Gustavo Maia Gomes
Naquele grupo de amigos, houve
o tempo das brincadeiras com palavras. Um desafiava os outros perguntando: —
Quem é o tio da parede? (Tio Jolo) — A mãe da comida? (Mãe Teiga) — Quem toma
conta da mesa? (O guarda Napo)— Quem isso? — Quem aquilo?
Eram Zezinho, Reinaldo,
Gilberto, Jairo, Glauber, Lula... Não quero lhes dar os nomes completos. Ivan,
meu irmão, também se juntava ocasionalmente à turma. Assim como eu. Morávamos
em Casa Amarela, um bairro do Recife. Anos mil novecentos e sessenta.
Cada um tinha seus hábitos e
costumes próprios. Coisa normal, exceto em um caso: o do amigo que exagerava as
histórias. Por exemplo, dizia ele que, de tão grande, o rebanho de seu pai não
podia ser contado.
Lá se vendia bois de outro
jeito: o comprador encostava o caminhão na porteira aberta e pagava por quinze,
vinte minutos de bois. Os que saíssem do cercado e subissem na boléia estariam
vendidos.
Um dia, um amigo perguntou: —
Quem são os três reis? O da estrada, o dos animais e o da mentira? — Estava
lançado o desafio. Os demais foram respondendo: — Rei Torno (da estrada). — Rei
Nocerante (dos animais).
Mas ninguém atinou com o rei
da mentira. O desafiante não o disse, tampouco, e cada um foi para sua casa.
Quando se reuniram, na noite seguinte, todos, menos um, haviam matado a
charada: o rei da mentira era Reinaldo.
(Publicado
no Facebook, 13/10/2019)
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