Gustavo Maia Gomes
Em 1985-86, fui Coordenador de
Planejamento Global do Ipea-Iplan (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
/ Instituto de Planejamento), à época vinculado à Secretaria de Planejamento da
Presidência.
O cargo tinha esse nome
pomposo, mas importância nenhuma. Contudo, deu-me oportunidades de participar
de discussões relevantes sobre a economia brasileira de então. Sabíamos todos
que o nosso problema maior, herdado do regime militar, era a inflação.
A resposta inicialmente dada
pelo governo Sarney foi o Plano Cruzado, um reles congelamento de preços.
Enganou muita gente. No primeiro momento, inclusive, a mim. Detesto ter errado
daquela forma. Claro, eu não estava só. Muitos economistas, embalados por uma
teorização defeituosa, acreditavam que se podia extinguir a inflação alucinada
com um passe de mágica.
Mas isso não me conforta.
Melhor é me refugiar na certeza de que não participei da elaboração daquilo.
Eis a prova do que estou dizendo: três dias antes do Plano Cruzado (28/2/1986),
eu estava em Manaus. E reverberando, em entrevista, as medidas inócuas com as
quais o ministro da Fazenda camuflava a iminência do congelamento.
Deixaram-me ir a Manaus,
naquela semana. Dificilmente se poderia imaginar um lugar mais longe de
Brasília. Fiquei sabendo do Plano Cruzado pela televisão. Não foi ideia minha.
(Publicado
no Facebook, 3/12/2019)
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