Gustavo Maia Gomes
Perguntei a jovens instruídos:
"Já ouviu falar em Francisco Julião?" Responderam-me:
"Não". Lamentável. Pois, nos anos 1955-64, o pernambucano Francisco
Julião Arruda de Paula (1915-99) foi uma das personalidades políticas mais
importantes do país. Teve os direitos políticos cassados logo após a derrubada
de João Goulart. Fugiu da perseguição policial, mas foi capturado e preso em
junho de 1964.
Julião formou-se (em 1939)
pela Faculdade de Direito do Recife, na mesma turma de meu pai. (Que o visitou
na prisão, num gesto de coragem, embora os dois jamais tivessem tido maiores
ligações.) Advogava de graça em favor dos camponeses. Isso lhe deu visibilidade
para se tornar, um pouco adiante, primeiro, deputado estadual, em seguida,
federal.
Pela sua liderança no campo,
os serviços de informação norte-americanos o consideravam um potencial Fidel
Castro brasileiro. De fato, os dois tinham muitas afinidades ideológicas. Tanto
que, escrevendo da prisão para sua filha recém-nascida, Julião disse: "só
de uma coisa não me despojaria, Isabela, para te ter nos braços: de minha
dignidade de revolucionário".
Professar a crença na
"Revolução" (à moda de Marx, Engels, Lênin, Mao, Stálin ...) como um
substituto terrestre do desacreditado paraíso celestial era menos absurdo então
do que viria a ser depois, quando se tornou inegável que os governos comunistas
ou socialistas não passavam de ditaduras sanguinárias produzindo gigantescos
fracassos econômicos.
Não é estranho, portanto, que
Julião tenha seguido aquela moda. (Eu próprio fui, também, parcialmente
atingido por ela, na mesma época.) Penso, entretanto, que o seu legado mais
importante à posteridade não foi a fé na Revolução, mas a integridade moral que
sempre demonstrou ter. Mesmo quando estava flagrantemente errado em suas
posições políticas.
Cláudio Aguiar ("Francisco
Julião: a Biografia", Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2014)
escreveu um livro valioso, ganhador de prêmios. Só agora o li. Recomendo que
façam o mesmo os interessados na história política recente do Brasil.
(Publicado
no Facebook, 24/1/2020)
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