Gustavo Maia Gomes
Em 1872, quando o governo
imperial fez o primeiro censo demográfico do país, Belém (62 mil habitantes)
tinha duas vezes o tamanho de São Paulo (31 mil).
Era a quarta maior cidade do Brasil, atrás apenas do Rio de Janeiro (275 mil),
Salvador (129 mil) e Recife (117 mil). A capital paraense se beneficiava,
sobretudo, da crescente produção regional de borracha, que já respondia por 80%
das exportações provinciais.
Desde 1864, a cidade tinha
iluminação a gás, um progresso sobre o sistema anterior de lampiões queimando
petróleo. A liberação para navios estrangeiros do rio Amazonas (1867)
impulsionara o movimento no porto de Belém. A prosperidade era evidenciada,
também, nas obras do Teatro da Paz (inaugurado em 1878) e nos recém-enunciados
projetos de canalizar água potável e calçar as principais ruas.
Mas, em que trabalhavam os
habitantes da cidade? Um Relatório de 1871 dá uma preciosa resposta a essa
pergunta. Ao recensear os contribuintes do “Imposto sobre indústrias e
profissões desta cidade”, o presidente da Província Abel Graça nos informa que
havia na capital, entre muitas outras, as seguintes atividades e respectivos
profissionais:
- 18 advogados
- 31 alfaiates com estabelecimentos
- 51 donos de açougues
- Onze mercadores de carroças e carros de boi com pipa d’água
- 40 donos de casas de pasto
E mais:
- 51 donos de carroças de
aluguel
- 15 proprietários de carros e seges para alugar
- 55 mercadores por grosso de tecidos ou fazendas
- 128 mercadores por miúdo de tecidos ou fazendas
- Oito mercadores por grosso de ferragens
- 40 padarias
Ainda mais:
- 14 médicos
- Nove mercadores de madeira
- Nove sapateiros com estabelecimento
- Dez torrefações de café
- 15 mascates ou bufarinheiros (!)
Também havia quem
desempenhasse atividades menos comuns, algumas das quais, hoje, ou continuam a
ser muito raras ou já nem existem.
- Um dono de cocheiras de
cavalos a trato e de aluguel
- Um dono de casa de banhos
- Um mercador de fumo em rolo
- Um trapicheiro
- Três tanoeiros com estabelecimento
A indústria mais bem
representada na Belém de 1871 era a de tavernas: havia 224 delas. Atendiam bem
à demanda, presumo. Na verdade, quem viveu na cidade, àquela época, só não foi
mais feliz porque ainda não existia o Papão da Curuzu, menos conhecido como
Paysandu Sport Club, criado em 1913.
(Fonte dos dados sobre as
indústrias e profissões: Relatório à Assembleia Legislativa Provincial apresentado
em 1871 pelo Presidente da Província do Pará, Abel Graça, págs. 32 e ss).
Publicado no Facebook, 21/6/15
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