Gustavo Maia Gomes
Dos anos
quarenta até 1991, quando Marcos morreu, os casais Mauro-Stella e
Marcos-Carmita foram vizinhos, sucessivamente, em dois bairros recifenses. Os
filhos que iam nascendo se tornaram amigos. Em um caso, primeiro, namorados; em
seguida, marido e mulher.
Pode ter sido um
erro (para Groucho Marx, a principal causa do divórcio é o matrimônio), mas
durou três décadas, depois do quê cada qual tomou seu rumo. O cisma traumático,
entretanto, gerou desgastes insuperáveis nas amizades da segunda geração.
Mesmo assim, o
entrelaçamento das duas famílias perpetuou-se nos netos e bisnetos comuns e na
proximidade das casas de Mauro-Stella e Marcos-Carmita originalmente iguais,
coladas uma à outra, e ainda pertencentes aos filhos dos seus antigos donos.
Até ontem.
Compradas ambas em 1950, uma das casas passa agora para mãos desconhecidas que,
possivelmente, a derrubarão. É como se a história de Mauro-Stella,
Marcos-Carmita, após setenta anos, finalmente, devesse terminar.
Os relógios de
Einstein andam mais lentamente quando em movimento. Nenhum deles, porém,
conseguiu até hoje dar marcha-ré, deter o tempo, ou parar a História. Seja em
qualquer outro lugar do mundo, seja no Alto do Céu.
[PS. Depois de
Marcos (1991), faleceram Mauro (1997), Stella (2001) e Carmita (2010). Os
filhos deles que se casaram em 1972 e se separaram em 2000 ainda estão vivos.
Desses, Mauro-Stella e Marcos-Carmita tiveram cinco netos e três bisnetos.]
(Publicado
no Facebook, 29/8/2019)
Nenhum comentário:
Postar um comentário