quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

FINALMENTE, O HOSPITAL DA TAMARINEIRA (Hoje estive lá)

Gustavo Maia Gomes

Nos anos 1958-64, quando estudei no Colégio Marista do Recife (o “verdadeiro”, da Boa Vista, hoje fechado), a Avenida Rosa e Silva tinha mão dupla. Portanto, eu passava não uma, mas duas vezes por dia à frente do Hospital Psiquiátrico da Tamarineira. No seu amplo terreno, segregados por muros e portões, sempre havia internos observando o movimento. Alguns, com aspecto esquisito, me metiam medo.
Deve ter sido por isso que, até hoje, eu não havia transposto aquele portão, embora sempre tivesse a vontade. Sobretudo, depois de descobrir que Manoel Sebastião de Araújo Pedrosa (1853-1906), meu bisavô, ali morreu, longe da mulher e dos filhos — todos pequenos —, os quais, à época, moravam na Paraíba. A mãe deles, Maria Margarida Kuhn, tinha de tocar o Engenho Velho, de onde tirava seu sustento e o das crianças.
Mas, essas são histórias passadas. A história presente é que visitei hoje o Ulysses Pernambucano, atual nome do Hospital da Tamarineira. Trata-se (leio no site da Secretaria de Saúde) de “um patrimônio vivo e histórico da psiquiatria de Pernambuco”. Foi inaugurado em 1883. Até 2010, pertencia à Santa Casa de Misericórdia, embora fosse, desde 1924, administrado pelo governo estadual.
Informa a Secretaria de Saúde que, em 1930, o Hospital da Tamarineira “passou por um processo de restauração, nas mãos do médico Ulysses Pernambucano. A importância do doutor Ulysses para a saúde mental foi tanta que [entre 1979 e 1983] o antigo Hospital de Alienados ganhou o [seu] nome”. Em 1992, o estabelecimento foi tombado pelo Patrimônio Histórico do Estado.
Dezoito anos depois, em 2010, a Santa Casa de Misericórdia anunciou que iria vender o terreno do Hospital Ulysses Pernambucano a uma empresa privada, para que ali fosse construído um shopping center.
A reação popular que se seguiu inviabilizou a iniciativa, até que o assunto foi “resolvido” com a desapropriação do imóvel pela Prefeitura do Recife. Nada aconteceu, desde então: houve denúncias de que o hospital funciona precariamente e, qualquer um pode ver isso, se entrar ali, a manutenção dos terrenos em volta do hospital propriamente dito é péssima.
Seria bom se toda aquela área fosse tornada acessível ao público, com a instalação de um parque. Sem prejuízo do atendimento aos doentes que continuam a ter no Hospital Ulysses Pernambucano um precioso refúgio.
Havia muitos deles lá, hoje, descansando em um pátio interno. Evitei fotografá-los, em reconhecimento ao seu direito de privacidade. Mas, não por medo. Para o bem ou para o mal, os “doidinhos da Tamarineira”, como os chamávamos em nossas brincadeiras de meninos, já não me amedrontam. Que vivam em paz.

(Publicado em Facebook em 8/12/2017)

Nenhum comentário:

Postar um comentário