23 de setembro · Recife ·
Carlito
Lima, cronista das Alagoas, escreveu um livro agradável: "Viventes de
Maceió" (Recife, Nossa Livraria, 2006, 208 pp.) Ainda mais para mim, que
me considero uns vinte por cento maceioense, também gosto de memórias, e não
devo ter idade muito diferente da dele. Por "agradável" quero dizer
"bom".
Impressiona,
acima de tudo, a quantidade de personagens. Nas cinquenta crônicas-capítulos,
Carlito fala, seguramente, de cem amigos ou conhecidos. Alguns, parentes meus,
como os irmãos Arnoldo e Humberto, o primo Mano — os três, Gomes de Barros —,
além de Creusa Maia Gomes Jatobá "esposa do eminente médico Aderbal Jatobá
e mãe de Aderbalzinho, o Jacaré Dourado" (pág. 113).
Sem
contar um certo Beroaldo "Quaresma" (pág. 129) que bem poderia ser
(mas, parece que não é) Beroaldo Maia Gomes, de saudosa memória. (Embora seja
difícil acreditar que existissem duas pessoas com esse nome em Maceió, ao mesmo
tempo.)
Humberto
Gomes de Barros (pág. 104) nem é citado nominalmente, porém, pelas referências
à sua posição de "egrégio ministro em Brasília", se torna
identificável como o presidente de uma certa "associação de
conquistadores" de moças simples e suscetíveis a beijos e abraços, coisa
difícil de conseguir, nos anos cinquenta, das namoradas oficiais.
Como
ele era (em 2006, quando o livro foi escrito) ministro do Superior Tribunal de
Justiça, Carlito deve ter preferido resguardá-lo. Nem precisava, pois, em seu
próprio livro de memórias, Sexta-feira 13, que já resenhei aqui, Humberto
(falecido em 2012) conta travessuras de rapaz piores que essa.
Já
o irmão é mencionado abertamente, numa história engraçada, das muitas que
Carlito Lima nos conta. Ele fazia sua caminhada pela orla de Jatiúca, quando
encontrou "Arnoldo Gomes de Barros, meu oculista. Passou-me óculos tão
bons que os guardei para não ver o que o tempo está fazendo com as meninas de
minha geração" (pág. 68).
Há
várias outras passagens especiais, para mim que amo Maceió. Durante uns vinte
anos, mais ou menos, era onde passava as férias, na companhia, principalmente,
de meus parentes Pedrosa. Por exemplo: "No final da década de 60, o
Zinga-Bar tornou-se referência cultural na cidade. A partir do Zinga as moças
casadoiras (...) começaram a frequentar as boates" (pág. 48). Fui várias
vezes lá. Numa delas para viver o sonho de uma noite de verão que, um dia,
também contarei.
"O
cinema", diz Carlito Lima no livro, "foi outra grande diversão da
moçada. Eram cinco no circuito da cidade: Rex na Pajuçara, Plaza no Poço, Lux
na Ponta Grossa, Ideal no Vergel do Lago e Cinearte, mais tarde São Luís no
centro" (Pág. 105). Conheci o Cinearte-São Luís e o Plaza. Este último
ficava em frente à praça do Poço, mesmo lugar onde morava minha prima Carolina
Dias Cardoso (recentemente falecida). Bairrista, Carolina dizia sem ruborizar
que o Plaza tinha "a melhor projeção do Brasil".
Um
dos "viventes" de Carlito Lima era Sandoval Caju (pág. 107). Dele me
lembro bem. Radialista popular, elegeu-se prefeito de Maceió, no início dos
anos 1960. Teve o mérito de arrumar todas as praças da cidade, as quais
equipava com bancos de pedra desenhados na forma de S. Acho que, na Praça do Centenário,
ainda é possível encontrá-los.
Sandoval
foi cassado pelos militares, logo após 1964. Como sempre, os motivos da
cassação não foram apresentados ao público, nem se lhe deu o direito de defesa.
Sandoval era um tipo peculiar, um dos primeiros radialistas (e, mais tarde,
gente de TV) a perceber que sua notoriedade era um capital político. No plano
pessoal, circulava a informação de que ele tinha um filho com o nome de Morango
Pêssego de Araçá Caju, mas isso, eu soube depois, era mentira.
As histórias são muitas. Não apenas para os
alagoanos, como meu irmãoIvan Pedrosa Maia Gomes, e os quase-alagoanos,
como eu, Viventes de Maceió é um livro que merece ser lido.
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