Gustavo
Maia Gomes
A notícia é de 2009; sua atualidade, inquestionável. |
“Num ato político,
movimentos sem-terra liderados pelo MST ocuparam ontem uma fazenda [Monte Verde, em Branquinha, Alagoas] do
Grupo João Lyra. As terras são produtivas e não consta qualquer irregularidade
em sua administração. Mesmo assim, MST, CPT [Comissão Pastoral da Terra] e MSLT
[Movimento de Libertação dos Sem Terra], com apoio da CUT [Central Única
dos Trabalhadores] e sindicatos, pressionam o Incra [Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária] por uma vistoria e posterior desapropriação.”
(Gazeta de Alagoas, Maceió, 10/3/2009, pág. 1)
Monte Verde é a fazenda que
pertenceu a meus pais, onde Ivan, Ivanilda e eu passávamos as férias, indo “de
trem para Branquinha”. Foi vendida há muitos anos, primeiro para uma usina
também pertencente aos Maia Gomes, depois, para o Grupo João Lyra. Não tenho
simpatia especial por usineiros. Como estudioso da economia regional, acho que
o Nordeste foi infeliz ao eleger a cana-de-açúcar como produto básico no início da sua história. Em todo o mundo, a cana e o açúcar estiveram associados à
escravidão e a sociedades com atraso tecnológico e grave concentração de renda.
Mesmo assim, se a cana era um problema, a sua falta tem sido uma tragédia.
SIMPATIA? – POUCA.
Não, não tenho simpatias
especiais por usineiros. Mas também sei que esses ditos “movimentos sociais”
não passam de organizações espúrias que se utilizam de métodos criminosos para
atingir não a reforma agrária, mas a manutenção de seus esquemas de generoso
financiamento pelos governos (nos últimos anos) petistas. Estou para ver
um desses assentamentos que seja capaz de pagar suas
próprias contas, sem auxílio oficial. Os padres católicos (via CPT), por sua
vez, assumem bandeiras estranhas não por amor a Cristo, mas como uma estratégia de
sobrevivência diante da avassaladora onda evangélica que ameaça seus empregos.
No tempo de meus pais e
avós, Monte Verde não foi um modelo de produtividade. Eu estaria muito
satisfeito se, nos anos posteriores àqueles em que frequentei a fazenda, ela,
já não pertencente à minha família, se tivesse tornado um lugar de onde uma
porção de gente tirasse o seu sustento, produzindo muito e enriquecendo a
todos. Não foi isso que aconteceu, nem antes do MST, nem, muito menos, depois.
Estive com meu irmão Ivan em
Branquinha, município onde está Monte Verde, em fevereiro de 2014. (Isso foi
registrado em meu blog, veja em http://gustavomaiagomes.blogspot.com.br/2014/02/a-cidade-que-o-trem-trouxe-e-o-rio-levou.html).
Copio uma parte do que escrevi, logo depois daquela visita:
DIÁLOGOS BRANQUINHENSES
No antigo coração de
Branquinha, naquela manhã de sábado, sete jovens estavam reunidos fazendo nada.
– “Vocês trabalham na
cana?”, perguntei-lhes.
– “Não há mais cana aqui”,
respondeu um deles.
– Então, o que fazem?
– Nada. Quando aparece algum
serviço, a gente faz, mas é raro.
O que nos pareceu um
escândalo, a Ivan e a mim, não preocupava os jovens. Por quê?
– “Tem Bolsa Família?”,
indaguei ao mais velho.
– Não.
– Mas, alguém em sua casa
tem?
– Tem, sim.
Fiz a mesma pergunta a cada
um dos outros seis. Só um deles não tinha a bolsa. Estava um pouco mais bem
vestido. Talvez fosse filho do prefeito ou de um vereador. Conclui que, para os
branquinhenses, o Bolsa Família tornou-se um projeto de vida.
(PS. Enquanto isso, o MST
invade fazendas produtivas, destruindo a pouca produção que ainda se fazia em
Branquinha. Não, não há mais cana. Não há mais nada.)
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