Uma rua chamada Olímpio (IV)
Gustavo Maia Gomes
(7/2/2018)
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Até recentemente, esta casa era
a
que mais conservava os traços
do desenho original da antiga rua
Moura Esteves.(Foto
Google Street
View, c. 2016, processada)
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Os terrenos, contíguos ao histórico
Arraial do Bom Jesus, deviam pertencer a um engenho de açúcar. Em algum momento
que não pude precisar, tornaram-se propriedade do comerciante que viria dar seu
nome à rua.
Olímpio Tavares (segundo soube por Paulo Henrique Maciel, cuja esposa é bisneta
dele) nasceu em Goiana, PE, mas concentrou seus negócios no Rio Grande do
Norte, embora tivesse mantido as ligações com seu estado de nascimento.
As casas foram feitas para alugar,
preferencialmente, a estrangeiros. Eles gostavam de arrabaldes. Um anúncio da
época, no Diário de Pernambuco (DP, 22/8/1926), revela isso: “Lindas casas,
tipos colonial e bungalows (sic), próprias para estrangeiros e famílias de
trato, no novo bairro Alto do Céu, rua Moura Esteves, em Mangabeira de Cima.
Oitões livres, grande quintal, recém construídas”.
Na esperança de atrair os que não
entendiam português, também se publicavam anúncios em inglês: "Houses
to let. Modern bungalows with three bedrooms... cool and dry climate at the
highest point of Casa Amarela" (DP, 19/7/1927). Pois é, eu morava no ponto
culminante do bairro e não sabia.
Moura Esteves era como se chamava a
rua até 1929, quando ela tomou o nome que tem até hoje: Olímpio Tavares (Jornal
do Recife, 8/12/1929). Surpreendeu-me a localização em “Mangabeira de Cima”, um
nome que desapareceu completamente. Ainda existe uma Mangabeira, bairro
do Recife – seria a “Mangabeira de Baixo”? Não durou uma eternidade: pouco
tempo depois, o mesmo jornal já localizava a rua em Casa Amarela (DP,
21/12/1926).
Para despertar interesse, a família
proprietária enfatizava que as casas dispunham do “bonde de Casa Amarela, a cem
metros de distância”. Além disso (DP, 6/1/1927), que eram “modernas, com boas
acomodações, saneadas, com luz, água e entrada para automóveis”. Essa última
devia ser algo novo, realmente. Não eram poucos, portanto, os
atrativos. De fato, em curto intervalo, todas as casas estavam alugadas,
parecendo que o projeto foi um sucesso. Somente 15 anos mais tarde apareceram
os primeiros anúncios de vendas (DP, 5/8/1941).
Meus pais, Mauro e Stella, meu irmão,
Ivan Pedrosa Maia Gomes, e eu devemos
ter nos mudado para a rua Olímpio Tavares (vindos da rua Álvares de Azevedo, em
Santo Amaro) em ano muito próximo a 1950. Pouco depois de a moradora da casa
113 (a única que, provavelmente, já existia antes de 1925; devia ser a sede do
engenho), Haidé Gomes Cabral, ter pedido financiamento bancário para a compra
de imóvel: 120.000 cruzeiros, ou 315 salários mínimos da época (DP, 14/2/1950).
Ainda me lembro da rua com piso de
terra e as sarjetas dos esgotos colocadas em nível mais alto que o do solo. Em
junho de 1950, a Câmara Municipal determinou que a Olímpio Tavares fosse
pavimentada. Isso, entretanto, só aconteceu muito depois. Provavelmente, em 1954, estimulada
pela comemoração dos 300 anos da vitória sobre os holandeses. A Rua Olímpio
Tavares fica ao lado do Sítio Trindade, local onde o Capitão Matias de
Albuquerque, uma espécie de governador, da época, refugiou-se, após ser expulso
de Olinda pelos batavos.
Só tenho boas recordações daquela
rua, nos anos em que lá morei, como criança, adolescente e adulto jovem. Mas,
nem todos concordariam comigo. Severino Barbosa, um jornalista muito
lido, então, publicou, em 1967, um texto ácido em que dizia: “A situação lá
pela rua Olímpio Tavares anda de mal a pior. Lixo, lixo é o problema. Mas não é
lixinho besta. É muito lixo, lixo de uma rua inteira, que vive entregue ao Deus
dará. Além do mais, na rua Olímpio Tavares também falta luz. É uma calamidade”
(DP, 11/7/1967)
Nunca achei que houvesse calamidade
nenhuma ali.
O ÚLTIMO PROPRIETÁRIO DA CASA ILUSTRADA NO ARTIGO, PERTENCEU A ALBERTINO CARNEIRO DA CUNHA. Já .FALECIDO
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