Gustavo Maia Gomes
Além de poeta com fama
nacional, Jorge de Lima (1893-1953) era um clínico conceituado em Maceió.
Quando, em União (hoje, União dos Palmares), Basiliano Sarmento (1846-1931), o
homem mais rico de Alagoas, estava prestes a morrer, mandou chamá-lo.
Para seu auxiliar, Jorge
convidou o médico João Florêncio Filho, o único que residia na cidade.
Basiliano morreu em três dias. Pouco depois, o assistente apresentou uma fatura
de cinquenta contos de reis. Assustado, o curador do espólio recusou-se a
pagá-la.
Cinquenta contos era uma
pequena fortuna. Equivaleria, hoje, a uns 500 mil reais. Frustrado no seu
intento de enriquecer instantaneamente, João Florêncio requereu, então, o
arbitramento de seus honorários e, tendo os peritos avaliado os serviços nos
mesmos cinquenta contos, ele voltou a cobrar aquele valor.
Seguiu-se uma batalha judicial
entre, de um lado, o curador do espólio e a fazenda estadual (Basiliano não
tinha herdeiros conhecidos; num primeiro momento, seus bens foram recolhidos
pelo Estado) e, de outro, o médico reclamante.
No final desse primeiro ato, o
juiz mandou o espólio pagar oito contos de reis a João Florêncio. Cerca de R$
80 mil, na moeda de hoje. Mas, o médico não aceitaria tão pouco. Apelou para o
Tribunal Superior de Alagoas.
Ao fazê-lo, julgou ter na
manga uma carta decisiva: os honorários pagos a Jorge de Lima. Cem contos!
Isso, contudo, não sensibilizou os juízes: “Se houve razões de direito para
justificar tão elevada soma — disseram eles —, essas razões não ocorreram em
relação ao requerente”.
No final, decidiu o Tribunal
Superior que o espólio de Basiliano Sarmento pagasse a João Florêncio Filho
três contos e quatrocentos mil reis. Trinta e quatro mil reais de hoje, na
avaliação mais otimista. O homem ficou arrasado, mas teve de se conformar.
Quem mandou João Florêncio
Filho não se chamar Jorge Matheus de Lima?
REFERÊNCIA: “Justiça Estadual.
Tribunal Superior de Alagoas. Apelação Cível (União). Primeiro Acórdão,
12/8/1932”. Jornal do Commercio (RJ), 17/6/1933. FOTO: O casarão onde viveu e
morreu o argentário Basiliano Olíbio de Mendonça Sarmento. Dele só existe,
hoje, o portão ao lado. Foto colhida na internet, sem indicação de autor.
(Publicado
no Facebook, 19/11/2019)
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