sábado, 29 de dezembro de 2012

Frederico Pernambucano de Mello entre anjos e cangaceiros


Gustavo Maia Gomes
Com certo constrangimento, confesso: de Frederico Pernambucano de Mello eu só tinha lido, até a semana passada, Guerreiros do sol: Violência e banditismo no Nordeste do Brasil (São Paulo, A Girafa Editora, 4ª edição, 2005). Excelente. Agora acrescento Benjamin Abrahão: Entre anjos e cangaceiros (São Paulo, Escrituras Editora, 2012). Tão bom quanto.
Já me programei para ler Estrelas de couro: A estética do cangaço (São Paulo, Escrituras Editora, 2ª edição, 2010), além de outros livros seus, mais antigos. Se os que ainda me são desconhecidos forem tão bons quanto os dois que citei primeiro, de sua leitura terei muito a aprender – e a desfrutar.
Benjamin Abrahão, biografado por Frederico Pernambucano, é um personagem marcante. Entre suas façanhas estão ter sido assistente pessoal de Padre Cícero (em parte dos anos 1920, até a morte do sacerdote, em 1934) e ter realizado, em 1936, filmagens com Lampião e seu bando. A intimidade com Padre Cícero é tanto mais notável porque Abrahão – que dizia ter nascido em Belém, à época parte da Síria – chegou a Juazeiro com a cara e a coragem. Em pouco tempo, havia cativado o Padim.
A associação com o Padre Cícero rendeu muito a Benjamin Abrahão – em dinheiro, contatos, influência. Mais tarde, ele se valeria disso, de sua audácia, e charme pessoal para registrar em filme o cotidiano do mais famoso e perseguido bandido do Brasil, à época. Sobreviveram ao tempo e à censura policial apenas quinze minutos de suas extensas tomadas cinematográficas Preciosos quinze minutos, incorporados, em 1997, ao longa metragem Baile Perfumado.
As notícias do filme em que apareciam Lampião e seu bando deram notoriedade a Benjamin Abrahão. Poderiam, também, ter-lhe rendido uma fortuna, não tivesse sua exibição sido proibida pela ditadura de Getúlio Vargas, em 1937.
No final da vida (ele morreu, brutalmente assassinado, em 1938), o sírio (ou libanês?) envolveu-se com a promoção de vaquejadas, um esporte de raízes longinquamente ibéricas, mas incorporadas à cultura brasileira. Das vaquejadas – que alguns nacionalistas achavam poderiam tomar o lugar que ia sendo ocupado pelo importado football – sobraram, para Benjamin Abrahão, dívidas impagáveis.
Essa é, num drástico resumo, a história contada por Frederico Pernambucano de Melo. A história, como narrativa, mas também a História como tentativa de relacionar o enredo às estruturas políticas, sociais e ambientais que caracterizavam o Brasil, em geral, e o Sertão nordestino, em particular, nas primeiras décadas do século XX.
Um livro – Benjamin Abrahão: Entre anjos e cangaceiros – que merece ser lido.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Apenas para quem gosta de matemática ou lógica


Gustavo Maia Gomes

Tenho uma solução para o problema das doze bolas. Trata-se de identificar a bola diferente dispondo apenas de três pesagens numa balança de braços iguais. A utilidade do exercício é zero, mas me diverti com ele. Provavelmente, muita gente já encontrou soluções para o mesmo problema, antes. Não as consultei e nem tenho pretensões de originalidade.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Mea Culpa de Mino Carta, o quase-petista arrependido


Gustavo Maia Gomes

Os que acompanham o jornalismo (ou deveria dizer, no caso, revistismo?) brasileiro sabem que Mino Carta nos deu importante contribuição. Sua carreira inclui passagens, em posições destacadas, por publicações como Quatro Rodas, Veja e Istoé – todas revistas de alta qualidade técnica e duradouro sucesso comercial. Nos últimos anos, entretanto, na minha particular avaliação, o homem tornou-se, apenas, um chato a mais, no meio de tantos.

Comercialmente falando, sua revista Carta Capital é uma anã, comparada às outras que ele ajudou a construir. Posso admitir que não seja por isso – mas por fidelidade a elevados princípios – que Mino Carta apoia Lula da Silva e morre de amores por Dilma Roussef. 

Também pode ser falsa a suspeita de que conveniências pecuniárias expliquem suas repetidas demonstrações de admiração pelas realizações do PT, assim como os panos quentes que sempre coloca nas repetidas evidências de corrupção generalizada praticada pelos petistas.

Esta semana, finalmente, Mino Carta entregou os pontos. Sua atitude merece elogios. Sobretudo, se ela tiver sido motivada pela sua fidelidade aos elevados princípios da decência e moralidade.

Copio, abaixo, alguns trechos do Editorial da Carta Capital. Eles não representam adequadamente o inteiro teor do texto – pontilhado de mais-mais-menos-menos, como é próprio de quem não queria dizer o que está dizendo – mas são os mais significativos, dada a história de quem os escreveu.

“O PT não é o que prometia ser. Foi envolvido antes por oportunistas audaciosos, depois por incompetentes covardes.”

“Era o PT uma agremiação de nítida ideologia esquerdista. O tempo sugeriu retoques à plataforma inicial e a perspectiva do poder, enfim ao alcance, propôs cautelas e resguardos plausíveis. Mantinha-se, porém, a lisura dos comportamentos, a limpidez das ações. E isso tudo configurava um partido autêntico, ao contrário dos nossos habituais clubes recreativos”.

“O PT atual perdeu a linha, no sentido mais amplo. Demoliu seu passado honrado. Abandonou-se ao vírus da corrupção, agora a corroê-lo como se dá, desde sempre com absoluta naturalidade, com aqueles que partidos nunca foram”.

(Todos os trechos aspeados são de Mino Carta, “Editorial”. Carta Capital, 4/12/12)