quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

A CHARADA


Gustavo Maia Gomes

Naquele grupo de amigos, houve o tempo das brincadeiras com palavras. Um desafiava os outros perguntando: — Quem é o tio da parede? (Tio Jolo) — A mãe da comida? (Mãe Teiga) — Quem toma conta da mesa? (O guarda Napo)— Quem isso? — Quem aquilo?

Eram Zezinho, Reinaldo, Gilberto, Jairo, Glauber, Lula... Não quero lhes dar os nomes completos. Ivan, meu irmão, também se juntava ocasionalmente à turma. Assim como eu. Morávamos em Casa Amarela, um bairro do Recife. Anos mil novecentos e sessenta.

Cada um tinha seus hábitos e costumes próprios. Coisa normal, exceto em um caso: o do amigo que exagerava as histórias. Por exemplo, dizia ele que, de tão grande, o rebanho de seu pai não podia ser contado.

Lá se vendia bois de outro jeito: o comprador encostava o caminhão na porteira aberta e pagava por quinze, vinte minutos de bois. Os que saíssem do cercado e subissem na boléia estariam vendidos.

Um dia, um amigo perguntou: — Quem são os três reis? O da estrada, o dos animais e o da mentira? — Estava lançado o desafio. Os demais foram respondendo: — Rei Torno (da estrada). — Rei Nocerante (dos animais).

Mas ninguém atinou com o rei da mentira. O desafiante não o disse, tampouco, e cada um foi para sua casa. Quando se reuniram, na noite seguinte, todos, menos um, haviam matado a charada: o rei da mentira era Reinaldo.

(Publicado no Facebook, 13/10/2019)

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