quarta-feira, 15 de abril de 2015

Vaccari é interrogado

Gustavo Maia Gomes
-- Seu nome?
-- Não sei.
-- Idade?
-- Esqueci.
-- Profissão?
-- Desconheço.
-- Já se encontrou com Yousseff?
-- Ignoro.
-- Recebeu propina para o PT?
-- Que é propina?
-- Sabe onde está?
-- Estou na cadeia da Polícia Federal, que fica na rua Otacílio dos Bugalhos, número 1156, transversal do Beco da Facada (aquele onde assassinaram o camarão), primeiro sobrado depois da casa do coronel Pedrosa, pra quem vem do centro. Não confundir com o Bar de seu Artur, onde ninguém fica preso, ao contrário.
Ou seja, pelo menos de uma coisa ele ficou sabendo.

(Publicado no Facebook, 15/4/2015, com um link para a notícia de que foi preso hoje o tesoureiro do PT, aquele que, interrogado na CPI da Petrobras, desconhecia tudo.)

Achou ruim Toffoli no Supremo? Então, espera Fachin

Gustavo Maia Gomes

Às seis da noite, ouvi a notícia: "Dilma indica Luiz Fachin para a vaga de Joaquim Barbosa". Até ali, tudo bem: nunca tinha ouvido aquele nome antes. A preocupação veio em seguida: "é o candidato preferido dos movimentos sociais". Xi, pensei comigo, "tamo florido".
Horas mais tarde, Merval Pereira fez grave alerta: "o homem é petista militante", a ponto de, na campanha eleitoral de 2010, ter escrito um "manifesto dos juristas que têm lado". O lado errado, claro. Bronca federal. Até Lula teve medo de nomear Fachin para o STF.
Num último suspiro de esperança, fui em busca de algum pensamento significativo que tivesse sido expresso pelo quase-certamente-futuro ministro. Quem sabe, apostei no improvável, Fachin não seria um gênio? Um gênio com lado. Um novo Rui Barbosa.
Descobri isso:
"O casamento como um contrato formal [diz Fachin], não existe mais. E são vários os motivos que justificam tal mudança (...) como a chamada “transubjetivação do contrato”, segundo a qual quem contrata não contrata apenas com quem contrata (...)"
Haja ventilador pra espalhar tanta m...



Fonte: da citação: (Palestra do jurista Luiz Edson Fachin no IX Congresso Brasileiro de Direito de Família IX Congresso Brasileiro de Direito de Família, em Araxá/MG, 25/11/13) http://www.ibdfam.org.br/…/Palestra+do+jurista+Luiz+Edson+F…


Publicado no Facebook em 14/4/2015

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Pobreza de Filosofia (Valor Econômico, 28/5/2001)

Gustavo Maia Gomes

Irritado com o que Proudhon havia dito em Filosofia da Pobreza, Marx respondeu com um outro livro, Pobreza da Filosofia, em 1847. Por um tempo, a pobreza sumiu dos discursos. Mas hoje ela voltou com toda força. Já existe até uma nova "filosofia da pobreza" propugnada por respeitáveis instituições internacionais, por todos os governos, e por pensadores de idéias curtas e remorsos longos. Pena que seja uma pobreza de filosofia.

Seu ponto de partida é a desconfiança com o crescimento econômico. Cristovam Buarque, por exemplo, escreveu que o "crescimento não reduz [a] pobreza" ("Diálogo dos 500 Anos, Brasil Portugal", pág. 248); no próprio IPEA, felizmente, uma instituição não monolítica, Ricardo Paes de Barros e colaboradores, apesar de reconhecerem que "as quedas observadas na magnitude da pobreza, em todos os anos posteriores a 1977, [resultaram], primordialmente, do crescimento econômico" ("Desigualdade e Pobreza no Brasil", pág. 45) consideram esse processo lento e defendem uma estratégia direta de combate à pobreza.

Na versão mais crua, a "estratégia direta" consiste em definir a renda mínima para uma pessoa não ser pobre; identificar quem está abaixo dessa linha; estimar quanto falta para essas pessoas alcançarem a fronteira da felicidade; e implementar uma política que retire aquela renda faltante dos ricos e a doe aos pobres. Ou seja, a solução do problema da pobreza (pelo menos em um país como o Brasil, que não seria "pobre", mas, apenas, "injusto") vira uma questão de aritmética. 

Paes de Barros e sua equipe já calcularam, inclusive, quanto seria necessário: R$ 34 bilhões por ano. É mais do que o Fundo de Pobreza, porém nada que, apertando aqui, afrouxando ali, não caiba em nossos orçamentos. Cristovam ("o sonho do desenvolvimento acabou") Buarque deu uma tintura religiosa à tese: abandonar o crescimento e "suprir diretamente" as necessidades dos pobres constitui um "imperativo ético".

Mas o que mostram os fatos? Que, ao contrário das versões mais radicais do novo credo, o crescimento econômico, sim, reduz a pobreza. Há uma profusão de evidências empíricas a esse respeito que não cabe aqui repetir. Vale a pena relatar, entretanto, as conclusões de um estudo ainda inédito do IPEA sobre as variações de renda média e da pobreza em todos os municípios brasileiros, no período 1970/1991 (o ano de 2000 será incorporado, quando os dados do último censo estiverem disponíveis).

O trabalho mostra que, entre 1970 e 1980, houve associações negativas entre crescimento e variação da pobreza (ou seja, a renda cresceu, a pobreza caiu, ou vice-versa) em 98,9% dos municípios e que essa relação inversa se manteve, de 1980 a 1991, em 80,5% dos municípios.

Já sabíamos que isso acontecia no Brasil como um todo e nas comparações entre países ou entre Estados brasileiros. Mas o Brasil é um só, as amostras de países são sempre pequenas, e os Estados brasileiros não passam de 26. No trabalho referido, foram estudados 3.991 municípios, o que dá uma enorme robustez às suas conclusões. Ou seja, definitivamente, o crescimento reduz a pobreza; a falta de crescimento a aumenta.

Não é só. O estudo também argumenta que, excetuado um pequeno número de casos, a renda per capita de um município fielmente reflete a sua história de crescimento. Em outras palavras: a renda de São Paulo é alta porque, durante a sua história, o município de São Paulo registrou um elevado crescimento econômico. Na outra mão, rendas per capita baixas são resultados de estagnação secular, ou de crescimento insuficiente.

A partir dessa constatação, tornou-se possível testar as relações entre crescimento e pobreza, estimando-se, em cada ano, algumas estatísticas simples. Em particular, para todos os anos pesquisados, o coeficiente de correlação entre renda per capita e percentagem de pobres na população municipal foi sempre negativo e superior, em valor absoluto, a 90%. Ou seja, mais uma vez: há poucos pobres onde houve crescimento; e muitos, onde a economia ficou parada. Talvez não precisemos, afinal de contas, enterrar o "sonho do desenvolvimento".

Tudo bem. Mas, e a ética? A espécie em extinção dos que confiam no crescimento acredita que os pobres podem se tornar produtivos e, assim, deixar de ser pobres. Olhando a questão regionalmente, é como se se dissesse: vamos corrigir algumas desvantagens históricas ou geográficas do Nordeste. Feito isso, os nordestinos se habilitarão a produzir mais, superando sua miséria, pelo seu próprio esforço, como resultado de seu trabalho. Existe um fundo ético aí, ou não?

Na estratégia direta, não há nada disso. Como "o crescimento não reduz a pobreza", os pobres jamais poderão construir a própria prosperidade. Sua única esperança é desfrutar da riqueza dos outros, uma parte da qual, em nome da ética, lhe será dada como esmola. Dito de outra forma, os pobres são irremediavelmente incapazes.

Portanto, é nosso dever sustentá-los com rendas mínimas, frentes de trabalho, programas do leite, caldinho das titias e mais que tais. Não temos de nos preocupar com políticas de desenvolvimento, regional ou nacional. Tudo o que precisamos fazer, por exemplo, no caso do Nordeste, é calcular quantas cestas básicas são necessárias para cobrir o que falta para cada cearense, pernambucano etc., deixar de ser pobre e, em seguida, mandar o caminhão. Assim, e de nenhuma outra forma, o problema da pobreza estará resolvido e a nossa consciência de culpa, acalmada.

Eis aí o evangelho dos novos tempos. Como economia, é um erro; como ética, uma aberração; como filosofia, uma pobreza. Talvez, por isso mesmo, esteja virando unanimidade.


NOTA (3/4/2015)

Artigo originalmente publicado em Valor Econômico, 28/5/2001. À época, o autor era Diretor do Ipea -- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, então vinculado ao Ministério do Planejamento. Resolvi colocá-lo no blog, 14 anos depois, porque o tema da "redução da pobreza" via transferências de renda está, cada dia, mais em evidência. E, finalmente, mais gente está percebendo, hoje, a falácia essencial da tese de que se pode acabar permanentemente com a pobreza por meio de programas como o Bolsa Família. 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Dilma sobreviverá a 2005?

Gustavo Maia Gomes














A julgar pelo que aconteceu nos últimos 50 anos, NÃO.
Explico.
Em 2015, o nosso Produto Interno Bruto real (ou seja, descontada a inflação) por habitante vai ser MENOR que no ano passado. Ou seja, os brasileiros estarão MAIS POBRES em 2015 do que estavam em 2014. Se isso acontecer, como até mesmo o atual ministro da Fazenda admite que acontecerá, teremos completado cinco anos de desaceleração econômica.
Só rarissimamente um governo brasileiro conseguiu sobreviver a tal conjunto de acontecimentos.
Observem o gráfico que preparei. Desde os anos 1960, só houve uma ocasião – 1999 – em que uma queda prolongada no crescimento econômico (culminando com o empobrecimento absoluto dos brasileiros) não levou a uma derrubada traumática do governo. Na verdade, Fernando Henrique escapou por pouco: o PT chegou a pedir seu impeachment. Poderia ter conseguido. (Era golpismo?)
Em todas as outras situações de crise econômica, o governo foi substituído – e não por eleições diretas. Em 1964, um golpe depôs João Goulart. Em 1985, o governo militar chegou ao fim, numa saída negociada, sim, mas que teria sido imposta pela opinião pública, se não tivesse havido acordo. Em 1992, Fernando Collor foi enxotado do poder.
É verdade que, em todos os casos, a mobilização popular (ou popular-e-militar) necessitou de outros ingredientes até virar uma feijoada indigesta: o medo do comunismo, em 1964; o repúdio à ditadura, em 1985; o que se pensava ser uma grande corrupção de Collor e sua gente, em 1992. (Hoje, isso parece risível.)
Mas, será que faltam outros elementos mobilizadores, neste momento em que vivemos? Mensalão, dólares na cueca, dossiê dos aloprados, sanguessugas, Petrolão, o novo escândalo dos Correios e seu fundo de previdência, o Cubaduto do Mais Médicos, o que virá por aí quando os empréstimos secretos do BNDES aos ditadores latino-americanos forem revelados... Não, não temos falta de tempero.
Acho que, desta vez, o povo brasileiro irá mandar o PT roubar no inferno. Tomara que seja para sempre!

NOTA

A frase “é a economia, estúpido”, tornou-se uma espécie de ideia-força na primeira campanha de Bill Clinton à presidência dos Estados Unidos. A princípio, ninguém acreditava que o candidato democrata pudesse derrotar George Bush, que tinha altos índices de popularidade. Mas, veio a recessão e o descontentamento dos eleitores norte-americanos levou ao resultado que se conhece.

(Publicado no Facebook, 1/5/2015)