16 de setembro · Recife ·
Eva Peron saudando a multidão. Foto colhida na internet. |
O
filme argentino "Eva não dorme", que vi ontem no belíssimo cinema São
Luís do Recife, merece um comentário sério. Por que, então, comecei esta
resenha instando a mulher a despertar? Depois eu conto. Por ora, digo que
gostei do filme, com ressalvas.
Na verdade, apreciei muito as cenas reais, que
mostram o impressionante carisma de Evita (1919-52), assim como seu discurso
primitivo, povoado de slogans iguais aos que Nicolás Maduro repete hoje na
Venezuela. Ou o gordinho sinistro, na Coréia do Norte. (Burrice e populismo são
para sempre.)
Gostei
menos dos 80% feitos com atores contemporâneos. A história da mulher que virou
uma múmia ambulante, superlativamente cinematográfica, não carecia de enfeites
inseridos para agradar os críticos -- gente que lê filósofos franceses e elogia
filmes que ninguém entende. (Não chega a ser o caso deste, tanto que a Folha de
S. Paulo apenas o considerou “muito bom”.)
Como
um de seus cacoetes, os cineastas sedentos de elogios colocam discursos
contemporâneos na boca de quem viveu em outros tempos. Por exemplo: sequestrado
por guerrilheiros comunistas, em 1969, e submetido a um “tribunal
revolucionário”, o general Aramburu (que derrubou Perón em 1955 e virou
ditador, em seguida), justifica-se, no filme, dizendo que seu governo havia
“reduzido o tamanho do Estado e da assistência social”. Um verdadeiro Michel
Temer, sem a respectiva quadrilha.
Ah,
ia esquecendo do “acorda pra cuspir”. Era repetindo este bordão que nosso pai
Mauro (meu e de Ivan, com quem fui ao cinema) nos tirava da
cama nas manhãs de férias em Monte Verde, a fazenda da família, em Branquinha,
Alagoas. Nunca soube o que ele queria mesmo dizer com a frase, mas que ela
funcionava, não tenha dúvida. Acorda pra cuspir, Evita!
(EVA
NÃO DORME. Pablo Agüero, diretor. Com Gael García Bernal, Denis Lavant, Imanol
Arias. Produção argentina, 2015.)
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