Gustavo Maia Gomes
Um importante economista francês, Gael Giraud, esteve no Recife,
há poucos dias (17/9), e aqui fez palestra. Foi uma boa palestra. Assim são os
economistas franceses: mesmo quando erram tudo, fazem boas palestras.
O menu servido teve uma entrada de teses macroeconômicas
agradáveis ao pensamento esquerdista ("crescimento não cria
empregos", "ajuste fiscal leva ao inferno"... Altamente
discutíveis, para ser bondoso) e um prato principal recheado de apocalipses now
ecológicos.
Como se deveria esperar ouvir de um intelectual francês
(riquíssimo, em comparações históricas e geográficas; altamente instruído;
habitante de uma sociedade que lhe permite expressar suas ideias), o mundo vai
mal. Estamos na iminência de morrer afogados pela subida dos oceanos e —
atenção! — a culpa de toda essa desgraça é da propriedade privada. (Ele não
disse, mas, com certeza, pensou: e do capitalismo, da busca do lucro...)
O que fazer? A sugestão do palestrante foi que imitássemos a
África dos primitivos habitantes e outras regiões (como o Brasil, antes dos
portugueses, ou a Amazônia ainda selvagem?) onde não existe a propriedade
privada. Quem sabe, seria o caso de nos mudarmos para lá?
Imagino que o Sr. Giraud tenha chegado a essa convicção
estudando em seu gabinete parisiense com ar condicionado (no verão) e
aquecimento central (no inverno), vista para a belíssima Avenida Champs
Elisées, ouvindo música clássica, cem metros distante dos melhores restaurantes
(que ele pode pagar)...
... ou a duas quadras do museu Louvre. E com seu alto salário
garantido, os ingressos para o teatro comprados, com a sensação de que pode
escrever qualquer coisa sem ser perseguido por isso, com a tranquilidade que a
assistência médica lhe dá.
Daqui há sessenta anos, ele, quarentão, hoje, ainda estará vivo.
Reclamando. E sendo pago em dia. Tudo isso, caro economista francês, foi
construído pela propriedade privada, pelo lucro, pelo capitalismo. Deveríamos
trocá-lo pela África nativa, ou pelo Brasil selvagem?
São lugares onde não há propriedade privada, claro, mas as
pessoas vivem trinta anos; um furúnculo pode matá-las, pois nunca chegarão ao
antibiótico; a alimentação é péssima, quando existe; o calor é infernal e o
frio, insuportável; não existe internet; ninguém sabe ler; a música está mais
para Wesley Safadão do que para Bethoven; e viagens internacionais para dar
palestras a brasileiros, nem pensar.
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