Um
amigo, cujo nome omito, pois a mensagem foi enviada privadamente, me pede para ler
seu texto ("Crony capitalism: more Mises, less Keynes", ou
"Capitalismo de compadres: mais Mises, menos Keynes"), publicado em
blog dos Estados Unidos.
Mandei-lhe minhas observações, que reproduzo em
seguida, pois elas podem interessar a algum colega de profissão. O assunto,
claro, comportaria tratamento muito mais extenso, algo que não me disponho a
fazer agora. Esta foi a minha carta-resposta.
Caro
amigo:
Li
seu texto. Em geral, concordo com as ideias ali expostas. Entretanto, eu teria
mais cuidado em atribuir a Keynes (mesmo que implicitamente) coisas que ele não
disse e com que, provavelmente, não concordaria.
Nos
25 anos que se seguiram ao fim da II Guerra, praticamente todos os economistas
ocidentais se diziam "keynesianos". Alguns, com fundamento; outros,
sem nenhum. Usou-se o rótulo "keynesiana" até para receitas de
desenvolvimento econômico, o que teria feito o economista inglês revirar-se no
túmulo. Vem à mente aquele bordão rodrigueano: toda unanimidade é burra.
Uma
coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. No mundo em que Keynes viveu, a
Grande Depressão pode até ter sido provocada ou agravada por erros de política
monetária (segundo M. Friedman e A. Schwartz sustentaram), mas foi vencida (em
alguns casos, como o da Alemanha nazista, antes mesmo de aparecer a Teoria
Geral) pela política fiscal expansionista. Deixada ao sabor do mercado, a crise
teria, provavelmente, se prolongado muito mais. Havia, então, escassez de
governo.
(Deixemos
de lado a Alemanha de Hitler.) Desde meados da década de 1970, em contraste, o
mundo ocidental (para não falar da URSS, China, Índia e afins) passou a ter
excesso de governo. É nesse contexto que a crítica liberal produzida por
pessoas ou grupos de pessoas como Friedman e a Escola Austríaca se torna
relevante.
Esse
é o mundo em que continuamos a viver. Portanto, devemos, sim, acho eu, escutar
mais economistas como Mises e Hayek. Há muitos anos, eles nos alertavam do
perigo: governo demais só poderia gerar ineficiência e este capitalismo de
companheiros que nos atormenta hoje.
Mas,
tenha certeza, fazer o BNDES dar todo o dinheiro do mundo aos Irmãos Carniça
(Joesley et al) jamais teria sido uma política aprovada por Keynes.
Abraço,
Gustavo
Maia Gomes
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