16 de agosto · Recife ·
“Soy
Roca”, de Félix Luna, (Buenos Aires, Editorial Sudamerica, 1989; edição de
bolso, 2005), é um livro extraordinário. Foi escrito como se fora uma memória
ditada pelo seu personagem central. Impossível resenhá-lo de uma só vez, nas
poucas linhas compatíveis com este espaço. De modo que o farei em pedaços.
Começo com o menos importante dos seus temas: o amor. Ou seria o mais
importante?
Julio Argentino Roca (1843-1914), nascido em
Tucumán (um lugar pobre, à época) começou a vida adulta como militar e a continuou
como político. Seu maior feito nos campos de batalha foi a “Conquista do
Deserto”, em 1879. (A região, habitada por raros índios hostis, não é árida,
mas fértil; compreende os pampas a sudoeste de Buenos Aires e a parte da
Patagônia que se estende até o Rio Negro).
Como
político, Julio foi senador e duas vezes presidente da República (1880-86 e
1898-1904). Em 1872, casou-se com Clara Dolores del Corazón de Jesús Funes y
Díaz (1854-90), filha de uma família importante, com raízes aristocráticas,
embora já não tão rica, de Córdoba.
Viveram
juntos até a morte dela, dezoito anos depois. Eis as palavras atribuídas (não
literalmente) por Félix Luna ao general, já então ex-presidente argentino,
quando da morte de sua esposa:
"Pobre
Clara. Creio que não fui para ela um bom companheiro, mas, certamente, senti
seu desaparecimento como se o chão tremesse aos meus pés. Seus últimos anos
comigo não foram felizes. Era uma autêntica dama cordobesa e não suportava a
humilhação de se sentir enganada. Não compreendia que eu não a traía;
simplesmente gozava de todos os meus triunfos. Se na política e na atividade
militar havia alcançado o topo, por que haveria de negar-me a desfrutar
conquistas que me eram tão atrativas quanto as do Deserto e da
Presidência?" (pág. 269, edição de bolso).
O
casal teve seis filhos: um homem e cinco mulheres. Clara cumpriu bem seu papel
protocolar e o de mãe, sem que o marido jamais tivesse arrebatamento por ela.
Para Julio Roca, tudo seria diferente com Guillermina María Mercedes de Oliveira
Cézar y Diana (1870-1936).
(Continua
em "Julio e Guillermina: Um romance argentino do século XIX, Segunda
Parte")
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