Gustavo Maia Gomes
Quero falar dos Maias meus
parentes e começo com a piada muito popular no passado, mas hoje esquecida.
Havia na redação de alguns jornais o busto representando Eça de Queiroz
(1845-1900). Todo foca, ou seja, repórter iniciante, perguntava: – “Quem é
esse?” E ouvia em resposta: – “Não é esse, é Eça”.
Acontece que “Os Maias” é um
livro do escritor português. Foi isso que me fez recordá-lo. Ele e Machado de
Assis (1839-1908) eram rivais. E aí me lembro de outra piada infame. nosso
romancista maior havia acabado de morrer. Nas redações, repetia-se o seguinte
diálogo: – “Sabe do Machado?” – “Não” – “Foi-se”.
O alagoano Floriano Peixoto
(1839-95) – cuja esposa havia nascido em Branquinha (AL) –, era proprietário de
três engenhos nessa região desbravada, entre outros, pelos Maias e os Maia
Gomes: Duarte, Itamaracá e Riachão da Serra (Murici Web).
Vivendo desde há muito no Rio
de Janeiro, o militar precisava ter quem cuidasse de suas terras em Alagoas. No
caso do Riachão da Serra, a pessoa escolhida foi seu amigo (e primo em primeiro
grau da mulher de Floriano) Antônio Fernandes Lins (?-?) . Os dois homens
terminaram virando sócios e coproprietários da fazenda.
Foi com o casamento de João
Fernandes Lins (1903-97, filho de Antônio) e Julieta de Oliveira Maia (1903-93)
que os Maias entraram nessa história. João e Julieta foram avôs de Ricardo
Ferreira de Souza Maia, fonte de muitas informações sobre seus ancestrais – de
certa forma, também meus – que utilizarei no livro “Uma Noite em Anhumas”.
Contou-me Ricardo, baseado em
lembranças de sua tia Geralda Maia Fernandes, que “em algum momento − talvez
por volta do final dos anos 1940, ou inícios dos 1950 −, um genro de Floriano
Peixoto procurou [João Fernandes Lins] para negociar a venda da parte herdada
do Riachão da Serra, que ainda pertencia ao [espólio do] marechal. Meu avô
materno, [que havia sucedido o pai dele na administração da fazenda] veio então
a comprá-la”. Riachão da Serra permaneceu com os Maias até este ano (2019).
Muito antes disso, em 1945, o
Diario de Pernambuco anunciou que a propriedade estava à venda. Devia ser o tal
genro de que fala Ricardo. Ele, provavelmente, também estava buscando no Recife
compradores para sua herança. (Embora o endereço de contacto fosse em Maceió.)
Pelo visto, apesar de quase
centenária, Tia Geralda tem melhor memória que alguns jovens conhecidos meus.
Que assim continue por muito tempo. Também sou grato a Ricardo Maia por me
trazer de bandeja tantos fatos interessantes sobre seus avôs, bisavôs, pais,
irmãos e tios.
Foi por isso que escrevi, em
“Uma Noite em Anhumas”: “Há os Maias de Eça e os Maias de Ricardo”. Tá bom que
o romancista português fosse um consumado mestre, mas, eu não troco as
histórias de Branquinha pelas de Lisboa.
(Publicado
no Facebook, 13/12/2019)
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