quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Isabel e o declínio do Império

Gustavo Maia Gomes
Aproveitando as horas de espera em aeroportos e os intervalos entre reuniões de trabalho, li, de Mary del Priore, O Castelo de Papel (Uma história de Isabel de Bragança, princesa imperial do Brasil, e Gastão de Orléans, conde d'Eu), Rio de Janeiro, Rocco, 2013. Bom livro, na tradição da história contada em prosa leve que, no Brasil, tem produzido obras muito instrutivas e de leitura agradável.
Mary del Priore é historiadora profissional, acadêmica, mas escreve com a leveza jornalística de um Laurentino Gomes (1808, 1822, 1889) ou Lucas Figueiredo (Boa Ventura! A corrida do ouro no Brasil, 1697-1810). (Talvez eu devesse incluir Eduardo Bueno neste grupo, mas nunca li um de seus muitos livros. Ao contrário dos de Laurentino Gomes e de Lucas Figueiredo, citados.)
O Castelo de Papel, ao tempo em que relata a vida de Isabel e Gastão, reconta um pouco da história política do Brasil, especialmente, nos últimos 25 anos do segundo império: a guerra do Paraguai, a luta abolicionista, as questões religiosa e militar, o positivismo, a maçonaria, os fortes embates veiculados pela imprensa livre, o golpe que instituiu a República.
Tudo isso, na avaliação da historiadora, o Imperador assistia com desinteresse. Ele e, mais ainda, a princesa imperial, apresentada como pessoa de preocupações, exclusivamente, domésticas e religiosas. Alguém que, entretanto, jamais deixou de amar e de ser amada pelo marido. (Melhor para ela.)
Com base na narrativa de O Castelo de Papel, de Pedro II e Isabel (mas não do conde d'Eu) bem se poderia dizer o mesmo que um antigo compositor popular brasileiro, há muito tempo falecido, disse da personagem-título de uma de suas músicas mais conhecidas: "o tempo passou na janela / e só Carolina não viu".
(Publicado no Facebook, 8/11/14)

Jeremoabo: no rastro da Coluna Prestes

Gustavo Maia Gomes















Estivemos, meu irmão Ivan e eu, em Jeremoabo (BA), no dia 24/10. Nossa estada foi curta, mas é bom saber que, quase 90 anos antes, por ali passou a Coluna Prestes, em marcha precipitada pelo fracasso da sublevação tenentista de São Paulo e Rio Grande do Sul (1924).
Da capital paulista, foco principal da revolta, os militares conseguiram expulsar o governador e assumir o controle político, antes de serem vencidos pela reação do governo federal. Com o fracasso da rebelião, eles fugiram para o Paraná. No Rio Grande do Sul, o êxito da revolta foi ainda mais efêmero. Quando a rebelião foi dominada, os gaúchos nela envolvidos fugiram na direção do Paraná, onde se reuniram aos revoltosos paulistas.
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O que ficou conhecido como Coluna Prestes foi a junção dessas duas forças – de paulistas e de gaúchos –, reforçadas por algumas mulheres e por civis que se agregaram ao grupo, ao longo do percurso.
Convencidos de que não podiam vencer as tropas do governo federal, os revoltosos decidiram empreender uma marcha sem destino pelo Brasil, alimentando a esperança de que sua passagem pelo interior desencadeasse uma revolução nacional. Passaram em vários locais do Nordeste. Jeremoabo foi, apenas, um deles.
Em dois anos e meio, a Coluna percorreu 25.000 km, quase sempre, andando a pé, sob as piores condições imagináveis. No seu encalço, tinha permanentemente tropas sob o comando do governo federal, às vezes, formadas por jagunços.
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Com exceção do general Isidoro Dias Lopes, cuja idade não permitia grandes esforços físicos, todos os líderes militares “tenentes” que participaram das revoltas
de São Paulo e do Rio Grande do Sul se agregaram à Coluna. Pelo lado paulista, Miguel Costa tornou-se seu comandante (o gaúcho Prestes era apenas o chefe do Estado Maior, embora tenha sido o líder que mais se destacou).
Da Coluna Prestes participaram pessoas que viriam a ser líderes políticos importantes no Brasil dos anos 1930-64, como Eduardo Gomes, Juarez Távora, Siqueira Campos, João Alberto e o próprio Luís Carlos Prestes.
Jeremoabo fez parte dessa história.

(Publicado no Facebook, 3/11/14)