Gustavo Maia Gomes
Sexta feira (21/6) à noite. Fui
levar o sobrinho de Lourdes à emergência pediátrica da Unimed, na Av. Agamenon
Magalhães, Recife. Tinha de ser ali, tinha de ser naquele momento. A ida foi
tranquila; ao sair, tivemos a passagem do carro bloqueada. Impossível seguir em
frente, impossível dar marcha à ré. Quanto tempo aquilo iria durar? Ninguém
sabia, mas a notícia logo circulou: era mais uma manifestação contra tudo e
contra todos, inclusive contra o direito de alguém levar uma criança ao médico.
Ficamos presos na rua por
muitos minutos: minha mulher, eu, e um menino de sete anos. Não vi violência
policial. O que vi foi um bando de homens descamisados, com os rostos parcialmente
tapados por panos, correndo prá lá e pra cá entre os carros, com postura
ameaçadora. Não pareciam revolucionários. Não pareciam pessoas insatisfeitas
com o preço das passagens de ônibus, nem com os gastos da Copa, ou a qualidade
dos serviços públicos. Pareciam, apenas, bandidos.
O que queriam? Depredar
algum ônibus? Incendiar alguns carros? Simplesmente, exercer o poder de parar o trânsito? Não
sei. O que sei é que, naquele momento, os cidadãos de bem, ameaçados em sua
integridade física e em seu direito de ir e vir, queriam saber onde estava a Polícia
e o que fazia ela. É justo pagarmos tantos impostos e depois sermos parados na
rua porque se tornou engraçadinho um grupo de encapuzados determinar quem pode
e quem não pode – e quando – passar por ali?
Chegou a hora de, dentro da
Lei, darmos um basta ao que vai se tornando apenas um exercício coletivo de
estupidez e irresponsabilidade. Manifestações pacíficas devem ser permitidas, mas
com data e local previamente anunciados, de modo que a vida daqueles que não
querem se manifestar (a maioria absoluta da população) possa continuar a
transcorrer sem graves transtornos. E que não haja, jamais, sob pena de
intervenção policial decisiva, atos de depredações ou ameaças físicas às
pessoas.
A anarquia é a antessala do
golpe. Já vivi sob uma ditadura (1964-85) e isso bastou para mim. Meus pais viveram
sob duas e me contaram que a outra (1937-45) não foi muito melhor. Tenho
certeza de que a maioria absoluta da população brasileira não quer aquilo de
volta. Eu não quero. Minha mulher não quer. Meus filhos e filhas não querem.
Minha neta, se já pudesse entender o mundo, não quereria. Dos meus amigos, não
conheço um que queira. Mas é para onde estamos todos caminhando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário