Gustavo Maia Gomes
Foi meu pai quem primeiro me
falou sobre ele. Eu era um menino. Embora nascidos em lugares próximos um do
outro – Jorge em União, Mauro em Branquinha –, os dois tinham idades distantes.
Provavelmente, nunca se encontraram.
Mesmo assim, ao falar em Jorge
de Lima (1893-1953), Mauro se sentia próximo dele. Talvez, traindo uma inveja
longínqua, pois meu pai, na juventude, também escrevera seus versos (algum
estudante de Direito, nos 1930, não o fez?) e havia sonhado com uma carreira
literária.
Dois ou três anos depois
daquela conversa, Mauro comprou um disco fonográfico: “Essa negra Fulô”. Alguém
havia musicado o poema de Jorge de Lima, que começa assim:
Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
chamada negra Fulô.
(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
chamada negra Fulô.
Ao perceber meu ar de espanto
ouvindo aquilo, minha mãe, Stella, explicou:
– Jorge de Lima. Poeta
importante. Alagoano.
Sou um leitor inconstante de
poesias. Conheço poucas. Mas, simpatizei com este soneto dele. Cito só um
fragmento:
Lá vem o acendedor de lampiões
da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!
Quase vinte e cinco anos
separam os dois poemas. (“O acendedor de lampiões” foi escrito em 1906, quando
Jorge tinha treze anos.) Os estilos são, também, diferentes. Mas, gosto de
ambos. Dizem, porém, que sua obra prima é "Invenção de Orfeu".
O Brasil esqueceu Jorge de
Lima. Eu, inclusive. Mas, quando voltei as vistas para União dos Palmares,
lembrei-me das coisas ditas por Mauro e Stella. E reencontrei o poeta. Quase ao
vivo.
Em 7 de setembro de 2019,
com Cassio Silva, Genisete Lucena
Sarmento, Carla Theresa Borba Leite, Iremar Marinho e João Paulo Farias –
todos palmarinos ou residentes na cidade – Lourdes Barbosa e eu visitamos o
memorial Jorge de Lima em União dos Palmares.
É a casa onde ele nasceu e
morou por uns anos. Ainda bem que está de pé, razoavelmente, conservada. Viva a
Negra Fulô, o Acendedor de Lampiões, Orfeu. Viva Jorge de Lima.
(Excerto do livro “Uma Noite
em Anhumas”, com publicação prevista para 2020.)
(Publicado
no Facebook, 13/11/2019)
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