Gustavo Maia Gomes
Quando, nos
primeiros anos 1960, comecei a me interessar por economia, sob a influência do
inesquecível tio Hermano Cardoso Pedrosa (1920-2004), duas palavras
sintetizavam boa parte das preocupações minhas e dos brasileiros: Revolução e
Desenvolvimento.
Uma emanava de
Karl Marx (1818-83) e seus discípulos; a outra era invenção recente de
economistas como Simon Kuznets (1901-85), W. Arthur Lewis (1915-91), W. W.
Rostow (1916-2003), Raul Prebisch (1901-86) e Celso Furtado (1920-2004).
Por trás das
duas ideias, havia o sentimento de insatisfação com a pobreza do povo e a
crença de que era possível eliminá-la. Isso se alcançaria pela redistribuição
da renda e riqueza, pelo crescimento da produção e, mais frequentemente, por
uma combinação das duas.
A opção
revolucionária se nutria da rápida industrialização da Rússia conseguida pelo
regime comunista. Daí o respeito que os planos quinquenais de Stálin passaram a
ter na discussão política e econômica.
Já os defensores
moderados do desenvolvimento temiam os custos da revolução, advogando a
estratégia reformista. Curiosamente, esses também tinham um Plano (Marshall), o
da reconstrução europeia, com que se confortar.
Eu defendia a
revolução; Hermano, o desenvolvimento.
Quase 60 anos
depois das conversas entre meu tio e eu, no terraço superior da Rua Albino
Magalhães, 81, Farol, Maceió, declaro aqui sua vitória. Houve amplo e
generalizado desenvolvimento econômico no mundo, depois da Segunda Guerra. A
pobreza caiu, a expectativa de vida cresceu, o número relativo de pobres
despencou. E isso dependeu muito pouco de revoluções.
Houve
desenvolvimento medido não apenas pelo crescimento do produto per capita (de
que os gráficos reproduzidos dão testemunho), mas também pela melhoria dos
indicadores sociais relevantes, como se pode constatar no mesmo site Our World
in Data de onde tirei as figuras anexas.
É verdade que em
alguns países também houve revolução. Essa, entretanto, mais prejudicou do que
favoreceu os pobres. Basta comparar a China de Mao Zedong (1893-1976) – que
matou de fome quase cem milhões de compatriotas entre 1957-62 (“Grande Salto
para Frente”) e 1966-76 (“Revolução Cultural”) – com a de Deng Xiaoping
(1904-97) – cujas reformas pró mercado e capitalistas promoveram o
desenvolvimento e tiraram da pobreza mais de um bilhão de chineses.
A União
Soviética, por seu turno, revelou ser uma fraude. Sua indústria tinha custos
tão altos que só pôde ser implantada e só poderia funcionar num ambiente de
guerra (ou de ferrenha ditadura, o que dá no mesmo). Quando a guerra acabou e,
muito depois, a tirania tornou-se insustentável, o regime caiu e o mundo
constatou que a pobreza ali ainda era generalizada.
Hermano venceu.
(Publicado
no Facebook, 19/8/2019)
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