Gustavo Maia Gomes
Com certo
constrangimento, confesso: de Frederico Pernambucano de Mello eu só tinha lido,
até a semana passada, Guerreiros do sol:
Violência e banditismo no Nordeste do Brasil (São Paulo, A Girafa Editora, 4ª
edição, 2005). Excelente. Agora acrescento Benjamin
Abrahão: Entre anjos e cangaceiros (São Paulo, Escrituras Editora, 2012).
Tão bom quanto.
Já me
programei para ler Estrelas de couro: A
estética do cangaço (São Paulo, Escrituras Editora, 2ª edição, 2010), além
de outros livros seus, mais antigos. Se os que ainda me são desconhecidos forem
tão bons quanto os dois que citei primeiro, de sua leitura terei muito a
aprender – e a desfrutar.
Benjamin
Abrahão, biografado por Frederico Pernambucano, é um personagem marcante. Entre
suas façanhas estão ter sido assistente pessoal de Padre Cícero (em parte dos
anos 1920, até a morte do sacerdote, em 1934) e ter realizado, em 1936, filmagens
com Lampião e seu bando. A intimidade com Padre Cícero é tanto mais notável
porque Abrahão – que dizia ter nascido em Belém, à época parte da Síria –
chegou a Juazeiro com a cara e a coragem. Em pouco tempo, havia cativado o
Padim.
A associação
com o Padre Cícero rendeu muito a Benjamin Abrahão – em dinheiro, contatos,
influência. Mais tarde, ele se valeria disso, de sua audácia, e charme pessoal
para registrar em filme o cotidiano do mais famoso e perseguido bandido do
Brasil, à época. Sobreviveram ao tempo e à censura policial apenas quinze
minutos de suas extensas tomadas cinematográficas Preciosos quinze minutos,
incorporados, em 1997, ao longa metragem Baile
Perfumado.
As notícias do
filme em que apareciam Lampião e seu bando deram notoriedade a Benjamin Abrahão.
Poderiam, também, ter-lhe rendido uma fortuna, não tivesse sua exibição sido
proibida pela ditadura de Getúlio Vargas, em 1937.
No final da
vida (ele morreu, brutalmente assassinado, em 1938), o sírio (ou libanês?)
envolveu-se com a promoção de vaquejadas, um esporte de raízes longinquamente
ibéricas, mas incorporadas à cultura brasileira. Das vaquejadas – que alguns
nacionalistas achavam poderiam tomar o lugar que ia sendo ocupado pelo
importado football – sobraram, para
Benjamin Abrahão, dívidas impagáveis.
Essa é, num
drástico resumo, a história contada por Frederico Pernambucano de Melo. A
história, como narrativa, mas também a História como tentativa de relacionar o
enredo às estruturas políticas, sociais e ambientais que caracterizavam o Brasil,
em geral, e o Sertão nordestino, em particular, nas primeiras décadas do século
XX.
Um livro – Benjamin Abrahão: Entre anjos e cangaceiros
– que merece ser lido.