sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Chico Heráclio de Limoeiro (PE)

Gustavo Maia Gomes

Francisco Heráclio do Rego (1885-1974) foi um dos mais importantes "coronéis" pernambucanos, mandando e desmandando na sua cidade (Limoeiro, 80 km do Recife, região Agreste), especialmente, entre os anos 1945 e 1954. Aliado de Agamenon Magalhães (1893-1954), que por duas vezes governou Pernambuco, o coronel também teve influência na política estadual e, numa escala muito menor, nacional.
Chico Heráclio no terraço lateral de sua casa. As grades foram mudadas, mas o piso é o mesmo e a coluna (com maior razão) ainda é a que está lá. A foto foi colhida na reportagem que O Cruzeiro (1/1/75) publicou em registro da morte do coronel.
Chico Heráclio era uma celebridade, a ponto de merecer, quando de sua morte, reportagem de cinco páginas na revista O Cruzeiro (1/1/1975), o equivalente, hoje, a ter cinco minutos no Jornal Nacional da Globo. A matéria, que pode ser acessada via hemeroteca digital da Fundação Biblioteca Nacional, tem um tom predominantemente favorável ao coronel.
Dois de seus filhos (Francisquinho e Heráclio) foram deputados, o primeiro, estadual; o segundo, federal, em várias legislaturas. Os prefeitos de Limoeiro eram sempre os que Chico Heráclio queria que fossem e ele dizia: "melhor do que ser prefeito é mandar no prefeito". Como ocorria com os outros chefes políticos municipais, o pacto implícito era que o governador garantia ampla autonomia ao coronel em seu reduto; em troca, esse assegurava os votos para o governador eleger seus candidatos.
São famosas algumas de suas histórias. Naquela época, o voto era dado por meio de uma cédula com o nome do candidato que o eleitor depositava na urna. (A cédula única, com os nomes de todos os candidatos, veio depois. Já foi um avanço.) Chico Heráclio preparava os envelopes com as cédulas de quem ele queria eleger, lacrava-os em um envelope, e os distribuía aos seus eleitores "de cabresto".
Geralmente, os votantes eram buscados em suas casas pelos empregados do coronel e levados à seção onde deveriam votar. Eles cumpriam o ritual esperado e, em seguida, recebiam farta comida e bebida. Talvez, algum dinheiro, também. Só que, um dia, um deles perguntou ao coronel se poderia saber, ao menos, em quem ele (o perguntador) havia votado. Chico Heráclio teria respondido na bucha. -- Você não sabe que o voto é secreto, cabra?
Conheci Francisquinho, o filho, entre 1968 e 1970, quando ele era deputado estadual e eu um jovem repórter encarregado de cobrir, para o Jornal do Commercio (Recife), o dia a dia da Assembleia Legislativa. A impressão que guardo é que, se Francisquinho não fosse filho de Chico Heráclio, dificilmente teria subido na vida. Era ou parecia ser, intelectualmente limitado. Heráclio do Rego tinha um pouco mais de massa cinzenta, mas posso estar enganado.
A casa de Chico Heráclio em Limoeiro (PE). Pelo estilo, deve ter sido construída na década de 1950, mas não me foi possível comprovar essa hipótese. Mesmo para os padrões da época e do local, está longe de ser um palacete, a despeito de todo o poder e (relativa) fortuna do coronel. (Foto Gustavo Maia Gomes, 30/8/15)
O terraço lateral da casa de Chico Heráclio em Limoeiro. (Note que o piso é o mesmo que aparece na foto publicada em O Cruzeiro, edição 1/1/75). As poltronas, segundo me garantiu o atual morador da casa, Clóvis Coutinho Pereira, ainda são as do tempo em que o coronel era vivo. (Foto Gustavo Maia Gomes, 30/8/15)

Lourdes Barbosa, Antônio e o retrato de Chico Heráclio na sala de jantar de sua casa. Pelo que pude apurar, os grandes almoços com finalidades políticas eram promovidos pelo coronel em sua fazenda Varjadas. A sala mostrada na foto é, realmente, pequena. Os móveis são os mesmos que serviram ao coronel e à sua família. (Foto Gustavo Maia Gomes, 30/8/15)
Um dos automóveis de Chico Heráclio. Ele era, de uma forma geral, avesso aos progressos do mundo moderno. Consta que não possuía geladeira, rádio, ou "vitrola" (aparelho de som). Mas gostava de carros luxuosos. Este é o único que sobreviveu (por quanto tempo?), deixado na sua garagem. É um Chrysler modelo muito parecido ao lançado em 1954. Se não é desse ano, é de um ano próximo. Está sendo destruído pelo tempo, segundo Clóvis Coutinho Pereira, porque os herdeiros não conseguem se entender sobre o que fazer com o espólio do coronel. (Foto Gustavo Maia Gomes, 30/8/15)
Estivemos (Lourdes Barbosa, minha mulher; Antônio, seu sobrinho e eu) em Limoeiro, neste fim de semana. Visitamos a casa onde morou Chico Heráclio. Lá residem, hoje, a viúva de um neto do coronel e o irmão dela, o advogado Clóvis Coutinho Pereira. Ele teve a gentileza de nos permitir a visita ao interior da sua residência, que conserva a mesma estrutura e muitos dos objetos usados pelo coronel e sua família.

(Publicado no Facebook, 31/8/2015)

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