Gustavo Maia Gomes
A má fé e a falta de informações têm se combinado para produzir oposição de péssima qualidade (porém,
estridente e causadora de transtornos) à Proposta de Emenda Constitucional 241,
que estabelece um teto de gastos reais (ou seja, determina que os gastos sejam aumentados,
apenas, pela inflação do ano anterior) dos poderes federais. A má fé é irrevogável;
a falta de informações, talvez, não seja. Com essa limitada esperança, faço
alguns esclarecimentos sobre o assunto, ainda em tramitação no Congresso
Nacional.
1. Serão,
mesmo, vinte anos de congelamento? Não necessariamente. As novas regras de controle
dos gastos públicos federais (que, se aprovadas, passarão a integrar a
Constituição, em suas Disposições Transitórias) poderão ser alteradas por
maioria simples, nas duas casas, dez anos após entrarem em vigor. Por Emenda
Constitucional (maioria de dois terços), elas poderão ser modificadas em
qualquer momento. Portanto, provavelmente, não durarão vinte anos.
2. Mas,
então, por que colocar "vinte anos" no texto da Proposta? Porque, considerada isoladamente,
a PEC 241 é insuficiente para resolver o desequilíbrio fiscal do governo
federal. (Imagine, então, o desequilíbrio conjunto de todos os três níveis de
governo!) Neste ano, 2016, as contas federais fecharão com um déficit primário
(ou seja, sem adicionar o pagamento de juros) de R$170 bilhões. Se, nos anos
vindouros, nada acontecer com a receita pública, congelar o gasto nominal
corrigido pela inflação do ano anterior terá o único efeito de eternizar o
rombo atual, que é insustentável. A PEC (se considerada isoladamente) faz a
aposta ousada de que a disposição do governo de impor limites, por um longo
período, ao aumento de seus gastos seja suficiente para que os agentes
econômicos retomem a confiança na estabilidade e voltem a produzir, a dar
empregos, a investir. Se isso acontecer, as receitas públicas crescerão até,
eventualmente, fecharem o rombo atual. Mas, a única possibilidade dessa aposta
dar certo é que ela sinalize, realmente, uma disposição radical de o governo
evitar a reincidência, por um longo tempo, de surtos populistas como o que
tivemos nos anos Lula-Dilma. Foi por isso, como sinalização de comprometimento
efetivo, que os “vinte anos” foram julgados necessários.
3. “É absurdo impor cortes
lineares no gasto público”. Claro, que é absurdo, mas, quem fará isso? Não, a PEC
241. Essa proíbe o aumento do total
dos gastos federais. (Mesmo assim, excluindo do cálculo vários itens, como as
transferências para Estados e Municípios.) Ali, não se fala em cortes, muito
menos em cortes lineares. A despesa real total no ano (t+1) não poderá ser
maior do que tiver sido no ano (t), mas qualquer item isolado dessas mesmas
despesas poderá, sim, crescer, em termos reais, desde haja uma redução correspondente em outro
(ou outros) item. O resultado dessas intenções de aumentar isso e reduzir
aquilo, ao qual se agrega uma expectativa de quanto dinheiro teremos para
gastar, constitui o que as pessoas chamam orçamento. Quem, de nós, ignora regras tais, quando planeja,
racionalmente, suas despesas? Este ano, eu quero ir para a Europa, mas, como jamais
acumulei fortuna, terei de reduzir minhas idas a restaurantes caros. Em 2017,
diz o jovem recém-empregado, vou fazer uma poupança para meu casamento. Cálculos desse tipo são necessários porque dinheiro não nasce do chão, como mato. Nem o dinheiro privado, nem o público. Mas os governos, em regra, preferem garantir votos fingindo ignorar isso.
4.
“Vão acabar com a saúde e a educação”. É a objeção mais
vocalizada pelos que misturam desinformação com má fé. Sobre a má fé, sejamos
francos: quem estava acabando com a saúde e a educação neste país eram aqueles
que hoje se opõem à PEC 241. Foram os governos petistas que jogaram o Brasil na
pior crise (queda de renda e destruição de empregos) que nossas estatísticas
jamais registraram. Alguém acredita que a educação e a saúde de um país
destruído possam ser "boas"? E sobre a desinformação: saúde e educação,
ao contrário do que repetem os que incendeiam os pneus da ignorância, são os
únicos itens de despesa que não poderão ser reduzidos (em relação aos níveis de
2016) nos anos de vigência da PEC 241. Ao contrário de todos os outros, eles
têm piso, não teto. Podem aumentar, sim; não podem ser reduzidos. Aumentarão?
Isso dependerá do Congresso que, a cada ano, tem a obrigação de fazer o Orçamento
da União, emendando e remendando a proposta enviada pelo Executivo. Se aumentar
gastos em educação e/ou saúde vier a ser considerado necessário ou desejável,
deputados e senadores estarão livres para destinar mais recursos para esses
setores, desde que identifiquem aqueles outros que terão menos dinheiro no
próximo ano.
5.
Necessária, mas não suficiente. Em palestra que pronunciei,
recentemente, para um grupo de militantes do PSDB em Pernambuco, comecei
dizendo: se vocês tivessem me dado somente dez segundos para falar sobre a PEC
241, eu diria que ela é necessária, mas não suficiente. Se mais alguns minutos
eu tivesse, continuaria falando que, como política de reequilíbrio fiscal,
diante do descalabro a que nos conduziram os governos petistas, nenhuma poderia
ser mais suave que essa. (Outras medidas precisarão ser tomadas, para
complementá-la.) De fato, a proposta em discussão embute, como vimos, uma
aposta ousada de que as receitas públicas irão voltar a crescer, após a
aprovação do novo regime fiscal. Irão, mesmo? Isso, sem ser impossível, não é
certo. Pode se tornar muito improvável, se a oposição à PEC não for
contrabalançada, diante da opinião pública, por argumentos sólidos em sua
defesa. Pois, afinal, nenhum empresário há de querer investir e criar empregos em um
país onde as pessoas são impedidas de ir para lá e para cá por gente – muita gente – que fecha as ruas, declarando guerra contra o inimigo errado.
Gustavo, o que você escreveu é, parodiando o nosso grande dramaturgo Nelson Rodrigues o "obvio ululante". Mas nem as verdades que saltam aos olhos de todos que possuem um grau mínimo de estudo e discernimento, são acessíveis a todos, pois o grau de desinformação e proposital mal informação proporcionada pelos esquerdopatas do PT et alii, tornam o raciocínio complicado, até para coisas triviais.
ResponderExcluirO óbvio ululante ulula, ulula, e não se faz ouvir.
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