Perdido
na selva quando bebê, foi criado por uma macaca. Em criança, vivia nas árvores,
pulando de galho em galho. Adulto, fez filmes em Holywood. Tornou-se famoso. O
rei dos animais. Ainda está vivo, mas esquecido. Refiro-me a Tarzan.
Gostava de carne e nisso imitava leões, lobos,
hienas e urubus, em ordem decrescente na hierarquia animalesca. Naquela época,
ser carnívoro ainda não era politicamente incorreto. Foi ficando. Para proteger
a reputação, Tarzan passou a comer em segredo.
Certa
feita, entretanto, um repórter investigativo o flagrou. Deu manchete
internacional: "Veja o rei dos animais atracado a uma picanha!". Daí
em diante, sua carreira artística declinou a olhos vistos. Para reanimá-la,
virou vegetariano. Sem resultado.
Passou
a vegano. Não adiantou. Dia após dia, definhava no corpo e no espírito. Perdeu
as forças, o brilho da pele, a agilidade nas árvores. Caía com frequência,
ainda bem que longe das câmeras. Privado de proteínas e da antiga fama,
tornou-se depressivo.
Decidiu
se suicidar. Avisou à família. As parentas protestaram: "de jeito nenhum,
se tá faltando dinheiro, a macacada empresta". A decisão era inapelável,
mas Tarzan queria fazer uma despedida.
Conseguiu
a promessa de que lhe satisfariam o último desejo: comer um churrasco à argentina,
com bife de chorizo, tiras, vacios, lomos, matambre, asado, colita de
quadril... y otras cositas más. Devorou o boi inteiro. Sentiu-se outro. Feliz,
revigorado, confiante em sua habilidade de andar nas árvores.
Adiou
o suicídio. Encomendou outro churrasco para a quarta-feira. Desta vez, à
brasileira. A parentela adorou. Bendita picanha.
(Os
nomes das carnes e a imagem eu os trouxe de Amanda Mormito, Blog Buenos Aires
para Chicas.)
(Publicado no Facebook em 4/8/2017)
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