Gustavo Maia
Gomes
Dois
brasileiros antagônicos que nunca se viram enquanto vivos se tornaram vizinhos
depois de mortos. Explico: às margens do Rio da Prata, na Ciudad Antigua de
Montevideo, existem, a poucos metros de distância, um monumento a Irineu
Evangelista de Souza (1813-89), o Barão / Visconde de Mauá, e um "Espaço
Livre" com o nome de Luís Carlos Prestes (1898-1990), o mais notório dos
comunistas brasileiros.
Mauá
foi um grande empresário. Suas realizações incluem a primeira fundição de ferro e estaleiro no Brasil (1846);
a exploração dos transportes com barcos a vapor dos rios Amazonas e Guaíba
(1852); a criação do terceiro Banco do Brasil (1853); a construção da primeira
ferrovia brasileira (1854); a iluminação pública a gás na cidade do Rio de
Janeiro (1854); e a instalação do cabo submarino telegráfico entre a América do
Sul e a Europa (1875). No Uruguai, fundou um banco e se envolveu na política,
em favor dos liberais. (Wikipedia)
Luís Carlos Prestes foi um militar, engenheiro e político. Participou
da revolta tenentista de 1924; liderou, em seguida, a marcha dos derrotados
pelo centro do país (a chamada Coluna Miguel Costa – Prestes); exilou-se na
Argentina e no Uruguai, de onde se mudou para a União Soviética. Nessa época,
tornou-se comunista. Voltou para o Brasil, clandestinamente, para liderar a
intentona de 1935. Foi presidente do Partido Comunista Brasileiro e jamais fez
autocrítica pela longa adesão a Stálin.
Mauá construiu; Prestes tentou destruir. (Idealmente, para, em
cima dos destroços, construir uma sociedade melhor.) Os dois se relacionaram,
em determinados momentos de suas vidas, com o Uruguai. Montevidéu homenageou a
ambos. Se tivesse de escolher, eu ficaria com Irineu Evangelista de Souza. E o
leitor?
(Publicado no
Facebook em 28/7/2017)
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