Gustavo Maia Gomes
De hoje em diante, quando
alguém me tachar de conservador, racista, homofóbico ou outra dessas coisas
terríveis, vou lhe responder na bucha:
– Mas, eu visitei o Memorial
Zumbi e você, não.
Fui, vi e voltei. Iniciativa
bonita e louvável, o parque nos faz refletir sobre a história. Nesse espírito,
imaginei a seguinte cena. Domingos Jorge Velho reuniu seu exército próximo à
Serra da Barriga. (É onde fica o Memorial.) Nas incursões preliminares, vários
habitantes de Palmares já haviam sido mortos. Há a iminência de um ataque
devastador.
Eis que, ninguém sabe de onde,
aparece mais um escravo fugido. Ele é diferente dos outros, pois se formou em
Sociologia. Está ali, participando de um momento terrível, mas sem esquecer os
conhecimentos adquiridos na Sorbonne.
Zumbi se dirige aos seus
comandados, num tom de grande emoção:
– Nós negros jamais nos
renderemos!
Há muitas manifestações de
apoio. O sociólogo, porém, discorda:
– Não somos negros, somos
afrodescendentes.
Os homens se espantam: o que é
aquilo? Uma palavra mágica capaz de salvar o quilombo? A senha para o
contra-ataque? A certeza de que, inexistindo negros e brancos, não poderia
haver guerra entre eles, de modo que Domingos Jorge Velho devia ser apenas um
bandeirante aposentado querendo fazer amigos?
A ilusão se acaba quando Zumbi
reage à provocação:
– A gente aqui f... e esse
cara vem com frescura.
(Publicado
no Facebook, 16/9/2019)
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