Gustavo Maia Gomes
Minha breve carreira de
jornalista começou em 1967. A revolução (principalmente) gráfica iniciada pelo
Jornal do Brasil ainda era coisa recente. Para ter uma ideia de sua
importância, basta dizer que os jornais à moda antiga eram “formatados” (o
termo ainda não existia) de maneira tão inepta que o leitor dispendia mais
tempo procurando as notícias do que, propriamente, as lendo.
Isso, por várias razões
específicas.
(1) Tipicamente, uma matéria
era composta de pequenos pedaços distribuídos aleatoriamente. Podia começar na
página três, continuar na sete e terminar na dois. Onde houvesse um buraco
aberto, em qualquer página, o editor punha o pedaço da notícia que tinha
sobrado dos buracos já fechados. E o leitor que se virasse.
(2) Não havia preocupação com
a harmonia geométrica, por assim dizer. Se o título da matéria tivesse quatro
colunas, o seu corpo podia começar com quatro, ou duas, ou três. E continuar
com uma coluna, ter mais abaixo quatro, no prosseguimento, três. Ou seja, a
gente pensava que tinha lido uma coisa e só depois descobria que tinha lido
outra.
(3) As colunas de texto eram
dispostas tão proximamente umas das outras que se tornara necessário separá-las
por linhas verticais. Uma das inovações mais simples e impactantes feitas pelo
Jornal do Brasil foi afastar as colunas e substituir as linhas pretas por
espaços em branco.
A revolução gráfica (mas,
também, linguística -- sobre isso posso falar em outra ocasião) de 1959
inaugurou o que chamo aqui de novos tempos da imprensa. Mas, o que era novo —
os jornais dos anos 1960-70 —, tornou-se antigo na nossa era atual radicalmente
moderna. Ninguém desconhece que o computador e a internet criaram um mundo tão
diferente para a “imprensa” que nem de “imprensa” ela pode mais ser chamada.
Nesse sentido, não obstante as
opiniões em contrário (sei, por exemplo, que Vandeck Santiago aposta na
sobrevivência do jornal impresso), estou convencido de que, em breve, ninguém
mais lerá notícias escritas em papel. Eu próprio, já fiz várias tentativas de
aderir exclusivamente à mídia eletrônica. Chegados somos aos “novíssimos
tempos”.
Mesmo? Esses sites de jornais
ou semelhantes que pretendem ser maravilhas tecnológicas são, em muitos
aspectos, piores do que os jornais antigos. Têm concepção estética (layout)
desagradável, os textos demoram a ser abertos, dão intermináveis pulos na tela,
são, subitamente, ocultados por anúncios; não trazem a data em que foram
postados (portanto, muitas vezes, lemos notícias velhas pensando que são
novas).
E por aí vai. De certa forma,
reinventamos o surrealismo inconfessado dos buracos abertos e fechados. Quando
teremos a revolução gráfica na “mídia” eletrônica? A permanecer desse jeito,
vou terminar dando razão a Vandeck Santiago.
(Publicado
no Facebook, 2/9/2019)
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