25 de setembro · Recife ·
Fui
professor durante mais de trinta anos. Em alguns casos, ao receber artigos
ruins para avaliar, redigi pareceres justificando sua rejeição. (Claro que
também houve os bons, cuja publicação recomendei.) Noutros, fui menos paciente.
O exemplo extremo foi o de um candidato a doutor que me entregou texto de sua
autoria. Dali sairia, segundo ele, a futura tese.
O troço era tão ruim que, depois de ler as duas
primeiras páginas, joguei tudo no lixo. Ainda não era o tempo dos arquivos
eletrônicos, de modo que a perda foi definitiva. Quando o aluno se apresentou
de novo, aconselhei-o a tentar outra carreira. Fiz isso sem ser grosseiro, com
a intenção, realmente, de ajudá-lo.
De
certa forma, arrependi-me, pois acabei percebendo que o artigo, a seu modo, era
uma obra prima: tanta asneira em tão pouco espaço! Hoje, só me resta
reconstituir, de memória, se não a letra, pelo menos, o espírito do trabalho.
Ele começava (e prosseguia), mais ou menos, assim:
“A
ofensiva neoliberal promovida pelo capitalismo financeiro e o latifúndio
improdutivo tem sufocado as nações subjugadas desde a assinatura do Tratado de
Tordesilhas, em 1944. (Ou ano próximo. Não posso garantir, por que a CIA
falsificou os documentos.) Devido a essa conjugação de forças antipopulares, a
globalização estende suas garras não apenas sobre a totalidade da Terra, mas do
universo, sendo provas disso o programa espacial da Nasa e a explosão do
foguete brasileiro. Mas, apesar da situação atual desfavorável, as contradições
do modo de produção capitalista determinarão seu inevitável fim...”
PS.
Inspirei-me em Paulo Roberto de Almeida e em seu parecer
(24/9) a artigo que havia recebido para avaliar, uma porcaria laudatória ao
governo Lula.
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