Gustavo
Maia Gomes
Conhecida pela facilidade com que troca
de nome, a atual capital paraibana começou a existir em 1585, como Povoação de
Nossa Senhora das Neves. Logo depois, num sinal de progresso, ganharia o
prestígio de cidade, sem conseguir melhorar de santa. Em 1600, viria a ser Filipeia;
em 1817, Parahyba; em 1930, João Pessoa.
– Terminou?
Não. O atual nome homenageia um político
de mérito e importância discutíveis. João Pessoa apoiara Getúlio Vargas nas
eleições presidenciais de março, sendo assassinado em julho de 1930. Sua morte
violenta causou grande comoção, detonando o movimento que pôs fim à República
Velha. O infortúnio e suas conseqüências imediatas, contudo, não bastariam para
fazer dele a capital do Estado.
Em função disso, desde, pelo menos,
2003, alguns paraibanos tentam mudar o nome de sua capital. Uma enquete via
internet, em curso, já teve 501 respondentes, dois terços deles favoráveis à
mudança. A pergunta e os percentuais das respostas são os seguintes:
Você
aprova a mudança do nome da capital do Estado da Paraíba?
NÃO. A homenagem ao interventor morto
é justa e devida
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24,35%
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SIM. Prefiro voltar o nome
"Filipeia de Nossa Senhora das Neves"
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5,59%
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SIM. Prefiro o nome "Cabo
Branco", pela referência marcante do ponto geográfico
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31,74%
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SIM. Prefiro o nome
"Sanhauá", nome do rio que banha a cidade
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2,20%
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SIM. Prefiro o nome
"Tambaú", principal balneário da região
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1,00%
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SIM. Mas prefiro Parahyba como era
até 1930
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35,13%
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Generalizando...
Sem que fosse sua intenção, os
paraibanos deram um bom exemplo a muitos outros brasileiros. Não deveriam os
cariocas iniciar um movimento para tirar o nome Antonio Carlos Jobim do seu
aeroporto internacional? Afinal, depois de passar uma vida criando músicas para
nosso deleite, o grande compositor é diariamente enxovalhado pelos jornais: “Chileno
acusado de furtar passageiros é preso no aeroporto Tom Jobim” (O Dia, 22/11/11); “Caixa realiza leilão
de duas mil peças apreendidas no aeroporto Tom Jobim” (Monitor Mercantil Digital, 22/11/11). Etc., etc.
E os pernambucanos? No Recife, havia, a
“estrada da Imbiribeira”, que alguém, no tempo dos militares, achou por bem renomear
“avenida Marechal Mascarenhas de Morais”. A intenção de bajular produziu resultado
desastroso: o homem tornou-se um grande congestionamento cheio de buracos. Se
antes era desconhecido, passou a ser odiado. O “Beco da Facada”, de todos
familiar, virou “rua Guimarães Peixoto”. Nem o Google nos leva lá. Mais recentemente,
batizaram um túnel “Augusto Lucena”. Uma impropriedade. Muito melhor teria sido
associar seu nome a um mictório público, que o velho prefeito tanto quis
construir e jamais conseguiu.
Nesse clima, leio, hoje, a seguinte
notícia: “A presidenta Dilma Rousseff destacou a retomada de produção da
indústria naval, com a construção do navio Celso Furtado. Ela esteve no
Estaleiro Mauá, para fazer a entrega da embarcação”. (Agência Brasil).
Por um momento, na imaginação, voltei à
Paraíba, terra onde Celso Furtado nasceu. Foi um grande economista, mas, como navio,
sei não...
(Este artigo será
publicado, simultaneamente, em http://www.blogdatametrica.com.br, http://www.econometrix.com.br e http://www.gustavomaiagomes.blogspot.com, 28 nov 2011)