Gustavo Maia
Gomes
Berço da família
Maia Gomes, Murici (que, então, incluía Branquinha), era sede de cinco usinas
de açúcar, em 1931. Onze anos antes (1920) seu produto interno bruto – uma medida
da criação anual de riqueza – equivalia a quase sete por cento do PIB total de Alagoas.
Desde então, o declínio foi abrupto: em 2010, a mesma relação não alcançava um por
cento. Murici e Branquinha foram municípios prósperos na era da cana e do
açúcar. Hoje, praticamente, já não se planta cana por
ali. Nem outra coisa qualquer.
Mas isso é apenas uma introdução para um assunto
mais amplo. Um site de
grande valor para os interessados é História de Alagoas (www.historiadealagoas.com.br).
Nele descobri a obra Alagoas em 1931.
Trata-se de uma descrição quantitativa – enriquecida por análise dos dados – da
demografia, economia, vida administrativa e financeira do Estado, naquele ano
específico. Análise lúcida e ainda válida, mesmo passado todo este tempo.
Conforme
esclarece o site mencionado, “com a apresentação do interventor, capitão Tasso
de Oliveira Tinoco, que governou Alagoas entre 31 de outubro de 1931 e 25 de
outubro de 1932, o livro Alagoas em 1931
é um dos grandes trabalhos do historiador Craveiro Costa, que à época era o
Diretor do Serviço de Estatística do Estado de Alagoas, cargo que assumiu em 12
de setembro de 1931. O livro (...) foi lançado no final do ano seguinte e
recebeu muitos elogios pela qualidade das informações ali publicadas”. (http://www.historiadealagoas.com.br/alagoas-em-1931-de-craveiro-costa.html)
As
usinas de Alagoas em 1931
Ao apresentar
suas informações e análises sobre a agroindústria canavieiro-açucareira em
Alagoas, Craveiro Costa se baseia fortemente em monografia inédita de Evaristo
Leitão, chefe da Inspetoria Agrícola do Estado. Uma informação
preciosa está na página 77 do livro: a relação das usinas existentes em Alagoas
no ano de 1931, distribuídas pelos municípios onde ficavam e indicados os seus
proprietários. Reproduzo abaixo a informação coligida por Craveiro Costa.
Usinas
de açúcar em Alagoas, 1931
|
Usina
|
Município
|
Proprietário
|
1
|
Brasileiro
|
Atalaia
|
Vandesmet & Cia.
|
2
|
Ouricuri
|
Atalaia
|
M. Tenório de Albuquerque Lins
|
3
|
Rio Branco
|
Atalaia
|
União Agrícola S/A
|
4
|
Uruba
|
Atalaia
|
C. Açucareira Alagoana S/A
|
5
|
Capricho
|
Capela
|
Clovis Tenório
|
6
|
João de Deus
|
Capela
|
José Otavio
|
7
|
Coruripe
|
Coruripe
|
Usina Coruripe S/A
|
8
|
Santa Felisberta
|
Maragogi
|
Dr. Jorge de Sales
|
9
|
Alegria
|
Murici
|
Pedro Cansanção & Cia.
|
10
|
Campo Verde
|
Murici
|
Usina Campo Verde S/A
|
11
|
Esperança
|
Murici
|
Esperança Agrícola S/A
|
12
|
Mucuri
|
Murici
|
Pedro Cansanção & Cia.
|
13
|
São Semeão
|
Murici
|
Lopes Omena & Cia.
|
14
|
Água Comprida
|
Camaragibe
|
José H. Fernandes
|
15
|
Bom Jesus
|
Camaragibe
|
L. Paturi & Cia.
|
16
|
Camaragibe
|
Camaragibe
|
Luís de Mascarenhas
|
17
|
Central Leão
|
Santa Luzia do Norte
|
Leão Irmãos
|
18
|
Pau Amarelo
|
Santa Luzia do Norte
|
The Geo L. Squier Inf. Co.
|
19
|
Apolinário
|
São José da Lage
|
Carlos Lira & Cia.
|
20
|
Serra Grande
|
São José da Lage
|
Carlos Lira & Cia.
|
21
|
Conceição do Peixe
|
São Luís de Quitunde
|
Dr. Enéas Pontes
|
22
|
Pindoba
|
São Luís de Quitunde
|
João P. da Costa Pinto
|
23
|
Santo Antonio
|
São Luís de Quitunde
|
S. Pragana & Cia.
|
24
|
Terra Nova
|
Pilar
|
Dr. Eusínio Medeiros
|
25
|
Laginha
|
União
|
Usina Laginha S/A
|
26
|
Porto Rico
|
Leopoldina
|
Ezequiel Siqueira Campos
|
27
|
Cansanção
do Sinimbu
|
São
Miguel dos Campos
|
Cia.
Cansanção do Sinimbu S/A
|
Das 27 usinas
(onde aparecem a Campo Verde, dos irmãos Maia Gomes, e a Uruba, à época
pertencente ao meu avô materno Manoel Sebastião de Araújo Pedrosa e seus
irmãos), três não moeram na safra 1930/31: as Rio Branco, Pau Amarelo e Laginha.
A produção de cada uma das demais, em ordem decrescente, também foi fornecida
por Craveiro Costa (Pág. 78). Branquinha ainda era um distrito de Murici. Neste
município havia cinco usinas instaladas: Alegria, Campo Verde, Esperança, Mucuri
e São Semeão. Todas em atividade.
Usinas
de açúcar em Alagoas e respectiva produção (Sacos de 60kg; safra 1930/31)
|
Usina
|
Produção (sacos)
|
1
|
Central
Leão
|
234.000
|
2
|
Serra
Grande e Apolinário
|
183.015
|
3
|
Brasileiro
|
90.000
|
4
|
Cansanção
do Sinimbu
|
47.173
|
5
|
Uruba
|
44.000
|
6
|
Coruripe
|
43.000
|
7
|
Esperança
|
36.160
|
8
|
Alegria e
Mucuri
|
30.000
|
9
|
São Semeão
|
29.270
|
10
|
Ouricuri
|
22.000
|
11
|
Campo Verde
|
20.161
|
12
|
João de
Deus
|
19.000
|
13
|
Santo
Antonio
|
15.000
|
14
|
Conceição do
Peixe
|
15.000
|
15
|
Capricho
|
14.600
|
16
|
Camaragibe
|
7.500
|
17
|
Água
Comprida
|
6.500
|
18
|
Bom Jesus
|
6.000
|
19
|
Porto Rico
|
6.000
|
20
|
Pindoba
|
1.960
|
21
|
Santa
Felisberta
|
1.920
|
22
|
Terra Nova
|
1.916
|
|
TOTAL
|
873.175
|
Além das usinas,
continuavam a existir os engenhos banguês. Cito Craveiro Costa: “funcionam no
Estado cerca de 1.000 engenhos, aproximadamente, que fabricam açúcar e
rapadura, em quase todos os municípios. Desses engenhos, 618 estão situados na
zona propriamente açucareira, distribuídos pelos seguintes municípios”.
Engenhos
de açúcar em Alagoas: distribuição por municípios (Safra 1930/31)
Alagoas
[Marechal Deodoro]
|
7
|
Anadia
|
32
|
Atalaia
|
70
|
Camaragibe
|
61
|
Capela
|
50
|
Coruripe
|
14
|
Leopoldina
|
13
|
Limoeiro
|
13
|
Maceió
|
17
|
Murici
|
42
|
Maragogi
|
23
|
Porto
Calvo
|
55
|
Porto
de Pedras
|
18
|
Pilar
|
29
|
São
Luís de Quitunde
|
56
|
São
José da Laje
|
11
|
São
Miguel dos Campos
|
34
|
Santa
Luzia do Norte
|
29
|
União
[dos Palmares]
|
42
|
Viçosa
|
10
|
Ainda de acordo
com o livro Alagoas em 1931, “Desses
engenhos cerca de 40% estão de fogo morto, isto é, não fabricam açúcar,
limitando-se à cultura da cana para fornecimento às usinas que lhes ficam
próximas. A produção de açúcares inferiores produzidos nos engenhos banguês
pode ser avaliada em 400.000 sacos, dos quais cerca de 300.000 deram entrada
nos armazéns e trapiches do Jaraguá para, devidamente beneficiados, serem
exportados com a denominação comercial de mascavado”.
Ou seja, iniciada
a terceira década do século XX, ainda havia grande quantidade de engenhos em
Alagoas os quais, em conjunto, produziam quase metade da quantidade física de
açúcar saído das usinas.
Declínio
das exportações
Para mostrar
que, numa visão de longo prazo, as usinas tinham se expandido muito, o autor
cita “o inquérito industrial de 1907, o primeiro que se realizou no país, por
iniciativa do Centro Industrial do Brasil [que] apurou a existência de 6 usinas
açucareiras em Alagoas. 828 trabalhadores”. Treze anos depois, “em 1920, o
número de usinas [se havia elevado para] 15, com 941 trabalhadores. Em 1931, [as
usinas] eram 27 e havia 6.284 operários”.
Apesar desses
números, a agroindústria alagoana do açúcar não estava vivendo um momento
favorável, naquele ano, em virtude, sobretudo, da crise externa, que
prejudicava as exportações de todos os produtos brasileiros. “As cifras
ultimamente divulgadas pelo Monitor
Mercantil, que se publica no Rio de Janeiro”, escreveu Craveiro Costa, “demonstram
a decadência da exportação de açúcar brasileiro para os diferentes países
estrangeiros que outrora se abasteciam do produto nacional. O pouco que ainda
se encaminha para fora do país representa grande sacrifício para os cofres
públicos em consequência da isenção de impostos, isenção que permite a saída a
preços vis, a fim de que se valorizem os estoques internos”. (Pág. 79)
A consequência
disso era que se podia “considerar perdido para o nosso açúcar [brasileiro e,
consequentemente, alagoano] o mercado estrangeiro”. Como resultado, “o produto
de Alagoas se encaminha para o Sul [designação que, à época, englobava o atual
Sudeste], especialmente, o Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul”. Havia
um problema à vista, entretanto, pois, “São Paulo procura libertar-se,
desenvolvendo a sua produção, que já é superior à nossa. Quando nos faltar este mercado, que
faremos do excesso de nossa produção?”
Craveiro Costa recomendava
uma maior diversificação agrícola de Alagoas, embora negasse, com números, que
o Estado era monocultor de cana-de-açúcar, pois também tinha produção
apreciável de milho, o algodão e a mamona, que poderiam ser mais desenvolvidos.
A pecuária também deveria merecer maiores cuidados, como forma de reduzir os
impactos da possível perda também do mercado interno de açúcar para os
concorrentes paulistas.
Alfredo
de Maya e as tarifas ferroviárias
Um dos problemas
do açúcar se devia às tarifas cobradas pela empresa ferroviária que controlava
o transporte do açúcar (em alguns casos, também da cana), a inglesa Great
Western. Cito Craveiro Costa: “A lavoura da cana e a indústria do açúcar são
rudemente alcançadas pela exorbitância das tarifas e taxas da Great Western of
Brazil Railway Co. Ltd., que traz na sua dependência os destinos econômicos de
Alagoas, Pernambuco, grande parte da Paraíba e Rio Grande do Norte, em virtude
do seu tráfego de 1.628 quilômetros de vias férreas”.
Em consequência,
não seria, portanto, para esses Estados, uma realidade o “conceito de que as
estradas de ferro são um fator de desenvolvimento agrícola, comercial e
industrial dos povos, porque proporcionam transporte rápido e barato, facilitam
a circulação dos produtos e aumentam a capacidade produtiva do homem”, porque a
Great Western apresenta efeitos inteiramente opostos a esse conceito, como
documentalmente demonstrou, em recente trabalho, o sr. dr. Alfredo de Maia
[sic].
Alfredo de Maya (pai de Maria Emília, que se casou com Manuel Maia Gomes) era uma pessoa de grande destaque no Estado de Alagoas naquele tempo. Foi o
primeiro Secretário da Fazenda de Alagoas em seguida à Revolução de 1930, ocupou
a presidência do Banco Agrícola e assumiu também, depois disso, a presidência
da Usina Campo Verde S/A, de acordo com depoimento escrito em 1944 por Benon
Maia Gomes.
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