terça-feira, 20 de setembro de 2016

Assim caminha a humanidade

Gustavo Maia Gomes

Um importante economista francês, Gael Giraud, esteve no Recife, há poucos dias (17/9), e aqui fez palestra. Foi uma boa palestra. Assim são os economistas franceses: mesmo quando erram tudo, fazem boas palestras.
O menu servido teve uma entrada de teses macroeconômicas agradáveis ao pensamento esquerdista ("crescimento não cria empregos", "ajuste fiscal leva ao inferno"... Altamente discutíveis, para ser bondoso) e um prato principal recheado de apocalipses now ecológicos.
Como se deveria esperar ouvir de um intelectual francês (riquíssimo, em comparações históricas e geográficas; altamente instruído; habitante de uma sociedade que lhe permite expressar suas ideias), o mundo vai mal. Estamos na iminência de morrer afogados pela subida dos oceanos e — atenção! — a culpa de toda essa desgraça é da propriedade privada. (Ele não disse, mas, com certeza, pensou: e do capitalismo, da busca do lucro...)
O que fazer? A sugestão do palestrante foi que imitássemos a África dos primitivos habitantes e outras regiões (como o Brasil, antes dos portugueses, ou a Amazônia ainda selvagem?) onde não existe a propriedade privada. Quem sabe, seria o caso de nos mudarmos para lá?
Imagino que o Sr. Giraud tenha chegado a essa convicção estudando em seu gabinete parisiense com ar condicionado (no verão) e aquecimento central (no inverno), vista para a belíssima Avenida Champs Elisées, ouvindo música clássica, cem metros distante dos melhores restaurantes (que ele pode pagar)...
... ou a duas quadras do museu Louvre. E com seu alto salário garantido, os ingressos para o teatro comprados, com a sensação de que pode escrever qualquer coisa sem ser perseguido por isso, com a tranquilidade que a assistência médica lhe dá.
Daqui há sessenta anos, ele, quarentão, hoje, ainda estará vivo. Reclamando. E sendo pago em dia. Tudo isso, caro economista francês, foi construído pela propriedade privada, pelo lucro, pelo capitalismo. Deveríamos trocá-lo pela África nativa, ou pelo Brasil selvagem?
São lugares onde não há propriedade privada, claro, mas as pessoas vivem trinta anos; um furúnculo pode matá-las, pois nunca chegarão ao antibiótico; a alimentação é péssima, quando existe; o calor é infernal e o frio, insuportável; não existe internet; ninguém sabe ler; a música está mais para Wesley Safadão do que para Bethoven; e viagens internacionais para dar palestras a brasileiros, nem pensar.

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