Gustavo Maia Gomes
Meus amigos virtuais e reais que foram irrestritamente contra o
descalabro dos governos petistas (e, sobretudo, nos estertores destes, a favor
do impeachment da mulher sapiens) agora se dividem em relação ao salvamento de
Michel Temer pelo Tribunal das Sentenças Encomendadas.
Diante
disso, acho que pode interessar a alguns deles uma exposição mais detalhada de
como vejo esse acontecimento recente da nossa esquisitíssima política. Não que
me ache capaz de mudar pontos de vista, certamente, sólidos. Apenas aspiro ser
mais bem entendido pelos poucos que se disponham a ler o que segue.
Começo
fazendo uma preliminar. Minha opinião profissional como economista é que, no
presente momento, as consequências de uma renúncia ou afastamento do Sr. Temer
para a estabilidade e/ou lenta retomada do crescimento econômico brasileiro
seriam, exatamente, NENHUMA.
O
"fiador da estabilidade", na atual conjuntura, não é o presidente,
incapaz de fiar sequer a si próprio, mas a convicção bastante generalizada e
imposta pelo medo (ao menos, entre as pessoas que poderiam assumir o comando do
governo, na nova pinguela pós-Temer) de que, se nenhum ajustamento fiscal for
feito (ou, no mínimo, crivelmente prometido), teremos rapidamente a volta da
inflação e o aumento do desemprego.
Se eu
estiver certo nesta preliminar (como acho que estou), a alegação de que salvar
Temer (e, por consequência óbvia, INOCENTAR Dilma e o PT) equivale a salvar a
estabilidade cai por terra. Passo, portanto, à parte mais importante do
argumento.
O Sr.
Michel Temer e os quarenta ladrões que ele escolheu para ministros não compõem
uma nova organização criminosa. Eles são, apenas, uma dissidência (membros
subordinados, vá lá) da mesma quadrilha que nos governa há quatorze anos e
meio. Infelizmente, só existia uma rota constitucional para demitir a
"presidenta" que levara o país à bancarrota. Essa via implicava na
posse do vice-presidente. Não tínhamos escolha. E, cá pra nós, o Brasil
melhorou um bocado depois que a troca foi feita.
O
respeito às leis e, especialmente, à Constituição, mantido durante todo o
processo do impeachment (descontada a falcatrua cometida no apagar das luzes
pela dupla Renan-Lewandowski a favor da desastrada senhora) forneceu o respaldo
moral a nós que fomos às ruas pedir a derrubada de Dilma Rousseff e seus
asseclas petistas.
Não
estávamos lutando para colocar Temer no poder, mas para tirar do poder uma
pessoa que havia cometido crimes. Não tínhamos bandidos de estimação, como os
tem o PT. (Vejam como reagimos às devastadoras recentes denúncias contra Aécio
Neves.) Queríamos, sim, lutar contra a incompetência específica e a roubalheira
generalizada características daquela mulher e do seu bando de marginais.
Se
lutamos contra isso (e vencemos!) recorrendo, estritamente, aos meios legais
disponíveis, como vamos, agora, defender a vergonhosa lambança que este governo
montou no TSE? Como podemos aceitar que a montanha de evidências de que a chapa
Dilma-Temer fraudou as eleições seja ignorada? Não foi exatamente contra isso
(a desconsideração das evidências, ofuscadas pelo discurso de que o impeachment
era golpe) que tão vigorosamente protestamos?
Em
especial, como podemos acreditar na honestidade de um juiz – cujo voto e
condução do processo foram decisivos para a absolvição da chapa liderada por
Dilma Rousseff – se ele, escancaradamente, muda de opinião segundo suas
conveniências momentâneas? Como podemos defender um desfecho processual conseguido
sabe-se lá como, mas conspicuamente fraudulento?
Tô
fora.
(Publicado no
Facebook em 11/6/2017)
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