sábado, 30 de março de 2013

Por que a Coreia ainda não invadiu os Estados Unidos?


Gustavo Maia Gomes
Coreia do Norte prepara mísseis para eventual ataque aos Estados Unidos. O líder norte-coreano, Kim Jong-un, ordenou nesta sexta-feira o início dos preparativos para atacar com mísseis o território dos Estados Unidos e suas bases no Pacífico e na Coreia do Sul. (Zero Hora, 29/3/2013)
O Líder Supremo da Coreia do Norte reuniu seus generais e ordenou que eles preparassem a invasão dos Estados Unidos. Os militares ficaram excitados, mas um deles ponderou que os soldados estavam sem comer há duas semanas.
– “Vamos esmagar o tigre imperialista em três dias. Depois disso, eles comem no McDonald's”, completou Kim Jong-un.
Foi dada a ordem de que os navios esquentassem os motores. Os comandantes navais ficaram excitados, mas um deles ponderou que não havia combustível.
– “Amarraremos lençóis aos mastros. Daqui pra lá, o vento é favorável.”, completou o Almirante Supremo.
Foi dada a ordem de que o povo doasse seus lençóis. Os comissários de bairro ficaram excitados, mas um deles ponderou que ninguém tinha lençóis.
– “Costuraremos as cuecas”, sugeriu outro comissário.
Foi dada a ordem de que o povo doasse suas cuecas. Todos ficaram excitados, mas um mendigo ponderou que não havia cuecas.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Jabor e os padres


Gustavo Maia Gomes
Numa das suas crônicas recentes, Arnaldo Jabor escreveu, mais ou menos, o seguinte: “Havia no colégio um padre querido pelas crianças. [Um dia, ele me disse:] ‘Vem até meu escritório’. Fui. O padre me agarrou e me deu um beijo na boca. Fugi em pânico até a saída, onde meu pai me esperava no carro, e, apavorado, não disse nada. Só contei em confissão a outro padre, que fingiu não entender”.
***
Jabor não revela o diálogo inteiro que teve com o padre confessor. Imagino que tenha sido este:
– O padre João me levou ao escritório e me beijou na boca.
– Não pode ser.
– Foi.
– Reze um Pai Nosso para afastar maus pensamentos. Quais são seus pecados?
– Punheta, padre, punheta.
– Pensando em quem?
– Em Gina Lollobrigida e em outra mulher.
– A Lollô, eu conheço. E a outra, é bonita?
– Linda.
– Reze 200 ave marias e está absolvido.
– Vai piorar, padre.
– Por quê?
– Não posso dizer.
– Se não disser, vai pro inferno.
– A outra é Maria.
– Que Maria?
– Essa aí prá quem o senhor mandou eu rezar.
– A Virgem???
– Por isso mesmo.
– É muito grave. Tenho que falar com o bispo. Volte depois de amanhã.
***
Dois dias depois, de volta ao confessionário, Jabor quis logo saber:
– O que ele disse?
– Que seu atrevimento é imperdoável.
– Por quê?
– Não posso dizer.
– Se não disser, vai pro inferno.
–O bispo ficou indignado: Maria já está nas punhetas dele.

terça-feira, 26 de março de 2013

Hugo Chavez, Mensalão, Seca no Nordeste, Eduardo Campos e o Google Trends


Gustavo Maia Gomes
Quão popular era Hugo Chavez vivo, comparado a Hugo Chavez morto? Em que mês foi maior o interesse público pelo Mensalão, desde que aquele esquema de compra de votos foi revelado? Quando as pessoas manifestaram mais curiosidade em relação à seca no Nordeste? Desde que iniciou a campanha informal para Presidente, tem Eduardo Campos conseguido atrair mais atenção dos possíveis eleitores?
Até recentemente, a única maneira razoável de responder essas questões era definir uma amostra da população relevante, juntar uma equipe de entrevistadores e sair perguntando às pessoas – uma vez por mês, por quantos meses fossem necessários – se elas conheciam Hugo Chavez, se tinham ouvido falar de Mensalão, ou da seca, ou de Eduardo Campos... Em alguns casos, isso podia custar milhões.
Hoje, para felicidade dos curiosos e infelicidade dos institutos de pesquisa, (quase) as mesmas perguntas podem ser respondidas praticamente sem custo. O mágico da vez chama-se Google Trends. (http://www.google.com/trends/).
INFORMAÇÃO NA INTERNET
O Google Trends é um serviço que mostra quantas vezes uma determinada palavra ou expressão foi buscada na Internet por meio do mecanismo Google, em relação ao total de buscas realizadas num período de tempo, em determinada região. Pelo lado bom, é isto. Uma maravilha. Pelo lado ruim, não é fornecida qualquer informação sobre números absolutos. Como se não bastasse, os números relativos de buscas de um objeto são apresentados de tal forma que só podem ser comparados com eles mesmos, em uma série de tempo.
Explico melhor: uma coisa é saber quantas vezes o objeto “Eduardo Campos” foi buscado no Internet, digamos, em cada um dos doze meses entre março de 2012 e fevereiro de 2013. Isoladamente, isso não significa grande coisa, mas, comparado ao número total de buscas de todos os objetos, tem enorme significação. Esse dado, entretanto, é negado pelo Google Trends aos mortais comuns. Talvez os mortais pagantes possam vê-lo, mas não é para eles que estou escrevendo.
A forma de ocultar a informação sobre a intensidade dos acessos ao nome “Eduardo Campos”, em relação ao total dos acessos, é normalizar a série (todas as séries sofrem tal transformação, independentemente de qual seja seu objeto) atribuindo o índice 100 ao maior dos doze valores encontrados. Neste processo, apagam-se os vestígios de quão frequentes foram as buscas ao objeto em questão, em relação ao total de buscas.
Dou um exemplo numérico. Suponha que o Google tenha sido requisitado a fazer, em março de 2012, um milhão de buscas e que deste total, 100 mil tenham tido “Eduardo Campos” como objeto (estes números são fictícios, claro). Neste caso, teríamos que “Eduardo Campos” alcançou 10% das buscas. Digamos, ainda, que, um ano depois, dos mesmos um milhão de buscas, 200 mil, ou seja, 20%, tinham o nome do governador como objeto. Se os dados fossem divulgados assim, eles nos dariam duas informações valiosas, que poderiam ser manchetes de jornal, em alguma data posterior a 28 de fevereiro de 2013:
(1) “Uma em cada cinco buscas na Internet brasileira é sobre Eduardo Campos”
(2) “Intensidade das buscas na Internet sobre Eduardo dobrou em um ano”
Mas o Google Trends não nos dará esse prazer. Com os dados publicados, apenas a segunda manchete poderia ser produzida. O truque para omitir a primeira informação consiste em normalizar a série de buscas, atribuindo o índice 100 ao maior percentual alcançado em todos os meses e calculando os demais de modo a manter as proporções observadas. No exemplo específico, o índice de Eduardo em março de 2012 seria 50 e o de fevereiro de 2013 seria 100. Curiosamente, se ele tivesse tido mil buscas (e não 100 mil) em março de 2012 e duas mil (e não 200 mil) em fevereiro de 2013, seus índices para os respectivos meses seriam os mesmos 50 e 100.
Por essas razões, as perguntas que o Google Trends é capaz de responder nem sempre são, exatamente, as mesmas que gostaríamos de formular. Queríamos comprovar que Hugo Chavez é popular (não necessariamente querido) porque muita gente pergunta por ele ao Google, mas isso não poderemos fazer. Temos de nos contentar em saber se houve mais perguntas, em termos relativos, depois, ou antes, de sua morte. Queríamos conhecer que proporção das buscas na Internet corresponde à seca no Nordeste, talvez, para compará-la com a intensidade das buscas sobre o Big Brother da TV Globo, mas, com os dados divulgados, não o conseguiremos.
As perguntas que podem ser feitas são aquelas que comparam o valor Google Trends do objeto “x” no período “t” com o valor do mesmo objeto “x” no período “t+y”. Sendo assim, as respostas que obteremos podem não constituir a mais preciosa das informações. Mas, como isso custa apenas poucos minutos de trabalho, vale a pena fazer mesmo essas perguntas de segunda classe ao mágico da vez.
POPULARIDADE DE CHAVEZ
A “popularidade” de Hugo Chavez – número relativo de buscas Google na Internet tendo este nome como objeto – disparou com sua anunciada morte, alcançando o índice máximo (100) no corrente mês de março, mesmo levando em conta que o mês ainda nem terminou. Os dois picos anteriores a 2013 haviam ocorrido em setembro de 2006 e em novembro de 2007. Ambos atingiram o índice 9. Como o Google Trends não me deixa mentir, concluo que o interesse do público em Chávez foi onze vezes maior quando ele morreu do que nos seus melhores momentos enquanto estava vivo.
Se tivesse sabido disso, o folclórico fundador do socialismo do século 21 teria morrido há muito mais tempo, para alívio dos que jamais simpatizaram com ele, entre os quais me incluo.

Também é importante notar – algo permitido pelo Google Trends – que a maior parte das pessoas interessadas em Hugo Chavez mora ou na própria Venezuela ou em países da América Central, Caribe e América do Sul. É o que mostra o gráfico acima. Salta à vista que, dos dez países relacionados, em ordem decrescente (relativa) de buscas, não constam nem o Brasil, nem os Estados Unidos.
Dessa forma, fica evidente que, a despeito de toda a bajulação a Chavez feita pelos governos Lula e Dilma, o público brasileiro deu pouca atenção à sua vida ou morte. Já os internautas dos Estados Unidos, país que a múmia venezuelana elegeu para inimigo, talvez nem saibam quem é ou foi este senhor.
Em compensação, os cubanos que viveram, nos últimos anos, da mesada bolivariana, estavam excitadíssimos com Hugo Chavez vivo e, ainda mais se tornaram, depois que ele morreu.
MENSALÃO E SECA
O Mensalão foi revelado ao público brasileiro numa matéria da Folha de São Paulo em agosto de 2005. Naquele mês, o assunto despertou o interesse máximo (100) dos internautas. Depois disso, o interesse relativo caiu, somente voltando a subir em 2013, com o julgamento da organização criminosa comandada por José Dirceu.
Mudando de uma tristeza para outra, o interesse público na seca nordestina cresceu, nitidamente, a partir de janeiro de 2012 (o valor de 100 foi atingido em maio deste ano), à medida em que a realidade da falta de chuvas foi se tornando inegável e ameaçadora.
Outro aspecto importante revelado pela série do Google Trends é o padrão sazonal das buscas sobre o assunto. Com poucas exceções, maio e setembro são os meses em que a seca atrai maior atenção; janeiro e julho aqueles em que o interesse é menor.
A interpretação dessa recorrência deveria se iniciar pelo reconhecimento de que a maior parte da precipitação anual no semiárido nordestino ocorre nos meses de fevereiro a maio. Em janeiro e julho, portanto, a falta de chuvas é rotineira e não causa espanto ou preocupação. Por outro lado, em maio, se ainda não choveu ou se choveu pouco, o medo se instala, pois as pessoas sabem que terão problemas de abastecimento nos meses seguintes (a cada ano, sempre há uma seca, pelo menos, em algumas partes do Sertão) e seu interesse no assunto atinge um pico. Já em setembro, depois de três ou quatro meses sem chuvas, as reservas de água começam a se esgotar, trazendo a todos o medo da seca.
Tudo bem que constatemos tais coisas, mas também gostaríamos de saber quem atrai mais atenção dos internautas brasileiros se a seca no Nordeste ou o penteado de Neymar. Isso, o Google Trends não informa, mas nós bem que desconfiamos qual seria a resposta, se ele o fizesse.
CANDIDATO A PRESIDENTE
Considerando o período entre 2004 e março de 2013, os meses em que Eduardo Campos ganhou mais atenção dos internautas foram outubro de 2006 (índice = 100) e outubro de 2010 (índice = 85). Não por coincidência, esses foram os meses em que houve eleições para governadores, ambas vencidas, em Pernambuco, por ele.
Observando esta série mais longa, de 2004 a 2013 (em contraste com a apresentada no gráfico mais abaixo, que abarca apenas os últimos doze meses), pode-se notar uma leve tendência crescente na “popularidade” do governador de Pernambuco entre os internautas brasileiros. Isso pode ser atribuído, numa primeira hipótese, à sucessiva divulgação de altos índices de aprovação da administração de Campos, por um lado, e ao desempenho progressivamente melhor da economia de Pernambuco, no mesmo período, por outro.

A parte inferior do gráfico é mais relevante para se investigar a possível correlação positiva entre o progressivo convencimento por parte do público de que ele será um dos candidatos a Presidente em 2014 e a “popularidade” de Eduardo Campos. Com efeito, mostram os dados que a tendência do interesse público em relação ao governador de Pernambuco (tal como medida pelo índice Google Trends) é, nitidamente, crescente, nos últimos doze meses, com dois picos registrados em duas semanas de outubro de 2012 (índice 94, na semana de 7 a 13/10/2012; e 100, na semana de 28/10 a 3/11/2012).
Se isso será suficiente para ganhar a eleição, nem o Google Trends é capaz de responder.
REFERÊNCIAS
Hyunyoung Choi and Hal Varian, “Predicting the Present with Google Trends”, The Economic Record, Vol. 88, Special Issue, June, 2012, 2–9, em http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1475-4932.2012.00809.x/pdf
(Meu interesse no assunto foi despertado pelo artigo de José Carlos Cavalcanti que, por seu turno, inspirou-se no trabalho de Choi e Varian.)

quarta-feira, 13 de março de 2013

O dinheiro do ladrão e outras dicas


Gustavo Maia Gomes
O governo da Bahia declarou, hoje (13/3/2013), que os moradores e visitantes daquele Estado deveriam “carregar um pouco de dinheiro, para satisfazer o ladrão”, pois ladrões satisfeitos farão menos mal. A ideia me pareceu generalizável:
1. As torcidas organizadas deveriam recrutar pessoas obesas, de modo a satisfazer os torcedores rivais e, assim, diminuir as brigas. Os gordos correm menos e têm superfície corporal maior, sendo, portanto, alvos fáceis de pedradas e tiros de fuzil.
2. Abaixo de cada placa de obra pública deveria haver um Caixa Dois só para os políticos corruptos. Ao perderem menos tempo para receber suas propinas, eles, talvez, finalmente, começassem a trabalhar.
3. As operadoras de celulares deveriam lançar um plano especial com tarifa zero para presidiários de alta periculosidade os quais, satisfeitos, poderiam reduzir o valor dos resgates ou, até mesmo, o número de sequestros.
4. Os alunos de colégios religiosos deveriam carregar consigo vários pênis de silicone, que poderiam ser oferecidos aos padres, em substituição à coisa real. Obtendo vários desses objetos de cada vez, os padres poderiam reduzir o número de assédios.
5. Os frequentadores de algumas praias deveriam substituir o protetor solar pelo caldo de carne, para satisfazer os tubarões que, assim, atacariam menos. Mas, atenção, tem de ser Caldo Knnor, pois tubarão sabe que “Knnor é melhor”.
(13 mar 2013)

domingo, 10 de março de 2013

As duas Chinas, 1949-2013 (Crônicas do Mundo, VI)


Gustavo Maia Gomes
As “Crônicas do Mundo” tratam de eventos e processos políticos e econômicos internacionais nos últimos 60 anos. Foram motivadas pela leitura de quatro livros extraordinários: Era dos Extremos, de Hobsbawm; Pós-Guerra, de Judt; A revolução de 1989, de Sebestyen; e Ascensão e Queda do Comunismo, de Brown. (Veja as referências completas ao final deste texto.)
A ascensão da China (aqui mostrada em relação aos Estados Unidos) é o fato econômico mais importante dos últimos 30 anos. Continuará a ser, nas próximas décadas.



IGUAIS, MAS DIFERENTES
Sempre foi verdade que qualquer acontecimento na China interessaria ao mundo, devido ao tamanho de sua população. Mas era uma montanha de pobres, produzindo pouco e consumindo menos ainda: à importância demográfica do país não correspondia relevância econômica comparável. Em larga medida, portanto, a China podia ser ignorada pelo cidadão comum do Ocidente.
No início do século XXI, entretanto, a situação é outra. Mesmo sem jamais ter tido um presidente como certo conhecido nosso – ou talvez por isso –, desde 1980, a economia chinesa vem crescendo a taxas nunca antes registradas, com alto grau de abertura para o comércio e os movimentos internacionais de capital. Hoje, se a China boceja, o mundo dorme; se dá uma topada, o mundo salta pra frente.
Politicamente, a História da China comunista se divide em dois períodos, com uma breve transição (1976-78) entre eles. No primeiro, de 1949 até a morte de Mao Zedong (1976), o governo fazia três coisas: assassinar os adversários, promover a doutrinação ideológica da população, e implementar políticas econômicas desastrosas. No segundo, que começa com as reformas de 1978 e vai até o presente, o governo faz três coisas: assassinar os adversários, promover a doutrinação ideológica da população, e implementar políticas econômicas sensatas.
A diferença é só um adjetivo. Mas, que adjetivo! Que diferença!
FUZIS, IDEOLOGIA E POLÍTICA ECONÔMICA (1949-76)
Os episódios mais importantes de matanças em larga escala – por fome – ocorreram na China comunista como resultado de políticas econômicas equivocadas. Mas o assassinato político sempre se constituiu em instrumento usado para preservar o poder. Esta foi a primeira característica do regime de Mao Zedong:
O número de execuções de cidadãos chineses pelos Comunistas do país aumentou bastante depois de a Guerra da Coreia começar. As estimativas do número de pessoas executadas na China entre 1949 e 1953 variam muito – de 800 mil a cinco milhões. (Brown, págs. 233-4)
Naturalmente, havia o atacado e o varejo. A citação acima dá um exemplo das execuções em massa; o assassinato dos adversários em doses menores, mas continuadas, nunca deixou de existir.
A segunda característica foi o emprego intensivo da doutrinação ideológica. A esse respeito, tenho uma experiência pessoal a relatar. Antes da Internet, eu e muita gente ouvíamos emissoras de rádio estrangeiras pelas ondas curtas. Lembro-me de, no final da década de 1960, ouvir o “noticiário” na Rádio Pequim. Era, mais ou menos, assim:
– O presidente Mao foi homenageado por todos os camponeses de todo o país, pelo seu patriotismo, sabedoria e bondade.
– O presidente Mao recebeu estudantes que recitaram os extraordinários ensinamentos contidos no Livro Vermelho dos Pensamentos de Mao.
– O presidente Mao foi agraciado por ele mesmo com a medalha da Grã-Extra Imensíssima Benemerência em reconhecimento à sua grã-extra imensíssima benemerência.
Seguiam-se mais duas ou três notícias com o mesmo formato. Até que o locutor interrompia a sequência, para anunciar uma coisa ainda mais importante:
– Agora vamos dar uma pausa no noticiário para ouvir o povo reunido na praça cantando “Mao é o Grande Timoneiro”.
(E o povo reunido na praça cantava “Mao é o Grande Timoneiro” até porque, se não cantasse...) Depois da pausa, voltavam as “notícias”.
Essa era a cantiga que eu ouvia no Recife, a 15 mil quilômetros de Beijing; para os chineses, o governo tinha algo ainda pior. Por exemplo:
As pressões ideológicas sobre raciocínios incorretos – “reforma do pensamento” – também começaram a aumentar em 1950. (...) Foram organizadas apresentações públicas dedicadas às atividades contrarrevolucionárias, nas quais os acusados desses crimes explicavam a natureza da ameaça contrarrevolucionária, manifestavam arrependimento e diziam o quanto estavam gratos pelo fato de as autoridades apontarem os erros em seus caminhos. (Brown, pág. 234)
Não parou ali: durante a Revolução Cultural (1966-76), a perseguição ideológica aos que não se enquadravam inteiramente nos preceitos de Mao Zedong atingiu níveis difíceis de imaginar.
Foram as escolas e as universidades que sofreram os piores efeitos da Revolução Cultural. Milhões de professores foram ridicularizados publicamente e as universidades ficaram fechadas vários anos, a partir de 1966, de modo que os estudantes podiam participar do processo revolucionário como Guardas Vermelhos. (Brown, pág. 387)
O “processo revolucionário” nada mais era do que o exercício diário do obscurantismo fanático. Já em agosto de 1966, Mao Zedong passava em revista desfiles gigantescos de guardas vermelhos que acenavam seus exemplares do pequeno livro vermelho de citações. Um pouco depois disso, a irracionalidade atingiria seu clímax. Para citar outro livro excepcional (de Jonathan D. Spence, veja as referências):
Milhões de jovens foram estimulados a demolir os velhos prédios, templos e objetos de arte de suas cidades e vilas e atacar professores, diretores de escolas, dirigentes partidários e pais. (...) Milhares de intelectuais foram espancados até morrer. Incontáveis outros cometeram suicídio. (Spence, pág. 570)
A terceira característica do regime maoísta foi a insistência em políticas econômicas desastrosas. O exemplo mais importante foi o chamado Grande Passo para Frente (1958-61), uma tentativa de desenvolver a indústria e a agricultura baseada, fundamentalmente, na produção em pequena escala, na divisão do país em fazendas estatais, e no recurso ao fervor revolucionário como motivação para a atividade econômica das pessoas. Funcionou tudo ao contrário: enquanto os chineses eram obrigados a produzir ferro em seus quintais (com baixíssima produtividade), a coletivização fez a agricultura entrar em colapso.
O resultado foi uma fome em escala gigantesca, que ceifou 20 milhões de vidas ou mais entre 1959 e 1962. Muitos outros morreram pouco depois dos efeitos do Grande Salto – sobretudo crianças, enfraquecidas por anos de desnutrição crescente. (...) O Grande Salto Adiante, lançado em nome do fortalecimento da nação através do apelo a todas as energias do povo, tinha dado meia volta e devorado sua prole. (Spence, pág. 550)
E o Grande Passo para Frente (ou Grande Salto Adiante, como prefere o tradutor de Spence) foi apenas das muitas políticas econômicas malsinadas impostas aos chineses no tempo de Mao Zedong.
FUZIS, IDEOLOGIA E POLÍTICA ECONÔMICA (1978-2013)
A partir dos últimos anos 1970, as reformas econômicas promovidas, sobretudo, por Deng Xiaoping (que havia caído em desgraça durante a Revolução Cultural), subverteram os dogmas maoístas e provocaram tamanho crescimento que um observador menos atento poderia pensar que havia uma China antes e que há outra depois da morte de Mao Zedong.
Economicamente, isso é verdade; politicamente, não é.
Considere-se, por exemplo, a primeira característica, a repressão à oposição. Comparado ao que houve até 1976, o número de assassinatos políticos na China caiu drasticamente, mas os acontecimentos emblemáticos da Praça Tiananmen (1989) não devem ser esquecidos:
Na noite de 3-4 de junho [de 1989], tanques e veículos blindados avançaram [sobre os estudantes e o povo reunidos na Praça Tiananmen e arredores]. Alguns soldados dispararam sobre as multidões, outros diretamente contra elas. As estimativas do número total de mortes causadas pela repressão militar variam entre várias centenas e vários milhares. Outros milhares de pessoas foram presas. (Brown, pág. 521)
A doutrinação ideológica, ou segunda característica, também se retraiu um pouco, mas continuou a existir. De acordo com depoimento prestado ao Congresso dos Estados Unidos, em 2007:
Como parte das instituições políticas chinesas, o controle da informação e das mentes tem sido feito por mais de meio século desde que o Partido Comunista Chinês (PCC) tomou o poder em 1949. (...) O quartel general do controle da informação e das mentes é o Departamento Central de Propaganda do PCC. (...) A reforma econômica e a “política de abertura” iniciadas em 1979 nunca abalaram ou modificaram os mecanismos de controle. (Qinglian He)
Na política e no controle do pensamento, portanto, o regime economicamente reformista não fez reforma alguma.
Quanto à terceira característica, entretanto, a história é outra. Na economia e áreas correlatas, a mudança foi impressionante. Enterrado o cadáver de Mao e dominados seus seguidores mais fanáticos, uma nova mentalidade passou a dominar.
Na educação, ao invés de exigir que professores e alunos recitassem ininterruptamente os Pensamentos do Grande Timoneiro, em exercícios de auto-imbecilização, a prioridade foi dada ao ensino de matemática e ciências. Já em 1988, anunciou-se a criação de 88 universidades (na época da Revolução Cultural elas haviam sido fechadas) e a admissão de estudantes passou a ser feita por rigorosos exames de conteúdo técnico. Além disso,
instruíram-se as escolas para identificar mais cedo as crianças bem-dotadas e dar-lhes instrução avançada. Os cientistas [que, durante a Revolução Cultural] haviam sido mandados para o campo [para fins de “reeducação” política] deveriam ser chamados de volta e designados novamente para cargos profissionais. (Spence, pág. 612]
Na agricultura, onde o modelo maoísta impunha cotas de produção às fazendas coletivas, que eram obrigadas a vender a colheita integralmente ao Estado, a primeira providência foi aumentar os preços de compra em 20%, para a produção dentro da cota, e em 50%, para a produção além da cota. Foi permitido que os camponeses realizassem outros trabalhos, como criar porcos, ou que se dedicassem a atividades não agrícolas. Outras medidas liberalizantes foram sendo, gradualmente, tomadas. De acordo com Brown,
a coletivização foi essencialmente revertida no início dos anos 1980. (...) Foi possível promover uma melhoria extraordinária na produtividade agrícola da China simplesmente dando liberdade aos agricultores camponeses para usar sua própria iniciativa. (Brown, pág. 515)
Finalmente, na indústria, a reforma iniciou-se com a criação de quatro zonas econômicas especiais desenhadas para atrair o capital estrangeiro, no primeiro momento, pertencente a chineses que haviam deixado o país desde a implantação do regime comunista. Estrategicamente localizadas, duas delas, próximas a Taiwan (durante décadas, a mini-China que havia dado certo) e as outras duas nas cercanias de Hong Kong e de Macau, as zonas econômicas especiais tiveram sucesso extraordinário, o que levou à ampliação da experiência.
Mais tarde, empresas japonesas, americanas, européias e multinacionais foram incentivadas a participar da expansão da economia chinesa rapidamente globalizante. Um período de rápido crescimento teve início, embora as concessões às forças de mercado tenham trazido novos problemas, incluindo inflação e aumento do desemprego. (Brown, pág. 516)
Bem, diriam os chineses: melhor ter alguma inflação e desemprego – que podem ser controlados pela ação corretiva do Estado – mas também ter pão, manteiga, geladeira, automóvel e acesso a viagens internacionais do que não ter pão, nem manteiga, nem geladeira, nem automóvel e nem acesso a viagens internacionais e ainda ser obrigado a recitar três vezes ao dia os pensamentos do Grande Timoneiro.
A SEGUNDA CHINA
De modo que, na China, a única mudança real aconteceu na economia. Seria difícil, entretanto, subestimar a sua importância: há três décadas, o produto total vem crescendo próximo a 10% anuais; apenas entre 1981 e 2008, o número de pobres se reduziu em 600 milhões; em 32 anos (1980-2012), a participação do produto interno bruto chinês no PIB total do mundo passou de 2% para 15%, em números redondos (enquanto, para estabelecer uma comparação, os números correspondentes, para os Estados Unidos foram 25% e 18%). Para o bem ou para o mal, a China será a grande potência do século XXI.
Essencialmente, o que Deng Xiaoping e seus associados fizeram, de uma maneira gradual, mas, a esta altura, completa, foi aposentar o péssimo economista (além de maior assassino da História, mas esta é outra história) Mao Zedong e chamar Adam Smith para substituí-lo. Em assuntos econômicos, eles mandaram às favas a ideologia comunista e instituíram o princípio fundamental do capitalismo: a sociedade produz mais quando o ambiente legal, ideológico e institucional permite que os indivíduos sejam movidos e recompensados pela busca do ganho material.
– “Enriquecer é glorioso”, disse Deng Xioaoping.
E enriquecendo os chineses estão desde aquele momento. Ao preço de continuar a viver sob uma severa ditadura.
Até quando?
REFERÊNCIAS
Eric Hobsbawn. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Tony Judt. Pós-Guerra: Uma História da Europa desde 1945. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
Victor Sebestyen. Revolution 1989: The Fall of the Soviet Empire. New York: Pantheon, 2009.
Archie Brown. Ascensão e Queda do Comunismo. Rio de Janeiro: Record, 2010.
Jonathan D. Spence, Em Busca da China Moderna: Quatro Séculos de História. São Paulo, Companhia das Letras, 1996, págs. 570-71.
Qinglian He (Senior Researcher in Residence, Human Rights in China). “Hearing before the U.S.-China Economic and Security Review Commission”, July 31, 2007, disponível em http://www.uscc.gov/hearings/2007hearings/written_testimonies/07_07_31wrts/07_07_31_qinglian_statement.pdf

terça-feira, 5 de março de 2013

Um mundo cheio de países (Crônicas do Mundo, V)


Gustavo Maia Gomes
As “Crônicas do Mundo” tratam de eventos e processos políticos e econômicos internacionais nos últimos 60 anos. Foram motivadas pela leitura de quatro livros extraordinários: Era dos Extremos, de Hobsbawm; Pós-Guerra, de Judt; A revolução de 1989, de Sebestyen; e Ascensão e Queda do Comunismo, de Brown. Esta quinta Crônica se baseia fortemente no capítulo 2 (seção 2.7) de Gustavo Maia Gomes, Conflito e Conciliação: Políticas de Desenvolvimento Regional no Mundo Contemporâneo. (Veja as referências completas ao final deste texto.)
A África europeia, no início do século XX. 
(A situação não havia se alterado muito 
até o final da Segunda Guerra.)












Houve duas grandes ondas de descolonização, ou criação de países, desde o fim da Segunda Guerra Mundial. A primeira resultou do esfacelamento dos impérios coloniais europeus (francês e britânico, sobretudo; mas também português, belga, italiano...) na África e na Ásia. Isso aconteceu, sobretudo, nas décadas de 1950 e 1960. A segunda foi consequência do fim de outro império, o soviético, entre os anos 1989 e 1991. Juntas, as duas ondas promoveram radical transformação no panorama político mundial. Para se ter uma ideia disso, no ano em que foi criada (1945), a ONU teve um máximo de 51 países-membros; hoje, tem 193.
Descolonização, estilos francês e inglês
Quando comecei a estudar geografia, na escola primária, aí pelos anos 1954 ou 1955, os mapas da África refletiam precisamente quem mandava ali. Quase toda a vastíssima porção Noroeste era ocupada pela África Ocidental Francesa. Um pouco abaixo, na região central, ficava a também extensa África Equatorial Francesa. O lado oriental era domínio, predominantemente, britânico, desde o Sudão Anglo-Egípcio, no Norte, até a Rodésia do Sul.
Havia, ainda, o enorme Congo Belga, no centro, e as colônias portuguesas Angola (na Costa Oeste) e Moçambique (na Costa Leste). O pouco espaço livre que sobrava era preenchido por países que, se já não eram, haviam sido colônias: o Egito arrancara uma “independência condicional” da Grã-Bretanha (1922); a Líbia se tornara independente da Itália em 1941 e da Grã-Bretanha, dez anos depois; a África do Sul deixara de ser colônia inglesa em 1910.
O domínio europeu se refletia na literatura e nas artes. Um dos personagens de livros, quadrinhos e cinema mais marcantes da época – Tarzan – era um branco comandando os negros e os animais que aparecessem. Outros, como Jim das Selvas e O Fantasma também eram brancos e exibiam evidente superioridade sobre os nativos. O paradoxo de Tarzan ter sido criado por uma macaca e, não obstante, falar inglês fluentemente, nunca foi bem esclarecido, mas essa era a menor das dúvidas que o mundo tinha sobre a legitimidade da presença européia na África.
A partir do término da Segunda Guerra, os impérios coloniais da França, Grã-Bretanha e Portugal foram se desmanchando em rápida sucessão. (No caso de Portugal, paradoxalmente, o golpe final ao seu velho império veio com grande atraso.) Na Ásia, o acontecimento mais significativo foi a independência da Índia e do Paquistão (1947), depois de quase quatro séculos de presença britânica no que veio a ser dois países. Em outro evento importante (1953), a França foi expulsa da Indochina (os atuais Vietnam, Laos e Camboja). Na África, em 1956, tornaram-se independentes o Sudão Anglo-Egípcio, Marrocos e Tunísia (os dois últimos, ex-franceses).
A Costa do Ouro (britânica) escolheu chamar-se Gana ao alcançar a independência, em 1957; a República da Guiné libertou-se da França em 1958. Dois anos depois (1960), a França teve de conceder independência a Camarões, Senegal, Togo, Mali, Madagascar, Benin, Niger, Burkina-Faso, Costa do Marfim, Chade, Gabão República Central Africana, Congo-Brazaville e Mauritânia. A Bélgica perdeu sua colônia, que se tornou Congo-Kinshasa; e a Inglaterra teve de conceder independência a Nigéria e Somália.
A lista continua, pelos anos seguintes. As duas principais colônias portuguesas remanescentes, Angola e Moçambique, alcançaram a independência em 1975 e o Zimbábue se libertou da Grã-Bretanha em abril de 1980. A despeito da decadência secular da metrópole e das violentas guerras pela independência dos dois territórios, a ditadura salazarista em Portugal se ateve às suas possessões até ela própria ser derrubada. Em conjunto, Angola, Moçambique e Zimbábue foram os últimos casos expressivos da presença colonial europeia na África.
Grandes esperanças – a maior parte delas frustrada – acompanharam a criação dos países africanos independentes. Como era fácil responsabilizar o colonizador por tudo o que não andava bem naqueles lugares, parecia que a obtenção da independência política seria a porta da felicidade. Infelizmente, não foi. Numa parcela muito grande desses países, a história pós-colonial tem sido pior do que a do tempo em que os europeus estavam presentes. Conflitos entre etnias, ignorância generalizada, socialismos mal assimilados e corrupção dos governantes em escala gigantesca têm, até agora, condenado as antigas colônias a permanecer tão pobres quanto sempre foram. E em guerra contra si mesmos.
Descolonização, estilo soviético
“Tudo que era sólido e estável se desmancha no ar”, escreveram Marx e Engels no Manifesto Comunista (1848). Por ironia, a frase se aplicou como uma luva, quase um século e meio depois, ao império soviético, que sempre buscou nos dois filósofos alemães sua justificação ideológica. Apresentando-se ao mundo (por um tempo, sinceramente; depois, apenas para fins propagandísticos) como a materialização do inevitável futuro político e econômico da humanidade, o regime comunista da URSS parecia sólido e estável, sete décadas após começar a existir. Bastaram dois anos para ele desmanchar.
Contrariamente à Grã-Bretanha, França, Portugal ou Espanha, a URSS nunca se reconheceu, oficialmente, como um império. As “repúblicas” que a compunham se apresentavam como autônomas; os países do Leste europeu, por seu turno, eram nominalmente independentes. Na verdade, para todos os efeitos práticos, uns e outros eram equivalentes a colônias soviéticas, cuja obediência era mantida pela força bruta – ou pela simples ameaça de utilizá-la.
No período entre o início da Segunda Guerra e o ano de 1989, países como a Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária ou estiveram militarmente ocupados ou se sujeitaram ao domínio político de uma potência estrangeira. Durante todo este tempo, portanto, a despeito das aparências, eles não existiam como nações independentes. Sua libertação do domínio soviético, em 1989, tem semelhanças com a criação das nações africanas que haviam sido colônias britânicas, francesas, belgas ou portuguesas.
A Tchecoslováquia foi mais longe, ao se transformar pacificamente em dois países: a República Checa e a Eslováquia (1993), enquanto o oposto aconteceu com a antiga República Democrática da Alemanha, anexada pela República Federal (1990), reunificando o país principal responsável pela eclosão da Segunda Guerra.
Com ainda mais razão do que no caso de países que formavam o bloco soviético, a equiparação a colônias se adequa bem às ex-“repúblicas” soviéticas, as quais, sem exceção, escolheram se tornar países independentes após o colapso do poder central que as mantinha dominadas. O autêntico efeito dominó começou com a declaração de independência da Lituânia, em 1990, quando a União Soviética ainda existia. Seguiram-se, um ano depois, Armênia, Azerbaijão, Belarus, Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Kirgstão, Letônia, Lituânia, Moldávia, Tajiquistão, Turcomenistão, Uzbequistão e Ucrânia. A própria Rússia que, de certa forma, havia desaparecido no seio da União Soviética, escolheu renascer com o seu próprio nome (mais precisamente, Federação Russa)
Mas não foram apenas ex-colônias ou ex-“repúblicas” soviéticas que se tornaram países dotados de autonomia política, nos anos finais do século XX: a Iugoslávia (cuja independência em relação à URSS está bem documentada em Brown, cap. 12, págs. 237 e ss) se repartiu em cinco países, entre 1991 e 2006: Bósnia-Herzegovina, Croácia, Macedônia, Sérvia- Montenegro e Eslovênia. Neste mesmo ano, as duas metades da Sérvia-Montenegro resolveram se separar e, em 2008, o território de Kosovo, na Sérvia, proclamou-se independente (mas, sem ter obtido, ainda, reconhecimento internacional irrestrito).
Em terras distantes da Europa central e oriental, a Namíbia obteve sua independência da África do Sul (1990), enquanto, num movimento em direção oposta, os Iêmen do Norte e do Sul se fundiram para formar a República do Iêmen (1990). Entre 1991 e 1994, os Estados Unidos concederam independência a três obscuras colônias (Ilhas Marshall, Micronésia e Palau).
A Eritreia tornou-se independente da Etiópia em 1993, enquanto Timor Leste declarou independência de Portugal em 1975, mas foi anexado pela Indonésia no ano seguinte. Depois de sustentar uma guerra, o novo país foi reconhecido internacionalmente em 2002. Há, ainda, o caso da Somalilândia que, apesar de não reconhecida por nenhum outro país, funciona, na prática, como uma nação autônoma, relativamente mais estável do que a própria Somália, geralmente considerada ingovernável.

REFERÊNCIAS

Eric Hobsbawn. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Tony Judt. Pós-Guerra: Uma História da Europa desde 1945. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.

Victor Sebestyen. Revolution 1989: The Fall of the Soviet Empire. New York: Pantheon, 2009.

Archie Brown. Ascensão e Queda do Comunismo. Rio de Janeiro: Record, 2010.

Gustavo Maia Gomes, Conflito e Conciliação: Políticas de Desenvolvimento Regional no Mundo Contemporâneo, Fortaleza, BNB, 2011. Disponível em https://docs.google.com/open?id=0B_R9cylq9erzenJManB2dHlIX00

Mapa obtido em http://iesalagon.juntaextremadura.net/web/departamentos/sociales/galerias/mapas_historicos/pages/imperialismo_en_africa_jpg.htm)