quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Terra dos papagaios

(“Terra dos Papagaios” era como, no início do século XVI, os europeus chamavam o que viria a ser o Brasil)



Matéria na primeira página da Folha de São Paulo (28/8/2011) informava, em seu título: “Economia do Nordeste cresce mais do que a média nacional”; e, em seu corpo: “segundo o Banco Central, o país cresceu 1,1% no primeiro trimestre e 0,7% no segundo, enquanto o Nordeste avançou 1,6% nos dois períodos”. Parabéns a todos nós, mas o assunto desta nota não é o crescimento do Nordeste. Tem a ver, sim, com a “repercussão” da notícia.

Epa! “Repercussão” talvez nem seja o termo. No jornalismo tradicional, “repercutir” uma notícia era recolher novos fatos a ela relacionados e ouvir pessoas que entendessem do assunto ou tivessem a ver com o acontecimento. O jornal publicava, hoje: “A barragem rompeu” e, amanhã, a entrevista de um técnico, para quem a culpa era do governo; fotos de flagelados que não tinham para onde ir; e o discurso do governador prometendo reconstruir tudo em quinze minutos, ou seja, talvez, quem sabe, em quinze anos. Fazer isso, às vezes, dava muito trabalho aos repórteres.

Talvez haja espaço para um blogue de opinião, como este. Não é tão trabalhoso, mas comporta perigos: por exemplo, de o leitor achar minha opinião uma droga. Já a vida do blogueiro típico, que se pensa como jornalista, parece não ter nenhuma dessas atribulações. Ele, simplesmente, transcreve palavra por palavra as notícias colhidas na internet. Dois cliques: Ctrl+C / Ctrl+V. Em pouquíssimos casos, adiciona ao seu exercício “jornalístico” algum comentário dos próprios dedos; em outros, “reinterpreta” de modo superficial a notícia transcrita, naturalmente, sem ouvir qualquer outra pessoa que não ele mesmo.

Vários blogues consultados um tanto aleatoriamente, por exemplo, apropriaram-se da notícia publicada pela Folha de São Paulo sem mexer sequer no título: “Economia do Nordeste cresce mais do que a média nacional”. Já o “Gavião da Paraíba” e o “Umbuzeiro Agora” (quem copiou de quem, não sei) resolveram apimentar um pouco e retraduziram assim a informação: “Economia da região Nordeste cresce em ritmo alucinante...”

“Alucinante” é confundir transcrição com jornalismo.

(Publicado também, em versão levemente diferente, em www.blogdatametrica.com.br, 29 de agosto de 2011)