Luís Alípio Gomes de Barros (falecido em 1991) nasceu em Maceió,
mas fez, praticamente, toda a carreira de jornalista no Rio de Janeiro. Em
1944, já mantinha a seção “Mundo dos Livros”, na célebre revista O Cruzeiro. Passou por vários jornais
cariocas, até se fixar na Última Hora, desde
a criação desta, em 1951, até 1984 (quando, para todos os efeitos, o matutino deixou de existir).
Na capital federal, o alagoano, filho de Laurentino Gomes de Barros e Amália Maia Gomes, tornou-se
conceituado crítico de cinema e notívago de primeira grandeza. Durante anos,
escreveu quase sozinho a página 9 da Última
Hora, onde mantinha duas colunas, uma ao lado da outra: “Cinema” e “Ronda da Meia Noite”. Na
primeira, ele se identificava pelo seu nome de batismo; na segunda, era o “Comendador
Ventura de Sá”.
Transcrevo, abaixo, uma parte da coluna “Onda & Ondas” escrita por "Marijô" e publicada no dia 9 de abril de 1954. Não tenho mais informações sobre quem teria sido "Marijô".
Transcrevo, abaixo, uma parte da coluna “Onda & Ondas” escrita por "Marijô" e publicada no dia 9 de abril de 1954. Não tenho mais informações sobre quem teria sido "Marijô".
PRA
QUÊ! ...
[Marijô, na coluna Onda & Ondas]
O
negócio foi assim: ontem, na redação, estava tudo calmo. Poucos redatores
trabalhando. À nossa frente, Nelson Rodrigues terminando sua “Vida como ela é”
[conhecida coluna do jornalista e teatrólogo pernambucano] matava um pai
deixando dezenove filhos na orfandade, mais a esposa e a sogra. Mais adiante, o
Comendador Ventura trabalhava na sua “Ronda”. E, mais longe, Otávio Malta
[também pernambucano, comunista, um dos fundadores de Última Hora, com Samuel Wainer], nosso diretor secretário, batia
na sua máquina portátil.
Estava
mesmo uma quietude gostosa que nem ela só.
Pois
foi nesse momento que, por dever de ofício, ligamos o rádio para ouvir alguém
berrar assim mesmo:
--
E agora, passamos a transmitir a “Voz do Brasil”.
Nossa
Senhora. Pra quê? Pra quê?
O
Comendador Ventura caiu, estatelado de pernas pro ar, da cadeira onde estava
sentado! ... Plén! ... E olha o barulho de vidro quebrado! E olha o pote de
goma em cima do pobre! O Otávio Malta, coitado, engoliu a máquina de escrever!
E o Nelson Rodrigues acabou matando os dezenove órfãos, a sogra, a esposa e
toda a raça!
Cruzes!
Deus que nos perdoe!
Só
a gente aguentou a mão.
Raios
de profissão!
(Última
Hora, Rio de Janeiro, 9/4/1954, pág. 9)
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