Gustavo Maia Gomes
Nos anos 1958-64, quando estudei no Colégio Marista
do Recife (o “verdadeiro”, da Boa Vista, hoje fechado), a Avenida Rosa e Silva
tinha mão dupla. Portanto, eu passava não uma, mas duas vezes por dia à frente
do Hospital Psiquiátrico da Tamarineira. No seu amplo terreno, segregados por
muros e portões, sempre havia internos observando o movimento. Alguns, com
aspecto esquisito, me metiam medo.
Deve
ter sido por isso que, até hoje, eu não havia transposto aquele portão, embora
sempre tivesse a vontade. Sobretudo, depois de descobrir que Manoel Sebastião
de Araújo Pedrosa (1853-1906), meu bisavô, ali morreu, longe da mulher e dos
filhos — todos pequenos —, os quais, à época, moravam na Paraíba. A mãe deles,
Maria Margarida Kuhn, tinha de tocar o Engenho Velho, de onde tirava seu
sustento e o das crianças.
Mas,
essas são histórias passadas. A história presente é que visitei hoje o Ulysses
Pernambucano, atual nome do Hospital da Tamarineira. Trata-se (leio no site da
Secretaria de Saúde) de “um patrimônio vivo e histórico da psiquiatria de
Pernambuco”. Foi inaugurado em 1883. Até 2010, pertencia à Santa Casa de
Misericórdia, embora fosse, desde 1924, administrado pelo governo estadual.
Informa
a Secretaria de Saúde que, em 1930, o Hospital da Tamarineira “passou por um
processo de restauração, nas mãos do médico Ulysses Pernambucano. A importância
do doutor Ulysses para a saúde mental foi tanta que [entre 1979 e 1983] o
antigo Hospital de Alienados ganhou o [seu] nome”. Em 1992, o estabelecimento
foi tombado pelo Patrimônio Histórico do Estado.
Dezoito
anos depois, em 2010, a Santa Casa de Misericórdia anunciou que iria vender o
terreno do Hospital Ulysses Pernambucano a uma empresa privada, para que ali
fosse construído um shopping center.
A
reação popular que se seguiu inviabilizou a iniciativa, até que o assunto foi
“resolvido” com a desapropriação do imóvel pela Prefeitura do Recife. Nada
aconteceu, desde então: houve denúncias de que o hospital funciona
precariamente e, qualquer um pode ver isso, se entrar ali, a manutenção dos
terrenos em volta do hospital propriamente dito é péssima.
Seria
bom se toda aquela área fosse tornada acessível ao público, com a instalação de
um parque. Sem prejuízo do atendimento aos doentes que continuam a ter no
Hospital Ulysses Pernambucano um precioso refúgio.
Havia
muitos deles lá, hoje, descansando em um pátio interno. Evitei fotografá-los,
em reconhecimento ao seu direito de privacidade. Mas, não por medo. Para o bem
ou para o mal, os “doidinhos da Tamarineira”, como os chamávamos em nossas
brincadeiras de meninos, já não me amedrontam. Que vivam em paz.
(Publicado em Facebook em 8/12/2017)
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