quarta-feira, 6 de maio de 2015

Antes da internet, as ondas curtas

Gustavo Maia Gomes

Quem sabe, hoje, o que são transmissões radiofônicas em ondas curtas? Pouca gente. Mas, até os anos 1980, elas eram o que mais se parecia com a internet. Meu pai, Mauro Bahia de Maia Gomes, muito as apreciava. Ele sempre tinha em casa um receptor Transglobe, o melhor da época.
Com os Transglobe, nós ouvíamos os noticiários da BBC de Londres, Voz da América, Rádio Pequim, Rádio Moscou, Deutsche Welle. Se não me trai a memória, também da Rádio França Internacional. Sempre à noite. De dia, as interferências atmosféricas inviabilizavam uma recepção satisfatória.
Todas transmitiam em português ou espanhol. A melhor era, sem dúvida, a BBC. As dos países comunistas só faziam proferir impropérios contra o "imperialismo ianque". A séria briga entre a China e a União Soviética, nos anos 1960, nós a pudemos acompanhar ouvindo as rádios dos dois países.
Emissoras "do Sul" (como costumávamos dizer) também podiam ser ouvidas no Recife. Creio que as mais bem captadas eram a Globo, do Rio, e a Bandeirantes, de São Paulo. As cariocas Tupi e Nacional entravam com boa qualidade de som. Igualmente, a Dragão do Mar, de Fortaleza.
Acompanhávamos por elas os jogos do Vasco, Botafogo, Flamengo, Fluminense, Palmeiras, Santos, Corinthians, São Paulo. E programas humorísticos, como o "Balança, Mas Não Cai", da Nacional, que também era retransmitido localmente pela Rádio Jornal do Commercio.
Poucos amigos e colegas tinham o hábito de ouvir rádio em ondas curtas. Foi nosso pai quem nos iniciou, a Ivan e a mim, naquele mundo de notícias internacionais transmitidas e analisadas com detalhes e profundidade muito maiores do que lhes dariam os jornais da manhã seguinte.

(Publicado no Facebook, 6 de maio de 2015)

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