Gustavo Maia Gomes
Como alguns sabem, estou
escrevendo um segundo livro sobre a história do Nordeste açucareiro contada
pelas biografias de parentes meus. O primeiro (“O Trem para Branquinha”,
Recife, Cepe, 2018) foca nos anos 1800 e na metade inicial do século XX. Este
(“Uma Noite em Anhumas”, com previsão de publicação em 2020) cobre os anos
1875-2012. Há sobreposição de períodos, sim, mas isso é justificado em outro
lugar.
Para compreender melhor as
histórias dos personagens, interessa-me acompanhar as transformações
econômicas, sociais e políticas da civilização açucareira e sua eventual
superação pelas cidades. Isso tem sido feito (inclusive, por mim) de inúmeras
formas. A que apresento agora é complementar, tem pretensões limitadas, mas não
deixa de lançar luz sobre a realidade que quero conhecer.
Selecionei 13 palavras
(Açúcar, Comunismo, Comunista, Coronel, Eleição, Eleições, República,
Republicano, Revolta, Revolução, Senhor de Engenho, Usineiro) e perguntei ao “Diario
de Pernambuco” (via Biblioteca Nacional) quantas vezes elas haviam sido
escritas em suas sucessivas edições. Examinei todas as décadas, desde 1850-59
até 1980-89, agrupei os resultados por palavras e dividi o número de
ocorrências de cada uma pelo número total de páginas do jornal na respectiva
década.
Com a marca de 52,63, “Açúcar”
(que, então, se escrevia “assucar”) foi a palavra que mais vezes apareceu em
1850-59. A alta frequência é um indicador da importância do produto. “Coronel”
(36,83) foi a segunda palavra mais empregada, muito acima de “Eleição +
Eleições” (18,25) e de outras menos escritas. Em meados do século XIX, ninguém
tinha ouvido falar em comunistas e comunismo.
Em 1900-09, as palavras
“República” e “Republicano” (somando 68,0) dominaram o noticiário, refletindo
não apenas a então recente proclamação da República, mas também os problemas de
consolidação que o novo regime enfrentou, na última década do século XIX e na
primeira do XX. Os coronéis, pelo visto, não foram abalados por Deodoro,
Floriano e seus sucessores, pois continuavam a ser muito mencionados na
imprensa recifense. O açúcar tinha caído para a terceira posição. Ainda não
havia menção a comunistas e comunismo.
Na última década para a qual é
possível (por enquanto) fazer o tipo de pesquisa a que me refiro, ou seja,
1980-89, as palavras “Eleição + Eleições” (25,78) assumiram grande destaque.
Foi quando se deu o fim do regime militar e a subsequente redemocratização do
país. Os coronéis ainda tinham presença significativa (provavelmente, os de
1989 já não eram do mesmo tipo que os de 1850, mas essa é outra história) e o
açúcar mantinha sua terceira posição.
Há muito mais a ser dito, mas
não agora e, talvez, nem aqui.
(Publicado
no Facebook, 9/10/2019)
Nenhum comentário:
Postar um comentário