Gustavo Maia Gomes
O Palace foi o primeiro hotel
de luxo em Salvador. Hospedava os coronéis do cacau e era muito procurado pelos
políticos. “Reinou absoluto de 1934 até 1952, [quando foi] ultrapassado pelos
confortos mais modernos do Hotel da Bahia”. (João Zuccaratto.)
Não apenas pelos “apartamentos
amplos, banheiros exclusivos, elevadores de última geração, ramais telefônicos
em todas as unidades e outros serviços” do concorrente. Também pela decadência
do antigo centro comercial de Salvador.
Em 2003, o hotel fechou. Dez
anos depois, Antônio Mazzafera decidiu ressuscitá-lo, com a velha imponência e
uma nova marca: Fera Palace Salvador Hotel. (Achei o nome horroroso. Conhecendo
a história, entretanto, ele se torna palatável: o “Fera”, no caso, não remete a
tigres, leões, ursos ou leopardos, mas ao nome do empresário.)
Maravilha. “Os empreendedores
patrocinaram um retrofit na edificação, preservando características externas,
detalhes internos e essência original, às quais foram agregados confortos
necessários da modernidade”. (“Retrofit” é de lascar, mas não fui eu quem
escreveu isso.)
O projeto de reforma, do
arquiteto Adam Kurdahl, procurou “recuperar tudo de original possível”. Diz
Zuccaratto, citando Kurdahl: “restauramos cada detalhe das suas 629 janelas,
3.500 metros quadrados da fachada, adornos Art Déco e piso de taco e de
mármore, combinação de arte, beleza, funcionalidade e originalidade”.
Foram preservados ao máximo os
elementos originais do empreendimento. “Mas se, na configuração antiga, havia
toaletes de uso comum, feminino e masculino, por andar, agora cada quarto tem o
seu, exclusivo”. E carregador USB para celulares, caixa de som, cofre de
fechadura digital, despertador, minibar, secador de cabelo e TV.
Estivemos lá, Lourdes e eu.
Barato, não é, nem poderia. Notamos pequenas deficiências nos serviços. A
comida do Restaurante Lina (onde jantamos com os amigos Waldeck Ornelas e Luiz
Carreira) não nos impressionou . Nada disso, entretanto, comprometeu terrivelmente.
O Fera retribuiu com sobras o
que lhe pagamos. Sem ele, não teríamos sonhado com as histórias do cacau, nem
sabido o que Jorge Amado diz do velho Palace Hotel em “Dona Flor e seus Dois
Maridos”.
Fonte das citações: João
Zuccaratto, “Cidade de Salvador recupera antigo ícone da hotelaria de luxo com
Fera Palace Hotel”, em https://www.turismoria.com.br/…/cidade-de-salvador-recuper…/ postado
em 18/10/2016.
(Publicado
no Facebook, 21/9/2019)
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