domingo, 20 de novembro de 2011

Sermão de Montaigne


Gustavo Maia Gomes


Há poucos dias, noticiou o site G1, da Globo.com:
A estimativa dos economistas dos bancos [sempre os bancos] para o crescimento do Produto Interno Bruto de 2011 caiu de 3,20% para 3,16%. Para 2012, a previsão do crescimento da economia brasileira permaneceu estável em 3,50%.
Se ficássemos apenas com o ano corrente, menos mal. Meros 45 dias nos separam de 31 de dezembro; portanto, este “futuro” já está, em larga medida, determinado. A probabilidade de um erro significativo é pequena. Apesar disso, a precisão da estimativa – não mais 3,20% e, sim, 3,16% – merece registro. Ainda que o número seja uma média de palpites, alguém fez os cálculos e divulgou o resultado. Supostamente, querendo ser levado a sério.
Mas, e quanto ao próximo ano?
Deveríamos responder que não sabemos em quantos por cento a economia brasileira, estrangeira, ou sobranceira irá crescer, decrescer ou ficar parada, em 2012, 2013 ou 2014. Mas isso não contentaria o mercado. Portanto, inventamos números, que o tempo irá desmentir. Lembro-me de uma reflexão de minha mãe: há os enganadores porque existem os que querem ser enganados – e estes são muito mais numerosos.
Em 1580, ou seja, 200 anos antes de Adam Smith, o francês Michel de Montaigne escreveu, num ensaio sobre os índios brasileiros:
O profeta prediz também o futuro e o que [os selvagens] devem esperar de seus empreendimentos, incitando à guerra ou a desaconselhando. Mas importa que diga certo, pois, do contrário, se o pegam, é condenado como falso profeta e esquartejado. Por isso não se revê jamais quem uma vez errou.
É o sermão de Montaigne.


REFERÊNCIA:
Michel de Montaigne, Ensaios. Tradução de Sérgio Milliet. Abril Cultural, São Paulo, 1972, pág. 107.

Este artigo será publicado, simultaneamente, em http://www.blogdatametrica.com.br, http://www.econometrix.com.br e http://www.gustavomaiagomes.blogspot.com (21 nov 2011)

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