Gustavo Maia Gomes
Recife, 19-11-2018
A polêmica do momento tem a ver com os médicos cubanos, aqueles enviados para terras distantes, onde ganham dez e remetem sete para o seu governo. Por que esses médicos concordam com o confisco? Em primeiro lugar, porque mesmo 30% dos salários ganhos fora de Cuba são muito mais do que ganhariam lá; em segundo, porque são impedidos de levar suas famílias, e, portanto, não podem romper os grilhões que os mantém como escravos; em terceiro, porque, se pedirem asilo político (em países como o Brasil petista), serão deportados ou, em caso contrário, verão suas famílias sofrer represálias na terra natal.
Mas, por que Cuba aluga médicos? Numa palavra, porque sua economia é um desastre. E nisso, a ilha prova, mais uma vez, que o socialismo constitui o caminho mais curto para produzir, em nome de ideais igualitários, a desgraça de um povo. Vamos ver um pouco da história que levou aquele país ao ponto a que chegou, sendo obrigado (em termos, claro) a transformar parte de seus cidadãos em escravos de ganho, como os que havia nas cidades do Brasil imperial.
Hong Kong, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan são territórios pequenos, que se tornaram imensamente ricos praticando o capitalismo. Em 1959, quando Fidel Castro tomou o poder, Cuba, também pequena, mas não tão desprovida de recursos naturais, produzia mais por habitante do que qualquer um daqueles. Seu PIB per capita, em dólares comparáveis de 1990, era de 3.140 (Hong Kong, 3.027; Singapura, 2.187; Coreia do Sul, 1.120; Taiwan, 1.469).
Mas, por que Cuba aluga médicos? Numa palavra, porque sua economia é um desastre. E nisso, a ilha prova, mais uma vez, que o socialismo constitui o caminho mais curto para produzir, em nome de ideais igualitários, a desgraça de um povo. Vamos ver um pouco da história que levou aquele país ao ponto a que chegou, sendo obrigado (em termos, claro) a transformar parte de seus cidadãos em escravos de ganho, como os que havia nas cidades do Brasil imperial.
ERA UMA VEZ, EM 1959
Hong Kong, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan são territórios pequenos, que se tornaram imensamente ricos praticando o capitalismo. Em 1959, quando Fidel Castro tomou o poder, Cuba, também pequena, mas não tão desprovida de recursos naturais, produzia mais por habitante do que qualquer um daqueles. Seu PIB per capita, em dólares comparáveis de 1990, era de 3.140 (Hong Kong, 3.027; Singapura, 2.187; Coreia do Sul, 1.120; Taiwan, 1.469).
Quarenta anos depois (1999), o produto por
habitante de Cuba havia caído para 2.164, enquanto os valores correspondentes
a Hong Kong (20.352), Singapura (23.582), Coreia do Sul (13.317) e Taiwan (15.720)
haviam se multiplicado por 6,7 (Hong Kong), 10,8 (Singapura), 11,9 (Coreia do
Sul) e 10,7 (Taiwan). (Fonte: Angus
Maddison. The World Economy. OECD, Development Centre Studies,
2006) Não esperem que nada melhor tenha ocorrido desde então, no país caribenho.
Em 1958, pouco antes da Revolução, Cuba exportava açúcar, tinha um governo corrupto e recebia turistas
norte-americanos. No primeiro momento, a derrubada do ditador Fulgêncio Batista pelos guerrilheiros de Fidel Castro foi recebida com satisfação mundo afora. Tal
acolhida, somada à relação privilegiada que a ilha tinha com os Estados Unidos,
propiciou aos novos governantes a oportunidade de inaugurar uma era de
desenvolvimento impulsionada pela entrada de capitais estrangeiros direcionados
para setores intensivos em tecnologia e pela exploração das vantagens
logísticas de Cuba. Nada muito diferente do que o Japão já tinha feito e a
Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Singapura estavam fazendo ou logo viriam
a fazer.
Fidel Castro e seus idiotas latino-americanos,
entretanto, seguiram outro caminho. Desorientados pelo evangelho marxista, fizeram da
matança dos adversários a marca inaugural e permanente de seu regime. Na
economia, ao invés de aprofundar o capitalismo, destruíram-no com o confisco de
propriedades e restrições à livre-iniciativa. Nestas condições, naturalmente,
os capitais, ao invés de virem, se foram. A riqueza se evaporou; a geração de
renda caiu; as pessoas empobreceram. E os Estados Unidos
se indispuseram com a nova classe dirigente da ilha.
A opção socialista de Fidel Castro, embora
viesse a significar, no longo prazo, o desastre econômico, teve consequências políticas, aparentemente, favoráveis. O mundo se atolava na guerra-fria, a temível disputa
retórica, mas sempre a um passo de se tornar sangrenta, entre os EUA e a União
Soviética. Cuba, por um lado, desafiara o país gigante e vizinho do Norte, ao
confiscar propriedades de seus cidadãos. A URSS, por outro lado, estava ávida
por colocar uma pedra no sapato de seu maior inimigo. Nascia a aliança entre
Castro e Khruschov, entre os governos cubano e soviético.
O que tinha a URSS a oferecer a Cuba? –
Petróleo, bens industriais e respaldo político-militar. O que tinha Cuba a oferecer à URSS? –
Por um lado, o mesmo e velho açúcar, cuja produção declinava; por outro, muito
mais importante, a realidade de um país comunista instalado a poucos
quilômetros do território americano. Isso, na guerra fria, valia ouro.
Foi o casamento do desespero com a conveniência.
Cuba passou a exportar seu açúcar para a Rússia e satélites, recebendo por
tonelada muito mais do que o preço vigente nos mercados livres; a URSS passou a vender seu petróleo para Cuba, cobrando por ele uma fração do que o
produto valia nas transações não políticas. Embutidas nesse comércio, as transferências anuais de renda do primeiro país para o segundo chegaram a cinco bilhões de dólares da época. (Várias fontes, por exemplo, Clyde H.
Farnsworth. “Soviet Said to Reduce Support for Cuban Economy”, Special to The New York Times, March 16, 1988.)
Ou seja, durante anos a fio, o governo e a
população cubana se sustentaram das doações soviéticas, somadas às receitas de exportação do mesmo açúcar
que a ilha já produzia, antes de se tornar comunista. Foi com base nesse negócio
de pai para filho, e também devido a muita repressão, que Fidel Castro conseguiu implantar,
como reforço à estabilidade política, uma espécie de Estado do Bem Estar dos
miseráveis.
DO COLAPSO À EXPORTAÇÃO
Mas, o arranjo com a URSS não duraria para
sempre. Era um pacto entre duas economias socialistas: uma, enorme; outra,
pequena; ambas, tremendamente ineficientes. O gigante soviético começou a dar
sinais de colapso ainda nos anos 1980; iria desmoronar na aurora da década
seguinte. Com o fim da URSS, cessou a transferência de renda de que Cuba se nutria.
Sobreveio o caos econômico absoluto. O que fazer?
Produzir mais estava fora de cogitação. O
conjunto dos países de economia socialista que deram certo é vazio – não existe
nenhum, em outras palavras – e aqueles líderes escondidos atrás de barbas haviam ganho a vida enganando o povo com o
discurso que nega o pão e oferece a propaganda aprendido em Marx, Lênin e Stálin. Não tinham como dar meia
volta-volver. Faltava-lhes, até mesmo, o pragmatismo cínico (mas, eficaz) de um
Deng Xiao Ping. O que fazer?
Alguém teve a ideia salvadora: “vamos fazer os
cubanos trabalharem em países amigos e confiscar dois terços de seus salários”.
Ou, em linguajar mais claro: “vamos escravizar nossos homens e mulheres, para
que eles ganhem dinheiro no Exterior e nos enviem compulsoriamente a maior parte da grana”. Assim,
Cuba inventou a escravidão estatal no século XXI. E disso tem vivido, pois a comunidade dos
países amigos do socialismo e inimigos de seus próprios povos é vasta e unida. O Brasil petista acolheu os médicos escravos cubanos e assim financiou, durante anos, a ditadura comunista na ilha.
Precisou que aparecesse um Jair Bolsonaro
para pôr o dedo na ferida. Não queremos mais isso. Não somos escravocratas; não
apoiamos países que vivem de explorar sua própria gente. Readmitir com respaldo oficial o trabalho escravo no nosso país foi, apenas, mais um crime
cometido pelos governantes petistas contra a humanidade. Deveriam ser
processados também por isso.
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