudando para melhor. Direita, volver!
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