Gustavo Maia Gomes
Brasília, 14 nov 2018
Brasília, 14 nov 2018
Raras vezes tive, em Brasília, o desejo, a janela e o tempo para
observar a cidade panoramicamente, num dia normal de trabalho. Hoje, instalado
na varanda do hotel em que me hospedo, olho, vejo, conto – e me espanto.
Olho o Congresso Nacional, os
ministérios, a Biblioteca, o Ipea, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, o
Banco Central. Vejo milhares de carros estacionados em dez pontos diferentes, e
outros milhares circulando.
Conto o que custou construir os
palácios e edifícios; quanto custa remunerar os que neles trabalham, manter e
iluminar os prédios, fazer rodar a frota de carros. Uma fábula.
Conto – e me espanto. Brasília nasceu,
cresceu e se mantém viva exclusivamente devido ao dinheiro público. É bela,
agradável, moderna, inovadora, mas morreria em dois meses, se o governo saísse
daqui e fosse malbaratar nossos impostos em outra freguesia.
Voltemos aos anos 1950. Era importante
transferir a capital para o Centro-Oeste? Admitamos que sim. Seria preciso
construir uma nova cidade? Claro que não. Somente quem podia torrar o nosso
dinheiro impunemente teria a coragem de cometer tamanha insanidade. Goiânia
estava ali. Por que não elevá-la a capital da República?
Uma pinturazinha em edifícios já
existentes daria para abrigar neles os primeiros órgãos federais transferidos
para a nova capital. A construção de outros prédios – quando se fizesse
necessária – seria financiada com a venda dos edifícios correspondentes na
capital antiga. O Ministério da Fazenda precisa se mudar? Ótimo. Ponha à venda
a sede que tem no Rio. Quando alguém pagar por ela, use o dinheiro para
construir a nova sede, em Goiânia.
Ah, mas quem pensava assim não
compreendia o destino manifesto do Brasil, que Stefan Zweig havia chamado “o
país do futuro”. (Suicidou-se logo em seguida.) Era fácil e heroico os
governantes dissiparem o dinheiro alheio, em nome da hipotética grandeza. Eu queria
ver quem se habilitaria a construir uma cidade no deserto pagando do próprio
bolso.
Os anos entre 1950 e 1980 foram o
tempo em que meu pai estava em plena atividade produtiva. Sua geração pagou
Brasília com a inflação, como a minha está pagando com o desemprego, a de meus
filhos continuará a pagar com o crescimento econômico medíocre, e a dos meus
netos, bisnetos...
Esse foi, seguramente, o
brinquedo mais caro que já se construiu e se mantém em funcionamento no mundo
inteiro. Com exceção de Dubai, talvez. Mas, Dubai não é problema nosso.
Brasília, sim. Enquanto o Brasil for regido por essa mentalidade, não pode dar
certo.
(Publicado no Facebook)
Nenhum comentário:
Postar um comentário