14 de setembro · Recife ·
Estremeço
ao ouvir ou ler, na mídia, coisas do tipo "em 2016, o PIB brasileiro foi
negativo". Nem todos os radialistas ou jornalistas falam desse modo,
claro, mas, alguns, sim. Pedindo sua permissão, tenho as seguintes observações
a fazer. Se julgarem que, com isso, os estou ajudando, ficarei feliz. É minha
intenção.
O PIB (produto interno bruto) representa uma medida
monetária de tudo o que foi produzido em determinada região durante um dado
período. Falar que "o PIB foi negativo", portanto, equivale a dizer
que o povo desse lugar, como resultado de sua atividade de, digamos, um ano,
produziu uma quantidade com valor inferior a zero de bens e serviços.
Existe
a produção negativa?
Na
verdade, a "desprodução" não é uma impossibilidade teórica. Quando o
socialismo desmoronou, descobriu-se, por exemplo, que muitas empresas da antiga
União Soviética, rotineiramente, destruíam valor. Ou seja, geravam um produto
que, se corretamente medido, valia menos que as matérias primas consumidas em
sua fabricação. "Desproduziam", enfim.
Mas,
com certeza, não é isso o que alguns jornalistas e radialistas querem dizer com
a frase "o PIB brasileiro foi negativo". Deviam falar, então, que a
VARIAÇÃO do produto interno bruto foi negativa. Bem sei que os inesquecíveis
Guido Mantega e Dilma Rousseff viviam prometendo "o pibão" (e
entregando o "pibinho"), mas, tenho certeza, nenhum jornalista ou
radialista sério quer ser equiparado a essa gente.
O
mesmo problema ocorre com as declarações sobre os índices de preços e a sua
variação. "O IPCA foi de 5%", por exemplo, é uma frase sem sentido. A
variação do índice é que pode ter alcançado tal percentagem.
O
caso da "renda zero"
Imprecisões
conceituais (se não essas, outras menos óbvias) também são cometidas por
economistas, quanto ao mais, competentes. No ano passado, ouvi palestra de um
deles. Suas estatísticas mostravam que um enorme número de famílias pobres, no
Brasil, tinham "renda zero".
Coitadinhas
delas. Pois uma família pobre (portanto, com quase nenhum capital para
consumir) cuja renda fosse zero morreria de fome, frio e insolação em uma
semana. O cara tinha contado errado: a renda daqueles pobres podia não ser
igual à de Joesley Batista, mas não era zero, tampouco.
Era
feita de algum dinheiro ganho em biscates (não declarado ao entrevistador),
mais o ensino público gratuito recebido pelos filhos, mais a assistência médica
do SUS, mais a água e energia elétrica supridas de graça por ligações
clandestinas (indefinidamente toleradas), mais os serviços de alojamento
proporcionados por sua casa tosca construída numa invasão, mais o transporte
sem custo oferecido pelo vereador, mais a cerveja paga por um amigo...
"Renda zero" só mesmo em discurso de economista preocupado com o
social.
Não,
caros amigos jornalistas (poucos, ressalvo): o PIB do Brasil em 2016 não foi
negativo. Nem a "nova matriz econômica" conseguiria realizar tal
proeza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário