Gustavo Maia
Gomes
Não bastassem os
relatos sobre sururus, pitus, ostras e camarões com que brindara seus leitores cariocas
no dia 31 de janeiro de 1965, Luís Alípio de Barros, o Comendador Ventura, apenas
uma semana depois, voltou a falar de Maceió – e do Recife - em sua coluna “Não
morra pela boca”. Dessa vez, quanto a Maceió, enfatizando o potencial turístico
da cidade.
É
certo que faltam a Maceió, a capital do pequeno estado nordestino de Alagoas,
bons hotéis e, por que não dizer, bons restaurantes. Porém, tirante Salvador e
até certo modo Recife, talvez nenhuma outra cidade acima da capital baiana
possua tantas condições para o turismo. Pois, em matéria de belezas naturais, a
capital alagoana e adjacências têm tantos detalhes atraentes que seria muito
longo enumerá-los todos numa simples coluna de jornal.
O
velho Atlântico deu a Maceió praias admiráveis, como as de Sobral e de Pajuçara, com um mar admirável. No rumo sul, temos, ainda dentro da cidade, a praia do
Pontal da Barra, belíssima. No rumo norte, as praias são sem conta: Ponta
Verde, Jatiúca e, mais adiante, Riacho Doce, Ipióca, Paripueira, etc.
Como
outro detalhe físico encantador e surpreendente, [tem Maceió] a grande lagoa
Mundaú com Coqueiro Seco, Fernão Velho, etc. Do outro lado, chegando a outra
magnífica lagoa, a Manguaba, através de lindos canais de margens cobertas de
coqueiros, [há] o roteiro de Volta D’Água, Bica da Pedra, Ilha de Santa Rita
(que dizem ser a maior ilha lacustre do mundo), do Cumbe, que leva a Marechal
Deodoro (a antiga capital) e a Pilar.
[É
o roteiro, repito, que leva à] velha e bela Manguaba, para quem os bagres
(peixe gostosíssimo) são tão característicos como o sururu (marisco que é o “prato
de guerra” da culinária da capital alagoana) [o são] para a lagoa Mundaú.
Quando os
conheci, devo registrar, os bagres da Lagoa Manguaba não me pareceram tão
gostosos assim. Mas esse é um detalhe. A avaliação de Luís Alípio, por outro
lado, se revelou bastante precisa no seu ponto mais importante: Maceió
tornou-se, deveras, nos últimos trinta anos, um dos maiores polos turísticos do
Nordeste. E seus atrativos são aqueles mesmos destacados pelo Comendador
Ventura: belezas naturais, praias, sobretudo.
Tendo também
visitado o Recife na mesma viagem, Luís Alípio acrescentou algumas informações
interessantes, além das que já havia contado uma semana antes:
Baixou
bastante o preço da cerveja no Nordeste, com a inauguração da grande fábrica da
Brahma na cidade pernambucana do Cabo, a 30 quilômetros do Recife. Daí, quando
se pede uma Brahma ao garçom, diz-se assim: “Me traga uma Cabo 30”.
Continuam
firmes as peixadas [do bairro litorâneo da Zona Sul] do Pina, na capital
pernambucana. Principalmente, no Maxime. E o velho Leite (ali bem pertinho do
Cinema Moderno) continua a ser o restaurante de tradição do Recife. (...) Assim
como o sorvete do Gemba (o japonês), na Rua da Aurora, continua a ser o mais
procurado, apesar de no Recife haver melhores sorvetes de frutas.
Eu, certamente, me lembro da sorveteria Gemba, que ficava próxima ao cinema São Luís. Mas, nessa mesma época, eu apreciava mais os sorvetes de frutas da Ki-Sabor (que, depois de uma briga na Justiça com a Kibon, trocou de nome para Fri-Sabor.) A Fri-Sabor existe até hoje. Recentemente, foi adquirida por gente com algum dinheiro, que resolveu dar uma modernizada na forma de apresentar e vender o produto. O sorvete atual não chega a se comparar, em qualidade, com o que o Comendador Ventura e eu conhecemos, em 1965. Mas não é ruim, tampouco.
[Os trechos em destaque são do Comendador Ventura (Luís Alípio de Barros). “As confissões de um alagoano imparcial”. Coluna "Não morra pela boca". Última Hora, RJ, 6/2/1965, pág. 13.]
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